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O DESENVOLVIMENTO DA PROTEÇÃO AO TRABALHO INFANTO JUVENIL

TRABALHO- OIT

Em que pese o surgimento de normas e leis de proteção ao trabalho infanto- juvenil em diversos países, ressaltamos aqui, a sua insuficiência, em época de globalização, diante do quadro de crianças e adolescentes que se encontram em atividade laboral penosa por todo o mundo. É no sentido de combater a forma exploratória de trabalho a que estão submetidos os entes em condição de formação que podemos observar a preocupação de entidades supra-nacionais como a ONU- União das Nações Unidas; e suas ramificações dentre elas a UNICEF- Fundo das Nações Unidas para Infância; OMS- Organização Mundial de Saúde; UNESCO- União Nacional para Educação Ciência e Cultura; e, a OIT- Organização Internacional do Trabalho, que atuam na proteção aos direitos humanos em todo o mundo e de forma robusta no combate ao trabalho infanto- juvenil.

Neste sentido, a ONU passou a recomendar que os países signatários atuassem na intenção de erradicar o trabalho de crianças e adolescentes por meio da aprovação, em 1959, da Declaração Universal dos Direitos da Criança, que estabelece regras de proteção especial ao desenvolvimento físico, mental, moral e espiritual das crianças, proibindo-se empregar crianças antes da idade mínima conveniente. Essas regras foram ratificadas pelo Brasil e inseridas na legislação pátria com força de norma Constitucional, recebendo uma atenção especial (OLIVEIRA, 2009; MARTINS, 2008; BARROS, 2008; ONU, 2011). Mas sobre esse aspecto, é importante que se chame a atenção para o fato de que nos países subdesenvolvidos, essa idade mínima conveniente foi estabelecida em patamar inferior ao dos países desenvolvidos.

Outro órgão de envergadura internacional no combate à exploração do trabalho infanto- juvenil foi a OIT, um organismo criado após a II Guerra Mundial para atuar no campo dos problemas decorrentes das relações de trabalho, quando a precarização e a desvalorização da mão-de-obra passou a ser constante na seara trabalhista, refletindo, muitas vezes, em abuso de uma massa produtiva mais vulnerável que consistia no trabalho de crianças e adolescente.

Desde a conferência de Berlim, em março de 1890, já se estudava as bases da regulamentação do trabalho infanto-juvenil, em âmbito internacional, deixando clara a necessidade de uma intervenção governamental sobre a matéria. Costuma-se afirmar

que, no âmbito internacional, a legislação de proteção ao trabalho infanto- juvenil seguiu as mesmas bases que a proteção ao trabalho da mulher, no sentido de receber tratamento tutelar desta situação de trabalho, sendo de fundamental importância a atuação da OIT.

Assim, cumpre também destacar a recomendação de medidas protetivas no tocante ao trabalho juvenil que, por intermédio da OIT se fizeram presentes na construção legislativa de vários países, ao longo da evolução desta matéria. Dentre as principais recomendações, em 1919, destacamos: recomendou-se limitar a idade mínima de 14 anos para a admissão de crianças e adolescentes em minas, canteiros, indústrias, construção naval, centrais elétricas, transportes e construção. E, no mesmo ano, a Convenção nº6 proibia o trabalho noturno de crianças e adolescentes em indústrias, sinalizando o horário como inadequado à prestação de atividade por entes em formação.

Seguindo a linha protetiva, no sentido de limitar o número de atividades às quais o menor estaria apto a exercer, em idade de formação, a Convenção nº7 da OIT, também estabeleceu a proibição no tocante à idade e jornada para o trabalho marítimo. Em complemento, as Convenções nº 15 e 16 da OIT tratam do trabalho do menor em navios e embarcações, determinando a idade mínima de ingresso em tal atividade em 14 anos, que com a Convenção nº60 foi alterado para 15 anos; bem como, a idade mínima de 18 anos para que se submetessem a exames médicos antes do embarque e de forma periódica, salvo se fosse para embarque familiar.

