As Aplica¸ c˜ oes Lorch Anal´ıticas
2.1 Espa¸ cos de Aplica¸ c˜ oes (L)-Anal´ıticas
Defini¸c˜ao 2.1. Uma aplica¸c˜ao f : U → E ´e deriv´avel no sentido de Lorch (ou (L)-diferenci´avel) em w0 ∈ U com derivada a ∈ E se para todo ε > 0 existe δ > 0 tal que
kf (w0+ h) − f (w0) − h ak < εkhk
para todo h ∈ E satisfazendo khk < δ.
´
E f´acil ver atrav´es da defini¸c˜ao que tal a ∈ E ´e ´unico e que se f ´e (L)-diferenci´avel em w0, ent˜ao f ´e cont´ınua em w0. Denotamos a (L)-derivada de f em w0 por f0(w0).
Defini¸c˜ao 2.2. Dizemos que f ´e (L)-anal´ıtica em U se f tem (L)-derivada em todo ponto de U.
Como a aplica¸c˜ao A(h) = f0(w0)h para todo h ∈ E ´e tal que A ∈ L(E; E), vemos que
se f : U → E ´e (L)-anal´ıtica em U , ent˜ao f ´e (F)-diferenci´avel em U e, consequentemente, toda aplica¸c˜ao (L)-anal´ıtica de U em E ´e holomorfa. Por´em a rec´ıproca n˜ao ´e verdadeira. Com efeito, consideremos em C2 as opera¸c˜oes
(γ1, γ2) + (ξ1, ξ2) = (γ1+ ξ1, γ2+ ξ2)
α(γ1, γ2) = (αγ1, αγ2) e (γ1, γ2)(ξ1, ξ2) = (γ1ξ1, γ2ξ2)
e a norma
k(γ1, γ2)k = max{|γ1|, |γ2|}.
A aplica¸c˜ao f : C2 −→ C2 definida por
f (γ1, γ2) = (γ2, γ1) para todo (γ1, γ2) ∈ C2
´
Teorema 2.1. Se ρ > 0 ´e o raio de convergˆencia da s´erieP∞ n=0an(w −w0)nonde (an)n ⊂ E, ent˜ao a aplica¸c˜ao f (w) = ∞ X n=0 an(w − w0)n
para todo w ∈ E tal que kw − w0k < ρ ´e (L)-anal´ıtica em Bρ(w0).
Demonstra¸c˜ao. Ver [21], p´agina 116, Teorema 3.19.1.
Por outro lado, temos
Teorema 2.2. Se w0 ∈ U e ρ > 0 s˜ao tais que Bρ(w0) ⊂ U , ent˜ao dada qualquer aplica¸c˜ao
f : U −→ E (L)-anal´ıtica em U temos que existe uma ´unica sequˆencia (an)n ⊂ E tal que
f (w) = ∞ X n=0 an(w − w0)n para todo w ∈ Bρ(w0).
Demonstra¸c˜ao. Ver [21], p´agina 770, Teorema 26.4.1.
O Teorema 2.2 mostra que a s´erie de Taylor das aplica¸c˜oes (L)-anal´ıticas tomam uma forma muito simples. Na nota¸c˜ao usada na teoria das aplica¸c˜oes holomorfas temos que se f (w) =P∞ n=0an(w − w0) n, ent˜ao 1 n!db nf (w 0)(w − w0) = an(w − w0)n para todo n ∈ N0.
Como consequˆencia dos Teoremas 2.1 e 2.2 temos os seguintes corol´arios.
Corol´ario 2.1. Uma aplica¸c˜ao f : E −→ E ´e (L)-anal´ıtica em E se, e somente se, existe uma ´unica sequˆencia (an)n ⊂ E tal que f (w) = P
∞ n=0anw
n para todo w ∈ E, onde
lim
n→∞kank
1 n = 0.
Seja HL(U ; E) o espa¸co das aplica¸c˜oes (L)-anal´ıticas de U em E. Quando U = E,
escrevemos HL(E) em lugar de HL(E; E). Ent˜ao f ∈ HL(E) se, e somente se, existe uma
´
unica sequˆencia (an)n⊂ E tal que f (w) =
P∞
n=0anwn para todo w ∈ E e lim n→∞kank
1 n = 0.
Pelo Corol´ario 2.1 temos que se f : E −→ E ´e dada por f (w) = ∞ X n=0 wn n!
para todo w ∈ E, ent˜ao f ∈ HL(E). Observe que se E = C, ent˜ao f (w) = exp(w) para todo
w ∈ C.
Definindo P (w) = awn para todo w ∈ E, onde a ∈ E, temos que P ∈ P(nE; E) e
kP k = kak, de modo que o supremo dos n´umeros ρ que satisfazem ao Teorema 2.2 ´e o raio de convergˆencia da s´erie de Taylor de f em w0, e da´ı
rcf (w0) = 1 lim sup n→∞ kank 1 n .
Para todo n ∈ N denotamos por PL(nE) o subespa¸co dos elementos de P(nE; E) que s˜ao
aplica¸c˜oes (L)-anal´ıticas, isto ´e, PL(nE) = P(nE; E) ∩ HL(E). Quando n = 0, por defini¸c˜ao
PL(0E) = P(0E; E). Temos a seguinte caracteriza¸c˜ao dos elementos de PL(nE).
Proposi¸c˜ao 2.1. Para todo n ∈ N0, P ∈ PL(nE) se, e somente se, existe a ∈ E tal que
P (w) = awn para todo w ∈ E.
Demonstra¸c˜ao. Se n = 0, vale por defini¸c˜ao. Fixemos n ∈ N. Se P ∈ PL(nE), a s´erie de
Taylor de P em torno da origem ´e dada por P (w) = P∞
k=0akwk para todo w ∈ E, onde
(ak)k ⊂ E, e ´e conhecido que se P ∈ P(nE; E) ent˜ao n!1dbnP (0) = P e 1
k!db
kP (0) = 0 para
todo k 6= n. Assim, P (w) = anwn para todo w ∈ E com an ∈ E. Por outro lado, ´e f´acil
verificar a partir da defini¸c˜ao que se P (w) = awn para todo w ∈ E com a ∈ E, ent˜ao P ´e
(L)-diferenci´avel em E, ou seja, P ∈ PL(nE).
