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7. Bases para a criação de um Guia de Digitalização

7.1. Especificação de requisitos de digitalização e perfis de digitalização

Na criação deste guia a primeira tarefa passou pela avaliação de diretrizes e possíveis normas de digitalização de entidades com credibilidade e renome na área, de forma a sistematizar conhecimento e criar uma base que sustentasse os testes de digitalização que seriam feitos posteriormente de forma a validar as especificações feitas nesta fase.

Das referências analisadas as que se apresentaram como mais completas e capazes de auxiliar este processo foram:

 Technical Guidelines for Digitizing Cultural Heritage Materials: Creation of Raster

Image Master Files (Federal Agencies Digitization Initiative (FADGI) - Still Image Working Group) - 2009

A FADGI, e este documento de 2009 em especifico, serve de base para as politicas de digitalização de várias instituições assumindo-se como uma referência na área. Bastante extenso e especifico, este guia apresenta diretrizes para todas as fases do acto de digitalização, desde diretrizes para a calibração dos aparelhos tecnológicos de captura (scanners e camaras digitais) a diretrizes sobre as condições de visualização das imagens resultantes (calibrações do ecrã) passando como é claro pelas diretrizes de captura para as diferentes tipologias de objetos.

 Technical Guidelines for Digitizing Cultural Heritage Materials: Creation of Raster

Image Master Files (Federal Agencies Digitization Initiative (FADGI) - Still Image Working Group) - 2015

Os constantes ciclos de aparecimento e obsolescência que caracterizam a inovação tecnológica estão em muito presentes nas práticas de digitalização, por esse mesmo motivo

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a FADGI está em processo de formulação de um novo conjunto de diretrizes, mudando não só as características técnicas como também os seus procedimentos.

A principal alteração deste documento comparativamente com o de 2009 prende-se com o uso de um novo sistema para avaliação das reproduções digitais. Ao invés de determinar apenas um conjunto de características técnicas para cada tipologia documental, este documento de 2015 apresenta um sistema de quatro classificações diferentes de reproduções digitais para cada uma das tipologias documentais, relacionadas com a sua qualidade/finalidade49.

Esta versão mantém a mesma perspetiva da versão anterior relativamente à reprodução digital de objetos tridimensionais, não se focando em tipologias diferentes, mas sim determinando diretrizes gerais para todo o tipo de objetos.

 Digitization Standards for the Canadian Museum of Civilization Corporation (2006)

Este documento é um guia de diretrizes de digitalização para os Museus da Civilização e de Guerra do Canada e destaca-se dos guias da FADGI relativamente às diretrizes para objetos tridimensionais. Segue a mesma metodologia usada para os bidimensionais, ou seja, divide-os em várias tipologias e fornece diretrizes para cada uma delas. Além disto, este documento não se destaca pela informação técnica sobre os equipamentos que fornece (os da FADGI são muito mais complexos e detalhados no que toca por exemplo a formatos de imagem, luz ou calibração), mas sim pelo seu foco nas diretrizes procedimentais (colocação de escalas, perspetivas a capturar, formas de manipulação da luz para objetos transparentes etc.). Este documento assume uma grande importância no levantamento teórico pois a fotografia de artefactos é uma área que envolve muitos processos de tentativa e erro, não sendo possível definir valores específicos para a luminosidade ou até mesmo para o calibre de brancos na camara digital, decorrente das diferenças existentes entre os vários lugares onde se fotografa, os diferentes equipamentos usados e os próprios objetos fotografados. Outro ponto que complica a criação de normas especificas é o paradigma da “experiência do fotografo” que coloca enfase na experiência

49 “FADGI defines four quality levels of imaging, from 1 star to 4 star. Higher star ratings relate to better image quality, but require greater technical performance of both operator and imaging system to achieve. The appropriate star performance level for a particular project should be carefully considered in the planning stage of the project.”(Federal Agencies Digitization Initiative - Still Image Working Group, 2015)

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do fotografo deixando que o mesmo guie os trabalhos de digitalização ao invés de normas pré-estabelecidas.

