• Nenhum resultado encontrado

Esforços Comuns – pela ação comum: propostas de mudança institucional e

1 O conceito de desenvolvimento sustentável no Relatório Brundtland: limites e

1.3 Compreendendo o Relatório

1.3.3 Esforços Comuns

1.3.3.3 Esforços Comuns – pela ação comum: propostas de mudança institucional e

Sobre este terceiro esforço, a comissão afirmava que a busca da sustentabilidade ambiental passava necessariamente por mudanças paradigmáticas no que tange ao combate à pobreza internacional, à busca pela paz mundial e à administração das áreas comuns.

Com relação a tais mudanças, o relatório apresentou a seguinte análise:

O dever de agir não cabe apenas a um grupo de nações. Os países em desenvolvimento enfrentam os desafios da desertificação, do desflorestamento e da poluição, e suportam a maior parte da pobreza ligada à deterioração ambiental. (...) As nações industrializadas enfrentam os desafios dos produtos tóxicos, dos rejeitos tóxicos e da acidificação. Todas as nações, por outro lado, têm um papel a desempenhar no sentido de assegurar a paz, mudar tendências e corrigir um sistema econômico internacional que aumenta a desigualdade em vez de diminuí-la, que aumenta o número de pobres e famintos em vez de diminuí-lo (COMISSÃO MUNDIAL PARA O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 1991, p. 345-356).

Nota-se que a comissão apresentou um levantamento realista sobre a situação do planeta com relação aos processos de degradação ambiental. Além disso indicou o sistema econômico como ator principal na geração de desigualdades sociais.

Ao apontar a necessidade de mudanças institucionais e legais, a comissão afirmava ser fundamental que órgãos nacionais e internacionais, ligados diretamente à problemática ambiental ou não (Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial, por exemplo), se comprometessem a elaborar políticas no combate às desregulações ambientais, tendo em vista que:

Alguns países já dispõem de estruturas bilaterais e regionais comparativamente bem desenvolvidas, embora a muitos ainda faltem o mandato e o apoio necessários para desempenhar as funções muito mais amplas que se esperam deles no futuro. Entre tais estruturas contam-se muitas instituições bilaterais especializadas, como a Comissão

Conjunta Internacional Canadá/EUA; agências sub-regionais europeias como as Comissões para o rio Reno, o rio Danúbio e o mar Báltico; e organizações como o Conselho de Assistência Econômica Mútua (Caem), a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a Comunidade Europeia (CEE). Estes organismos dão a seus países membros uma excelente base sobre a qual trabalhar. Embora a maioria deles possua programas eficazes de cooperação internacional relativos à proteção ambiental e à dominação dos recursos naturais, tais programas terão de ser fortalecidos e adaptados a novas prioridades. As organizações regionais, em especial, precisam trabalhar mais para integrar plenamente o meio ambiente em seus programas macroeconômicos, comerciais, energéticos e de outros setores (COMISSÃO MUNDIAL PARA O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 1991, p. 352-353).

Apesar dos esforços diplomáticos envidados pelas Nações Unidas nos últimos 30 anos para se alcançar o desenvolvimento sustentável (por meio de Conferências Internacionais como citamos anteriormente), a realidade foi outra. A falência de acordos internacionais de proteção ambiental – como, por exemplo, o Protocolo de Quioto38 –, revela que a busca de mudanças

institucionais e legais não foram objetivadas. A criação de organismos bilaterais fortes, em especial nos países em desenvolvimento – como proposto, pela comissão, para se alcançar tais mudanças – não foram concretizadas.

Afirmamos em nossa tese que o desenvolvimento sustentável é falacioso, tendo em vista que é um modelo que se sustenta na satisfação das necessidades das gerações atuais, permitindo que as gerações futuras também satisfaçam as suas. Nesse sentido e, para finalizarmos esta primeira parte do capítulo, queremos sublinhar dois fatores que, em nossa compreensão, são fundamentais para sustentarmos nossa tese.

O primeiro é o fato de a comissão não efetivar em suas análises o problema do consumo. Como verificamos, são raras as vezes em que ela aponta para a necessidade de se rever os níveis de consumo nos países industrializados. Para nós, a questão do consumo é um dos pilares da insustentabilidade ambiental – como veremos no capítulo dois.