No caso dos polinˆomios de E em E (n˜ao necessariamente homogˆeneos), definimos o espa¸co dos polinˆomios (L)-anal´ıticos de E em E por
Pela proposi¸c˜ao anterior, temos que P ∈ PL(E) se, e somente se, P ´e da forma
P (w) = a0+ a1w + a2w2+ . . . + anwn
para todo w ∈ E e para algum n ∈ N0.
Consideramos PL(nE) como um subespa¸co de P(nE; E) de modo que munimos PL(nE)
com a norma
kP k = sup
kwk≤1
kP (w)k
para todo P ∈ PL(nE). Quando n˜ao mencionado em contr´ario, PL(nE) estar´a sempre
munida desta norma. A proposi¸c˜ao a seguir nos mostra que do ponto de vista alg´ebrico e topol´ogico, o espa¸co dos polinˆomios n-homogˆeneos que s˜ao (L)-anal´ıticos e a ´algebra de Banach E, s˜ao os mesmos.
Proposi¸c˜ao 2.2. PL(nE) ´e isometricamente isomorfo a E.
Demonstra¸c˜ao. Se n = 0, ´e claro. Fixemos n ∈ N. Para cada a ∈ E, seja Pa(w) = awn para
todo w ∈ E. Assim, a aplica¸c˜ao T : E −→ PL(nE) tal que T (a) = Pa para todo a ∈ E est´a
bem definida. Al´em disso, ´e f´acil ver que T ´e linear e sobrejetiva. Como kPak = kak para
todo a ∈ E, segue a isometria.
Corol´ario 2.2. PL(nE) ´e um espa¸co de Banach.
Como HL(U ; E) ⊂ H(U ; E), podemos considerar em HL(U ; E) e em seus subespa¸cos as
topologias induzidas por τ0 e τw.
Proposi¸c˜ao 2.3. (PL(nE), τ0) ´e completo .
Demonstra¸c˜ao. Basta mostrar que para todo n ∈ N0, PL(nE) munido da topologia τ0 ´e
isomorfo a E. Para n = 0 vale por defini¸c˜ao. Fixemos n ∈ N. Seja T a bije¸c˜ao linear definida na demonstra¸c˜ao da Proposi¸c˜ao 2.2. Vamos mostrar que T ´e cont´ınua com inversa cont´ınua
quando PL(nE) est´a munido com a topologia τ0. Seja um conjunto compacto K ⊂ E. Logo
existe λ > 0 tal que kwk ≤ λ para todo w ∈ K. Dado a ∈ E temos que kPa(w)k ≤ kakλn
para todo w ∈ K, isto ´e, pK(T (a)) ≤ ckak para algum c > 0, mostrando que T ´e cont´ınua.
Por outro lado, como o conjunto unit´ario {e} ´e um compacto de E, ent˜ao ´e claro que T−1 ´e cont´ınua. Portanto, T ´e um homeomorfismo linear, ou seja, um isomorfismo.
Proposi¸c˜ao 2.4. (PL(nE), τ0) ´e um subespa¸co complementado de (HL(U ; E), τ0) para todo
n ∈ N.
Demonstra¸c˜ao. Sem perda de generalidade podemos supor que 0 ∈ U uma vez que ´e f´acil verificar que (HL(U ; E) , τ0) ´e isomorfo a (HL(U − w0; E) , τ0) para qualquer w0 ∈ U . Como
1 n!db
nf (0) ∈ P
L(nE) ⊂ HL(U ; E) para toda f ∈ HL(U ; E), o mesmo argumento usado
na demonstra¸c˜ao da Proposi¸c˜ao 3.22(a) de [15] mostra que (PL(nE), τ0) ´e um subespa¸co
complementado de (HL(U ; E), τ0).
Proposi¸c˜ao 2.5. (HL(U ; E), τ0) ´e completo.
Demonstra¸c˜ao. Seja (fα)α uma sequˆencia generalizada τ0-Cauchy em HL(U ; E). Logo (fα)α
´
e uma sequˆencia generalizada τ0-Cauchy em H(U ; E) e, como H(U ; E) ´e τ0-completo, existe
f ∈ H(U ; E) tal que fα τ0
−→ f . Para cada w0 ∈ U , existem r > 0 tal que Br(w0) ⊂ U
e uma sequˆencia de polinˆomios Pn ∈ P(nE; E), denotados por Pn = n!1dbnf (w0), tais que
f (w) = P∞
n=0 1 n!db
nf (w
0)(w − w0) uniformemente em Br(w0). Observamos que a topologia
τ0 de PL(nE) coincide com a topologia da convergˆencia uniforme sobre os subconjuntos
compactos de Br(0) e que, pela desigualdade de Cauchy, se K ´e um subconjunto compacto
equilibrado de Br(0), temos 1 n!db nf (w 0) K ≤ kf kw0+K
para todo n ∈ N. Da´ı e de fα τ0 −→ f segue que 1 n!db nf α(w0) τ0 −→ 1 n!db nf (w 0). Como PL(nE) ´e
τ0-completo, temos da´ı que n!1dbnf (w0) ∈ PL(nE) para todo n ∈ N. Ent˜ao, para cada n ∈ N existe an∈ E tal que n!1dbnf (w0)(w − w0) = an(w − w0)n. Segue da´ı que f ∈ HL(U ; E).
Corol´ario 2.3. Se U ´e equilibrado, ent˜ao (HL(U ; E), τω) ´e completo.
Demonstra¸c˜ao. Seja (fα)α uma sequˆencia generalizada τω-Cauchy em HL(U ; E). Logo (fα)α
´
e uma sequˆencia generalizada τω-Cauchy em H(U, E) e como H(U, E) ´e τω-completo, existe
f ∈ H(U, E) tal que fα τω
−→ f . Como τ0 ⊂ τω, em particular fα τ0
−→ f . Assim, pela Proposi¸c˜ao 2.5 temos que f ∈ HL(U ; E). Portanto, HL(U ; E) ´e τω-completo.
Como na Proposi¸c˜ao 2.4, usando argumento an´alogo ao usado na Proposi¸c˜ao 3.22(b) de [15] para mostrar que (P(nE; F ), τ
ω) ´e um subespa¸co complementado de (H(U ; F ), τω),
mostra-se que (PL(nE), τω) ´e um subespa¸co complementado de (HL(U ; E), τω).
