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Escreve, ó poeta

Para que teu peito tenha menos dor

Para que, quem sabe a vida te seja mais feliz Escreve para não chorares

Para não dizeres bobagens Que só teus papéis te ouvem bem

E não tem problemas maiores que os teus Para confessarem-te

E o que lhes falas serão segredos invioláveis Mesmo que expostos a todos

Pois serão verdadeiras lágrimas tuas

E pensarão apenas que os escreveste por prossão Mas caso alguém descone

Creia que foi real tudo, e te aconteceu Se quiseres ocultar disfarça

Dize que viste a lua e escreveste sobre a distância Que viste um mendigo e escreveste sobre o desprezo Que viste um velho morando só em um rancho E escreveste sobre a solidão de um homem Que leste as cartas de amor de um amigo teu E escreveste sobre as paixões não vividas Que, nalmente, viste alguém chorando

E resolveste escrever como se fosses um ser triste Ninguém assim saberá de teu pranto

Mas escreve, poeta, escreve Escreve sempre.

Não suporto a ideia de que alguém sonha com um grande amor e algo destrói esse sonho. A felicidade no amor é para mim, não sei porque, algo sagrado. Sempre escrevi em função disso. Vivi para mulheres.

O maior incentivo da minha vida foi mulher, mulher, mu-lher. Um grande amor. Vivi por um bom tempo à mercê do sonho de um grande amor. Ainda não o vivi, mas sonho, ainda sonho. Preciso.

Meu plano de agora é ter uma namorada. Sempre quis ter uma namorada. Tive uma, nosso namoro durou quase três meses, faltou uma semana. Para ela escrevi poesias (sempre isso.

Tam-bém pudera, sou poeta). Uma delas, um trecho, até serve para o seu caso de amor:

“Tu foste uma dose de felicidade Tão pequenina que a vida me deu!”

“Devaneios dos meus doze anos”, você cita isso. Aos doze anos eu imaginava um casal feliz. Imaginava histórias inteiras, suas ações e reações. O homem não me interessava, era só o tipo que agradava à mulher na história, talvez eu no futuro. Ela era linda, cabelos longos, corpo bem feito, meiga e doce.

Barbara e Antony.

Minhas lindas estórias! Você as ressuscitou. Ressuscitou-as para destruí-las, tal o algoz que acorda a vítima para depois

matá-EDMILSON ANTUNES TAVARES

la. Você foi mal. Doeu em mim.

Terça-feira. Termino de ler o seu livro. Começo a escrever este plágio idiota. “Ranger de pneus”, nestas palavras começo a so-frer, e não paro nas últimas “Querer se amar”.

À tarde vou à cidade. Sinto vontade de contar tudo a uma amiga. Procurar alguém pra desabafar. Edleusa. Claro que vou pro-curá-la. Ela sabe de todos os meus segredos, é minha condente. Consigo ser explícito com ela.

Passo lá onde ela está trabalhando. Ela não está sozinha. Vou contando-lhe por partes. Eu preferia mesmo é que estivésse-mos sozinhos, talvez eu conseguisse expressar-me melhor. Falo, falo e falo, mas ela não me está compreendendo, sei que não.

Acabo confessando-lhe: –– Chorei ao ler esse livro. Ela explica-me calmamente:

–– É empatia, Mil, a gente sofre muito com isso. Mil é o meu alcunho. Gosto dele.

Já conversamos muito sobre empatia, eu tenho e ela tam-bém diz que tem, eu creio. Tentar pôr-se no lugar do outro, sofre-mos com dores que não são nossas.

É quase isso. Ou talvez um pouco disso, mas não é isso em si. Isso é muito cristão, tem ares da vida normal, e agora estou no inferno.

Na verdade é sempre assim, eu não consigo expressar-me como queria, e acabo depois me sentindo ridículo. Adoro conver-sar com ela, sinto necessidade de falar, abrir-me. Com as mulheres consigo abrir-me melhor. Assim falo de tudo que sinto, mostro-lhe poesias, demonstro-mostro-lhe meu jeito de pensar. Depois me sinto um idiota, ridículo. Fico pensando: não devia ter contado.

De depressão prero falar com Kalil, meu amigo. Eu e ele também somos tal qual você: um pouco o símbolo da conssão de um lho do século: “Então senta-se, em um mundo em ruínas,/ Uma juventude preocupada.”

Veio quarta. Hoje é quinta. Nunca sofri tanto na minha vida. Estou arrasado. Sempre que eu lembro, dói muito. Talvez sua história me tenha marcado por toda a minha vida. Duvido que

se eu viver cem anos e alguém me disser Barbara Samson eu não vá lembra-me de você. Sentir essa dor tão forte dentro do peito.

Seu jeito de escrever tem dor. Sempre adorei poesias e es-critos assim. Parece que poesia para ser poesia tem que ser triste. Parece que para marcar tem que ter dor. Se você derrama mel na mão, basta lavar e nem sinal. Se cai uma brasa, ca a marca.

Estou tentando mudar isso. Mas não é fácil. Eu próprio confessei um dia: “A felicidade é um anticoncepcional para um poeta, enquanto a dor é o seu próprio cio”. Mas eu quero mesmo é a poesia feliz. Sei que é impossível pelo ponto de vista humano tornar uma história como a sua um conto de fadas.

