• Nenhum resultado encontrado

Espaço educador é uma construção metafórica que, de modo inusitado, atribui ao espaço um caráter humano.

Além do que, pressupõe uma ação ao espaço tomado no comum das pessoas como um cenário passivo onde se dá a ação (PINO,1996).

O espaço educador é uma junção de palavras que aparentemente apresenta um paradoxo.

Todo espaço educador é espaço educativo, mas nem todo espaço educativo pode ser associado a um espaço educador, pois caso ambos equivalessem, o conceito se esvaziaria sem significado relevante. Aqui não se constata uma valorização do espaço

21 Num primeiro momento, compreendemos. Para explicar o que compreendemos, reduzimos. O foi explicado é apreendido de tal feita que invoca novas possibilidades naquilo que tínhamos por certo, ou renova totalmente nossa visão de mundo. Como insiste Ricoeur, não é a(o) intérprete que acresce o texto com sua individualidade ou toque pessoal, mas é o texto que nos acresce com suas possibilidades, pois nos desvela um mundo.

22 já que perdemos a situação inicial do discurso, esta não pode ser relevante. O que importa é seguir a referência do texto para desvelar um mundo possível.

educador em detrimento ao educativo: o espaço adjetivado como educador indica uma qualidade específica e se insere numa categoria mais geral, que é a do espaço educativo.

Para transcender ao paradoxo e elevar o conceito espaço educador como necessário e fundamental para a EA comprometida com o estabelecimento de sociedades sustentáveis, evidenciamos o seu caráter metafórico aproximando-o ao conceito de metáfora viva. Mas entendendo que o espaço educador não se prende somente ao seu aspecto semântico, é como símbolo que ele pode ser adequadamente compreendido. Para tanto, propomos compreender o espaço educador como espaço existencial e é com essa premissa que interpretaremos as monografias PAP3 tomadas como obra.

Em síntese, baseado em Merleau-Ponty (2006), caracterizamos o espaço existencial do sonho, do mito ou do mundo perceptível, por meio de tematizações a fim de auxiliar na análise dos espaços educadores do CESCAR como espaços existenciais:

- Definição de espaço existencial:

 Lugar de afeto cuja posição e direção comportam significados e a identidade coletiva, pois é construído intersubjetivamente.

 Referencial de todos os referenciais – permite minha apropriação tanto quanto sei sobre meu corpo e seu potencial.

 Lugar onde o fenômeno é encontrado, pois ali converge meu desejo, esperanças e temores.

Espaço vital, paisagem da nossa vida. - Sobre objetividade e subjetividade:

 o mundo presente – espaço objetivo - permite a subjetividade - Sobre valor simbólico atribuído ao espaço:

 Acontecimentos e atos humanos - emoções, atitudes corporais e desejos - possuem um lugar no espaço objetivo e um valor simbólico no espaço existencial.

 o valor simbólico do corpo em vigília ou adormecido exprime a mesma essência do ser enquanto situado no mundo.

analogia ou contingência não explicam o valor simbólico.

 O valor simbólico é compreendido numa relação entre a imagem poética e seu significado: encerra um sentido e aponta para a nossa existência.

 Um espaço existencial se origina na relação entre imagem poética e seu sentido.

- Distanciamento entre espaço real e vivido:

 Os espaços caracterizam-se por sua geometria, objetividade, além de uma distância vivida entre o ser e as coisas.

A distância vivida remete a amplidão da existência.

 o espaço vivido transcende o espaço visível pois projeta o mundo a nossa própria maneira.

 no mundo existencial, aparência e realidade são indistintas. No mito, a essência está na aparência e o fenômeno é uma presença.

 Perceber um objeto é tomar a coisa encarnada na sua expressão, naquilo que ela quer dizer. Avisos, sinais estão presentes no entorno – nas coisas e acontecimentos se atribui sentido. Os objetos presentes conservam suas distâncias. A alucinação ou ilusão é criada pelo estreitamento do espaço vivido. - Realocando o espaço existencial:

 Despertar em nossa percepção a solidariedade/relação entre o sujeito e o mundo, ofuscada pelo pensamento objetivo, é o meio para reencontrar o espaço existencial.

 considerar antes da significação do pensamento teórico as experiências expressivas; antes do sentido significado, o sentido expressivo; antes de compreender o conteúdo por meio da forma, perceber a força simbólica da forma no conteúdo.