Dada f ∈ HL(E), vimos que f (w) = P ∞ n=0anw
n para todo w ∈ E onde lim n→∞kank
1 n =
0. Al´em disso, definindo Pn(w) = anwn para todo w ∈ E, segue que Pn ∈ PL(nE) e
kPnk = kank para todo n ∈ N0. Assim, f (w) = P ∞
n=0Pn(w) para todo w ∈ E, onde
Pn ∈ P(nE, E) para todo n ∈ N e lim n→∞kPnk 1 n = 0, ou seja, lim n→∞ 1 n!db nf (0) 1 n = 0. Portanto, pela Proposi¸c˜ao 1.13, f ´e de tipo limitado, ou seja, f ∈ Hb(E; E). Acabamos de mostrar que
HL(E) ⊂ Hb(E; E). Mais ainda, o exemplo mencionado no in´ıcio deste cap´ıtulo nos mostra
que HL(E) & Hb(E; E). Podemos ent˜ao munir o espa¸co HL(E) com a topologia localmente
convexa τb da convergˆencia uniforme sobre os limitados de E. A seguinte proposi¸c˜ao ser´a
´
util no cap´ıtulo 3.
Proposi¸c˜ao 2.6. Todo elemento de HL(E) ´e uniformemente cont´ınuo em todo subconjunto
limitado de E.
Demonstra¸c˜ao. Dado f ∈ HL(E), podemos escrever f (w) = P ∞ n=0anw
n para todo w ∈ E,
onde (an)n⊂ E satisfaz lim n→∞kank
1
n = 0. Seja B um subconjunto limitado de E. Dado > 0,
existe N ∈ N tal que kf (w) − PN(w)k < 3 para todo w ∈ B onde PN(w) = PNn=0anwn.
ent˜ao kPN(z) − PN(w)k < 3. Assim, se z, w ∈ B e kz − wk < δ ent˜ao
kf (z) − f (w)k ≤ kf (z) − PN(z)k + kPN(z) − PN(w)k + kPN(w) − f (w)k < .
Ou seja, f |B ´e uniformemente cont´ınua.
Proposi¸c˜ao 2.7. (HL(E), τb) ´e um espa¸co de Fr´echet.
Demonstra¸c˜ao. Como Hb(E; E) ´e um espa¸co de Fr´echet, basta mostrar que HL(E) ´e
τb-fechado em Hb(E; E). Seja f ∈ HL(E) e seja (fk)k uma sequˆencia em HL(E) tal que
fk τb
−→ f . Vamos mostrar que f ∈ HL(E). De fato, para cada k ∈ N, como fk ∈ HL(E),
existe uma ´unica sequˆencia (an,k)n⊂ E tal que
fk(w) = ∞
X
n=0
an,kwn
para todo w ∈ E onde lim
n→∞kan,kk
1
n = 0. Al´em disso, como f ∈ Hb(E; E) podemos escrever
f (w) = ∞ X n=0 1 n!db nf (0)(w)
para todo w ∈ E onde lim
n→∞k 1 n!db
nf (0)k1n
= 0. Para todo n ∈ N0, denotando Qn,k(w) = an,kwn
para todo w ∈ E temos que Qn,k ∈ P(nE; E) e lim
n→∞kQn,kk
1
n = 0. Agora, temos por hip´otese
que (fk)k ´e τb-Cauchy, de modo que dado > 0 existe k0 ∈ N tal que
kfk(w) − fl(w)k < (2.1)
para todo w ∈ BE e para todos k, l > k0. Para todo n ∈ N0, usando a desigualdade de
Cauchy (Proposi¸c˜ao 1.6) temos que
kQn,k− Qn,lk ≤ sup kwk=1
kfk(w) − fl(w)k
e em conjunto com a desigualdade (2.1) nos d´a que kQn,k− Qn,lk <
para todos k, l > k0. Assim, fixado n ∈ N0, temos que (Qn,k)k⊂ PL(nE) ´e uma sequˆencia de
Cauchy e, portanto, existe Pn∈ PL(nE) tal que kQn,k− Pnk −→ 0 quando k → ∞. Vamos
mostrar que n!1dbnf (0) = Pn. Com efeito, dado > 0, como fk
τb
−→ f , usando novamente as desigualdades de Cauchy e ainda o fato de que kQn,k − Pnk −→ 0 quando k → ∞, temos
que existe k0 ∈ N tal que
1 n!db nf k0(0) − 1 n!db nf (0) < 2 (2.2) e kQn,k0 − Pnk < 2. (2.3)
Mas como n!1dbnfk0(0) = Qn,k0, pela desigualdade triangular e as desigualdades (2.2) e (2.3) segue que 1 n!db nf (0) − P n < .
Como isto vale para todo > 0, n!1dbnf (0) = Pn. Portanto, existe an∈ E tal que 1
n!db
nf (0)(w) = P
n(w) = anwn (2.4)
para todo w ∈ E. Al´em disso, pela isometria entre E e PL(nE), como f ∈ Hb(E; E) temos
lim n→∞kank 1 n = lim n→∞kPnk 1 n = lim n→∞ 1 n!db nf (0) 1 n = 0. (2.5)
Ou seja, pelas equa¸c˜oes (2.4) e (2.5) temos que f (w) =P∞
n=0anwn para todo w ∈ E, onde
lim
n→∞kank
1
n = 0, isto ´e, f ∈ HL(E).
Proposi¸c˜ao 2.8. As seguintes afirma¸c˜oes s˜ao verdadeiras:
(a) {PL(nE)}n∈N0 ´e uma ∞-decomposi¸c˜ao de Schauder para (HL(E), τb).
(b) {PL(nE)}n∈N0 ´e uma decomposi¸c˜ao S-absoluta para (HL(E), τb).
(c) {PL(nE)}n∈N0 ´e contr´atil.
Demonstra¸c˜ao. Para provar (a), sabemos que {P(nE; E)}n∈N0 ´e uma ∞-decomposi¸c˜ao para
(Hb(E; E), τb). Como HL(E) ⊂ Hb(E; E) e dada f ∈ HL(E) existem ´unicos
Pn ∈ PL(nE) ⊂ P(nE; E) para todo n ∈ N0 tais que f =
P∞
n=0Pn em (HL(E), τb), con-
clu´ımos da´ı que {PL(nE)}n∈N0 ´e uma ∞-decomposi¸c˜ao para o espa¸co de Fr´echet (HL(E), τb).
