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Notadamente, a atitude do empregado no âmbito do assédio moral que pode caracterizar justa causa é a descrita na alínea b, isto é, incontinência de conduta ou mau procedimento. A incontinência de conduta pode ser verificada quando o empregado apresenta desregramento no tocante à vida sexual, seja por meio de pornografia, libertinagem, deixando aflorar livremente na sua relação empregatícia frente aos companheiros de trabalho ou superiores. A outra situação constante no texto da lei se refere ao mau procedimento, que significa uma conduta irregular praticada pelo trabalhador que não pode ser enquadrado nas demais alíneas do artigo supracitado (MARTINS, 2007b, p. 359). Não se pode olvidar, ainda, a possibilidade de enquadramento nas alíneas j e k, consistentes na prática de ato lesivo contra a honra ou boa fama, ou mesmo ofensa física para o caso da segunda alínea, típicas práticas de assédio moral, sendo dirigidas ao empregador, aos superiores hierárquicos ou aos colegas de trabalho.

Com efeito, o empregado que viola seus deveres e obrigações, entre os quais o de não praticar assédio moral contra seus colegas de trabalho, pode ser demitido por justa causa.

Portanto, a rescisão do contrato de trabalho aparece no assunto assédio moral em dois aspectos: na modalidade indireta, como instrumento para que cesse a situação a qual a vítima foi submetida; na modalidade direta, como modo de retirar do ambiente de trabalho aquele funcionário que pratica assédio moral com relação aos demais.

Gonçalves (2005, p. 586) entende:

O problema da quantificação do dano moral tem preocupado o mundo jurídico, em virtude da proliferação de demandas, sem que existam parâmetros seguros para a sua estimação. Enquanto o ressarcimento do dano material procura colocar a vítima no estado anterior, recompondo o patrimônio afetado mediante a aplicação da fórmula "danos emergentes-lucros cessantes", a reparação do dano moral objetiva apenas uma compensação, um consolo, sem mensurar a dor. Em todas as demandas que envolvem danos morais, o juiz defronta-se com o mesmo problema: a perplexidade ante a inexistência de critérios uniformes e definidos para arbitrar um valor adequado.

Por isso mesmo, muitos chegaram a defender que como o dano moral não pode ser mensurado, ele não poderia ser reparado mediante indenização: se o objeto violado não tem valor patrimonial, como o dinheiro poderia repará-lo? No entanto, tal ideia caiu por terra.

É bem verdade que o dinheiro não paga o preço da dor, mas também não é menos verdade que enseja ao lesado, indiretamente, sensações outras, de euforia, capazes, portanto, de amenizar, pelo menos, a manifestação angustiante penosa, resultantes do dano moral perpetrado, demonstrando assim, seu efeito compensatório (FLORINDO, 1999, p. 189).

Sendo devida, cabe fundamentar a fixação da reparação por dano moral com base no princípio da razoabilidade assim, caberá ao julgador considerar um conjunto de fatores para estabelecer a justa reparação de acordo com a sua experiência e bom senso.

Tendo em vista que faltam parâmetros fixados em lei para quantificar a indenização por dano moral, é preciso olhar para o caso concreto de modo que a indenização tenha não só um caráter reparador e punitivo, mas seja proporcional à gravidade e extensão do pretenso dano (PELI; TEIXEIRA, 2006, p. 103).

Quanto ao parâmetro de fixação do valor da reparação, é preciso que o valor não seja tão insignificante a ponto de não ser nenhum sacrifício para o ofensor e nem tão elevado para ser enriquecimento indevido do ofendido (FELKER, 2010, p.

91). Caberá ao magistrado se ater a estes padrões na quantificação do dano moral.

Quando tratamos de danos morais, não podemos esquecer que os reconhecimentos desses danos, sua extensão, sua abrangência, sua natureza, estão sujeitos à apreciação subjetiva do julgador, inclusive levando-se em conta relatividade dos conceitos de honra, de dignidade, e na valoração das respectivas violações (FELKER, 2010, p. 97).

Por ser tão importante a subjetividade do julgador no estabelecimento do quantum do dano moral, a postura deste perante o instituto influencia muito no resultado da demanda. Um magistrado que não compreenda a finalidade e os critérios do dano moral pode estabelecer quantia insignificante, que em nada influenciará na postura do empregador e acabará por instituir nele o pensamento de que vale a pena praticar o assédio moral.

Por vezes, mesmo que o valor da indenização seja alto para a vítima, acaba por ser insuficiente para coibir atos semelhantes por parte da empresa, caso em que o magistrado não deve diminuir a condenação e sim dividir o valor, transferindo-o em parte para instituição beneficente ou FAT, caso em que a vítima não se beneficiaria indevidamente da situação (FELKER, 2010, p. 106).

Os entendimentos jurisprudenciais corroboram tal assertiva:

DANO MORAL DECORRENTE DE ASSEDIO MORAL. QUANTIFICAÇAO.

Restando comprovada a ocorrência de ofensa do trabalhador decorrente de assédio moral perpetrado pela empresa e/ou seus prepostos, recai ao empregador o dever de reparar a vítima pelo dano moral suportado.

Ademais não há que se falar em majoração ou mitigação quando o seu arbitramento se deu de forma razoável e proporcional à conduta ofensiva.

(BRASIL, 2011a).

RECURSOS DA RECLAMANTE E DO RECLAMADO. ASSÉDIO MORAL.

INDENIZAÇÃO. CRITÉRIOS PARA FIXAÇÃO DO SEU VALOR. A quantificação da indenização por dano moral deve dar-se em atendimento ao aspecto reparatório, cumprindo observar, ainda, o critério pedagógico e punitivo da sanção imposta. [...] (BRASIL, 2011b).

ASSÉDIO MORAL - DANO MORAL - QUANTIFICAÇÃO DO DANO. O Valor da indenização por danos morais, deve ser mensurado de acordo com a extensão do dano, evitando-se a desproporção excessiva entre a gravidade da culpa e o dano, art. 944, parágrafo único do Código Civil. (BRASIL, 2010b)

Nota-se que o juízo da equidade tem se mostrado a melhor saída no que se refere à aferição da quantia justa e necessária para punir o ofensor e recompensar os prejuízos suportados pela vítima do assédio.