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Poder Legislativo brasileiro

3.4 O Papel dos Entes Sociais na Efetivação do Combate ao Assédio Moral no

3.4.2 Poder Legislativo brasileiro

consolidado pela própria Organização Internacional do Trabalho, o qual cabe ser seguido por todos os seus Estados-membros.

assédio moral de forma a ampliar a proteção do trabalhador. Embora a elaboração de lei específica não seja uma solução suficiente para a efetivação da punição por práticas de assédio moral, pode ser um caminho para a amenização desta falta de efetividade.

Dado o número expressivo de comportamentos capazes de gerar esse tipo de violência psíquica (o assédio moral), podemos afirmar que não existe nenhuma empresa e nenhum de seus integrantes que estejam isentos do risco de incorrer nesta prática reprovável. Portanto, apesar de, em geral, o assediador ser um perverso, todos nós poderemos nos enquadrar no tipo legal quando nos deixamos vencer pelo ódio, pela vaidade excessiva ou pela tentação de impor nossas opiniões, como senhores absolutos de verdade. E para conter essa tentação deve-se deixar claro, na legislação, para todos, os membros de uma empresa ou órgão público, independentemente de hierarquia, que as suas ações têm como limite as normas de respeito e de comportamento ético, com relação a todas as pessoas que ali labutam, cuja alma é um bem jurídico que se impõe tutelar (BARROS, 2009, p. 198).

A norma específica voltada à regulamentação do assédio moral deve ter em vista a consolidação da dignidade no ambiente de trabalho, voltando-se não só à repressão, mas também à prevenção. Paulatinamente será possível consolidar no espaço de trabalho a confiança e o sentimento de contribuição nos trabalhadores, o que será benéfico ao próprio empregador.

Um norma bem redigida e bem implementada ajudará na prevenção do assédio. E quando este ocorrer será mais fácil identificá-lo e saber quais as medidas a serem adotadas. Isso restaurará a confiança dos funcionários de que seus interesses estão sendo levados em conta e ainda facilitará a defesa da empresa no tribunal. Uma boa diretriz empresarial contra o assédio moral no trabalho contribui para evitar ações judiciais e reduzir os custos potenciais com o aumento do absenteísmo, alta rotatividade de mão-de-obra, elevados níveis de enfermidades e baixa produtividade. Isso para não falar do tempo desperdiçado em lidar com as alegações de assédio.

(PRATA, 2008, p. 409).

Nesta seara, despontam algumas iniciativas no âmbito do Poder Legislativo consistente na elaboração de Projetos de Lei, entre os quais se destacam os seguintes:

O Projeto de Lei n. 4742/2001 visa acrescentar o artigo 146-A ao Código Penal Brasileiro, que institui o crime de assédio moral no trabalho, com o

seguinte teor: "Desqualificar, reiteradamente, por meio de palavras, gestos ou atitudes, a auto-estima, a segurança ou a imagem do servidor público ou empregado em razão de vínculo hierárquico funcional ou laboral" (BRASIL, 2013h). No entanto, foi apresentado substitutivo ao projeto por se entender que, embora fosse importante estabelecer um tipo penal específico para a prática, a localização e o conteúdo estava falho. Referido substitutivo sugeria a inclusão do artigo 136-A, com o seguinte teor: "Depreciar, de qualquer forma e reiteradamente a imagem ou o desempenho de servidor público ou empregado, em razão de subordinação hierárquica funcional ou laboral, sem justa causa, ou tratá-lo com rigor excessivo, colocando em risco ou afetando sua saúde física ou psíquica" (BRASIL, 2013h).

Em verdade, o artigo 146-A seria uma variante do crime de constrangimento ilegal, incluindo-o no rol do capítulo dos crimes contra a liberdade pessoal, em complemento ao que dispõe o artigo 146 do Código Penal sobre constrangimento ilegal: "Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda [...]"

(BRASIL, 2013c).

Nota-se que esse dispositivo legal apresenta ideia semelhante à contida no projeto de lei que visa regulamentar a coação moral no espaço de trabalho, de modo que desponta aos poucos a intenção do legislador em resguardar a liberdade pessoal do empregado. No entanto, a proposta do artigo 136-A parece melhor localizada na sistemática do Código Penal, bem como delineada mais adequadamente em termos de fechamento de tipo.