´
E sabido que, num espa¸co de Fr´echet, toda R-decomposi¸c˜ao de Schauder (0 < R ≤ ∞) ´e uma decomposi¸c˜ao S-absoluta (ver [16], Lema 6), de modo que PL(nE) ´e uma decomposi¸c˜ao
S-absoluta para HL(E), provando (b). Para provar (c), basta lembrar que toda decom-
posi¸c˜ao S-absoluta ´e contr´atil, de modo que {PL(nE)}∞n=0´e contr´atil. Resta provar (d). Seja
(Pm
k=0Pk)∞m=0 uma sequˆencia limitada em (HL(E), τb) onde Pk ∈ PL(kE) para todo k ∈ N0.
Fixado r > 0, seja M > 0 tal que
sup kwk≤r m X k=0 Pk(w) < M
para todo m ∈ N0. Assim
sup kwk≤r kPn(w)k ≤ sup kwk≤r n X k=0 Pk(w) + sup kwk≤r n−1 X k=0 Pk(w) < 2M, isto ´e, sup kwk≤r kPn(w)k !n1 < (2M )n1.
Tomando w = re segue que
rkPnk
1
n < (2M ) 1 n.
Assim, para todo n ∈ N0 temos que lim sup n→∞
kPnk
1 n ≤ 1
r. Como isto vale para todo r > 0,
segue que lim sup
n→∞ kPnk 1 n = 0 e consequentemente lim n→∞kPnk 1 n = 0. Assim, P∞ n=0Pnconverge em (HL(E), τb).
No caso cl´assico temos, como caso particular da Proposi¸c˜ao 4.3 de [6], que P(nE; E) tem
a propriedade de Schur para todo n ∈ N se, e somente se, E e E0 tem a propriedade de Schur. No nosso caso, como E ´e isometricamente isomorfo a PL(nE), temos trivialmente que
PL(nE) tem a propriedade de Schur para todo n ∈ N se, e somente se, E tem a propriedade
de Schur. Da´ı temos tamb´em que E ter a propriedade de Schur ´e equivalente a HL(E) ter
a propriedade de Schur (ver Proposi¸c˜ao 2.9, a seguir) e ´e equivalente a (HL(BE), τb) ter a
propriedade de Schur (ver a Proposi¸c˜ao 2.14, mais adiante). Proposi¸c˜ao 2.9. As seguintes afirma¸c˜oes s˜ao equivalentes:
(a) E tem a propriedade de Schur.
(b) PL(nE) tem a propriedade de Schur para todo n ∈ N0.
(c) (HL(E), τb) tem a propriedade de Schur.
Demonstra¸c˜ao. Como E e PL(nE) s˜ao isometricamente isomorfos para todo n ∈ N0, ´e claro
que (a) ⇔ (b). Agora, para provar que (b) ⇔ (c), basta lembrar que {PL(nE)}n∈N0 ´e uma
decomposi¸c˜ao S-absoluta para (HL(E), τb) e usarmos a Proposi¸c˜ao 1.15.
Lembramos que um espa¸co topol´ogico X satisfaz o primeiro axioma de enumerabilidade se todo ponto de X possui uma base de vizinhan¸cas enumer´avel. Se X possui uma base enumer´avel para sua topologia, dizemos que X satisfaz o segundo axioma de enumerabilidade. Pode-se provar que (ver [31], Teoremas 30.2 e 30.3 (b) da p´agina 191, e exerc´ıcio 5 (a) da p´agina 194 ou ver [27], Teorema 9.6 das p´aginas 133 e 137):
(a) Todo subespa¸co de um espa¸co topol´ogico que satisfaz o primeiro (segundo) axioma de enumerabilidade, tamb´em satistaz o primeiro (segundo) axioma de enumerabilidade. (b) Se um espa¸co topol´ogico X satisfaz o segundo axioma de enumerabilidade, ent˜ao X ´e
separ´avel.
(c) Se um espa¸co topol´ogico X ´e metriz´avel e separ´avel, ent˜ao X satisfaz o segundo axioma de enumerabilidade.
Se E ´e um espa¸co de Banach separ´avel, pode ser que L(E; E) n˜ao seja separ´avel. Por exemplo, se E = `2 ´e f´acil verificar que `∞ ´e um subespa¸co de L(`2; `2) e isto implica
em L(`2; `2) n˜ao ser separ´avel. Consequentemente, Hb(`2; `2) n˜ao ´e separ´avel embora `2
seja separ´avel. No nosso caso, a isometria entre E e PL(nE) nos possibilita mostrar as
Proposi¸c˜oes 2.10 e 2.15.
Proposi¸c˜ao 2.10. As seguintes afirma¸c˜oes s˜ao equivalentes.
(a) E ´e separ´avel.
(b) PL(nE) ´e separ´avel para todo n ∈ N0.
(c) (HL(E), τb) ´e separ´avel.
Demonstra¸c˜ao. Como PL(nE) ´e isometricamente isomorfo a E para todo n ∈ N0, segue direto
que (a) ⇔ (b). Vamos denotar (HL(E), τb) simplesmente por HL(E). Agora, suponhamos
que HL(E) seja separ´avel. Como HL(E) ´e metriz´avel, ent˜ao HL(E) satisfaz o segundo
axioma de enumerabilidade. Mas PL(nE) ⊂ HL(E), de modo que PL(nE) satisfaz o segundo
axioma de enumerabilidade e, portanto, PL(nE) ´e separ´avel e assim (c) ⇒ (b). Por fim,
suponhamos que E ´e separ´avel. Lembramos que a topologia usual de P(E; E) coincide com a topologia induzida em P(E; E) pela topologia τb de Hb(E; E). Assim, PL(E) ´e um
subespa¸co topol´ogico de (Hb(E; E), τb). Como E ´e separ´avel e ´e isometricamente isomorfo
a PL(nE) para todo n ∈ N0, temos que PL(E) ´e separ´avel. Assim, existe um subconjunto
enumer´avel D de PL(E) que ´e denso em PL(E). Dado f ∈ HL(E), existe ak ∈ E para todo
k ∈ N0 tal que a sequˆencia (Pnk=0Pak,k)
∞
n=0 converge a f na topologia τb. Assim, dados > 0
e B um subconjunto limitado de E, existe n0 ∈ N0 tal que
f − n0 X k=0 Pak,k B < 2.
Como Pn0
k=0Pak,k ∈ PL(E), existe Q ∈ D tal que
n0 X k=0 Pak,k− Q B < 2. Portanto, kf − QkB ≤ f − n0 X k=0 Pak,k B + n0 X k=0 Pak,k− Q B < .
Isto nos mostra que D = HL(E) e como D ´e enumer´avel, temos que HL(E) ´e separ´avel.
