• Nenhum resultado encontrado

ESCORÇO HISTÓRICO DA PROTEÇÃO INTERNACIONAL AO TRABALHO

Desde já, afirma-se que não há uma norma geral para todos os países do mundo quanto à regulamentação do trabalho juvenil, apesar da existência de organismos de envergadura reconhecida internacionalmente, como a Organização Internacional do Trabalho- OIT, o que se tem são recomendações que podem ou não ser seguidas, conforme o grau de interesse e o conflito de classes existentes em cada nação.

É preciso pontuar que a intenção protetiva das normas que tratam do trabalho juvenil é voltada para a faixa etária daqueles em idade inferior aos 18(dezoito) anos e tem origem nos países mais industrializados, como Inglaterra e Itália, no século XVIII. Apenas posteriormente, no século XX, foram observadas em países da América como, por exemplo, o Brasil.

É na Inglaterra, após os primeiros momentos da Revolução Industrial, quando se deslocou a massa de trabalhadores dos campos para as cidades, submetendo ao trabalho nas fábricas mulheres e crianças, sem distinção alguma, que surgem as primeiras medidas de regulamentação desta situação do trabalho. Em 1802, é publicado o chamado Moral and Health act, cujos destinatários foram os trabalhadores da indústria de lã e algodão. Esta lei, em resumo, trazia a limitação da jornada de trabalho em 12 horas e proibia o trabalho noturno dos menores de 13 anos nas oficinas e povoados e estendendo-se às cidades, constituindo-se, assim, um marco para a proteção do trabalho infanto- juvenil na região. No cenário da Revolução Industrial na Inglaterra, observa-se que o modo de produção capitalista tornou-se tão dependente do trabalho infanto- juvenil que em momentos de crise econômica, este passou a competir com o emprego adulto. Isso levou ao surgimento de propostas concretas de proteção ao trabalho da criança e do adolescente, culminando com a edição do edito supra citado. Cabe anotar que a maior parte dos autores que tratam das relações de trabalho e do direito do trabalho elegem o “Moral and Health act” como um marco na construção da defesa do trabalho infanto- juvenil. Em 1878, ainda na Inglaterra, várias leis foram editadas visando regulamentar a situação do trabalho infanto- juvenil praticado em locais perigosos e em idade muito aquém do já estabelecido, fortalecendo a idéia de proteção neste país. Apontando, neste caso, para uma responsabilização do dono do estabelecimento e dos pais, quando da prática irregular do trabalho tratado (OLIVEIRA, 2009; BARBUGIANI, 2009; BARROS, 2008; ROCHA, 2004; MARTINS, 2008; SANTOS, 2008; GOMES et al, 2007; TUTTLE, 1999; CARVALHO, 2003; RIZZINI, 2004).

A França, imbuída dos ideais norteadores da Revolução Francesa, acontecimento que modificou as estruturas do país, atuou no sentido de proteção ao trabalho de menores com algumas recomendações para o cuidado do trabalho praticado por crianças e adolescentes. As medidas de proteção ao trabalho infantil e juvenil aparecem com as idéias revolucionárias da classe proletária que reivindicava posição de participação política, sendo que somente no início do século XIX foram instauradas medidas que caminhavam no sentido humanitário. As primeiras legislações sobre o trabalho infanto- juvenil na França datam de 1840, as quais, entretanto, não apresentaram contribuições palpáveis sobre a matéria. Contudo, em 19 de maio de 1874 foi editada uma lei com 32 artigos que trazia inovações mais consistentes: a fixação da jornada de trabalho em 12 horas para o menor de 16 anos e de 6 horas para o menor entre 10 e 12 anos admitidos,

excepcionalmente, em certas indústrias. Esta lei limitava em 12 anos de idade o trabalho nas fábricas. E, ainda, proibia o trabalho noturno aos menores de 21 anos. Nesta mesma legislação estava imposta a proibição do trabalho subterrâneo para as mulheres e crianças com menos de 12 anos, tendo como característica a proibição do trabalho noturno em uma faixa etária bastante significativa para a época que era dos 16 aos 21 anos. Cabe anotar que somente em 1912, a França promulgou seu Code du Travail, onde foram incorporadas todas as leis referentes ao trabalho de crianças e adolescentes, dentre outras (BARROS, 2008; OLIVEIRA, 2009).

