• Nenhum resultado encontrado

O espaço urbano para as atividades econômicas globais: atração, acumulação e

1. GLOBALIZAÇÃO, IDENTIDADE E O NOVO PAPEL DAS CIDADES

1.1. REESTRUTURAÇÃO ECONÔMICA E OS CENTROS URBANOS

1.1.3. O espaço urbano para as atividades econômicas globais: atração, acumulação e

Nas últimas décadas, o espaço urbano passou a ter uma maior importância para a economia global. Os empreendedores descobriram que o espaço urbano possuía um grande potencial para atrair, acumular e reproduzir o capital. A importância da qualidade do espaço urbano passou a ser realçada e o vigor da competição interurbana para o desenvolvimento econômico (investimentos, empregos, turismo, etc) foi fortalecido. A partir daí surgiram os primeiros grandes projetos de renovação urbana com o objetivo de atrair investimentos através da construção de novos centros de negócios, serviços e turismo, para fins dos renascimentos econômico, social e cultural das cidades.

Vimos que apesar das tendências massivas para a dispersão espacial das atividades econômicas associadas à globalização e ao desenvolvimento tecnológico, há uma urgência por novas formas de centralização territorial da gestão de alto nível e de controle das operações nos centros

urbanos. Cada vez mais, os mercados nacionais e globais solicitam lugares centrais onde as suas atividades econômicas possam ser realizadas (SASSEN, 1998a). A centralização espacial dos serviços administrativos, políticos, de controle e de finanças vem aumentando significativamente, apesar das novas técnicas de comunicação e da melhoria nos meios de transporte (MARCUSE e KEMPEN, 2000).

Os centros de negócios, ao conectarem as cidades com as redes econômicas globais, são hoje os motores do desenvolvimento urbano. Argumenta-se que para esses ‘motores’ funcionarem, eles devem ser constituídos de uma potente infra-estrutura de comunicação e telecomunicação, de serviços avançados, de centros tecnológicos e de instituições educativas. É neste sentido que muitas cidades estão se voltando para a realização de grandes projetos urbanos ligados às

operações de viabilidade e transporte de massa, de zonas de atividades logísticas e a reconversões de infra-estruturas de comunicação.

Sem dúvida, a nova configuração econômica exige das cidades uma vasta infra-estrutura física que contenha nós estratégicos com uma grande concentração de serviços. Como a competitividade das empresas depende da existência de uma infra-estrutura tecnológica adequada, de um sistema de comunicação que assegure a conectividade do território aos fluxos globais de pessoas,

informações e mercadorias, as cidades identificaram a necessidade de oferecer lugares favoráveis à produção de bens provenientes do novo sistema econômico (SASSEN, 1998a).

Tão logo uma região do mundo se articula à economia global, dinamizando a economia e a sociedade locais, o requisito indispensável é a constituição de um centro urbano de gestão e serviços avançados, organizados, invariavelmente, em torno de um aeroporto internacional; um sistema de telecomunicações via satélite; hotéis de luxo […]; empresas financeiras e de consultoria com conhecimento da região, escritórios de governos regionais e locais capazes de proporcionar informação e infra-estrutura de apoio ao investidor internacional, um mercado de trabalho local com pessoal qualificado em serviços avançados de infra-estrutura tecnológica (BORJA e CASTELLS, 2004: 37)3 (grifo da autora).

Temos visto que a globalização exige das cidades plataformas competitivas às suas atividades econômicas, o estabelecimento de um bom sistema de intercâmbio e a promoção de sua imagem para atração do capital. Entretanto, não podemos esquecer que é indispensável a existência e a

3 Tradução livre da autora. No original “Tan pronto una región del mundo se articula a la economía global, dinamizando su

economía y sociedad locales, el requisito indispensable es la consitución de un nodo urbano de gestión de servicios avanzados organizados, invariavelmente, en torno a un aeropuerto internacional;un sistema de telecomunicaciones por satélite; hoteles de lujo […]; empresas financieras y de consultoría com conecimiento de la región; oficinas de los gobiernos regionales y locales capaces de proporcionar información y infraestructura de apoio ao inverso internacional; un mercado de trabajo local com personal cualificado en servicions avanzados y infraestructura tecnológica” (BORJA e CASTELLS, 2004:37).