Provamos que (a) ⇒ (c) e, assim, a proposi¸c˜ao est´a provada.
Observa¸c˜ao 2.1. Se a ∈ U , ent˜ao BdU(a)(a) ⊂ U . Com efeito, suponhamos que exista
x ∈ BdU(a)(a) ∩ (E \ U ). Por um resultado conhecido sobre conjuntos conexos (ver, por
exemplo (3.19.9) de [13]) existe z ∈ ∂U ∩ BdU(a)(a) e neste caso temos um absurdo j´a que,
pela defini¸c˜ao de dU(a), temos que dU(a) ≤ kz − ak. Portanto, BdU(a)(a) ⊂ U .
Proposi¸c˜ao 2.11. Se f ∈ HL(U ; E) e w0 ∈ U , ent˜ao rbf (w0) = dU(w0).
Demonstra¸c˜ao. Seja f ∈ HL(U ; E) e w0 ∈ U . Como BdU(w0)(w0) ⊂ U , pelo Teorema 2.2,
existem ´unicos an∈ E para todo n ∈ N tais que
f (w) =
∞
X
n=0
an(w − w0)n
para todo w ∈ BdU(w0)(w0). Fixemos 0 < s < r < dU(w0) e considere w = w0+ re. Ent˜ao
w ∈ BdU(w0)(w0) ⊂ U e assim
P∞
n=0an(re)
n converge. Da´ı segue que (a
nrn)n ´e limitada
donde existe c > 0 tal que
kank ≤
c rn
para todo n ∈ N. Agora, se w ∈ Bs(w0), pela desigualdade acima temos que
kan(w − w0)nk ≤ kanksn≤ c
s r
n para todo n ∈ N. Como 0 < s < r, isto nos mostra que a s´erie P∞
n=0an(w − w0)n converge
temos que dU(w0) ≤ rcf (w0). Por outro lado, f ∈ H(U ; E) e como E ´e um espa¸co de Banach
temos que rbf (w0) = min{dU(w0) , rcf (w0)}. Portanto, rbf (w0) = dU(w0).
Veremos a seguir que quando U = Br(w0), onde w0 ∈ E e r > 0, HL(U ; E) ´e um
subespa¸co fechado de Hb(U ; E). Faremos a demonstra¸c˜ao apenas para o caso r = 1. Deno-
tamos por HL(BE) o espa¸co HL(BE; E). Em geral, podemos ter HL(U ; E) & Hb(U ; E) pois,
o exemplo mencionado logo ap´os a Defini¸c˜ao 2.2 mostra que HL(BE) & Hb(BE; E).
Proposi¸c˜ao 2.12. (HL(BE), τb) ´e um espa¸co de Fr´echet.
Demonstra¸c˜ao. Seja f ∈ HL(BE). Pela Proposi¸c˜ao 2.11 temos que rbf (0) = 1. Assim, f ´e
limitada em Bs(0) para todo 0 < s < 1. Agora, dado um BE-limitado B, pelo Lema 1.3 de [7],
existe λ > 1 tal que λB ´e BE-limitado, isto ´e, existe 0 < ρ < 1 tal que B ⊂ ρBE ⊂ Bρ(0).
Assim, f ´e limitada em B e da´ı f ∈ Hb(BE; E). Portanto, HL(BE) ´e um subespa¸co de
Hb(BE; E).
Agora mostraremos que (HL(BE), τb) ´e um espa¸co de Fr´echet. Como Hb(BE; E) ´e um
espa¸co de Fr´echet, basta mostrar que HL(BE) ´e τb-fechado em Hb(BE; E). Seja f ∈ HL(BE)
e seja (fk)k uma sequˆencia em HL(BE) tal que fk τb
−→ f . Vamos mostrar que f ∈ HL(BE).
Para cada k ∈ N, como fk∈ HL(BE) existe uma ´unica sequˆencia (an,k)n⊂ E tal que
fk(w) = ∞
X
n=0
an,kwn
para todo w ∈ BE. Mais ainda, para todo n ∈ N0, denotando Qn,k(w) = an,kwn para todo
w ∈ E temos que Qn,k ∈ P(nE; E). Al´em disso, como f ∈ Hb(BE; E) temos que para todo
w ∈ BE f (w) = ∞ X n=0 1 n!db n f (0)(w) onde lim sup
n→∞
k1 n!db
nf (0)kn1
≤ 1. Fixemos n ∈ N0 e 0 < r < 1. Por hip´otese temos que (fk)k
´
e τb-Cauchy, de modo que dado > 0 existe k0 ∈ N tal que
para todo w ∈ Br(0) e para todos k, l > k0. Logo, usando a desigualdade de Cauchy
(Proposi¸c˜ao 1.6) temos que
kQn,k− Qn,lkBr(0) ≤
1 rn sup
kwk≤r
kfk(w) − fl(w)k
e da´ı a desigualdade (2.6) nos d´a que
kQn,k− Qn,lkBr(0) <
para todos k, l > k0. Da´ı, como (Qn,k)k ´e uma sequˆencia de polinˆomios n-homogˆeneos,
conclu´ımos que (Qn,k)k ´e uma sequˆencia de Cauchy em PL(nE) donde existe Pn ∈ PL(nE)
tal que kQn,k− Pnk −→ 0 quando k → ∞. Vamos mostrar que n!1dbnf (0) = Pn. Com efeito, dado > 0, de fk
τb
−→ f em conjunto com a desigualdade de Cauchy e ainda o fato de que kQn,k− Pnk −→ 0 quando k → ∞ temos que existe k1 ∈ N tal que
Qn,k1 − 1 n!db nf (0) Br(0) < (2.7) e kQn,k1 − PnkBr(0) < . (2.8)
Agora pela desigualdade triangular e pelas desigualdades (2.7) e (2.8) segue que 1 n!db nf (0) − P n Br(0) < 2
e isto vale para todo > 0 de modo que n!1dbnf (0)(w) = Pn(w) para todo w ∈ Br(0). Como n!1dbnf (0) e Pn s˜ao ambos polinˆomios n-homogˆeneos, isto implica em n!1dbnf (0) = Pn. Portanto, existe an∈ E tal que
1 n!db
nf (0)(w) = P
n(w) = anwn (2.9)
para todo w ∈ E e isto vale para todo n ∈ N0. Ou seja, pela equa¸c˜ao (2.9) temos que
f (w) =P∞
n=0anwn para todo w ∈ BE e como lim sup n→∞ kank 1 n = lim sup n→∞ k1 n!db nf (0)kn1 ≤ 1 do
Usando os fatos de que {P(nE; E)}n∈N0´e uma 1-decomposi¸c˜ao de Schauder para Hb(BE; E)
e para toda f ∈ HL(BE) existe uma ´unica sequˆencia (an)n ⊂ E tal que f (w) =
P∞
n=0anw n
para todo w ∈ BE, com a mesma demonstra¸c˜ao das Proposi¸c˜oes 2.8, 2.9 e 2.10, obtemos os
seguintes resultados:
Proposi¸c˜ao 2.13. As seguintes afirma¸c˜oes s˜ao verdadeiras:
(a) {PL(nE)}n∈N0 ´e uma 1-decomposi¸c˜ao de Schauder para (HL(BE), τb).
