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O polo Juazeiro/BA-Petrolina/PE (vide Figuras 1 e 2) está situado no submédio do Vale do São Francisco26, apresenta clima semiárido com temperatura média de

32,1ºc27 e está incluído no movimento de expansão da atividade agrícola promovido

na região desde a década de 1980 (BONANNO; MARSDEM; SILVA, 1999; CAVALCANTI, 1997, 1999; LIMA; MIRANDA, 2000), o que tem gerado expressiva produção de frutas tropicais para o cultivo em larga escala, dirigido tanto para o mercado interno quanto para a exportação.

O referido polo historicamente serve de entreposto comercial no sertão nordestino por propiciar acesso ao trecho navegável do Rio São Francisco e por sua posição geográfica privilegiada no que se refere às distâncias equivalentes a todos os grandes centros (cerca de 770 km de Recife/PE, 520 km de Salvador/BA e 850 km de Fortaleza/CE). Possui uma população de 542.605 habitantes, assim distribuídos: 216.588 em Juazeiro/BA e 326.017 em Petrolina/PE28 (vide Quadro 3). Desde a

década de 1990 constitui-se em um polo de grande atratividade no contexto da economia regional e nacional pela pujança da produção agrícola (ANDRADE; SERRA, 2000; LEMOS et al., 2003). Nesse cenário, o maior impacto foi dado sobre o emprego e a renda, com expansão nos setores secundário e terciário, com novos pontos de crescimento dos postos de ocupação.

26 De acordo com o Comitê da Bacia do Rio São Francisco (CBHSF, 2011), a bacia “abrange 639.219 km2 de área de drenagem (7,5% do país) e vazão média de 2.850 m3/s (2% do total do país). O rio São Francisco tem 2.700 km de extensão e nasce na Serra da Canastra, em Minas Gerais, escoando no sentido sul-norte pela Bahia e Pernambuco, quando altera seu curso para este, chegando ao Oceano Atlântico pela divisa entre Alagoas e Sergipe. A Bacia possui sete unidades da federação – Bahia (48,2%), Minas Gerais (36,8%), Pernambuco (10,9%), Alagoas (2,2%), Sergipe (1,2%), Goiás (0,5%) e Distrito Federal (0,2%) – e 504 municípios (cerca de 9% do total de municípios do país). Devido à sua extensão e diferentes ambientes percorridos, divide-se em 4 regiões: Alto São Francisco – das nascentes até a cidade de Pirapora (111.804km2 – 17,5% da região); Médio São Francisco – de Pirapora até Remanso (339.763km2 – 53% da região); Submédio São Francisco – de Remanso até Paulo Afonso (155.637km2– 24,4% da região); e o Baixo São Francisco – de Paulo Afonso até sua foz (32.013km2 – 5,1% da região)”. Disponível em: <http://cbhsaofrancisco.org.br/a-bacia/>. Acesso em: 3 out. 2014.

27 Conforme dados da Embrapa Semiárido. Disponível em: <http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Banana/BananeiraIrrigada/clima.htm>. Acesso em: 5 out. 2014.

28 Conforme estimativas do IBGE as estimativas da população residente tem data de referência de 1º de julho de 2014, publicadas no Diário Oficial da União em 28/08/2014. Disponível em:

<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/estimativa2014/default.shtm>. Acesso em: 23 out. 2014.

Quadro 3 – Características físicas e sociais do polo Juazeiro/BA-Petrolina/PE (Julho 2014)

Cidade Juazeiro/BA Petrolina/PE Área (km²) 6.500,691 4.561,872 População 216.588 326.017

Fonte: Elaboração própria/ IBGE Disponível em <www.ibge.gov.br>. Acesso: 01 jul. 2014.

Figura 1 – Panorâmica do rio São Francisco, Juazeiro/BA-Petrolina/PE Fonte: Prefeitura Municipal de Petrolina/PE. Divulgação: 11 mar. 2013.

Figura 2 - Localização geográfica do polo Juazeiro/BA-Petrolina/PE

A implantação dos perímetros públicos irrigados trouxe novo fôlego à região e, com a atuação de agências de fomento, especialmente a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco – CODEVASF e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA, foi possibilitada uma nova perspectiva para a localização dos fatores tanto de viabilidade produtiva como de desenvolvimento de tecnologia de manejo, mas especialmente no que se refere ao planejamento das intervenções, com forte atração de capitais e emprego (MORAIS; OLIVEIRA; PEREIRA, 2012), devido ao cultivo em larga escala.

Em relação à agricultura de sequeiro e à criação extensiva de animais (vide Figura 3), deixaram de prevalecer, passando a conviver com a agricultura irrigada, que adotou o sentido de produção destinado aos mercados interno e externo, com destaque para a exportação de manga e uva, produtos de mais relevância na principal ponta da cadeia produtiva regional (vide Figura 4). Nesse caso, os produtos com melhor resposta aos novos métodos de cultivo foram: tomate, cana-de-açúcar, arroz, feijão, cebola, melancia e melão, na década de 1980; banana, manga e uva, desde a década de 1990, os dois últimos com maior valor agregado e alta aceitação nos mercados interno e externo, em substituição às culturas tradicionais de baixa rentabilidade/área. Além disso, as cidades de Juazeiro/BA e Petrolina/PE assumiram um caráter de conurbação29 e estão integradas pelo compartilhamento das mesmas

dinâmicas sociais e culturais30.

29 Conurbação “é um conjunto formado por uma cidade e subúrbios ou por cidades reunidas, que constituem uma sequência, sem, contudo, se confundirem” (FERREIRA, 2010, p. 576). Do conjunto formado por duas ou mais cidades ocorre uma interação física e funcional entre elas, mas cada uma guardando autonomia administrativa em relação a outra.

30 Conforme ensina Milton Santos, no processo de produção do espaço geográfico revela-se o movimento da sociedade, suas estruturas econômicas, político-jurídicas e ideológicas (SANTOS; SILVEIRA, 2001), e na sua dinâmica, sintetiza “o conteúdo social e as formas espaciais” (SANTOS, 1996, p. 88). Assim, caracteriza-se como um plano de inter-relações entre formas físicas e sistema de ações, para mais discussão sobre o processo de conurbação e seus desdobramentos no plano da geografia humana para o polo em questão ver Ramos (2001, 2013), Lemos (1991, 2003).

Figura 3 – Criação extensiva de caprinos e ovinos – Juazeiro/BA Fonte: Acervo pessoal da pesquisadora – 10 nov. 2012.

Figura 4 – Uvas cultivadas em área de irrigação – Petrolina/PE Fonte: Acervo pessoal da pesquisadora – 23 jul. 2010.

Entre as diversas atividades que passaram a gravitar diretamente da agricultura, ganharam força aquelas ligadas ao escoamento da produção não só no segmento agroindustrial, em que prevalecem contratos de suprimento entre indústrias e produtores, mas ainda no segmento agrocomercial.

A singularidade do processo robusteceu a área como polo de produção, transformação, comercialização e de prestação de serviços (SILVA; REZENDE; SILVA, 2000). Constitui-se, também, como um ambiente em que se estruturam sociabilidades que estão influenciadas, em alguma medida, pela dinâmica econômica cotidiana ao acarretar efeitos nos arranjos sociais e nas práticas de interação (CAVALCANTI; MOTA; SILVA, 2002), na medida em que abre vasos comunicantes necessários à dinâmica econômica.