Como já mencionado anteriormente, ainda que sem previsão legal específica acerca do tema em questão, existem diversas leis no âmbito municipal, estadual e federal que visam coibir tal prática nas relações de trabalho, aplicadas aos servidores públicos.

Importante destacar também os projetos que tramitam no Congresso Nacional acerca do assédio moral, sendo que, dentre eles, destaca-se o Projeto de Lei n. 2369/2003, que encontra-se apensado ao Projeto de Lei n. 6757/2010:

Art. 1º É proibido o assédio moral nas relações de trabalho.

Art. 2º Assédio moral consiste no constrangimento do trabalhador por seus superiores hierárquicos ou colegas, através de atos repetitivos, tendo como objetivo, deliberado ou não, ou como efeito, a degradação das relações de trabalho e que:

I - atente contra sua dignidade ou seus direitos, ou II - afete sua higidez física ou mental, ou

III – comprometa a sua carreira profissional.

Art. 3º É devida indenização pelo empregador ao empregado sujeito a assédio moral, ressalvado o direito de regresso.

§ 1º A indenização por assédio moral tem valor mínimo equivalente a 10 (dez) vezes a remuneração do empregado, sendo calculada em dobro em caso de reincidência.§ 2º Além da indenização prevista no § 1º, todos os gastos relativos ao tratamento médico serão pagos pelo empregador, caso seja verificado dano à saúde do trabalhador.

Art. 4º O empregador deve tomar todas as providências necessárias para evitar e prevenir o assédio moral nas relações de trabalho.

§ 1º As providências incluem medidas educativas e disciplinadoras, entre outras.

§ 2º Caso não sejam adotadas medidas de prevenção ao assédio moral e sendo esse verificado, o empregador está sujeito a pagamento de multa no valor de R$ 1.000,00 (um mil reais) por empregado, sendo o valor elevado ao dobro na reincidência.

Art. 5º O assédio moral praticado por empregado, após ter sido orientado sobre a sua proibição, enseja sanção disciplinadora pelo empregador.

Parágrafo único. A sanção disciplinadora deve considerar a gravidade do ato praticado e a sua reincidência, sujeitando o empregado à suspensão e, caso não seja verificada alteração no seu comportamento após orientação do empregador, à rescisão do contrato de trabalho por falta grave, nos termos do art. 482 da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT.

Art. 1º A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1° de maio de 1943, passa a vigorar com as seguintes alterações:

"Art. 483. [...] h) praticar o empregador ou seus prepostos, contra ele, coação moral, por meio de atos ou expressões que tenham por objetivo ou efeito atingir sua dignidade e/ou criar condições de trabalho humilhantes ou degradantes, abusando da autoridade que lhes conferem suas funções. [...]

§ 3° Nas hipóteses das alíneas ‘d’, ‘g’ e ‘h’, poderá o empregado pleitear a rescisão de seu contrato e o pagamento das respectivas indenizações, permanecendo ou não no serviço até decisão final do processo".

“Art. 484-A. Se a rescisão do contrato de trabalho foi motivada pela prática de coação moral do empregador ou de seus prepostos contra o trabalhador, o juiz aumentará, pelo dobro, a indenização devida em caso de culpa exclusiva do empregador". (BRASIL, 2013i).

Nota-se que tais projetos apresentam as definições de assédio moral, sendo inadmissível a prática deste, apontando o dever de indenizar, estabelecendo as medidas preventivas e multas. Ou seja, as situações de coação moral verificadas no ambiente de trabalho passariam a ter disciplina específica na seara trabalhista, com repressão fixada em legislação própria, contribuindo para o desenvolvimento do trabalho em ambiente sadio e equilibrado.

Pode-se considerar um avanço na legislação brasileira a apresentação de projetos de lei com propósitos tão importantes, muito embora ainda sem efeitos

no ordenamento jurídico, mas que em breve darão destino certo e eficaz no combate à prática do assédio moral no local de trabalho.