(b) {PL(nE)}n∈N0 ´e uma decomposi¸c˜ao S-absoluta para (HL(BE), τb).
(c) {PL(nE)}n∈N0 ´e contr´atil.
(d) {PL(nE)}n∈N0 ´e limitadamente completa.
Proposi¸c˜ao 2.14. As seguintes afirma¸c˜oes s˜ao equivalentes:
(a) E tem a propriedade de Schur.
(b) PL(nE) tem a propriedade de Schur para todo n ∈ N0.
(c) (HL(BE), τb) tem a propriedade de Schur.
Proposi¸c˜ao 2.15. As seguintes afirma¸c˜oes s˜ao equivalentes.
(a) E ´e separ´avel.
(b) PL(nE) ´e separ´avel para todo n ∈ N0.
(c) (HL(BE), τb) ´e separ´avel.
Seja H∞L(U ; E) o espa¸co das f ∈ HL(U ; E) que s˜ao limitadas em U . Observe que se
U = E, como HL(E) ⊂ H(E; E), ent˜ao pelo Teorema de Liouville H∞L(E) denota o espa¸co
das aplica¸c˜oes constantes de E em E. O seguinte exemplo nos mostra que podemos ter H∞
Exemplo 2.1. Para todo w ∈ BE temos que w − e ´e invert´ıvel de modo que podemos definir
f : BE −→ E por f (w) = (e − w)−1 para todo w ∈ BE. Logo f ∈ HL(BE). Agora, tomando
wn = (1 − 1n)e ∈ BE para todo n ∈ N temos que kf (w)k = n para todo n ∈ N donde
f /∈ H∞ L(BE).
Temos ent˜ao que H∞L(U ; E) ´e um subespa¸co de H∞(U ; E) de modo que munimos este espa¸co com a norma usual
kf kU = sup w∈U
kf (w)k
para toda f ∈ H∞L(U ; E). Em geral podemos ter H∞L(U ; E) & H∞(U ; E) pois, o exemplo mencionado logo ap´os a Defini¸c˜ao 2.2 mostra que H∞L(BE) & H∞(BE; E).
Proposi¸c˜ao 2.16. H∞L(U ; E) ´e um espa¸co de Banach.
Demonstra¸c˜ao. Como H∞L(U ; E) ´e um subespa¸co do espa¸co de Banach H∞(U ; E), basta provar que H∞L(U ; E) ´e fechado. Seja f ∈ HL∞(U ; E) e seja (fk)kuma sequˆencia em H∞L(U ; E)
tal que fk −→ f quando k → ∞. Vamos mostrar que f ∈ HL∞(U ; E). Fixado w0 ∈ U , escolha
0 < r < 1 tal que Br(w0) ⊂ U . Agora, usando um argumento an´alogo ao da demonstra¸c˜ao
da Proposi¸c˜ao 2.12, temos que f ∈ HL(U ; E). Como f ∈ H∞(U ; E), ent˜ao f ∈ H∞L(U ; E),
donde segue que HL∞(U ; E) ´e um espa¸co de Banach.
Vamos denotar o espa¸co das aplica¸c˜oes (L)-anal´ıticas em BE e uniformemente cont´ınuas
em BE por AL(BE). Deste modo AL(BE) ´e um subespa¸co de A(BE; E). Munimos ent˜ao
este espa¸co com a norma usual
kf k = sup
kwk≤1
kf (w)k para toda f ∈ AL(BE).
Demonstra¸c˜ao. Como AL(BE) ´e um subespa¸co do espa¸co de Banach A(BE; E), basta provar
que AL(BE) ´e fechado. Seja f ∈ AL(BE) e seja (fk)k uma sequˆencia em AL(BE) tal que
fk−→ f quando k → ∞. Vamos mostrar que f ∈ AL(BE). Em particular, f ∈ A(BE; E) e,
portanto, f ´e uniformemente cont´ınua em BE. Assim, temos que provar que f ∈ HL(BE).
Para isto, observe que AL(BE) ´e tamb´em um subespa¸co do espa¸co de Banach H∞L(BE) e
como fk−→ f quando k → ∞ segue que f ∈ H∞L(BE).
2.2
O Espa¸co Γ(E) de Sequˆencias
Consideremos o seguinte conjunto de sequˆencias Γ(E) =n(an)n⊂ E ; lim n→∞kank 1 n = 0 o . Observe que dados (an)n, (bn)n ∈ Γ(E) e λ ∈ C, como
kan+ bnk 1 n ≤ ka nk 1 n + kb nk 1 n e kλank 1 n = |λ| 1 nkank 1 n
para todo n ∈ N, temos que lim
n→∞kan+bnk 1 n = 0 e lim n→∞kλank 1 n = 0. Isto ´e, (an+bn)n∈ Γ(E) e
(λan)n∈ Γ(E). Definindo em Γ(E) a adi¸c˜ao e multiplica¸c˜ao por escalar da seguinte maneira
(an)n+ (bn)n= (an+ bn)n
λ(an)n= (λan)n
para todos (an)n, (bn)n∈ Γ(E) e para todo λ ∈ C, temos que Γ(E) ´e um espa¸co vetorial.