Depois de uma sistematização e análise dos diferentes perfis de digitalização apresentados por cada documento (anexo 8), foram definidos os perfis de digitalização num guia preliminar (anexo 9) que suportaria os testes de digitalização a serem realizados.

Nesta fase preliminar o guia foca-se sobretudo nas diretrizes para cada tipologia documental sendo que os testes serão focados na digitalização de objetos tridimensionais devido à sua maior complexidade quer a nível técnico quer a nível logístico, fornecendo ainda recomendações para os formatos de imagem pois é um fator que interfere nos processos de digitalização, nomeadamente o formato a usar pela camara digital no momento de captura.

O guia preliminar encontra-se integralmente em anexo, porém, estes são os perfis de digitalização contemplados:

1) Documentos Textuais

a. Manuscritos ou artefactos bidimensionais b. Documentos impressos a preto e branco

c. Documentos impressos com imagens ou anotações

d. Documentos em suportes com transparência ou reluzente e. Jornais

f. Livros

2) Documentos fotográficos a. Fotografias

b. Still Film entre 35 mm e 4” x 5” c. Still Film maior que 4” x 5” d. Radiografias

e. Microfilme 3) Artefactos

a. Artefactos de tamanho médio b. Artefactos refletores

c. Artefactos de tamanho pequeno d. Artefactos redondos

e. Artefactos com selo, assinatura ou marca

f. Artefactos longos em tecido detalhado e colorido g. Artefactos de tamanho grande

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i. Artefactos com várias componentes

7.2. (re)Produção digital: testes e implementação

Tendo acabado a pesquisa teórica e sido feita a sistematização da informação num guia preliminar, a próxima fase lógica é o teste dos diferentes perfis de digitalização (e suas diretrizes) contempladas no documento.

Ambiente de Testes

O ambiente ideal para fotografia seria um espaço fechado com paredes de cor neutra para permitir uma correta manipulação da luminosidade, porém, tal não foi possível devido à inexistência de um local com essas características (e com disponibilidade) nas várias instalações da Universidade do Porto.

Foi então decidido que o melhor local para estes testes seria nas imediações de um dos museus pertencentes ao projeto para que as suas peças fossem os objetos de testes de forma inclusive a diminuir as dificuldades logísticas. Com o auxilio do museu da FEUP, foi disponibilizado um espaço no departamento de engenharia civil da Faculdade de Engenharia, nomeadamente, uma sala de reuniões que apesar de deixar muito a desejar em

Figura 12 Exemplo de recomendações existentes no guia de digitalização (neste caso para documentos impressos com imagens ou anotações)

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termos de luminosidade (três janelas), tinha o tamanho certo, bem como a disponibilidade necessária.

Infelizmente não foi possível utilizar as escalas de cor durante os testes, pelo que foi usada uma régua como recurso de improviso de forma a substituir as mesmas.

Peças de Teste

Durante a escolha de artefactos a usar nos testes, as fragilidades dos perfis de digitalização definidos rapidamente emergiram:

A separação entre objetos pequenos, médios e grandes era demasiado ambígua; a diferenciação entre os perfis por tamanho (pequeno, médio e grande) e perfis como redondo e refletor não fazem sentido pois um objeto pode ser grande, redondo e refletor, situação esta que um conjunto de categorias rigorosas não contempla.

Sendo assim escolheram-se cinco peças com características impares de forma a identificar todos os obstáculos à sua digitalização e conseguir posteriormente reformular o guia provisório e principalmente os perfis de digitalização.

Teste 1

Tipologia segundo o guia preliminar: Artefacto Pequeno

Recomendações segundo o guia preliminar:

 Fundo Preto ou cinzento neutro  Escala de cor ou cinzentos

 Garantir que a escala possa ser excluída caso seja necessário  Usar uma lente macro para objetos muito pequenos

 O artefacto deve preencher ao máximo possível, a imagem

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Resultados, dificuldades e comentários:

Obtiveram-se duas fotografias (Anexo 10) de perspetivas diferentes, incluindo uma com a etiqueta do objeto.