Como você pode ver desci ao inferno, mas retorno para minha fortaleza, Deus. Deus é algo diferente, muito diferente. Pa-rece estar distante desse submundo de nossas depressões, mas inunda tudo quanto há.

Este plágio, como denomino, é a primeira vez que consigo escrever deste jeito, neste tom. Você mudou minha história. Mas não é justo, não posso car sofrendo por você, não tanto. Não conheço você. Sei apenas que você é um pouco como eu. Até no-venta e dois éramos quase iguais. Eu sou hoje um tanto você aos dezessete anos, apesar de já ter vinte e um. Se é algo um tanto di-fícil uma jovem ser virgem aos dezessete anos, imagina um rapaz aos vinte e um. A primeira vez que beijei na minha vida tinha de-zessete anos, a pouco mais de um mês para completar dezoito. A maior travessura até hoje foi tocar com a boca os seios de uma mulher. A não ser pela televisão ou revistas eu nunca vi na minha frente, ao vivo, uma mulher nua.

Por quê? Primeiro porque acho que deve ser uma porcaria transar de camisinha. Aí me preocupa eu engravidar a minha par-ceira. Eu iria estragar a vida dela e a de um futuro ser. Isso seria insuportável para mim. Uma desgraça. Por isso quero transar com alguém que me pertença. Se ela engravidar nos casamos. E

tam-bém outra coisa me preocupa, quero conhecê-la ao máximo, pois tenho medo, perdoe-me, da AIDS.

Não. Não quero, não posso e não devo magoá-la. Quero apenas, apesar de não conhecê-la, tornar a sua vida um pouco

mais feliz. É meu dever de cristão. Saia da depressão, do subúrbio da vida e viva. Você vai morrer? Ora, eu também vou. O mundo vai. “Viver não é só estar na vida; é algo mais”, creia em mim.

Duas amigas. Lembre-se? Duas amigas. Uma é rica, a outra é pobre. A rica usa coisas por um tempo e as dá à pobre. E esta nunca mais às joga fora. Guarda-as. Eu, você, somos da amiga rica. Um brinco, um sapato ou uma pulseira, que esta empresta à sua amiga pobre para ir a uma festa ou o quê. E esta depois devolve. Podemos estar emprestados à morte durante nossas depressões, mas logo seremos devolvidos ao nosso lugar suntuoso no quarto rico da mansão da vida.

Não faça besteiras em suas depressões, diga a si mesma: “Espere um pouco”. Deixe sempre para amanhã. Eu gosto de ler essas poesias depressivas, elas são um pouco o que eu gosto de escrever. Mas eu gostaria mesmo de escrever é coisas bem felizes. Ser felicidade e luz para levá-las às pessoas:

Deixai-me ir Ir de encontro à Luz E contaminar-me de Luz

E ser luz para todos quantos vierem a mim.

Como você vê eu nunca que cito poesias de outros autores, é muito raro. Talvez por egoísmo. Não sei. A não ser os autores do Livro Eterno. Gosto de citá-los, sabedoria que leva à vida. Seu An-tony, Jim Morrison: “Toquei em sua anca/ e a morte sorriu.” Pre-ro citar João (10, 10), Jesus Cristo: “Vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundância”.

Mas o que eu, você, todos os seus autores (os que você cita), a terra inteira quer é amor. O que buscamos a vida toda é o amor. O amor em abundância nos leva à vida, traz felicidade.

Por isso os que conhecem o amor de Deus e entregam-se a Ele não se apartam mais. Deus é Amor. O Amor vivo. Podem dizer até que eu sou beato. Não me importa. Sou Católico Apostólico Romano, carismático. Tenho um Deus. Tenho vida. Tenho amor.

irradiem felicidade e vida.

A você deixo a vida no amor de Deus. Desejo-lhe muito isso. No mais é Adeus Barbara. Adeus Barbara Samson.

“Nada simples.

Querer se amar.” Amar, amar, amar…

Tudo quanto queremos. Amar e ser amados. Amor, muito amor. Amor em abundância, para afogar-nos em tudo que temos sede. Nossa sede de uma vida com um punhado de amor; nosso sonho com uma vida com um mar de amor. Nossa sede de amar.

O amor eternamente. Sempre o amor.

Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e dos anjos, se eu não tivesse o amor, seria como o sino ruidoso ou como o címbalo estridente.

Ainda que eu tivesse o dom da profecia, o conhecimento de todos os mistérios e de toda a ciência;

ainda que eu tivesse toda a fé, a ponto de remover montanhas, se não tivesse o amor,

eu não seria nada.

Ainda que eu distribuísse

todos os meus bens aos famintos, ainda que entregasse

o meu corpo às chamas, se não tivesse o amor, nada disso me adiantaria. O amor é paciente,

o amor é prestativo;

não é invejoso, não se ostenta, não se incha de orgulho. Nada faz de inconveniente,

EDMILSON ANTUNES TAVARES

não procura seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor.

Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais passará.

As profecias desaparecerão, as línguas cessarão,

a ciência também desaparecerá. I Coríntios 13,1-8

BIBLIOGRAFIA

A Gente Não É Sério Aos Dezessete Anos - Barbara Sansom - Editora Best Seller - Círculo do Livro

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