Na Alemanha ocorreram medidas no sentido de coibir a exploração do trabalho infanto- juvenil a partir dos anos de 1835, quando foram editadas disposições limitando a jornada daqueles na faixa etária compreendida entre 09 e 16 anos de idade para 10 horas diárias de trabalho, com três repousos. Posteriormente, em 1911, o código industrial eleva para 16 anos a maioridade laboral, o que consiste em outro marco. Faz- se necessário lembrar que a essa disposição foi acrescido o requisito de saber ler e escrever, importante novidade para a época, mas que foi descumprida por ausência de sistema apropriado de fiscalização. Cabe ressaltar que a legislação alemã traz a primeira preocupação com o destino dado às crianças e aos adolescentes retirados da situação de trabalho apontando para a necessidade de escolarização, mas que, sem efetividade prática, não logrou êxito, por ser mais interessante para o capital a manutenção do afastamento destes menores da escola (BARROS, 2008; OLIVEIRA, 2009).

Na Itália, em 11 de fevereiro de 1886, nasce a legislação para o trabalho infanto- juvenil que, inicialmente tratava da atividade laboral em fábricas, subterrâneos e minas. Dentre as proibições de trabalho constantes na legislação deste país estão a imposição de idade mínima de 12 anos para o trabalho em fábricas, a necessidade de atestado médico de sanidade e aptidão para o trabalho e a proibição o emprego de trabalhadores com idade inferior a 15 anos nos serviços considerados perigosos e insalubres. Cumpre observar que a legislação italiana sobre o trabalho infanto- juvenil era a mais permissiva e frágil da época (OLIVEIRA, 2009; BARROS, 2008).

No caso de Portugal, país de onde o Brasil herdou várias influências em razão do laço colonial, havia uma legislação bem robusta sobre o trabalho infanto- juvenil sendo o conhecido Decreto de 1890 a primeira norma a instituir a idade de 18(dezoito) anos como mínima para o trabalho infato- juvenil em indústrias. Havia ressalvas para os trabalhos industriais de caráter especial, mas o fato já se constitui um avanço protetivo.

Um país onde a história do trabalho infanto- juvenil foi tratada de forma atrasada e negligente foram os EUA, que durante o início do desenvolvimento industrial utilizou- se do trabalho precoce para alavancar o processo produtivo com base na exploração da mão-de-obra. Neste sentido, o trabalho era utilizado em fábricas sendo esta realidade criticada por muitas associações de defesa dos direitos da mulher e da criança, bem como pelos sindicatos existentes naquele país. Somente em 1938 é que os EUA consolidaram uma legislação nacional com proibição de trabalho perigoso e insalubre para crianças e adolescentes, limitando também uma idade mínima para a sua existência. É preciso dizer que mesmo com o atraso da normativa sobre a matéria, os EUA foram o primeiro país a estabelecer bloqueio ao comércio de produtos derivados do trabalho infantil (BASU, 1998).

Desse breve apanhado pode-se afirmar que a consciência da necessidade de proteção ao trabalho infanto-juvenil é despertada em todo o mundo a partir dos países de industrialização mais antiga, ainda que com culturas diversas, em concomitância com a própria expansão da atividade capitalista, sendo um consenso o posterior reconhecimento da situação de hipossuficiência da criança e do adolescente, bem como, a situação de ineficácia de algumas leis pioneiras no sentido de tutelar a matéria trabalhista para os infantes. Cabe anotar que atualmente a maioria dos países Europeus, á exemplo da França, Inglaterra e Itália, bem como os situados na América do norte, seguem as regras determinadas pela OIT e pela Declaração Universal dos Direitos da Criança e do Adolescente, cuja idade mínima é de 18 anos para admissão nas atividades de trabalho. Esta motivação, no que se refere à idade mínima de ingresso no mercado de trabalho, tem como justificativa a exigência primordial da completude do tempo mínimo de escolaridade, que tem duração de 15 anos, podendo o adolescente, somente posteriormente a este período, ser admitido em alguma função laboral. Esta realidade européia é, entretanto, constantemente alvo de violações em razão da pressão das empresas com relação ao uso da força de trabalho. No Brasil ainda que este país siga as orientações da OIT, a regulamentação do trabalho infanto- juvenil ainda é permissiva em função das relações de dominação capitalista. Veremos isso uma pouco mais à frente, por hora, cabe destacar o importante papel dos organismos internacionais de proteção aos direitos humanos e, mais especificamente, de proteção ao trabalho infanto- juvenil.

3.2. O DESENVOLVIMENTO DA PROTEÇÃO AO TRABALHO INFANTO-