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3 TERAPIAS INTEGRATIVAS EM JACOBINA: RECEPTIVIDADE E

3.2 O ESPAÇO YOGA

3.2.1 O novo Espaço Yoga

No que diz respeito à disposição do espaço, o novo Espaço Yoga apresentava instalações bem convidativas à proposição de encontros, reuniões, festas e outros eventos. Tratava-se de um antigo casarão de sete quartos que se transformaram em salas de atendimento. Um corredor conduzia até a sala principal, que se tornou um espaço de convergência de pessoas que ali circulavam, dada a disposição horizontal do imóvel. Nesta sala, alguns artistas plásticos da cidade propuseram deixar suas obras à mostra e conceder uma comissão para o espaço, a cada venda. Outro corredor conduzia à cozinha, ao quintal e a um salão mais reservado onde aconteciam as sessões de yoga. Esta outra parte do imóvel dava uma qualidade mais informal e, ao mesmo tempo, aconchegante para quem circulava por lá: uma cozinha de frente para um grande quintal com árvores frutíferas e que, também, aos poucos foi se transformando através de pinturas, esculturas, artes com material reciclado, enfim, uma transformação não exatamente planejada, mas espontânea e gradual, que, certamente, se encaixava na marca que se quis dar ao “novo” Espaço Yoga.

Neste espírito, muitos saraus culturais foram organizados no espaço, recitais, apresentação de bandas, mostras de filmes, workshops temáticos ligados à promoção de saúde, além dos já citados debates voltados para a conscientização política em relação ao consumo de alimentos industrializados e à indústria farmacêutica. Como sublinha Moreira, em suas considerações acerca de dádiva, reciprocidade e associação em redes, pode-se inferir que o espaço tomava uma direção de realização conjunta cuja base de organização não era, exatamente, uma prestação de serviços do terapeuta para o cliente, mas “o reconhecimento por parte do grupo e de si como um potencial oferecedor” (2006, p. 290). As transformações do espaço eram fruto da passagem de pessoas e grupos, das ligações transitórias ou duradouras entre os grupos, dos ideais e projetos compartilhados. “O espaço está aberto a propostas”; “a gente pode fazer as coisas acontecerem por aqui” eram falas recorrentes em nossos contatos.

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Figura 32  Frente do Casarão  Novo Espaço Yoga  Jacobina, Bahia, 2011-2012

Figura 33  Lateral do Casarão, entrada para o Ateliê  Novo Espaço Yoga  Jacobina, Bahia, 2011-2012

Fonte: Acervo da autora

Figura 34  Café da manhã orientado  Novo Espaço Yoga  Jacobina, Bahia, 2011-2012

Fonte: Acervo da autora

As Fotos 33 a 37 foram feitas durante um evento realizado no espaço (Bazar do Casarão), em que foram realizadas atividades artísticas, terapêuticas e também a comercialização de produtos regionais, trocas de livros, roupas e obras artísticas.

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Figura 35  Troca de livros no Bazar do Casarão  Novo Espaço Yoga  Jacobina, Bahia, 2011-2012

Fonte: Acervo da autora

Figura 36  Sebo improvisado na sala de acupuntura no Bazar do Casarão  Novo Espaço Yoga  Jacobina, Bahia, 2011-2012

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Figura 37  Arte feita em cabaça (Sítio Tibau) no Bazar do Casarão  Novo Espaço Yoga  Jacobina, Bahia, 2011-2012

Fonte: Acervo da autora

Figura 38  Artes feitas em Sisal (Artesãs do Quilombo de São Tomé) no Bazar do Casarão  Novo Espaço Yoga  Jacobina, Bahia, 2011-2012

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Figuras 39 e 40  Sessão pública de Yoga na Praça, em frente ao Espaço Yoga  Jacobina, Bahia