 A variedade geométrica, mítica, onírica, insana ou perceptiva do espaço são experiências comunicáveis que encerram toda a possibilidade de objetivações. Por exemplo, o cotidiano dos povos tradicionais adquire sentido na medida em que estes vivem o mito para significar suas relações objetivas. - Consciência mítica como consciência no espaço existencial:

 a consciência mítica não se baseia nas pulsações, pois não seria consciência de coisa alguma; e não se distancia dos aspectos objetivos pois esboça um movimento de objetivação para se cristalizar em mitos.

 A consciência mítica não é uma explicação do mundo ou uma antecipação da ciência.

 O mito é uma projeção da existência e uma expressão da condição humana.

 O mito é verdadeiro enquanto é passível de indicar sua função na tomada de consciência.

 O mito se relaciona com sua realidade objetiva assim como o mundo no sonho e em vigília estão relacionados.

 A narrativa do sonho não é a do sonhador, é dada pelo ser desperto. O mundo onírico e o real estão separados, mas o espaço do sonho é constituído por todas as relações construídas no espaço objetivo, pois é sobre o mundo que sonhamos.

 Tomar a essência na aparência ocorre na experiência cotidiana, esse elo entre subjetividade e objetividade é manifesto por vivemos nos espaços antropológicos enraizados no espaço natural.

- Espaço existencial e existência espacial:

 o espaço é existencial e a existência é espacial pois sujeito e espaço estão vinculados existencialmente.

 é na perspectiva de uma possibilidade objetiva que a unidade da experiência une o sujeito ao mundo da natureza ou do em si que o envolve a todos não se reportando a um único espaço em particular nem a uma supremacia à parte de mim.

 O sujeito situa-se no mundo que se forma a partir de ações possíveis dependentes da variedade de configurações que o espaço pode assumir.

- Viver o aparente no real – a experiência do real e do ilusório:

 Admitindo a possibilidade do mito, do sonho, da ilusão, assumo que o aparente e o real devem permanecer ambíguos no sujeito e no objeto. Quando me coloco em contato comigo de modo absoluto - em contato com a minha existência por mim mesma sem estar sujeita a qualquer condicionante -, o ser e o aparecer (o real e a ilusão, o erro e a verdade, o absoluto e o absurdo) só podem ser vividos estando aquém de qualquer afirmação.

 uma consciência possuidora de uma vida efetiva/uma vida que se realiza, não afirma tudo tem um sentido, nem que tudo seja não-senso, apenas que há sentido.

 Para a consciência ser consciência de qualquer coisa que seja não posso tomá-la pelas oposições radicais: ou aparência e realidade são a mesma coisa ou a aparência e a realidade são coisas separadas.

 Existe a consciência de algo – cogito-, esse algo se mostra e ao mostrar- se, temos o fenômeno; na consciência o aparecer é fenômeno. O cogito encarnado possibilita a ambivalência no objeto e na aparência, pois está aquém da verdade e do erro desvelados.

 O processo é consciente e não inconsciente porque não ignoro se contenho a expansão desse ou daquele sentimento diante do que vivo e a consciência não se limita àquilo que se expressa para mim porque vivo mais coisas do que àquelas representadas; daí a ambivalência do que é apenas vivido:

 A distinção entre o que percebo ser verdade ou ilusão só é distinguível na própria percepção, pois é inerente a ela.

 Toda sensação já é impregnada de sentido quando inserida numa dada configuração independente se confusa ou clara. Quando passo da ilusão para a verdade, todo dado sensível se modifica.

 A distinção entre a visão correta e a ilusória não se dá de modo absoluto: percebo corretamente na medida em que meu corpo tem poder sobre o espetáculo, mas esse poder nunca será total por não ser perceptível todas as possibilidades interiores e exteriores do objeto ao se posicionar.

 A percepção verdadeira é sentida como uma relação de confiança com o mundo.

 Crer em um mundo faz com que a percepção envolva todas as possíveis experiências num momento presente capacitado para invalidar uma ilusão anterior.

 a consciência do mundo e a consciência em si se relacionam na contemporaneidade: um mundo existe para mim porque não ignoro a mim mesma.