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3 LABIRINTOS: RECORTE E METODOLOGIA

3.2 Escolhas e caminhos: procedimentos metodológicos

Caminhante, são teus passos o caminho e nada mais; Caminhante, não há caminho, faz-se caminho ao andar. Ao andar se faz caminho, e ao voltar a vista atrás se vê a senda que nunca se voltará a pisar.

Caminhante, não há caminho, mas sulcos de escuma ao mar35.

(MACHADO, Antonio. Poema XXIX de Provérbios y Cantares – Campos de Castilla – Madrid: 1917).

Ao longo deste estudo aqui apresentado, tivemos de realizar escolhas e eleger caminhos. Estas escolhas nos ajudaram a pavimentar o caminho da pesquisa e os rumos de suaexecução.Nossaescolhaporumapesquisasocial está clara desde o capítulo “o pesquisador como parte do processo” e é reforçada a cada avanço e cada capítulo. Podemos acrescentar ainda que se trate de uma pesquisa de caráter social e uma abordagem qualitativa; acrescente- se ainda que se optou por um estudo multicaso com recorte determinado (2010-2014). Cumpre-se esclarecer que nossos agentes são três músicos educadores da região do Cariri cearense e que outras fontes serão confrontadas com suas falas.

As escolhas e os caminhos eleitos acima descritos nos levaram a adotar alguns procedimentos metodológicos que agora descreveremos. A saber:

 Revisão de literatura, ou seja, uma vez identificadas as palavras-chave da pesquisa, realizamos buscas no portal de periódicos da CAPES e em seu banco de teses; Bibliotecas de teses e dissertações dos principais programas de pós-graduação do País.

 Identificar as fontes primárias: obras originais sobre o assunto, teses e dissertações que abordem o tema precisamente ou por aproximação; artigos em periódicos da área e literatura teórica e empírica. Nesta etapa é importante catalogar as fontes por grau de relevância para nosso estudo e fazer leituras “transversais” dos textos menos relevantes para a pesquisa.

 Identificar as fontes secundárias: autores que interpretam a obra de outros autores, dicionários, enciclopédias, manuais e resumos. Esta etapa nos dá uma visão geral do objeto e é uma ferramenta rápida de pesquisa.

35 Original em espanhol: “Caminante, son tus huellas / el camino y nada más; / Caminante, no hay camino, / se

hace camino al andar. / Al andar se hace el camino, / y al volver la vista atrás / se ve la senda que nunca / se há de volver a pisar. / Caminante no hay caminho / sino estelas en la mar.

 A construção da problemática a partir do objeto de pesquisa: a elaboração de uma pergunta inicial de pesquisa e da hipótese.

 O levantamento empírico feito a partir das entrevistas formais e informais, gravadas ou não por meio de gravador digital, diálogos, depoimentos e assertivas proferidas pelos agentes da pesquisa e utilizadas com sua autorização prévia.

 A construção de um modelo de análise: procedimentos e variáveis a serem considerados na etapa de análise de dados com aplicação dos pressupostos teóricos que embasam a investigação.

 Análise dos dados: feita a partir dos pressupostos acima descritos.

 Considerações finais: descrição resumida da trajetória da pesquisa, elencar os conhecimentos produzidos e sua importância para nossa área de conhecimento e propor uma ampliação do estudo a partir de novas perspectivas para futuras abordagens.

Assim como o poema de Antonio Machado nos aponta, “não há caminho”, mas rastros, “são teus passos o caminho”. Portanto, cremos que as escolhas metodológicas desta pesquisa foram se revelando ao longo da caminhada, porquanto a caminhada esteve repleta de leituras, releituras, memórias, conflitos, questionamentos, inquietudes e dúvidas.

Os procedimentos metodológicos da História Oral, aqui adotados; algumas de suas ferramentas ajudam-nos a acessar a memória dos sujeitos de forma a apresentar narrativas mais humanizadas, vivas, fluidas, ricas em imaginação e encantoa. Buscamos, com tais procedimentos, extrair das falas paixão e verossimilhança. A memória dos indivíduos guarda não apenas suas experiências no tempo, mas sua visão de mundo, seu lugar social pretendido e sua compreensão do outro. Os depoimentos gravados ou transcritos constituem apenas formas salvaguardar os dados enquanto documentos de pesquisa, posto que a experiência viva do encontro é única e intransferível.

Através do levantamento das “Histórias de Vida” buscamos acessar indícios do processo de formação de cada sujeito no que concerne às suas escolhas e as consequências dessas.Nossa própria história de vida nos põe, de certo modo, em uma posição de compartilha com os sujeitos da pesquisa, pois ambos fizemos um exercício de escritas de si que nos coloca frente às instâncias afetivas e mnemônicas de nosso processo de (trans)formação. Elegemos para este estudo abordar, principalmente, a dimensão “auto-formativa” deste modelo de pesquisa. Conforme Souza nos sugere:

A dimensão auto-formativa. O processo que se desencadeia e a transformação existencial que se produz ajudam as pessoas a se fortalecerem, não somente em seu auto-conhecimento, como também no

desenvolvimento de sua autonomia e segurança de si mesmas. Trabalhar a autobiografia, por sua vez, produz um processo de formação autônomo, que facilita o desenvolvimento da auto-formação (SOUZA, 2008 apud. PASSEGGI, 2008, p. 310 – grifos do autor).

Encontramos esta dimensão “auto-formativa” justamente na combinação entre as abordagens da História Oral e das Histórias de Vida. A seguir abordaremos os instrumentos da análise aplicados a estas abordagens.

Os depoimentos aqui apresentados não representam nossa única fonte de dados. Consideramos como fontes de dados, sobretudo, a experiência compartilhada durante quatro anos com nossos sujeitos, intensificada nos últimos dois anos com foco direcionado para as questões levantadas para este trabalho. Entendemos que existem dados sutis presentes nas conversas de corredor, nas entrevistas abertas, nas trocas de e-mails, nos momentos de informalidade fora do contexto acadêmico. Em todos esses momentos nossos sujeitos nos forneceram elementos que puderam ser convertidos em dados para a pesquisa. Entretanto, articulamos nosso discurso com base nos depoimentos mais extensos, nos quais alguns dados revelados em depoimentos anteriores se fazem novamente presentes e de forma destacada.