O segundo é a constante afirmação da Comissão sobre a pobreza dos países em desenvolvimento ser um obstáculo decisivo para não se objetivar o desenvolvimento sustentável. Esquece-se de dizer que um dos pilares para o aumento do consumo é o aumento da renda da sociedade, o que significa que as pressões ambientais desses países ao saírem da pobreza será de outra ordem. A partir da segunda parte do capítulo, aprofundaremos esse debate.

38O Protocolo de Quioto (BRASIL, 2013c) é um conjunto de intenções assinado em 1997 pelos países industrializados desenvolvidos, segundo o qual estes países reduziriam suas emissões combinadas de gases de efeito estufa em pelo menos 5% em relação aos níveis de1990 até o período entre 2008 e 2012. Os Estados Unidos assinaram, mas não ratificaram, o protocolo, sendo um dos países que mais lançam gases causadores do efeito estufa.

Quadro 1 – Relatório Brundtland x Objetivos do Desenvolvimento Sustentável

QUADRO SINÓTICO DO RELATÓRIO

NOSSO FUTURO COMUM (Relatório Brundtland - 1987)

OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (a serem atingidos em 2030) Parte 1 Preocupações Comuns O futuro do planeta

Obstáculos a serem vencidos:

1) Pobreza

2) Modelo de crescimento 3) Degradação dos recursos

naturais

4) Crise econômica

Objetivo 1

Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares.

Objetivo 8

Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos.

Objetivo 10

Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles.

Elementos para se alcançar o DS 1) Apresentação do conceito de desenvolvimento sustentável (DS). 2) Compreensão de que os recursos naturais são bens comuns.

Estratégias:

a) Crescimento econômico. b) Alteração no modelo de

crescimento econômico. c) Atendimento das necessidades

humanas essenciais.

d) Controle do crescimento populacional.

e) Manutenção da base dos recursos naturais.

f) Aperfeiçoamento da tecnologia e controle dos riscos.

g) Inclusão das questões ambientais e da economia nos processos decisórios locais e globais.

Objetivo 4

Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos.

Objetivo 5

Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas.

Objetivo 6

Assegurar a disponibilidade e a gestão sustentável da água e saneamento para todos.

Objetivo 8

Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos.

O papel da economia internacional

Compreensão das relações econômicas internacionais e inserção das questões ambientais para a conquista do DS.

Objetivo 17

Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável.

População e recursos

Controle populacional

especialmente nos países do Terceiro Mundo39.

Objetivo 3

Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades.

39 Mantivemos a expressão Terceiro Mundo conforme eram chamados os países em desenvolvimento até o fim

Parte 2 Desafios Comuns Segurança Alimentar Aperfeiçoamento da produção e distribuição mundial de alimentos, levando em consideração a proteção do solo e recursos hídricos.

Objetivo 2

Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável.

Objetivo 6

Assegurar a disponibilidade e a gestão sustentável da água e saneamento para todos.

Espécies e Ecossistemas

Proteção e administração dos ecossistemas – locais e globais – necessários ao desenvolvimento da vida e, por consequência, da economia.

Objetivo 15

Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade.

Energia

Busca de novos modelos energéticos não degradantes ao meio ambiente.

Objetivo 7

Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todos.

Indústria

Rever o modelo industrial buscando novas formas de produção menos impactantes aos recursos naturais.

Objetivo 9

Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação.

Objetivo 12

Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis.

Desafio Urbano

Reordenar o espaço urbano evitando o crescimento desordenado das cidades, com vistas ao equilíbrio, em especial nos países pobres. Minimização da poluição e melhoria nos assentamentos humanos.

Objetivo 11

Tornar as cidades e os

assentamentos humanos

inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis.

Parte 3 Esforços Comuns

Administração

das áreas comuns Compreensão local e global da necessidade de proteção dos recursos naturais transnacionais (atmosfera, mares e oceanos).

Objetivo 13

Tomar medidas urgentes para combater a mudança climática e seus impactos.

Objetivo 14

Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável.

Paz, Segurança, Desenvolvimento, Meio Ambiente

Conquista da paz e da segurança (local e global) como fundamentos para não degradação ambiental. Promoção da proteção dos recursos naturais como elementos para a busca da paz e da segurança.

Objetivo 16

Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir

instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis.

Pela ação comum: Propostas de mudança institucional e legal

Busca da cooperação internacional com vistas a reorientações das práticas políticas no âmbito regional e internacional, cujo fundamento de tais práticas seja a preservação ambiental.

Objetivo 15

Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade.

Objetivo 13

Tomar medidas urgentes para combater a mudança climática e seus impactos.

Objetivo 14

Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável.

Organização e tabulação: O autor