Proposi¸c˜ao 2.18. A fun¸c˜ao d : Γ(E) × Γ(E) −→ R definida por d(a, b) = sup{ka0− b0k; kan− bnk
1
n, n ∈ N}
para todos a = (an)n ∈ Γ(E) e b = (bn)n ∈ Γ(E), ´e uma m´etrica em Γ(E) que ´e invariante
Demonstra¸c˜ao. Dados a = (an)n∈ Γ(E) e b = (bn)n ∈ Γ(E) temos que a − b ∈ Γ(E) e, como
lim
n→∞kan− bnk
1
n = 0, segue que d(a, b) < ∞. Assim d(a, b) ∈ R para todos a, b ∈ Γ(E). ´E
trivial verificar que d(a, b) ≥ 0 para todos a, b ∈ Γ(E), que d(a, b) = 0 se, e somente se, a = b, e que d(a, b) = d(b, a) para todos a, b ∈ Γ(E). Para a desigualdade triangular, se a = (an)n,
b = (bn)n, c = (cn)n∈ Γ(E), de kan− cnk 1 n ≤ ka n− bnk 1 n + kb n− cnk 1 n
para todo n ∈ N segue que d(a, c) ≤ d(a, b) + d(b, c). Mostramos assim que d ´e uma m´etrica em Γ(E). Finalmente, a partir da defini¸c˜ao de d ´e f´acil verificar que d(a + c, b + c) = d(a, b) para todos a, b, c ∈ Γ(E).
Observa¸c˜ao 2.2. A m´etrica d definida na Proposi¸c˜ao 2.18 satisfaz as seguintes propriedades:
(a) Para todos λ ∈ C e a, b ∈ Γ(E) vale d(λa, λb) ≤ A(λ)d(a, b) onde A(λ) = max{1, |λ|}. Com efeito, se λ ∈ C e a = (an)n, b = (bn)n∈ Γ(E) ent˜ao kλa0− λb0k ≤ |λ|ka0− b0k
e kλan− λbnk 1 n ≤ |λ| 1 nkan− bnk 1
n para todo n ∈ N. Agora, lembramos que se |λ| ≤ 1,
ent˜ao |λ|n1 ≤ 1 e que se |λ| > 1, ent˜ao |λ| 1
n ≤ |λ|.
(b) Usando o fato de d ser m´etrica invariante por transla¸c˜oes temos que d(a + b, 0) ≤ d(a, 0) + d(b, 0)
para todos a, b ∈ Γ(E).
Proposi¸c˜ao 2.19. (Γ(E), d) ´e um espa¸co vetorial topol´ogico.
Demonstra¸c˜ao. Pela Observa¸c˜ao 2.2 (b) temos que
d(a + b, 0) ≤ d(a, 0) + d(b, 0)
para todos a, b ∈ Γ(E), o que mostra a continuidade da adi¸c˜ao na origem e, como d ´e inva- riante por transla¸c˜oes, segue da´ı a continuidade da adi¸c˜ao. Para provarmos a continuidade
do produto escalar, como d ´e invariante por transla¸c˜oes, basta mostrar que se ap, a ∈ Γ(E) e λp ∈ C para todo p ∈ N s˜ao tais que d(ap, a) −→ 0 e λp −→ 0, ent˜ao d(λpap, 0) −→ 0.
Podemos supor sem perda de generalidade que |λp| ≤ 1 para todo p ∈ N. Vamos denotar
ap = (a
p,n)n para todo p ∈ N e a = (an)n. Fixemos > 0. Como a = (an)n ∈ Γ(E), existe
n0 ∈ N tal que
kank
1 n <
2 (2.10)
para todo n ≥ n0. Al´em disso, tomando p0 ∈ N suficientemente grande, temos que para
todo p ≥ p0 kλpa0k < 2 e kλpank 1 n < 2 para n = 1, 2, . . . , n0− 1 (2.11) e d(ap, a) < 2 o que implica em kap,0− a0k < 2 e kap,n− ank 1 n < 2 para todo n ∈ N. (2.12) Agora, para todo p ≥ p0, usando as desigualdades (2.11) e (2.12) e lembrando que |λp| ≤ 1
para todo p ∈ N obtemos
kλpap,0k ≤ |λp|kap,0− a0k + kλpa0k < (2.13) e kλpap,nk 1 n ≤ |λp| 1 nkap,n− ank 1 n + kλpank 1 n < (2.14)
para n = 1, 2, . . . , n0 − 1. Por outro lado, para todo p ≥ p0 e para todo n ≥ n0, usando a
desigualdade (2.10) e lembrando novamente que |λp| ≤ 1 obtemos
kλpap,nk 1 n ≤ |λp| 1 nkap,n− ank 1 n + |λp| 1 nkank 1 n < . (2.15)
Assim, das desigualdades (2.13), (2.14) e (2.15) segue que d(λpap, 0) ≤ para todo p ≥ p0,
ou seja, d(λpap, 0) −→ 0, o que prova a continuidade do produto por escalar.
Demonstra¸c˜ao. J´a vimos que Γ(E) ´e um espa¸co m´etrico. Vejamos que ´e completo. Seja (ap)
p uma sequˆencia de Cauchy em Γ(E). Vamos denotar ap = (ap,n)n para todo p ∈ N.
Dado 0 < < 1, existe r ∈ N tal que d(ap, aq) < para todos p, q ≥ r, isto ´e,
kap,0− aq,0k < (2.16)
e
kap,n− aq,nk
1
n < (2.17)
para todo n ∈ N e para todos p, q ≥ r. Da´ı segue que para todo n ∈ N0 a sequˆencia (ap,n)p ´e
de Cauchy em E donde existe an∈ E tal que ap,n−→ an quando p → ∞, para todo n ∈ N0.
Fixando n ∈ N0 e p ≥ r, fazendo q → ∞ nas desigualdades (2.16) e (2.17), temos que
kap,0− a0k ≤ (2.18)
e
kap,n− ank
1
n ≤ para todo n ≥ 1, (2.19)
para todo p ≥ r. Fixado p ∈ N, como (ap,n)n ∈ Γ(E) temos lim n→∞kap,nk
1
n = 0. Assim,
tomando p = r existe n0 ∈ N tal que kar,nk
1
n < para todo n ≥ n0 e pela desigualdade
(2.19) obtemos que kank 1 n ≤ kan− ar,nk 1 n + kar,nk 1 n ≤ 2
para todo n ≥ n0. Segue da´ı que lim n→∞kank
1
n = 0 donde definindo a = (an)n temos que
a ∈ Γ(E). Al´em disso, de (2.18) e (2.19) segue que d(ap, a) ≤ para todo p ≥ r. Portanto,
Γ(E) ´e completo com a m´etrica d.
