• Nenhum resultado encontrado

2. ENSINO-APRENDIZAGEM DAS ARTES NO ENSINO MÉDIO

2.3 As Especificidades das Artes Visuais

O 2º parágrafo do Artigo 26 da LDB (93904, de 1996) expressa que “o ensino da

arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos” e no caso específico

sensibilidade — de perceber, nessa atividade do saber humano, possibilidades que perpassem o fazer ou o apreciar (diferente de observar) arte.

Por isso a inserção da arte na grande área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias é dada pelo fato de preconizar a capacidade humana em, articular significados e construir sentidos para comunicação no nível coletivo, dando sentido às demandas de um contexto sócio-cultural.

A representação de experiências e geração de conhecimento a partir das diversas linguagens orientam para a capacidade criadora do homem em (re) criar essas linguagens em diversos níveis, transpondo o cognitivo para o sensível e valendo-se de suportes diversos.

Além disso, na construção de códigos, valendo-se das linguagens visuais, destacamos que a materialidade visível da criação permite um entendimento mais próximo da realidade captada: materiais, linguagens, suportes, temas, dimensões ou outros aspectos residem em uma esfera em que impera o visual. Essa materialidade pode ser mais bem entendida se considerarmos que para Lucia Santella e Winfried Nöth:

Não há imagens como representações visuais que não tenha surgido de imagens na mente daqueles que as produziram, do mesmo modo que não imagens mentais que não tenham alguma origem no mundo concreto dos objetos visuais. (SANTAELLA; NÖTH, 2001, p. 15)

É necessário reconhecer que, cada vez mais, novos modos de ver o mundo no obriga — e permite-nos — expandir também, revisar esses valores, visto que, frente aos novos conceitos de conhecimento e informação — e a disseminação desses —, surgem reflexões acerca das transformações dos novos “olhadores” sobre o mundo e seus novos produtos visuais.

Assim, esses novos produtos visuais exigem novos olhares. Isto porque, das novas imagens — velozes, diversas e multifacetadas —, emanam reflexões sociais que nos forçam a repensar o ensino-aprendizagem da arte.

Na contemporaneidade da nossa educação, a imagem incorporou novas formas de apresentação e representação. A multimodalidade possível em dispositivos computacionais como a WWW, por exemplo, faz com que o conceito de imagem se potencialize a cada dia e se reinvente constantemente. Cinema, música, jogos, moda, esporte, atitude e outras possibilidades são inspirações constantes nas produções de nossos alunos e muitas vezes essas produções são vistas apenas como consequência

de uma proposta ou culminância de uma aula prática. Valores como beleza, feiúra, intransigência, transgressão, aceitação, conformidade, adequação não podem mais ser analisado de um único ângulo. Esse dilúvio de produtos, processos e reflexões acerca de sua repercussão acaba por constituir-se como cultura, uma cultura visual.

Em Cultura Visual: mudança educativa e projeto de trabalho, Fernando Hernández defende que:

o universo do visual é, na atualidade, como sempre foi, mediador de valores culturais (não esqueçamos, como nos lembra Janet Wolf, 1997, que as referências estéticas e artísticas também são construídas socialmente). Mas o visual é hoje mais plural, onipresente e persuasivo que nunca. As relações dos indivíduos, de maneira especial dos meninos, das meninas e dos adolescentes, com esse universo não conhecem limites disciplinares e institucionais. Diante disso, um ensino de arte (a educação em geral) não deveria esquecer que a arte é uma categoria que se redefine de maneira constante e em múltiplas direções e o papel dos artistas se move entre a “coisa latente” que conta “sua história” e a voz-imagem que recolhe as vozes- experiências de outros que surgem do diálogo com seu meio e que se reflete em histórias compartilhadas. (HERNÁNDEZ, 2000, pp. x-xi).

Produzir imagens, fruir imagens, pensar imagens é um exercício de extensão da sensibilidade humana. A produção de nosso aluno — do rabisco na carteira à composição de seu figurino — carrega sentidos que perpassam o ambiente escolar e mantém estreito diálogo com o mundo.

Logo, passamos a considerar essa cultura visual como reflexo de seu tempo, observando que, de certo modo, nela borbulham elementos que favorecem a contextualização. Esses elementos permitem-nos analisar a vertente ampliadora e “enraizante” da Arte. Não se pode abordar Arte sem abordar História, Cultura ou Filosofia, por exemplo.

Por sua vez, professores e alunos, ao se comprometeram com as múltiplas experiências trazidas pelas NTIC são mobilizados a investigar e explorar novas possibilidade de (re)criar e (re)interpretar o mundo. Isso permite, também, situar-se na diversidade do mundo contemporâneo, valendo-se do conhecimento adquirido na escola como alavanca para sentir-se competente frente às exigências desse mundo.

Assim, podemos inferir que um dos pressupostos necessários à compreensão da aplicabilidade das tecnologias computacionais às Artes Visuais no Ensino Médio seria a contextualização, aqui, entendida uma ampliação do significado da arte e, ainda, como

integrante da cultura e construtora de sentidos. Isso porque, ao considerarmos as singularidades de nossas escolas públicas de Ensino Médio, percebemos carências de várias ordens.

Daí, uma das formas de tentar reverter um pouco essas carências seria evidenciar que, enquanto professores compromissados, não somos apenas reprodutores do currículo, mas parceiros e promotores nas descobertas de novas ferramentas, novas linguagens e novas poéticas.

Ao ser compreendida em toda sua reverberação, a contextualização permite, ainda, a construção e ampliação de repertórios, sendo, também, um dos princípios para percepção das possibilidades dialógicas, hipertextuais e colaborativas, tão necessárias às novas narrativas que permitem e (re)configuram nosso cotidiano. Vislumbrar tais possibilidades é um desafio. Pensar nas práticas colaborativas, quem sabe, um excelente exercício para (re)construir nossas práticas pedagógicas. No advento da WWW, por exemplo, a educação se amplia.