• Nenhum resultado encontrado

Uma síntese possível da reconstrução conceitual

No documento Aprendizagem e comportamento humano (páginas 191-196)

De modo geral, parece que restam duas opções ao analista do comportamento quando tenta conceituar o “prestar atenção”: ou (1) ele segue uma postura “eliminativista” e assume que, havendo um termo menos carregado historicamente de características mentalistas (i.e. controle de estímulos), a expressão “prestar atenção” não é neces- sária e deve ser evitada, ou (2) ele segue uma postura mais “compre- ensiva” e conceitua o “prestar atenção” como um sistema complexo de comportamentos que pode ser analisado em vários níveis, como a verificação da presença de controle de estímulos ou o estudo de com- portamentos precorrentes, sejam eles encadeados ou ROs, mas que interfiram no controle diferencial exercido por um estímulo. A dife- rença nas duas proposições pode ser interpretada como uma diferença na abrangência da classe de respostas a que se refere a expressão “prestar atenção” (Strapasson & Dittrich, 2008), contudo a coexis- tência das duas proposições não resolve o principal problema da pes- quisa sobre o tema, a multiplicidade de sentidos em que a expressão é utilizada. É necessário, portanto, avaliar os benefícios alcançados com cada uma das formas de abordar o “prestar atenção” e, eventual- mente, optar por uma delas.

Assumir a primeira postura evita os sistemas conceituais comu- mente associados à expressão “prestar atenção” na literatura psico- lógica ampla e no senso comum, e é coerente com a prática skinneriana de se abandonar os termos que carregam esses esque-

mas conceituais, retomando-os apenas quando justificativas siste- máticas tiverem sido obtidas (Skinner, 1938/1991). Entretanto, o fato de os estudos experimentais ainda não terem conseguido acessar diretamente os eventos (até o momento) encobertos considerados como influentes no estabelecimento de controle de estímulos, pode ser indicado como uma justificativa para a permanência da expres- são. Com efeito, para se alcançar plenamente os benefícios dessa postura, seria necessário substituir a expressão “prestar atenção” pela expressão “comportamento precorrente”, pois só assim a AC pode- ria descrever os fenômenos sob esse rótulo apenas com termos pró- prios, desvinculados dos problemáticos esquemas conceituais diver- gentes. Essa é uma postura legítima na AC, mas pode contribuir com o que Krantz (1971) indicava como isolamento da AC da Psi- cologia como um todo e a dificuldade cada vez maior de comunica- ção entre a AC e áreas afins (ver debate no JEAB, v.60, de 1993, sobre a possibilidade de a AC se reaproximar da Psicologia sem abrir mão de suas características fundamentais).

Assumir a segunda postura, apesar de exigir do pesquisador que clarifique o sentido em que usa a expressão “prestar atenção” (para não ser acusado de recorrer a instâncias mentalistas), se aproxima mais da interpretação, a qual se sugeriu ser a de Skinner (Strapasson & Dittrich, 2008), de que o “prestar atenção” pode ser avaliado em vários níveis de análise. Essa postura também é plenamente legíti- ma no Behaviorismo Radical, uma vez que não inclui nenhum evento mentalista, mediador ou iniciador do comportamento de “prestar atenção”. Além disso, em se tratando de uma tradução conceitual dessa expressão, as consequências úteis de uma tradução poderão ser mais amplamente alcançadas (Strapasson et al., 2007), especial- mente as consequências políticas de maior disseminação das pro- postas da AC e a consequente melhor comunicação entre esta e dis- ciplinas afins.

Sendo as duas propostas compatíveis com a AC, na medida em que uma prescrição política possa ser indicada como critério de es- colha entre as duas proposições, dever-se-ia optar pela segunda em prol da sobrevivência da AC enquanto prática cultural.

192 TÂNIA GRACY MARTINS DO VALLE E ANA CLÁUDIA BORTOLOZZI MAIA (ORGS.)

Referências bibliográficas

DINSMOOR, J. A. Observing and conditioned reinforcement. Behavioral and Brain Sciences, v.6, p.693-704, 1983a.

. Some more information on observing and some more observations on information. Behavioral and Brain Sciences, v.6, p.718-24, 1983b.

. The role of observing and attention in establishing stimulus control. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, v. 43, p.365- 81, 1985.

DITTRICH, A. et al. Sobre a observação enquanto procedimento me- todológico na análise do comportamento: positivismo lógico, operacionismo e behaviorismo radical. Psicologia: teoria e pesquisa, v.25, p.179-87, 2009.

DONAHOE, J. W.; PALMER, D. C.; BURGOS, J. E. Learning and complex behavior. Boston: Allyn and Bacon, 1994.

FANTINO, E.; LOGAN, C. A. The experimental analysis of behavior: a biological perspective. San Francisco: Freeman, 1979.

