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VANTAGENS E DESVANTAGENS DAS REDES ENQUANTO ESTRUTURAS

CAPÍTULO 3 ⎪Redes: forma de organização e perspectiva interpretativa

3.3 AS REDES NO ÂMBITO ORGANIZACIONAL

3.3.2 VANTAGENS E DESVANTAGENS DAS REDES ENQUANTO ESTRUTURAS

As redes inter-organizacionais envolvem um conjunto de organizações que se relacionam interactivamente numa questão comum, normalmente uma questão que, pela sua complexidade ou custo, requer uma resposta multi-organizacional (Jamal e Getz, 1995).

A adopção, por parte das organizações, de estruturas em rede tem sido acompanhada por um número crescente de literatura científica que se dedica à análise das funcionalidades destas mesmas formas de organização (Podolny e Page, 1998). Entre estas, as mais comummente assinaladas relacionam-se com o facto de facilitarem os processos de aprendizagem e a inovação, de funcionarem como mecanismo de legitimação e prestígio, de proporcionarem benefícios económicos, de facilitarem a gestão dos recursos e de promoverem bem-estar social para os actores que se estruturam em rede.

Menguzzato realiza um esforço integrador ao identificar três fundamentos teóricos que explicam as funcionalidades das estruturas organizativas em rede, que denomina de lógica económica, lógica estratégica e lógica organizacional, que assumem frequentemente um carácter complementar (Menguzzato, 1995). A lógica económica recorre à teoria dos custos de transacção para justificar as vantagens da cooperação, frente ao mercado e à hierarquia. A lógica estratégica assinala como vantagens para a formação de redes inter-organizacionais o acesso a novos mercados e recursos, a obtenção de economias de escala e a obtenção de uma maior flexibilidade. Por fim, a

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lógica organizacional apoia-se na teoria dos recursos e capacidades para abordar o funcionamento em rede como um instrumento de aprendizagem organizacional (Menguzzato, 1995).

Frente às funcionalidades frequentemente associadas às redes, enquanto estruturas organizacionais, alguns autores alertam para a presença de uma série de constrangimentos inerentes à sua forma de funcionamento (Podolny e Page, 1998; Roberts e Simpson, 1999). Apesar de ser uma temática pouco desenvolvida na literatura científica, é possível destacar alguns destes constrangimentos, nomeadamente “problems that arise in their governance and boundary conditions on their functionality” (Podolny e Page, 1998:59).

Entre as vantagens e desfuncionalidades da forma de organização em rede destacam- se os seguintes âmbitos (ver Quadro I):

Rede enquanto facilitadora de processos de aprendizagem:

Diversos autores têm enfatizado os benefícios em termos de circulação de informação e maximização da aprendizagem que deriva de uma organização em rede (Powell, 1990; Uzzi, 1996). “Network forms of organization foster learning because they preserve greater diversity of search routines than hierarchies and they convey richer, more complex information than the market” (Podolny e Page, 1998:62).

Segundo Podonly e Page, as redes fomentam a aprendizagem através da rápida transferência de fragmentos independentes de informação, onde as relações entre actores funcionam como canais de transferência de informação e, por outro lado, pelo facto de encorajarem a formulação de sínteses de informação, que são qualitativamente distintas da informação que detinham previamente cada um dos actores. Neste sentido, mais do que facilitar a simples transferência de informação entre actores, a existência de uma relação de troca duradoura potencia a produção e a partilha de novo conhecimento (Podolny e Page, 1998).

Por outro lado, o facto dos mecanismos de transferência de conhecimento serem sociais, onde a sua transferência é feita através de mecanismos baseados em normas partilhadas (Saxena, 2005), facilita a aprendizagem, uma vez que, porque o investimento colectivo em confiança reduz o risco de comportamentos oportunistas (Tremblay, 1998). No entanto, a este propósito Oliver refere que a complexidade do processo de aprendizagem e a ambiguidade na medição das colaborações inter-

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organizacionais faz com que os comportamentos oportunistas, caso surjam, não sejam adequadamente detectados (Oliver, 2004).

Contrapondo aos argumentos que defendem que a estrutura em rede facilita a aprendizagem, alguns autores referem que a rede pode, no entanto, conduzir a uma redução da eficiência da aprendizagem, especialmente em redes que envolvem um elevado número de organizações. Segundo Olivier, as organizações que integram uma rede podem ver-se envolvidas em colaborações de aprendizagem múltiplas e divergentes, sem serem capazes de integrar e explorar o conhecimento adquirido de uma forma eficiente (Oliver, 2004). A mesma autora refere ainda que as organizações que se estruturam em rede tendem a gerar processos de aprendizagem isomórficos, devido ao número limitado de fontes de conhecimento (Oliver, 2004).

Rede enquanto mecanismo de legitimação e prestígio:

Distintos autores têm vindo a defender que a formação de redes tem uma influência positiva ao nível da legitimação, prestígio e da visibilidade social. O facto de um actor inserido numa rede gozar de legitimação ou prestígio pode proporcionar vantagens não só para os actores da rede com quem se relaciona, mas também para a legitimação e visibilidade social da rede no exterior (Podolny e Page, 1998; Thompson, 2003).

Rede indutora de benefícios económicos:

Outra das funcionalidades das estruturas organizativas em rede são os benefícios económicos directos, traduzíveis em forma de redução de custos e de aumento da qualidade (Podolny e Page, 1998; Uzzi, 1996).

Efeito da rede na diminuição da incerteza:

Num contexto sócio-económico marcado pela variabilidade e a incerteza, e onde muitas das alterações produzidas não são percebidas através do mecanismo de preços, a organização em rede representa uma mais valia, ao facilitar uma maior comunicação entre os actores que a compõe. Por outro lado, também os relacionamentos com determinadas fontes de dependência (o caso das alianças estratégicas) contribuem para a redução da incerteza (Podolny e Page, 1998).

Efeito da rede no aumento da flexibilidade:

O facto das fronteiras das redes serem, em geral, mais facilmente adaptáveis do que as da hierarquia, confere uma maior flexibilidade na modificação da composição das

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organizações em rede como forma de resposta às mudanças externas (Podolny e Page, 1998).

Favorecem a inovação:

As redes são vistas frequentemente na literatura científica, como uma estrutura organizacional com grande potencial para facilitar a inovação. Ao facilitarem as ligações entre actores (organizações ou individuais), as redes facilitam o intercâmbio de informação e a criação de conhecimento, facilitando uma mais rápida adopção de novos processos, a criação de novos produtos e de novas formas de organização (Bellamy et al., 1995).

Para além dos possíveis entraves apontados, em concreto, os que se relacionam com a aprendizagem (isomorfismo) e com o reduzido controle relativamente a comportamentos oportunistas, podem-se acrescentar outros factores, como a morosidade na tomada de decisão ou a necessidade de uma contínua coordenação entre os actores (com implicações em termos de custos e tempo).

Estes freios na funcionalidade da rede podem dever-se quer a incertezas externas (a situação económica, a resposta do mercado, obrigações com terceiros, autorizações de poderes públicos, entre outras) quer a elementos internos (metas perseguidas, falta de planificação, diferentes percepções dos benefícios, diferenças culturais e de gestão, entre outros) (Rodríguez, 2001).

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Quadro 3.1: Vantagens e desfuncionalidades da forma de organização em rede. Fonte: Elaboração própria.