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5. RESULTADOS

5.2 A que lugar e em que lugar: o Aonde e o Onde do espaço educador

5.2.1. b Espaços em transição: cooperativismo popular e demais espaços visando ao caráter

Larissa Leite Tosetti e Veridiana Guimarães consideram os espaços educadores como possibilidade.

Larissa parte da construção da identidade do grupo PAP4 e consecutivamente, vislumbram o espaço educador potencial.

Veridiana levanta potenciais espaços educadores administrados pela prefeitura e analisa suas vocações utilizando critérios histórico, econômico, se apresentam acessibilidade quanto à introdução de propostas educativas ou incrementam a economia local. A pertinência do levantamento de características que colocam esses espaços como potencialmente educadores é tanto no sentido de relevância quanto pertença, pois em ambas os espaços são vividos para poder significá-los e significando, encontram seu sentido educador latente.

O projeto de Larissa se relaciona com a intervenção educativa de Eliane, pois seu grupo PAP4 são as(os) associadas(os) da Cooperativa de Materiais Recicláveis “Luxo do

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Lixo” que destinou parte da coleta de resíduos sólidos à confecção de enfeites natalinos (TOSETTI, 2008).

Em sua apresentação, a PAP3 nos introduz ao mundo desvelado pelo seu trabalho:

A experiência vivida com o CESCAR, o projeto VIU e os catadores de materiais, não só contribuíram para minha formação intelectual, como também transformaram minha realidade, tornando-me mais feliz, mostrando que um mundo onde meus valores se encaixam existe, que posso confiar nos meus sonhos, que as pessoas podem e devem sempre estar conectadas entre elas e o mundo para que os trabalhos, alegrias e todas as realizações sejam sempre coletivas, e assim construídas e vividas de forma harmoniosa, completa, garantindo uma vida melhor para todos, e sustentável para muitas gerações (TOSETTI, 2008, p.5).

Se assumimos que no ProFEA de modo geral; e, no CESCAR em particular, estamos focando o processo educativo como um processo continuum cujo horizonte é a viabilização da utopia, a trajetória do grupo PAP4 de Larissa é uma das que mais evidenciam essa condição.

Uma empresa que fecha dá lugar à organização de uma cooperativa em 2005 num movimento encabeçado por suas(seus) ex-funcionárias(os). Um período oscilatório de fluxo de pessoas que ora assumem a cooperativa ora desistem dela geram um desgaste que enfraquecia de alguma forma as pessoas (TOSETTI, 2008, p.21). O grupo transcende a fragilidade situacional ao compreender que esta também é, dialeticamente, geradora de força. Tal perspectiva compreensiva foca o processo e, embora os resultados imediatamente verificáveis ainda se constituam uma preocupação considerável, essa nova postura do grupo traz não só alento como também motiva a ação.

A Cooperativa, devido à demora para a formalização legal, vinha passando um processo desanimador do grupo[...] Perceber que existe um andamento constante do projeto, mesmo com as dificuldades, incentivou os participantes a manterem-se sempre animados [...] A escrita do estatuto da cooperativa concomitante com as atividades do projeto foi engrandecedor no sentindo em que acabou por se introduzir de forma fácil os temas cooperativismo e grupo,uma vez que os cooperados precisavam ter conhecimento e vivenciar esses temas para que a cooperativa formalizasse e existisse, garantindo sua continuidade de forma harmoniosa. (TOSETTI, 2008, p.20-21)

A compreensão do processo como algo fortalecedor porque se caracteriza pela continuidade, determinou que uma reunião de pessoas se formalizasse em uma cooperativa.

Do mesmo modo, após se identificarem em princípios e regras como um grupo, este pode se voltar para os espaços onde atuam.

Com o trabalho de Larissa, o grupo amplia sua visão sobre as ações perpetradas que visam ao próprio sustento econômico e à sustentabilidade ambiental. Ao se reconhecerem como agentes ambientais, podem agora olhar para o barracão do centro de triagem e armazenamento de material coletado como um local de trabalho assim como aquele que se localiza beirando o principal curso d´agua da cidade, o rio Turvo. O planejamento de plantio de mudas de árvores nativas e projeto de construção de sala de oficinas e biblioteca com os livros coletados, faz com que o espaço de trabalho se encontre em processo de transição para constituir um espaço educador.

Veridiana nos apresenta Dourado, cujo epígrafe "Cidade Coração", refere-se à sua localização no centro geográfico do Estado de São Paulo, como município de pequeno porte e com economia voltada para a agricultura. Em sentido inverso ao do processo de Larissa, a PAP3 parte de espaços já estruturados na busca de seu caráter educador, assim por ela definido, mantendo a afetividade que dá título ao município:

Utilizar e pertencer a Estrutura e Espaço como Educador é ser um pedaço daquilo, é estar envolvido, é olhar a mudinha de árvore plantada coletivamente e amá-la, ser feliz por ela crescer ali pertinho [...] Trabalhar nestes espaços é algo transformador e acolhedor, criar em espaços já existentes novas perspectivas parecem descobertas e só assim é possível preservar estes locais, evitando ataques de vandalismos, que infelizmente, na atualidade são freqüentes (GUIMARÃES, 2008, p.13)

Como ambientalista e servidora pública, Veridiana transita com facilidade entre esses espaços, pois se reconhece como pedaço daquilo, já que vive, ensina e aprende; e, trabalha nestes. Das trilhas interpretativas da natureza ou a interpretação da história municipal por meio de sua trilha urbana – a antiga ruela da linha do trem; do próprio Departamento de Agricultura e Meio Ambiente à sede da ONG AMADO – Associação dos Amigos e Moradores de Dourado -; dos bosques, viveiros de aves e espécies vegetais ao antigo matadouro municipal, onde se encontra a locomotiva número 01 da extinta estrada de ferro; a PAP3 mapeia os caminhos que levam ao coração do espaço educador, o que o torna vital. São informações que potencializam mudanças; e, são mudanças protagonizadas pelos munícipes em seus espaços e propiciadas pelos espaços aos seus munícipes.