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Mapa 56: Norte de Minas: Plano Diretor de Saúde 2004

3. A CIDADE E A REGIÃO: Montes Claros e o Norte de Minas

3.4 O espaço do comércio e da rede bancária

Quanto ao comércio, consideramos relevante destacar que o seu papel43 no crescimento das cidades tem sido estudado de forma mais pontual, centrando-se, quase que exclusivamente, nos aspectos relacionados com a localização dos estabelecimentos comerciais. Foi Christaller quem, na década de 1930, desenvolveu uma teoria que propunha justificar a dimensão, a distribuição e o número de centros urbanos existentes num determinado território com base nos princípios reguladores da oferta e da procura. Essa era a denominada teoria dos lugares centrais, sendo a cidade apresentada como centro por excelência de aprovisionamento de bens e serviços. O grau de especialização de uma cidade, ou seja, a variedade e a amplitude de bens e serviços que oferece, implicava sua posição na hierarquia urbana e, conseqüentemente, sua dimensão. Apesar das inúmeras críticas que essa teoria recebeu, não podemos negar que, entre os fundamentos da evolução da cidade, está o acréscimo de consumo dos bens e serviços que oferece. Resta analisar, contudo, os fatores desencadeadores do crescimento de rendimentos e das oportunidades de mercado.

No Norte de Minas, também na área comercial44, há um maior desenvolvimento da cidade de Montes Claros, haja vista o fato de que o papel de um centro regional também é caracterizado por sua capacidade de distribuição, à região, dos bens necessários. Um diagnóstico produzido pela Fundação João Pinheiro (1975, p. 221) já afirmava que

[...] todo o Norte de Minas compra no varejo de Montes Claros. A maior freqüência de vendas ocorre nos municípios mais próximos, situados no vale do rio Verde Grande e nos Gerais. Os limites dessa atuação a oeste e sul atingem São Romão, Pirapora, Várzea da Palma, Joaquim Felício, Buenópolis, Augusto de Lima e Lassance. Reduzem-se aí alguns tipos de comércio, particularmente as vendas de produtos farmacêuticos,

43 A literatura oferece ao menos três possibilidades à definição de eficiência no comércio: eficiência

Ricardiana (Ricardian efficiency), eficiência em Crescimento (Growth efficiency) e eficiência Schumpeteriana (Schumpeterian efficiency). A este respeito, vide Dosi (1988), Dosi e Orsenigo (1988), Dosi e Soete (1988), Dosi, Tyson e Zysman (1989) e Dosi, Pavitt e Soete (1990).

44 De acordo com a definição do SEBRAE (2006), no caso do comércio varejista, as vendas são feitas

diretamente ao consumidor. Já no comércio atacadista, ocorre a compra diretamente do produtor ou de outros revendedores atacadistas, para que seja efetuada a venda a outros revendedores atacadistas ou ao comerciante varejista.

registram um volume expressivo de comércio com Montes Claros, enquanto Águas Vermelhas marca o limite de influência dessa cidade.

No início do século XXI essa situação não mudou muito. Montes Claros possui uma vasta rede de comércio varejista, na qual predominam médias e pequenas empresas. Ocorre a presença de lojas integrantes de grandes redes nacionais como Casas Bahia, Ricardo Eletro, Magazine Luiza, Ponto Frio, entre outras. Não há, na cidade, nenhum hipermercado, apenas supermercados, uma média de 45, dentre os quais se destacam o Bretas, o Villefort, o Opção que, pela variedade de produtos e preços, atraem consumidores das cidades vizinhas. O comércio atacadista local não tem grande significado, merecendo destaque poucas empresas nesse setor como a Palimontes, a Lógica Alimentos, a Comercial Katira, dentre outras. Merece destaque o setor automobilístico que cria verdadeiros territórios constituídos por concessionárias, lojas de peças e oficinas.

No que diz respeito aos bancos e instituições financeiras, não caberia, neste estudo, aprofundar na análise sobre as transformações pelas quais passaram nos últimos anos. Os vários planos econômicos, a oscilação do valor da moeda, os avanços da informática, dentre outros, foram alguns dos fatores que contribuíram para as alterações nesse setor, levando os bancos a adotarem estratégias de reestruturação. Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos - DIEESE (1988, p. 6),

[...] em 1985, de 4.145 municípios existentes no país, 4.096 - ou seja, 98,8% do total - eram assistidos por serviços bancários. Esse percentual caiu para 81,49% em 1987, quando, dos 4.208 municípios, 779 encontravam-se desassistidos. Muitos bancos privados estão acordando entre si o fechamento de agências e/ou praças, dividindo o mercado segundo sua conveniência.

De acordo com Costa e Gonçalves (1997, p. 31), os bancos de atacado/investimento operam com uma carteira de clientes mais seleta, com um volume financeiro por cliente maior, e possuem reduzido número de agências, localizadas nas principais metrópoles financeiras do território, uma estrutura operacional mais enxuta e número menor de funcionários.

