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3 LABIRINTOS: RECORTE E METODOLOGIA

3.3 O fio de Ariadne: instrumentos de análise

Procuramos manter a coerência nas análises ao adotarmos princípios básicos que possam contemplar os dados provenientes das ferramentas da História Oral e Histórias de Vida. Contudo, entendemos a abrangência da História Oral quando aplicada aos estudos relacionados ao campo da Educação e as possibilidades de diálogo com as Histórias de Vida. Quanto a isso, Barbosa (2008, p. 01) nos adverte:

Então se depreende que a História Oral é um misto de método, fonte e técnica, embora também seja evocada como campo científico, inclusive de disputa de hegemonia acadêmica junto às agências de fomento à pesquisa historiográfica. E para Verena Alberti a História Oral é um método de pesquisa que privilegia o acesso a informações diretamente das fontes testemunhais; e esse método produz fonte, que são os depoimentos, as narrativas, as quais são colhidas através da técnica de entrevista, que ficam à disposição dos estudiosos, como é o caso do banco de dados do CPDOC – Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil – da Fundação Getúlio Vargas.

São, portanto, a base de nossa pesquisa, depoimentos e narrativas que são comuns tanto para a História Oral, quanto para as Histórias de Vida. Logo, tentaremos utilizar de um conjunto de procedimentos de análise que contemplem ambas as abordagens em questão.

Para manter a fluidez na leitura e não deslocar o sentido dos depoimentos aqui transcritos, optamos por adicionar “episódios” de análise no corpo dos depoimentos, como forma de manter a continuidade do sentido das falas articulada com nossos instrumentos de análise. Assim, nossa análise será como um fio condutor que nos permitirá restaurar instâncias pontuais de significação sem nos perdermos em um patchwork de dados dispersos.

Existemdiversosinstrumentosdeanálisenaliteraturadasciências sociais. A pesquisa social está repleta de esquemas e postulados, sempre ricamente fundamentados e embasados. Consideramos o instrumento de análise como um fio que nos guia até o fim de um labirinto. A despeito dos minotauros que, eventualmente, tenhamos que matar o fio pode nos levar às respostas que esperamos encontrar vencido o labirinto e sua complicada trama.

Contudo podemos pensar em instrumentos de análise que contemplem de maneira geral nossos dados, porém, que se apresentem abertos à interpretação e à dimensão humana da pesquisa. Gil (2010, p. 156) nos apresenta uma proposta de conceituação desses instrumentos. O autor nos informa que:

Após a coleta de dados, a fase seguinte da pesquisa é a de análise e interpretação. Esses dois processos, apesar de conceitualmente distintos, aparecem sempre estreitamente relacionados. A análise tem por objetivo organizar e sumariar os dados de forma tal que possibilitem o fornecimento de respostas ao problema proposto para a investigação. Já a interpretação tem como objetivo a procura do sentido mais amplo das respostas, o que é feitomediantesua ligação com outros conhecimentos anteriormente obtidos. Portanto, será a interpretação uma etapa indissolúvel de nossa análise, constituindo assim parte integrante de um todo que se pretende extrair desta análise. Não obstante, nosso instrumento de análise se constituirá de: Redução, Apresentação, Conclusão/Verificação. Conforme o modelo de análise qualitativa proposta por Gil (2010), as etapas consistem nas seguintes ações:

 Aredução é a seleção e simplificação dos dados de forma que se possa identificar padrões, categorias e organizá-los para verificação;

 A apresentação é a organização dos dados de forma a identificar diferenças e semelhanças e suas inter-relações. Nesta etapa se define as categorias de análise;

 A etapa de conclusão/verificação consiste em se verificar a veracidade e a credibilidade das conclusões obtidas.

A interpretação dos dados é a parte final desta etapa e consiste em interpretar os resultados de outros pontos de vista, procurando relacionar os resultados numa perspectiva mais ampla de análise. Nesta etapa é fundamental promover o diálogo entre os dados

analisados e o referencial teórico proposto no trabalho desde sua concepção; confrontar os dados com a teoria e ampliar a interpretação para o que está por trás deles.

De modo geral, os resultados obtidos na interpretação dos dados serão apresentados deforma resumida também nas considerações finais. Nesta etapa se apresentará possibilidades para a ampliação da pesquisa, dada a complexidade das informações colhidas, o estudo de um fenômeno social nunca se esgota.

Ademais, contamos com um componente a mais na interpretação dos dados e que nãoémensurávelemnúmerose estatística; é a experiência humana, individual e intransferível. O que Thompson (1987) chama de “termo ausente” no sistema estruturalista de Althusser, quando ele propõe a inclusão da categoria experiência, ao que os seguidores de Althusser consideravam simples “empirismo”.

Portanto, o nosso “fio de Ariadne” que nos conduziu através do “labirinto da pesquisa” pautou-se na unificação das análises independente da origem das fontes. Sejam as fontes unicamente orais como as obtidas através dos depoimentos gravados, sejam as de caráter escrito obtidas através dos TCC’s consultados. Ambas tratam-se da voz do sujeito da pesquisa; uma no que concerne a sua “fala elaborada”, outra referente à sua “fala espontânea”, ambasexprimemseupensamentoe seu modo de ser e estar no mundo. Ademais, consideramos que tanto na História Oral quanto nas Histórias de Vida as fontes foram construídas a partir da memóriadosujeito.Embora essas fontes se distingam pelas origens e abordagens, entendemos que não seria possível uma análise razoável desses dados com a utilização uma metodologia exclusiva. Barbosa (2008, p. 07) complementa:

Todo pesquisador da área de Ciências Humanas sabe, inclusive nos campos da História e, principalmente, da História da Educação, que não existe uma produção científica que use exclusivamente uma abordagem ou um método ou uma técnica ou simplesmente um tipo só de fonte na consecução de seus objetivos. Foi o que se constatou quanto à História Oral: 12% das pesquisas comunicadas foram feitas exclusivamente tendo como método e técnica de abordagemahistóriaoral;9,15%das pesquisas foram elaboradas mesclando: história oral com documentos legais e/ou institucionais e acervo particular; história oral com jornais, história oral com fontes historiográficas e documentaislegaise/ouinstitucionais;história oral com fonte hemerográfica e autobiográfica; história oral com fontes historiográficas; história oral com fontes manuscritas e iconográficas.

Conforma citação anterior, podemos constatar que parte das pesquisas realizadas na área de educação que utilizam a História Oral como abordagem ou como método fazem de forma complementar com outras abordagens e métodos, inclusive a autobiografia (Histórias de Vida).

Em termos práticos, nossas análises buscam articular um diálogo crítico e investigativo entre o depoimento gravado, o TCC e outras fontes consultadas, que servem de condutor para as nossas interpretações dos indícios da constituição de um habitus docente em nossossujeitos pesquisados. Esses indícios se revelam em múltiplos aspectos da sua: trajetória pessoal, texto do TCC e depoimentos gravados.

No capítulo seguinte trouxemos alguns conceitos utilizados na pesquisa como nosso aporte epistemológico. Conceitos centrais para este estudo tais como: Habitus, campo e trajetória. Alguns conceitos periféricos como memória, memória coletiva e trajetória já foram abordados de forma pontual em capítulos anteriores e estarão dispostos em outras discussões no decorrer do texto quando necessário. Adiante, tentamos trazer algumas discussões acerca da “epistemologia da educação musical”. Abordagem sociológica (Bourdieu), identidade e estado da pesquisa ou “estado da arte”.

4 UMA EPISTEMOLOGIA DA EDUCAÇÃO MUSICAL: “OUTRAS PALAVRAS”