1. A ESCRITA COMO PRÁTICA SOCIAL: CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS
1.1.4 A escrita afirmada como um direito
Dada a importância da educação enquanto instrumento de transformação e
desenvolvimento social, o ensino de qualidade que garanta aos alunos se reconhecer como
cidadão pleno de sua sociedade, é uma exigência estabelecida desde a Constituição Federal de
(BRASIL, 1988. Art. 205). Portanto, o direito de aprender segue sendo reafirmado em vários
documentos oficiais elaborados após a Constituição Federal, tais como: o Estatuto da Criança
e do Adolescente – ECA por meio da Lei 8069, Art. 53, de 1990, o qual estabelece como um
dos deveres do estado, assegurar o direito a educação de crianças e adolescentes. Como
também a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394, Art. 32) promulgada
em 1996 que, estabelece como gratuito e obrigatório, o direito da criança de aprender a ler,
escrever, identificar os diferentes gêneros textuais disponíveis em seu entorno e aprender
sobre os assuntos e temas importantes que circulam na sociedade.
Com esse enfoque, vale ressaltar a elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais
– PCNs (1997), que reúnem orientações significativas para auxiliar as práticas de ensino do
sistema de escrita alfabética e demais aprendizagens que cabem à escola promover. O
proposto nos PCNs é justamente assegurar que as crianças dos anos iniciais no Ensino
Fundamental possam ter acesso a um ensino de qualidade que as possibilitem se constituir
cidadãs conscientes e participantes da sua realidade social.
Destacamos também, a Lei n. 11.274, de 24 de fevereiro de 2006, que garante a
entrada da criança de seis anos de idade no Ensino Fundamental de Nove Anos que teve como
principal objetivo garantir a educação para as crianças que até pouco tempo estiveram à
margem de uma realidade inclusiva, algumas até mesmo sem acesso as vagas nas instituições
públicas de ensino (MACIEL; BAPTISTA; MONTEIRO, 2009).
Tal iniciativa também veio assegurar a ampliação obrigatória que possibilita o contato
mais cedo da criança com as práticas pedagógicas direcionadas ao ensino de leitura e escrita.
Esse documento se configurou como uma diretriz necessária de ensino processual, ampliado e
consistente das competências linguísticas, tanto que ele não descarta os desafios que os
professores e as crianças podem encontrar na entrada dessa nova estrutura curricular
(BAPTISTA, 2009).
Nas últimas décadas, percebe-se que a preocupação da sociedade e discussões no
campo das ciências tem seguido na direção de conhecer e discutir sobre como, e em que
situações de uso a criança tem demonstrado o domínio do sistema de escrita alfabética,
partindo do pressuposto de que o processo da alfabetização requer da criança níveis de
desenvolvimento físico, cognitivo, emocional e, sobretudo social (FERREIRO;
TEBEROSKY 1999; VYGOTSKY, 2000; FAYOL, 2014).
Estudos no âmbito da Psicologia, Pedagogia, Linguística, têm demonstrado forte
interesse em investigar o processo de ensino e aprendizagem na alfabetização, por entender
que a leitura e a escrita são habilidades essenciais no desenvolvimento das competências
linguísticas, esses estudos tem contribuído com a crescente discussão sobre essa temática
(LEAL, 2005; ALBUQUERQUE, 2008; MORAIS 2012/2015; SÁ; LIMA, 2015).
De acordo com Albuquerque (2008), o fenômeno denominado analfabetismo tem sido
um dos temas recorrentes nas esferas sociais que discutem a educação no Brasil. Dentre as
discussões destacamos a preocupação com os últimos índices de desempenho escolar e
proficiência em leitura e escrita dos alunos nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Visto
que por um lado temos os resultados do IDEB6 (2017) sinalizando o avanço crescente no
desempenho dos alunos, nas competências em Língua Portuguesa e Matemática,
simultaneamente aos altos índices de aprovação e redução de evasão escolar. Por outro lado,
os índices da ANA7 em sua terceira edição (2016), que relataram níveis de proficiência
insuficientes dos alunos do 3º ano do ensino fundamental, e especificamente em relação à
escrita, a ANA declarou que 66,15% dos alunos que constituem essa fase escolar estão nos
níveis 4 e 5, ou seja 33,95% desses alunos se inserem nos níveis 1, 2 e 3 considerados
insuficientes, tal como foram os resultados da 2º edição divulgados em 2014 (SÁ; LIMA,
2015; BRASIL, 2017).
