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TDE TOTAL ESCRITA ARITMÉTICA LEITURA

No documento Aprendizagem e comportamento humano (páginas 124-132)

Avaliação do professor, rendimento acadêmico e problemas de comportamento

TDE TOTAL ESCRITA ARITMÉTICA LEITURA

GI 59,12 12,28 11 36,12

GS 91,38 20,33 15,38 54,75

O TDE, além de sua pontuação bruta, fornece também uma clas- sificação baseada na média esperada para a série da criança, confor- me apresenta a Figura 1. Observa-se que tanto na Etapa I como na Etapa III, a maioria dos alunos, independente do grupo, teve um desempenho considerado inferior à média esperada para sua série. Os dados mostram que mais de 80% do GI e de 60% do GS obtive- ram classificações inferiores à média na Etapa I, no Total ou nos subtestes. No GI, o melhor desempenho foi em Escrita, e o pior, em Leitura. Já no GS, o melhor foi em Escrita, e o pior, em Aritmética.

Figura 1 – Distribuição do percentual da classificação do desempenho dos alunos por grupo no TDE nas Etapas I e III (pré e pós)

124 TÂNIA GRACY MARTINS DO VALLE E ANA CLÁUDIA BORTOLOZZI MAIA (ORGS.) Na Etapa III, ambos os grupos melhoram sua média, porém cer- ca de 70% dos alunos do GI permaneceram classificados com de- sempenho inferior à média esperada para sua série, sendo o pior de- sempenho do grupo no subitem Escrita. Já no GS, menos de 60% dos alunos foram classificados com desempenho inferior no Total ou nos subtestes do TDE.

Comparações intra e intergrupos foram conduzidas consideran- do o desempenho dos grupos nas duas etapas (I e III). Nas análises conduzidas intragrupo, o desempenho dos dois grupos melhorou significativamente da Etapa I para a Etapa III. As análises estatísti- cas desses dados estão apresentadas na Tabela 3. Todavia, a compa- ração intergrupos em cada uma das etapas aponta para desempenho significativamente pior do GI na Etapa I em uma das avaliações con- duzidas (em Leitura), e na Etapa III observam-se diferenças signi- ficativas em duas das quatro análises conduzidas, no desempenho Total e em Aritmética, com melhor desempenho do GS.

Tabela 3 – Valor da significância das comparações dos grupos nas Etapas I e III

GI GS GI x GS GI x GS Etapa I x Etapa III Etapa I x Etapa III Etapa I Etapa III

valor de p valor de p TDE – Total 0,00013 0,0008 n.s.* 0,033 TDE – Escrita 0,00766 0,0223 n.s. n.s. TDE – Aritmética 0,00085 0,0012 n.s. 0,030 TDE – Leitura 0,00059 0,0114 0,021 n.s. * n.s. = não significativo

Discussão

A análise da avaliação do desempenho de alunos, sob o ponto de vista de seus professores, indicados como apresentando comporta- mento problemáticos e de outro grupo de alunos sorteados, antes e

depois de um curso sobre manejo comportamental, apontou para a correspondência entre a indicação de aluno com problemas de com- portamento e o resultado na ECI-B. Essa capacidade do professor de identificar os problemas de comportamento também foi encon- trada por Feitosa, Del Prette & Loureiro (2007), com resultados que mostraram que indicadores de competência acadêmica foram corre- lacionados negativamente com problemas de comportamento.

Na Etapa I, o GI também apresentou resultados brutos, na ava- liação do TDE, menores que os apresentados pelo GS, sendo a dife- rença significativa apenas no subteste Leitura. Esse fato deve ser foco de atenção, pois, como apontam Oliveira, Boruchovitc & Santos (2008), a habilidade de leitura pode ser considerada como preditora do desempenho em Aritmética e Português. Defasagens dessa ha- bilidade podem influenciar desempenhos futuros da criança. Mas como podemos observar na Etapa III, o GI melhorou seu desempe- nho, e embora com resultado bruto menor que o GS, essa diferença não é mais significativa. Porém, as diferenças favorecem o GS no subteste Aritmética e no Total do TDE.

Vale aqui ressaltar outro dado. Na Etapa III, ambos os grupos tiveram melhoras no Total e nos subtestes do TDE, as quais foram significativas. Mas, como apresentado, em ambas as etapas, mais de 50% dos alunos continuaram com classificação inferior no TDE. Esse resultado é de preocupação pública e não foi diferente dos resulta- dos encontrados por Dias, Enumo & Turini (2006), quando alunos avaliados após um ano, embora ampliassem seu repertório, não apre- sentavam melhora suficiente para mudar sua classificação de infe- rior para médio ou superior no TDE. Correia & Rodrigues (2007) também identificaram que a maior parte dos alunos classificados no TDE com desempenho inferior obteve de seus professores nota bimestral dentro da média, sugerindo divergências entre a avaliação escolar e o TDE. Vale ressaltar que as notas bimestrais não foram consideradas neste estudo e pode-se sugerir que em pesquisas futu- ras seja investigada essa variável.

Com relação à avaliação dos problemas de comportamento na Etapa III, os grupos continuaram diferindo significativamente, mas

126 TÂNIA GRACY MARTINS DO VALLE E ANA CLÁUDIA BORTOLOZZI MAIA (ORGS.) os resultados brutos sugerem que houve diminuição na presença e/ ou frequência de comportamentos problemáticos. No GI, a média diminuiu para 9,1, valor esse muito próximo ao limite para indica- ção para tratamento clínico. Provavelmente esse resultado seja de- corrente da participação das professoras no curso, durante a Etapa II, o que proporcionou um repertório para melhor planejamento e execução das atividades, bem como auxiliou na condução dos com- portamentos problemas por meio de técnicas precedidas pela análi- se do comportamento, assim como sugerem Pinheiro, Del Prette & Del Prette (2009).

Enfim, os resultados do presente trabalho indicaram que alunos que apresentaram problemas de comportamento na avaliação de seu professor tiveram mais chances de ter um rendimento acadêmico prejudicado, tanto no começo do ano letivo quanto no final. Isso deve ser foco de atenção, como apontam as pesquisas na área (Gam & Jesus, 1994; Collares, 1995; Graminha & Santos, 2005). Os efei- tos do fracasso escolar podem ser considerados fatores de risco ao desenvolvimento da criança, acompanhando-a ao longo dos anos e interferindo em outros contextos, como escola e família. Porém, os dados sugerem que problemas de comportamento dos alunos po- dem ser alterados ao longo do ano. Neste estudo, a melhora pode se dever à participação dos professores em um curso de atualização ocor- rido na própria escola, no sentido de incrementar em seu repertório habilidades focadas para a questão. No entanto, sugerimos estudos com grupos cujos professores não passaram pela atualização (Gru- po Controle), para que se realizem comparações e afirmações mais fidedignas sobre sua eficácia.

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