Sinalizando a preocupação com o trabalho prestado por crianças e adolescentes em condições inadequadas no campo, a Convenção nº10 proibiu o trabalho agrícola aos menores de 14 anos, estipulando uma faixa etária para o exercício do trabalho rural quer fosse em atividades agrícolas propriamente ditas, ou atividades de pecuária. O campo é local onde se consegue observar o trabalho de muitas crianças e adolescentes em situação de exploração tanto por latifundiários, que se utilizavam da mão- de- obra indefesa e submissa, como pela própria família, quando esta transfere aos filhos o cuidado com a terra para subsistência da entidade familiar.

A Convenção nº13 estabeleceu a proibição do trabalho em serviços que implicassem o uso de cerusa, sulfato de chumbo e outras substâncias nocivas a saúde, com exposição prolongada, aos menores de 18 anos, levantando a proteção de serviços insalubres para crianças e adolescentes que devem ser poupados do contato com substâncias nocivas a sua situação de desenvolvimento. Em 1946, a OIT através das Convenções nº 78 e nº 79 que determinava a obrigatoriedade de exames físicos para

menores seja em indústrias e em trabalhos noturnos, com a posterior exigência de atestado médico periódico, para auferir a regularidade da saúde das crianças e dos adolescentes que encontravam- se em situação de trabalho.

No contexto da proteção ao trabalho infanto- juvenil por organizações internacionais podemos observar inúmeras medidas, a partir de 1975, que dispunham sobre a necessidade de políticas públicas para o combate deste tipo de trabalho precoce, dividindo a responsabilidade com o poder público. Cabe informar que a maior parte das Convenções e Recomendações da OIT sobre a proteção ao Trabalho Infanto- juvenil foram ratificadas, pelo Brasil, corroborando para sua participação integral no combate a exploração deste tipo de atividade laboral que degrada crianças e adolescentes, sendo tais diretrizes erigidas a normas de força Constitucional.

A OIT tem adotado ações no combate a exploração do trabalho infanto- juvenil editando recomendações, orientações e convenções, quando da realização de Assembléias Internacionais sobre este tipo de trabalho, que vêm sendo incorporadas em várias legislações internas de países signatários. As diretrizes da OIT contém os mais variados dispositivos de proteção aos entes em idade precoce. Neste sentido, temos uma série de convenções, acordos estabelecidos entre países com força de tratados internacionais, bem como recomendações que constituem meros aconselhamentos, guias para formulação de normas mínimas, que devem ser legisladas por países que respeitam os direitos humanos de seus trabalhadores em idade inferior aos 18 anos.

Dentre estas normatizações podemos observar a Convenção nº 138 da OIT, promulgada no Brasil através do decreto 4.134, de 15 de fevereiro de 2002, que estabeleceu que a idade mínima do emprego não deverá ser inferior a do fim da escolaridade obrigatória, não podendo, ser inferior a 15 anos, contudo admitindo-se o patamar mínimo de 14 anos como primeira etapa para países subdesenvolvidos, caso onde nos enquadramos. A referida Convenção nº 138 foi completada pela Recomendação nº 146, que estabelecia a idade mínima igual para todos os tipos de serviço e determinava sua progressão para 16 anos (OIT, 2011; GARCIA, 2009; BARROS, 2008; OLIVEIRA, 2009; BELTRAN, 2002, MARTINS, 2008).

Outras diretrizes, no que se refere às principais normas do trabalho no plano internacional, e em especial no âmbito da OIT, devem ser mencionadas como a Convenção nº 182, aprovada na 87º Conferência Geral da OIT, em Genebra em 1º de junho de 1999 (sobre a proibição das piores formas de trabalho infantil); a Recomendação 190 (sobre a proibição e ação imediata para eliminação das piores

formas de trabalho infantil), ambas ratificadas pelo Brasil (OIT, 2010; OLIVEIRA, 2009; BARROS, 2008; BELTRAN, 2002). Ao tornar-se signatário da convenção 182, o Brasil reconhecia o abuso dos casos de exploração do trabalho infantil no país e se comprometia com sua reeducação. Todavia, a realidade aqui é bastante complexa. Voltemo-nos a ela.

3.3. ESCORÇO HISTÓRICO DA PROTEÇÃO NO BRASIL AO TRABALHO