Observa¸c˜ao 2.3. Alguns autores (por exemplo, Conway em [12]) definem espa¸co de Fr´echet como sendo um espa¸co vetorial topol´ogico X cuja topologia vem de uma m´etrica d tal que (X, d) ´e um espa¸co m´etrico completo. Ent˜ao, a Proposi¸c˜ao 2.19 e a Proposi¸c˜ao 2.20 nos dizem que Γ(E) ´e um espa¸co de Fr´echet neste sentido. Entretanto, a maioria dos textos exige que o espa¸co de Fr´echet seja um espa¸co localmente convexo. O pr´oximo resultado ir´a
garantir que Γ(E) possui uma base de vizinhan¸cas convexas do zero e portanto Γ(E) ´e um espa¸co localmente convexo.
Teorema 2.3. (Γ(E), d) e (HL(E), τb) s˜ao isomorfos.
Demonstra¸c˜ao. Seja T : (Γ(E), d) −→ (HL(E), τb) definida por T (a) =
P∞
n=0Pan,n para
todo a = (an)n ∈ Γ(E) onde Pan,n(w) = anw
n para todo w ∈ E e para todo n ∈ N 0.
Lembrando que f ∈ HL(E) se, e somente se existe uma ´unica sequˆencia (an)n ∈ Γ(E) tal
que f = P∞
n=0Pan,n, ´e f´acil ver que T est´a bem definida e ´e uma bije¸c˜ao linear. Resta
mostrar que T ´e um homeomorfismo. Para isto, basta mostrar que se a = (an)n ∈ Γ(E) e
(ap)
p ⊂ Γ(E), ent˜ao d(ap, a) −→ 0 quando p → ∞ se, e somente se, T (ap) τb
−→ T (a) quando p → ∞. Para cada p ∈ N, seja ap = (a
p,n)n. Da defini¸c˜ao de T temos que T (a) = f ∈ HL(E)
e, para cada p ∈ N, T (ap) = f p ∈ HL(E), onde f (w) = P ∞ n=0anw n para todo w ∈ E e fp(w) = P∞
n=0ap,nwn para todo w ∈ E e para todo p ∈ N. Seja B um limitado de E. Logo,
existe R > 1 tal que kwk ≤ R para todo w ∈ B. Dado > 0, escolhemos η > 0 tal que ηR < 1 e η(1 + 1−ηRR ) ≤ . Suponhamos que d(ap, a) −→ 0. Assim, existe p
0 ∈ N tal que
para todo p ≥ p0 temos
kap,0− a0k ≤ η
e
kap,n− ank ≤ ηn
para todo n ≥ 1. Da´ı, para todo w ∈ B e para todo p ≥ p0
kfp(w) − f (w)k ≤ ∞ X n=0 kap,n− ankkwkn ≤ η + ∞ X n=1 (ηR)n= η 1 + R 1 − ηR ≤ , isto ´e, fp(w) −→ f (w) uniformemente em B. Como B foi tomado um limitado arbitr´ario em
E temos que fp τb
−→ f . Reciprocamente, suponhamos que fp τb
−→ f . Em particular, tomando B = {0} obtemos kap,0− a0k → 0. Dado > 0, seja R ≥ 1/. Por hip´otese, existe p0 ∈ N
tal que para todo p ≥ p0 temos que
e
kfp(w) − f (w)k ≤ 1
para todo kwk ≤ R. Pela desigualdade de Cauchy, para todos n ∈ N e p ≥ p0 temos
kap,n−ank = sup kwk≤1 kap,nwn−anwnk ≤ sup kwk≤R kap,nwn−anwnk ≤ 1 Rn sup kwk≤R kfp(w)−f (w)k ≤ 1 Rn donde kap,n− ank 1 n ≤ 1
R ≤ . Assim, segue que d(a
p, a) ≤ para todo p ≥ p
0. Isto ´e,
d(ap, a) −→ 0.
Como (HL(E), τb) ´e um espa¸co localmente convexo, pelo Teorema 2.3 e pela Proposi¸c˜ao
2.20, segue que (Γ(E), d) ´e um espa¸co de Fr´echet no sentido usual. Lembramos que um subconjunto B de um espa¸co vetorial topol´ogico X ´e limitado se para cada vizinhan¸ca U do zero, existe λ > 0 tal que B ⊂ λU . Dizemos que X ´e norm´avel quando sua topologia prov´em de uma norma.
Proposi¸c˜ao 2.21. (Γ(E), d) ´e um espa¸co de Fr´echet que n˜ao ´e norm´avel.
Demonstra¸c˜ao. Como (Γ(E), d) ´e um espa¸co localmente convexo, pelo Teorema de Kolmogorov (ver [12], p´agina 107, Proposi¸c˜ao 2.6), basta mostrar que Γ(E) n˜ao cont´em uma vizinhan¸ca limitada do zero. Como os conjuntos U(0) = {a ∈ Γ(E) ; d(a, 0) < } para
todo > 0 formam uma base de vizinhan¸cas do zero, basta mostrar que estes conjuntos n˜ao s˜ao limitados. Fixemos > 0 e seja η = /4. Para λ > 0 arbitr´ario, tomemos m ∈ N suficientemente grande tal que λm1 < 2. Tomando a = (an)n ∈ Γ(E) definida por an = 0
para todo n 6= m e am = (2)me, ´e claro que a ∈ U(0) e, como kaλmk
1
m > /4 = η, a /∈ λUη(0).
Mostramos que dado um aberto U(0) existe um aberto Uη(0) tal que n˜ao existe λ > 0 que
satisfaz U(0) ⊂ λUη(0), ou seja, U(0) n˜ao ´e limitado.
Observa¸c˜ao 2.4. Como vimos no Teorema 2.3, podemos representar o espa¸co HL(E) pelo
(a) Como f ∈ HL(E) se, e somente se existe uma ´unica sequˆencia (an)n ∈ Γ(E) tal que
f (w) = P∞
n=0anw
n para todo w ∈ E, podemos equivalentemente definir em H
L(E) a
seguinte m´etrica
ρ(f, g) = sup{ka0− b0k; kan− bnk
1
n, n ∈ N}
para todas f, g ∈ HL(E) tais que f (w) = P ∞ n=0anw n e g(w) = P∞ n=0bnw n para todo w ∈ E.
(b) Todos os resultados deste par´agrafo, com exce¸c˜ao do Teorema 2.3, valem sempre que E ´e um espa¸co de Banach, sem necessidade de supor que E seja uma ´algebra de Banach. O Teorema 2.3 serviu para mostrar que (Γ(E), d) ´e um espa¸co de Fr´echet no sentido usual. Este fato vale para qualquer espa¸co de Banach. Com efeito, j´a observamos que