Fonte: Acervo da autora

Os eventos constantes tornavam o Espaço Yoga um lugar de efervescência e criação. Não por acaso este movimento atraiu mais dois grupos de profissionais que se interessaram em compor com o espaço. Até então, os profissionais que prestavam serviços no local eram o próprio Carlos, com o seu trabalho com as medicinas tradicionais, e Morgana60, que atuava com massagens terapêuticas e estéticas. Em 2011, um casal de artistas plásticos que já expunham seus trabalhos no espaço, formalizou uma proposta de ocupação de uma das salas com um ateliê. E assim, esta “ocupação artística” foi realizada em uma das salas da frente do casarão, atraindo o público, pessoas que ali circulavam e consideravam a sua simples presença no local como “algo terapêutico”.

Como ressalta Teixeira, o cuidado sensível, do domínio do estético, não se dissocia necessariamente dos aspectos técnicos ou formais. Assim, era possível observar que a presença dos elementos artísticos no espaço acentuava esta ligação com o cuidado sensível, com a vivência do humano, compunha com o cenário do cuidado. E assim, nas teias de uma “ética e estética da existência que passa pelo desejo” (TEIXEIRA, 2005), se tecia os delicados fios do cuidado, equiparando-se vivências terapêuticas individuais às efervescências coletivas nos domínios ético- estético-políticos.

No ano de 2012, mais uma novidade fez do Casarão um local com uma frequentação cada vez mais assídua: a chegada de uma nutricionista especializada

147 em trofoterapia na cidade, Neide61. Por declarada afinidade, Neide se aproximou do espaço Yoga e de suas rotinas. Ainda sem certezas a respeito de sua permanência na cidade, formalizou uma proposta de atuação que foi concebida em conversas informais, em sonhos projetados em encontros casuais, antes ou depois das sessões noturnas de Yoga, momento que reunia um maior número e diversidade de pessoas no Casarão.

Decidida a corresponder a algumas destas demandas, Neide iniciou o seu trabalho como nutricionista. Suas orientações dietéticas, contudo, traziam uma novidade relativamente desconhecida para algumas pessoas e a ausência de um restaurante que garantisse as refeições balanceadas conforme os princípios da trofoterapia a fez, também, propor ao espaço a ocupação da cozinha, tendo em vista o fornecimento de quentinhas para suas clientes. Com o tempo, algumas pessoas solicitaram que as refeições pudessem ser servidas no próprio casarão, aliando a nutrição à socialização, uma ideia que já se projetava nos encontros realizados pelos coordenadores e colaboradores do espaço. Com o Ateliê e o Espaço Gourmet recém-inaugurados, o Casarão passava se destacava como lugar de encontro, de celebração de alianças, identificando-se, progressivamente, com uma proposta de cuidado que ampliava a noção do puro tratamento alternativo e propunha uma virada ético-estética nas concepções comuns de corpo, saúde, doença bem como nas relações estabelecidas entre terapeuta e cliente, já que as propostas que se desenrolavam apresentavam este caráter de co-laboração.

Esta característica tornava o espaço evidentemente mais convidativo para aqueles que viam o processo terapêutico também como a liberação de uma energia criativa, uma mudança em uma rotina cansada e repetitiva que gerava estresse e outros desequilíbrios considerados fontes das doenças. Contudo, por vezes, alguns excessos, no que diz respeito à informalidade do espaço e a pressuposição de laços de amizade entre clientes, terapeutas e outros frequentadores, desagradava. A ausência de recepcionista ou secretário que pudesse auxiliar no acolhimento e no aviso em tempo hábil do cancelamento de sessões ou consultas, perecia exigir demais de um público menos acostumado às dinâmicas vivenciadas no espaço. Pode-se dizer que, se, por um lado, existiam ganhos na abertura e na vivência terapêutica como uma experiência criativa compartilhada, por outro, o caráter

148 anticonvencional do espaço também colocava o risco de reduzi-lo exclusivamente a um encontro entre semelhantes.