Uma vez que a mensuração do desempenho escolar tornou-se uma realidade no âmbito
educacional brasileiro, o acesso aos últimos índices desencontrados principalmente em
relação à competência em leitura e escrita, tem sido de grande importância para a reflexão do
Governo Federal, Estados e Municípios, bem como tem provocado inquietações em
professores, gestores e pesquisadores quanto à recorrência de baixo desempenho dos alunos
em boa parte das escolas brasileiras (MACIEL; BAPTISTA; MONTEIRO, 2009; SÁ; LIMA,
2015).
Dada à relevância do desempenho escolar no âmbito brasileiro, o transcurso por essas
discussões nos permite compreender que principalmente na alfabetização, para além do
acesso a educação, a qualidade da aprendizagem também precisa ser garantida aos alunos, e
para que de fato esses direitos sejam garantidos, parece ser imprescindível que o estado
representado pela escola, desenvolva estratégias de ensino e organização de um currículo que
possibilite a criança ler e escrever com espontaneidade e autonomia.
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IDEB - É o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, criado em 2007, pelo Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), formulado para medir a qualidade do aprendizado nacional e estabelecer
metas para a melhoria do ensino.
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ANA - Um dos instrumentos do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), avalia os níveis de alfabetização e
letramento em língua portuguesa, a alfabetização em matemática e as condições de oferta do ciclo de alfabetização das redes
públicas.
Essas discussões também têm contribuído para a tomada de decisões das políticas
públicas8 direcionadas a iniciativas e investimentos para requerer caminhos que possam
atenuar a realidade do baixo desempenho na competência em leitura e escrita instalada no
contexto brasileiro (BAPTISTA, 2010; BIANCHI, 2015; BRASIL, 2012; 2016).
Dentre as iniciativas podemos destacar o PNAIC - Pacto Nacional pela Alfabetização
na Idade Certa, instituído em 04 de julho de 2012, a construção do Pacto teve como base as
Leis no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, nº 11.273, de 06 de fevereiro de 2006, e no art. 2º
do Decreto nº 6.094 de 2007, no art. 2º do Decreto nº 6.755 de 2009 e no art. 1º, parágrafo
único do Decreto nº 7.084 de 2010 (BRASIL, 2012) e constituiu-se essencialmente como um
programa de formação continuada que surgiu principalmente pela necessidade de conhecer,
discutir e orientar práticas de ensino na alfabetização, tendo em vista os recorrentes
apontamentos dos índices de baixo desempenho dos alunos nas competências em leitura e
escrita:
Na história do Brasil, temos vivenciado a dura realidade de identificar que muitas
crianças têm concluído sua escolarização sem estarem plenamente alfabetizadas,
assim, este Pacto surge como uma luta para garantir o direito de alfabetização plena
a meninas e meninos, até o 3º ano do ciclo de alfabetização. Busca-se, para tal,
contribuir para o aperfeiçoamento da formação dos professores alfabetizadores
(BRASIL, 2012).
De certo, outras iniciativas em favor da aprendizagem na alfabetização no Brasil já
foram implementadas. No entanto, o PNAIC se destaca pela intenção de validar a perspectiva
de desenvolvimento progressivo buscando garantir que, ao longo dos três anos do ciclo da
alfabetização a criança possa ter direito ao acesso as diversas aprendizagens inerentes a esta
fase tão decisiva da vida escolar, e dessa forma assegurar que progressivamente as crianças
até os 08 anos de idade consigam dominar o sistema de escrita alfabética lendo, escrevendo e
produzindo textos autônomos sendo capazes de perceber seu senso de pertencimento em
qualquer atividade social ou cultural (LEAL, 2005; MORAIS, 2012; FARIA,
CAVALCANTI; SILVA, 2016).As ações do PNAIC consistiram em:
Este Pacto é constituído por um conjunto integrado de ações materiais e referências
curriculares e pedagógicas a serem disponibilizados pelo MEC, tendo como eixo
principal a formação continuada de professores alfabetizadores. As Ações do Pacto
apoiam-se em quatro eixos de atuação: 1. Formação continuada presencial para os
professores alfabetizadores e seus orientadores de estudo; 2. Materiais didáticos,
obras literárias, obras de apoio pedagógico, jogos e tecnologias educacionais; 3.
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