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CAPÍTULO 1 ⎪Evolução dos espaços rurais e seus desafios para o século

1.5 O FUTURO DO DESENVOLVIMENTO RURAL NA UNIÃO EUROPEIA

1.5.1 OS ESPAÇOS RURAIS – FACTOS E DESAFIOS

Embora tradicionalmente se associem os espaços rurais europeus à ideia de declínio, alguma literatura recente tem vindo a evidenciar que esta ideia necessita de ser reajustada (Comissão Europeia, 1997; OCDE, 1996). A imagem de declínio, frequentemente associada a desvantagens socio-económicas, fundamenta-se no elevado peso económico da agricultura, com uma limitada capacidade para gerar empregos; no declínio populacional, e consequente erosão do capital humano; na ausência de vantagens da aglomeração e das economias de escala, com consequências ao nível do custo dos serviços (públicos e às empresas) das áreas rurais e nas debilidades ao nível das acessibilidades, fruto das más ligações às redes de transporte e comunicação que unem os espaços rurais aos principais nós urbanos.

Embora se tenha vindo a registar, nas últimas duas décadas, um declínio da agricultura, em termos económicos e ao nível de emprego gerado, assiste-se a uma crescente diversidade do emprego no sector industrial e de serviços, em paralelo com um aumento populacional verificado em algumas zonas rurais (Comissão Europeia, 1997; OCDE, 1996). Neste sentido a imagem que melhor se parece adaptar ao actual realidade dos espaços rurais é a de um mosaico de territórios (Persson e Westholm, 1994).

Qualquer tipo de estratégia territorial levada a cabo actualmente tem, necessariamente, de ter em consideração o contexto de globalização (em sentido lato). O elemento “global” oferece uma dimensão ao desenvolvimento local nas suas múltiplas componentes: ambiental, económico e social.

Outrora confinados ao âmbito local, os territórios rurais têm oportunidade para se reforçarem interiormente, para se afirmarem e para fortalecerem relações com outros territórios a diferentes escalas :

i) do local ao global, através da projecção de uma imagem renovada dos territórios rurais, facilitada pelas TIC;

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ii) articulação interlocal, através do desenvolvimento de formas de intercâmbios, transferência e solidariedade entre territórios, com o objectivo de unir competências e suprimir algumas debilidades estruturais dos territórios (massa crítica, por exemplo); iii) articulação local-global, através do diálogo entre as diversas escalas políticas; iv) do global ao local, consolidação da importância da escala local e afirmação da especificidade e capacidade do mundo rural para encontrar respostas aos problemas globais, nomeadamente em áreas relacionadas com o desenvolvimento sustentável (Observatório Europeu LEADER, 2001).

Esta capacidade de “internal diversification and external integration” (Saraceno, 1994:329) dos territórios passa, fundamentalmente, pela capacidade de aprendizagem e inovação da sociedade local no seu conjunto (poder político, empresas, organizações sociais, entre outros), num processo de valorização dos recursos e de afirmação da especificidade local. No entanto, o acesso a recursos indispensáveis aos actuais processos de desenvolvimento e inovação, como o conhecimento só é possível através de formas de integração externa dos territórios rurais (ver Figura 1.2).

Figura 1.2. Desenvolvimento local no contexto de globalização. Fonte: Elaboração própria com base em (Méndez et al., 2006).

INTRA-REGIONAL LOCAL NACIONAL GLOBAL INTRA-REGIONAL LOCAL NACIONAL GLOBAL

EMPRESAS CIUDADÃOS(ORG. SOCIAIS) GOBIERNO ESTRATEGIA TERRITORIAL ACTORES Cooperação

EMPRESAS GOVERNO CIDADÃOS(ORGS.)

ESTRATÉGIA TERRITORIAL ACTORES Cooperação Empresas Governo Organizações de Conhecimento Outras Organizações LOCAL EXTRA-LOCAL INTRA-REGIONAL LOCAL NACIONAL GLOBAL INTRA-REGIONAL LOCAL NACIONAL GLOBAL INTRA-REGIONAL LOCAL NACIONAL GLOBAL INTRA-REGIONAL LOCAL NACIONAL GLOBAL

EMPRESAS CIUDADÃOS(ORG. SOCIAIS) GOBIERNO ESTRATEGIA TERRITORIAL ACTORES Cooperação

EMPRESAS GOVERNO CIDADÃOS(ORGS.)

ESTRATÉGIA TERRITORIAL

ACTORES

Cooperação Empresas

Empresas GovernoGoverno

Organizações de Conhecimento Organizações de Conhecimento Outras Organizações LOCAL EXTRA-LOCAL

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Um dos factores que tem vindo a contribuir para um aumento das acessibilidades dos espaços rurais é o desenvolvimento das TIC. Este desenvolvimento representa um novo impulso à comunicação externa dos agentes económicos e sociais, afectando a forma de funcionamento das empresas, e organismos públicos e do mundo associativo, educativo e cultural. Para além de permitirem conhecer, e dar a conhecer- se, estas formas de comunicação permitem também aceder a recursos não disponíveis à escala local (tais como os serviços às empresas, educativos ou de saúde, entre outros) e distribuir bens e produtos a uma escala mais ampla (Observatório Europeu LEADER, 2000).

Não obstante esta possibilidade de integração do “local” no “global”, os territórios rurais enfrentam-se também a uma maior competição, o que implica a necessidade de uma constante readaptação e procura de vantagens competitivas que permitam manter um desenvolvimento sustentado e sustentável.

Tendo em consideração as debilidades e potencialidades das áreas rurais, as estratégias de desenvolvimento deverão basear-se no aprofundamento de linhas que têm vindo a ser desenvolvidas a diferentes escalas e que passam, fundamentalmente, pelos seguintes pontos:

i) Tipo de estratégia

Necessidade de estratégias territoriais flexíveis, integradas e diversificadas, procurando obter vantagens competitivas sustentáveis assentes na diferenciação e na qualidade. Estas deverão articular a conservação dos recursos naturais, do património edificado, das identidades culturais e do “saber-fazer” tradicional, com a dinamização desses mesmos recursos, através de acções inovadoras e criativas que sejam capazes de gerar valor acrescentado.

ii) Participação dos actores locais

É necessário uma acção proactiva dos actores locais, através de acções de cooperação entre as iniciativa pública, empresarial e associativa, bem como, o fortalecimento da capacidade de aprendizagem colectiva.

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iii) Relação local-global

As áreas rurais deverão evitar atitudes localistas, mostrando abertura a outros territórios de modo a gerar novas procuras para os bens e serviços locais e como via para a aprendizagem e a inovação.

iv) Integração espaço rural-espaço urbano

A dicotomia espaço rural/espaço urbano revela-se inadequada para a compreensão da realidade contemporânea, contrariando os princípios da solidariedade e interdependência entre territórios e a coesão económica e social (postulado basilar da UE).

As alterações registadas na sociedade em geral no que respeita aos hábitos de consumo, que conferiram uma maior importância dos bens imateriais e da qualidade dos bens e serviços, constituem uma crescente oportunidade para os espaços rurais se afirmarem como espaços de produção (produtos agro-alimentares de qualidade), mas também enquanto espaços de consumo (recreio e turismo).

1.5.2 ORIENTAÇÕES DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO RURAL PARA 2007-