HAMLIN, P. H. Observing responses as an index of attention in chickens. Journal of Experimental Psychology: animal behavior pro- cesses, v.1, p.221-34, 1975.

HENDRY, D. P. Introduction. In: . (Org.). Conditioned reinforcement. Illinois: The Dorsey Press, 1969, p.1-33.

HINELINE, P. H. A self-interpretive Behavior Analysis. American Psychologist, v.47 n.11, p.1274-86, 1992.

KELLEHER, R. T. Stimulus-producing responses in chimpanzees. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, v.1 n.1, p.87-102, 1958.

KRANTZ, D. The separate worlds of operant and non-operant psychology. Journal of Applied Behavior Analysis. v.4, p.61-70, 1971. MACKINTOSH, N. J. The effect of attention on the slope of generalization gradients. British Journal of Psychology, v.56, p.87- 93, 1965a.

. Selective attention in animal discrimination learning. Psychological Bulletin, v.64, p.124-50, 1965b.

. A theory of attention: variations in associability of stimuli with reinforcement. Psychological Review, v.82, p.276-98, 1975.

NEVIN, J. A.; DAVISON, M.; SHAHAN, T. A. A theory of attending and reinforcement in conditional discriminations. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, v.84 n.2, p.281-303, 2005. REYNOLDS, G. S. Attention in the pigeon. Journal of the Experimen-

tal Analysis of Behavior, v.4, p.203-8, 1961.

SCHROEDER, S. R.; HOLLAND, J. G. Reinforcement of eye movement with concurrent schedules. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, v.12 n.6, p.897-903, 1969.

SÉRIO, T. M. A. P.; ANDERY, M. A.; GIOIA, P. S. MICHELETTO, N. Controle de estímulos e comportamento operante: uma introdução. São Paulo: Educ, 2002.

SHAHAN, T. A.; MAGGE, A.; DOBBERSTEIN, A. The resistance to change of observing. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, v.80 n.3, p.273-93, 2003.

SKINNER, B. F. Behavior of organisms. Acton, MA: Copley Publishing Group, 1991 (Obra originalmente publicada em 1938).

. The operational analysis of psychological terms. Behavior and Brain Sciences, v.7 n.4, p.547-53, 1984. (obra originalmente publi- cada em 1945)

. Science and human behavior. New York: Macmillan, 1965 (obra originalmente publicada em 1953).

. The science of learning and the art of teaching. In: LATIES, V. G.; CATANIA, A. C. (Orgs.). Cumulative record. Definitive edition. Acton: Copley Publishing Group, 1999, p179-91. (obra ori- ginalmente publicada em 1954).

. The experimental analysis of behavior. American scientist, v.45, p.343-71, s. d.

. Why we need teaching machines? In: LATIES, V. G.; CATANIA, A. C. (Orgs.). Cumulative record. Definitive edition. Acton: Copley Publishing Group, 1999, p.217-239. (obra original- mente publicada em 1961)

. Behaviorism at fifty. Behavior and Brain Sciences, v.7 n.4, p.615-20, 1984. (obra originalmente publicada em 1963)

. Teaching thinking. In: . (Org.) The Technology of teaching. New York: Meredith Corporation, 1968, p.115-44.

. Beyond freedom and dignity. Indianapolis: Hackett Publishing Company, 2002. (obra originalmente publicada em 1971).

194 TÂNIA GRACY MARTINS DO VALLE E ANA CLÁUDIA BORTOLOZZI MAIA (ORGS.) . Coming to terms with private events. Behavior and Brain Sciences, v.7 n.4, p.572-9, 1984.

STRAPASSON, B. A. O conceito de “prestar atenção” na Análise do Comportamento de B. F. Skinner. Dissertação (mestrado em Psico- logia do Desenvolvimento e Aprendizagem). Unesp, Bauru, 2008. 271p.

; CARRARA, K.; LOPES JUNIOR, J. Consequências da in- terpretação funcional de termos psicológicos. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, v.9, p.227-39, 2007.

; DITTRICH, A. O conceito de “prestar atenção” para Skinner. Psicologia: teoria e pesquisa, v.29, p.519-26, 2008.

WYCKOFF, L. B. The role of observing responses in discrimination learning. Psychological Review, v.59 n.6, p.431-42, 1952.

ZEAMAN, D.; HOUSE, B. J. The role of attention in retardate discrimination learning. In: ELLIS, N. R. (Org.). Handbook of men- tal deficiency. New York: McGraw-Hill, 1963, p.159-73.

ZURIFF, G. E. Behaviorism: a conceptual reconstruction. New York: Columbia University Press, 1985.

No documento Aprendizagem e comportamento humano (páginas 191-196)