A escala presente no próprio objeto exige um cuidado extra para garantir que é percetível na fotografia.

A recomendação “Fotografar o artefacto duas vezes com a escala, uma vista frontal e outra traseira” é demasiado restritiva pois duas fotografias podem não ser suficientes para capturar a totalidade do objeto, ou podem até ser demais dependendo do objeto em questão.

Teste 2

Tipologia segundo o guia preliminar: Artefacto; Artefactos refletores; Artefactos com selo,

assinatura ou marca

Recomendações segundo o guia preliminar:

 Fotografar pelo menos duas vezes de ângulos diferentes  Fundo Preto ou cinzento neutro

 Escala de cor ou cinzentos

 Garantir que a escala possa ser excluída caso seja necessário  Fundo Preto ou cinzento neutro

 Escala de cor ou cinzentos

 Garantir que a escala possa ser excluída caso seja necessário  Usar uma lente micro para objetos muito pequenos

 Reduzir ao máximo as reflexões no artefacto

 Tirar uma primeira fotografia com uma escala de cor e outra sem escala para que não seja reflectida

 Fundo Preto ou cinzento neutro  Escala de cor ou cinzentos

 Garantir que a escala possa ser excluída caso seja necessário  Fotografar o artefacto como um todo

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 Fotografar marca (ou assinatura…)

Resultados, problemas e comentários:

Foram fotografadas três perspetivas (Anexo 10), uma frontal, uma com uma perspetiva de cima para baixo e ainda outra focando no detalhe presente na imagem.

Este objeto em acrílico para além de levantar a questão sobre a sua transparência que com a configuração atual do local de testes (sala com janelas, e iluminação com flashes) dificulta a sua correta digitalização, suscita ainda outro ponto a considerar, nomeadamente qual a perspetiva correta para o capturar. Se por um lado interessa capturar o objeto como um todo, é também necessária uma perspetiva que representa a funcionalidade do objeto.

Retirando as recomendações de cada perfil onde o objeto se enquadra é facilmente percetível que muitas destas recomendações são transversais e podem ser sistematizadas de outra forma. Por outro lado, a recomendação “reduzir ao máximo as reflexões” é, novamente, uma recomendação demasiado restritiva, pois a fotografia do objeto não pode ser desprovida de alguns contrastes que lhe dão vivacidade, onde se encontram incluídas as reflexões.

Teste 3

Tipologia segundo o guia preliminar: Artefacto Médio; Artefactos refletores; Artefactos

com selo, assinatura ou marca

Recomendações segundo o guia preliminar:

 Fotografar pelo menos duas vezes de ângulos diferentes  Fundo Preto ou cinzento neutro

 Escala de cor ou cinzentos

 Garantir que a escala possa ser excluída caso seja necessário  Fundo Preto ou cinzento neutro

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 Garantir que a escala possa ser excluída caso seja necessário  Usar uma lente micro para objetos muito pequenos

 Reduzir ao máximo as reflexões no artefacto

 Tirar uma primeira fotografia com uma escala de cor e outra sem escala para que não seja refletida

 Fundo Preto ou cinzento neutro  Escala de cor ou cinzentos

 Garantir que a escala possa ser excluída caso seja necessário  Fotografar o artefacto como um todo

 Fotografar marca (ou assinatura…)

Resultados, dificuldades e Comentários:

Neste objeto bastante mais complexo foram tiradas fotografias de várias perspetivas (anexo 10), pois a sua captura é dificultada pela impossibilidade de expor o objeto de uma forma que represente a sua funcionalidade, isto pois o objeto necessitaria de uma base que o segurasse.