qualificação de recursos humanos capazes de produzir e gerir o novo sistema técnico-econômico. Dessa maneira, além de zonas de atividades empresariais com toda a infra-estrutura adequada para se obter o maior rendimento possível, as cidades devem oferecer a esses recursos humanos condições de vida satisfatórias, no que diz respeito à moradia, serviços urbanos, saúde e cultura. A cidade competitiva e atrativa para investimentos e turistas foi o mote para a maioria dos planos estratégicos dos últimos anos. O turismo de massa, um fenômeno do final do século XX,

transformou-se na indústria mais dinâmica do mundo, tornando difícil para as cidades se manterem resistentes aos seus grupos de pressão. O turismo dos últimos cinqüenta anos,

diferentemente do turismo de passeios em busca de informações dos primeiros tempos, exige das cidades uma infra-estrutura altamente desenvolvida e ramificada. A promoção do turismo e a inserção das atividades turísticas passaram a compor o cotidiano urbano. Parques temáticos, hotéis de luxo, restaurantes, museus, salas de concertos, etc, associados a uma série de serviços de apoio, agora também fazem parte da agenda das cidades (RYKWERT, 2004). Para os

especialistas em marketing urbano, “[…]a venda da cidade é, necessariamente, a venda daqueles atributos específicos que constituem, de uma maneira ou de outra, insumos valorizados pelo capital transnacional: zonas para convenções e feiras, parques industriais e tecnológicos, oficinas de informação e assessoramento a investidores e empresários, torres de comunicação e comércio, segurança…” (VAINER, 2000: 79).

Visto que a globalização exige das cidades infra-estruturas à altura das suas atividades econômicas e que promovam sua imagem urbana internacionalmente, a constituição da nova lógica de

funcionamento econômica tem levado as cidades a produzirem lugares semelhantes nos mais diferentes contextos. Segundo Arantes (2000), a configuração desses lugares foi sendo

generalizada devido à necessidade das cidades responderem às mesmas pressões competitivas em torno do mesmo capital. “[...] um molho mercadológico de técnicas de venda é despejado sobre todos os projetos, fazendo com que todos eles e todas as funções pareçam razoavelmente padronizados” (COENEN, 1997: 23). Frente a um diagnóstico universal, não é difícil entender porque as propostas constantes dos planos estratégicos se pareçam tanto umas com as outras: todos devem vender a mesma coisa aos mesmos compradores virtuais que têm, invariavelmente, as mesmas necessidades.

Em Melbourne, o objetivo central para a remodelação do South Bank (Figura 1), antiga área industrial afetada pela mudança da estrutura capitalista, foi a criação de uma nova zona de

centralidade. Entre as atuações, podemos citar a melhoria dos acessos viários para a área, a conversão de ruas adjacente ao rio para o acesso de pedestres, construção de moradias, implantação de complexos de serviços, comércio e lazer, desenvolvimento de infra-estrutura tecnológica e implantação de grandes espaços públicos. Algo semelhante aconteceu também em Buenos Aires. O projeto Puerto Madero (Figura 2 e Figura 3) se inscreve na vontade de transformar e recuperar uma zona portuária de grande valor histórico e estratégico para Buenos Aires e apresenta como seus principais objetivos a oferta de áreas destinadas ao setor terciário, a reutilização dos galpões industriais e do patrimônio arquitetônico, a oferta de uma nova zona residencial e sistemas próprios de acessibilidade. O projeto é da iniciativa pública, mas é

desenvolvido, fundamentalmente, pelo investimento privado (BUSQUETS, 19904 citado por

BORJA E CASTELLS, 2004).

Vale lembrar que a competitividade na globalização exige maximizar tanto a comunicação com o exterior (portos e aeroportos, telecomunicações, novas infra-estruturas viárias e de linha férrea, centros de convenções e congressos, feiras e exposições) como a comunicação interna, na medida que a cidade metropolitana é um sistema de centros urbanos.

Figura 1. Vista de South Bank, Melbourne. Fonte: http://www.youcareaboutmylife.com/blog

Figura 3. Buenos Aires. Vista de Puerto Madero. Fonte:http://www.cadal.org/institucional/nota.asp?id

_nota=2010