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Algumas empresas têm se revelado incapazes de garantir os direitos mínimos previstos nas legislações vigentes, ensejando situações constrangedoras no ambiente de trabalho, contribuindo para as desavenças e desentendimentos, seja entre empregados e seus encarregados como entre os próprios trabalhadores e assim sucessivamente, conforme for o caso.

O assédio moral representa violência multilateral contra a vítima, e por conta desta multilateralidade apresenta algumas espécies possíveis. A respeito, destacam-se os ensinamentos de Peli e Teixeira (2006, p. 27):

O assédio moral é um mal avassalador que ocorre usualmente na relação entre chefes e subordinados, mas que pode ocorrer também nas relações horizontais, ou seja, entre pessoas do mesmo nível hierárquico e até mesmo de baixo para cima na relação de subordinados com superiores hierárquicos [...]

Daí extraem-se as seguintes categorias classificatórias do assédio moral no espaço de trabalho: vertical descendente, vertical ascendente, horizontal e misto.

a) Assédio moral vertical

O assédio moral vertical é aquele perpetrado por pessoas de níveis hierárquicos distintos, podendo envolver tanto empregados celetistas como estatutários, bem como partir do superior para com o empregado no caso do assédio moral descendente ou do empregado para com o superior no caso do assédio moral ascendente. É a modalidade mais comumente verificada no ambiente de trabalho, até porque a diferença hierárquica entre os sujeitos envolvidos possibilita formas de ocultar a verdadeira realidade vivida pela vítima das humilhações.

a.1) Assédio moral vertical descendente

Como o próprio nome diz, o assédio moral descendente representa a ação de um superior contra o seu subordinado, abusando do poder de chefia que lhe é conferido. Trata-se de modalidade de assédio vertical porque se dá entre pessoas de nível hierárquico diferente. Explica Alkimin (2010, p. 61):

[...] é proveniente do empregador, compreendido na expressão do empregador propriamente dito, bem como qualquer outro superior hierárquico (diretor, gerente, chefe, supervisor), que receba uma delegação do poder de comando.

Muitas empresas utilizam-se dessa situação de maneira estratégica para reduzir a quantidade de trabalhadores na empresa, de modo a eliminá-los ou

ainda fazê-los pedir demissão ante as situações humilhantes enfrentadas no local de trabalho (ALKIMIN, 2010, p. 61).

Com efeito, o elemento do abuso de autoridade é o que se faz presente de forma notória nesta modalidade, como entende Hirigoyen (2012, p. 82):

A agressão, no caso, é clara: é um superior hierárquico que esmaga seus subordinados com seu poder. Na maior parte das vezes, é este o meio de um pequeno chefe valorizar-se. Para compensar sua fragilidade identitária, ele tem necessidade de cominar e o faz tanto mais facilmente quanto mais o empregado, temendo a demissão, não tiver outra escolha a não ser submeter-se. A pretexto de manter o bom andamento da empresa, tudo se justifica: horários prolongados, que não se podem sequer negociar, sobrecarga de trabalho dito urgente, exigências descabidas.

Pode-se dizer que esse assédio moral é o mais perigoso no contexto atual, tendo em vista o poder que ele tem de causar danos físicos e psicológicos ao trabalhador que se vê diante de uma situação em que é obrigado a aceitar tudo aquilo que é imposto pelo assediador (superior hierárquico ou empregador) a fim de garantir o seu emprego.

a.2) Assédio moral vertical ascendente

Tem-se, ainda, o assédio moral ascendente que, de maneira contrária àquela exposta anteriormente, verifica-se nos casos em que o superior é agredido por subordinados, caso que raramente é verificado no contexto atual do ambiente de trabalho. No entanto, também se trata de uma modalidade de assédio vertical porque os níveis hierárquicos dos envolvidos são diferentes.

Alkimin (2010, p. 36) explica:

[...] forma de violência psíquica praticada no local de trabalho, e que consiste na prática de gestos, atos, palavras e comportamentos humilhantes, onde acabam constrangendo de forma sistemática e prolongada, cuja prática pode ser pelo sujeito ativo no caso o empregador ou superior hierárquico (assédio vertical), um colega de serviço (assédio horizontal), ou por um subordinado (assédio ascendente), com intenção de discriminar e perseguir, buscando eliminar a vítima do ambiente de trabalho.

A raridade das situações de assédio moral vertical ascendente se dá porque o superior hierárquico geralmente tem meios para coibir tais práticas que

decorrem de sua legitimação como autoridade no ambiente de trabalho. Logo, com receio de serem prejudicadas pelo superior, dificilmente as pessoas praticam assédio moral contra ele.

b) Assédio moral horizontal

Por outro lado, o assédio moral horizontal é aquele verificado pelos próprios colegas de trabalho em razão de diferença salarial, competitividade, promoção, fatores religiosos, raciais, dentre outros que resultam em humilhações constantes, manifestadas por meio de acusações e ofensas capazes de denegrir a imagem do empregado na empresa. Isso significa que nesse caso não há divergência hierárquica entre assediado e assediador, pois ocupam cargos considerados de um mesmo grau de importância.

Nota-se que as agressões entre colegas de trabalho no ambiente de prestação deste pode ser motivada de várias formas, dentre elas as originadas pela inimizade pessoal relacionada à história de cada um dos protagonistas ou até mesmo pela competitividade. Qualquer que seja sua forma de manifestação, pode-se perceber que os poderes transferidos aos chefes de determinados pode-setores, muito embora sejam competentes no plano profissional, não são capazes de apresentar o mesmo desempenho no que se refere à direção de um grupo de pessoas a ele subordinados, desencadeando conflitos demasiados e difíceis de serem solucionados (HIRIGOYEN, 2012, p. 73).

c) Assédio moral misto

Por fim, há também o assédio moral misto, que envolve sujeitos de mais de uma modalidade, tendo em vista que decorre da omissão do superior hierárquico frente a uma agressão apresentada. Desta forma, a vítima é agredida tanto pelos superiores ou subordinados como por pessoas da mesma hierarquia profissional. Neste caso, a ofensa desencadeada pelo ofensor principal provoca as demais agressões dos colegas de trabalho, representando a forma mais prejudicial e capaz de acarretar mais intensamente danos psíquicos e morais à vítima.

Independente da forma que seja manifestado o assédio moral, o que não paira dúvida é que a violência sofrida atinge não apenas os direitos da personalidade, mas a própria dignidade do trabalhador, contribuindo para o

desemprego forçado, representando nitidamente uma ofensa ao disposto na Magna Carta, que busca resguardar os direitos fundamentais da pessoa humana.