Segundo o guia preliminar o procedimento para captura deste objeto tem as mesmas diretrizes que o procedimento para a captura do objeto do teste 2, no entanto as diferenças entre os mesmos são notáveis, tanto a nível do material (com várias cores e diversos graus de reflexão) como das perspetivas que deverão ser capturadas. Questiona-se novamente a configuração preliminar dos perfis de digitalização quando agrupam nas mesmas categorias objetos tão diferentes.

Teste 4

Tipologia segundo o guia preliminar: Artefacto Grande; Artefacto com selo, assinatura ou

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Recomendações segundo o guia preliminar:

 Fundo Preto ou cinzento neutro  Escala de cor ou cinzentos

 Garantir que a escala possa ser excluída caso seja necessário  Fotografar o artefacto a partir de cima

 Para evitar distorção do objeto, a parte traseira da camara deve estar paralela ao artefacto

 Um quadro ou mobília podem também ser colocados de maneiras que os cantos estejam a 90 graus da camara

 Várias perspetivas são aceitáveis, no mínimo uma frontal e outra traseira  Fundo Preto ou cinzento neutro

 Escala de cor ou cinzentos

 Garantir que a escala possa ser excluída caso seja necessário  Fotografar o artefacto como um todo

 Fotografar marca (ou assinatura…)

Resultados dificuldades e Comentários:

Foram tiradas fotografias de três perspetivas diferentes (anexo 10) tendo em conta as limitações encontradas.

Este objeto suscitou um aspeto que ainda não tinha sido considerado no guia preliminar (nem nos documentos que lhe serviram de referência), a impossibilidade de transportar um artefacto para o estúdio/local de fotografia. No caso de objetos de grandes dimensões existe por uma razão logística uma grande dificuldade em proceder à sua manutenção, sendo necessário fotografar o artefacto no mesmo sitio onde está exposto/armazenado, e por vezes sem ser sequer possível alterar a orientação do objeto para se possibilitar a captura de todas as perspetivas.

Outra característica deste objeto prende-se com a existência de uma base, sendo necessário determinar se a base deve ser contemplada na digitalização ou não.

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Teste 5

Tipologia segundo o guia preliminar: Artefacto Grande; Artefactos refletores; Artefacto

com selo, assinatura ou marca

Recomendações segundo o guia preliminar:

 Escala de cor ou cinzentos

 Garantir que a escala possa ser excluída caso seja necessário  Usar uma lente micro para objetos muito pequenos

 Reduzir ao máximo as reflexões no artefacto

 Tirar uma primeira fotografia com uma escala de cor e outra sem escala para que não seja refletida

 Fundo Preto ou cinzento neutro  Escala de cor ou cinzentos

 Garantir que a escala possa ser excluída caso seja necessário  Fotografar o artefacto como um todo

 Fotografar marca (ou assinatura…)  Fundo Preto ou cinzento neutro  Escala de cor ou cinzentos

 Garantir que a escala possa ser excluída caso seja necessário  Fotografar o artefacto a partir de cima

 Para evitar distorção do objeto, a parte traseira da camara deve estar paralela ao artefacto

 Um quadro ou mobília podem também ser colocados de maneiras que os cantos estejam a 90 graus da camara

 Várias perspetivas são aceitáveis, no mínimo uma frontal e outra traseira

Resultados, dificuldades e comentários:

Desta peça apenas uma imagem exemplificativa foi anexada (anexo 10) devido à impossibilidade de alterar as condições de fotografia.

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Para além das questões já referidas anteriormente esta peça apresenta um obstáculo que ainda não foi mencionado, a existência de uma vitrine da qual os objetos não podem ser retirar. Este caso difere dos simples objetos refletores pois o processo de manipulação de luminosidade é ainda mais critico pões pretende-se evitar reflexões na vitrine, mas mesmo assim capturar o objeto de forma percetível. Como podemos ver nestas condições, muitas das recomendações são impraticáveis.

7.3. Formatos para captura de imagem com máquina