Entre 1991 e 1996, o número de agências em Minas Gerais apresentou um aumento, mas decresceu no período entre 1996 e 2000, principalmente devido ao processo de concentração bancária pós-Plano Real. As regiões que apresentam maior número de agências no estado são a Metropolitana de Belo Horizonte, Sul/Sudoeste de Minas e Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba. Se formos comparar as mesorregiões mineiras, a região Norte de Minas apresenta baixo acesso bancário. A explicação para esse resultado é que é uma região onde as principais atividades econômicas são a agricultura e a pecuária e com os mais baixos valores para o PIB

per capita do estado. Apresenta, ainda, elevado número de analfabetos e população

com baixa renda média. Em outras palavras, essa situação pode ser reflexo das características econômicas e sociais dessa região, tais como menor integração, baixa produtividade, baixo PIB per capita e população, e podem significar uma menor disponibilidade de crédito por parte do sistema bancário. Essa realidade é exposta com clareza no mapa 46, cuja análise permite inferir que há uma concentração de serviços financeiros em Montes Claros, numa proporção muito superior aos demais municípios da região. É relevante acrescentarmos que mais de 50% dos municípios estão, de certa forma, excluídos também desse serviço. São 49 municípios que, segundo o IBGE (2000), não possuem nenhuma instituição financeira.

Mapa 46: Norte de Minas: instituições financeiras

Na nossa pesquisa de campo identificamos os bancos existentes nos municípios, organizados no quadro abaixo.

Quadro 4: Norte de Minas - distribuição de agências bancárias por município - 2006

BANCOS MUNICÍPIOS

Brasil Águas Vermelhas, Bocaiúva, Brasília de Minas, Buritizeiro, Capitão Enéas, Coração de Jesus, Francisco Sá, Grão Mogol, Itacarambi, Jaíba, Janaúba, Januária, Manga, Mato Verde, Mirabela, Monte Azul, Montes Claros, Montezuma, Pirapora, Riachinho, Rio Pardo de Minas, Salinas, São Francisco, São João da Ponte, Taiobeiras, Várzea da Palma e Varzelândia.

Itaú Bocaiúva, Engenheiro Navarro, Francisco Sá, Ibiaí, Jaíba, Janaúba, Januária, Jequitaí, Montes Claros, Porteirinha, Riacho dos Machados, Rubelita, São Romão e Várzea da Palma.

Bradesco Bocaiúva, Janaúba, Januária, Montes Claros, Pirapora, Porteirinha, Salinas, São Francisco e Taiobeiras.

Nordeste Coração de Jesus, Espinosa, Janaúba, Januária, Montalvânia, Montes Claros, Monte Azul, Pirapora, Porteirinha e Salinas.

Caixa Econômica Federal

Bocaiúva, Janaúba, Januária, Montes Claros, Pirapora, Salinas e Várzea da Palma.

Real Montes Claros

HSBC Montes Claros

Mercantil Montes Claros

Unibanco Montes Claros

Fonte: Pesquisa de campo Org.: PEREIRA, A. M., 2006

Notamos que a maior concentração e diversificação de agências bancárias ocorre em Montes Claros, seguido por Pirapora, Janaúba, Januária, Bocaiúva, Salinas, Taiobeiras e Várzea da Palma. Apenas na cidade de Montes Claros encontramos o serviço de banco 24 horas. Já o serviço de caixa eletrônico das 06h00 às 22h00 foi encontrado nas cidades de Montes Claros, Bocaiúva, Janaúba, Januária, Espinosa e Várzea da Palma. Nos municípios que não constam do quadro supra, o serviço bancário é feito através dos correios, das casas lotéricas e pontos de atendimento. Olhos D’Água e Curral de Dentro não possuem nenhuma forma de serviço bancário, sendo que a população depende da cidade mais próxima para efetuar qualquer transação financeira.

Merece destaque, também, a presença na região de agências financeiras voltadas para o atendimento aos aposentados, principalmente com serviços de empréstimo, os chamados “bancos dos aposentados”. Tais bancos possuem agências nas cidades mais importantes, mas atuam de forma itinerante nos centros menores. Também alguns bancos fazem isso, principalmente os que trabalham com financiamentos para o pequeno agricultor.

Sabemos que a logística informacional acompanha a dinâmica da organização espacial, das redes visíveis e invisíveis, através da informatização dos principais atores de circulação do capital no município. Por fim, a identificação dessas redes é de grande importância para o entendimento do espaço regional e do papel do capital através de sua circulação, modificando-o, e os demais aspectos sociais e culturais vigentes. Dessa idéia, resulta nossa preocupação em compreender o espaço dos fluxos na região norte-mineira. Para isso, procuraremos analisar a estrutura das redes de transportes, comunicação e informação.