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O que esperar para a impressora 3D

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CAPÍTULO 1 A CRISE DA PROPRIEDADE INTELECTUAL EM FACE DAS

1.3 O que esperar para a impressora 3D

Toda a análise feita neste primeiro capítulo visa explanar de que forma a propriedade intelectual nasceu e se desenvolveu. Tem-se que boa parte das vezes em que a propriedade intelectual, especialmente os direitos autorais, se viram obrigados a se transformar ou expandir, foram em vista ou (i) de reações ao surgimento e popularização de novas tecnologias, ou (ii) devido ao interesse econômico de agentes que não os autores das obras.

A padronização da forma pela qual a propriedade intelectual se vê obrigada a “evoluir” é evidente. Portanto, torna-se prudente admitir que a popularização de tecnologias futuras – que trabalhem com matérias correlatas aos objetos protegidos pela propriedade intelectual – tragam novos conflitos para este instituto, de forma que, mais uma vez, este se veja obrigado a reagir e se transformar.

Portanto, valiosa se torna a análise a respeito da evolução no decorrer dos anos da propriedade intelectual em vista da popularização de tecnologias que facilitam a criação, produção e distribuição de matérias protegidas por direitos autorais, sendo todo este histórico traçado interessante para se pensar na tecnologia da impressora 3D. Todavia, esta apresenta novos desafios para a propriedade intelectual, vez que desafia não apenas conteúdos protegidos

103 “Partido Pirata refere-se aos partidos políticos que têm como bandeira a luta contra as atuais leis

de propriedade intelectual e industrial, incluindo copyright e patentes, contra a violação do direito de privacidade e a favor do respeito ao domínio público, da promoção de práticas de copyleft, dos sistemas operativos livres e das práticas do compartilhamento. Os Partidos Piratas também defendem os direitos civis, democracia direta, compartilhamento livre de conhecimento (Open content), privacidade e transparência pública. O primeiro Partido Pirata foi o sueco Piratepartiet, fundado em 1 de Janeiro de 2006, sob a liderança de Rickard Falkvinge, o nome do partido foi derivado de Piratbyrån” (WIKIPEDIA. Partido Pirata. Disponível em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Partido_Pirata>. Acesso em 08.08.2015).

104 PHILLIPS, Tom. Reda the revolutionary. Disponível em <http://www.intellectualpropertymagazine.com/

por direitos autorais – tais como músicas, livros e filmes – mas também aqueles protegidos por propriedade industrial.

Ou seja, objetos funcionais protegidos por patentes de invenção ou modelo de utilidade; objetos passíveis de fabricação industrial que possuam traços ornamentais marcantes, e que podem ser protegidos por desenho industrial ou marca tridimensional105; objetos que possuam embalagens distintivas o suficiente, protegidas por trade-dress (conjunto-imagem); e até mesmo objetos estritamente ornamentais, sem qualquer função utilitária ou fabril, tais como esculturas, protegidas por direitos autorais.

Tem-se assim uma extrapolação da problemática explorada neste primeiro capítulo, já que agora se abarca toda uma miríade de objetos que nunca antes havia enfrentado a “questão do digital”. Nota-se que os conflitos encarados pela proteção aos direitos autorais em âmbito da internet se deram devido ao fato de que músicas, livros e filmes se desprenderam de seus suportes físicos para habitarem o universo dos bits106, que é o formato no qual a informação se

mantém nos aparatos informáticos.

Neste formato, toda a informação contida nestes conteúdos pode ser facilmente copiada, consumida e distribuída. Assim, quando se considera o que a impressora 3D – conjuntamente com suas tecnologias acessórias (scanners 3D, arquivos CAD e internet) – é capaz de fazer, conclui-se que objetos protegidos por espécies de propriedade industrial ganharão as mesmas possibilidades dispersivas e reprodutivas dos livros, músicas e filmes.

Todavia, as possibilidades inauguradas por esta tecnologia são ainda capazes de facilitar a reprodução de objetos não apenas no meio digital, mas também no meio físico, tridimensional, levando as possibilidades de reprodução de objetos para um âmbito com ainda mais potencial. Assim, cogita-se uma “revolução digital” que cruza a barreira entre o físico e o virtual.

Como visto, as tecnologias que mais provocaram mudanças no universo da propriedade intelectual foram aquelas que se ocuparam em manipular e gerar bits; atualmente, as tecnologias como a impressora 3D e o scanner 3D trazem mudanças diretamente para o mundo dos átomos.

105 Sobre a diferença entre desenho industrial (design) e marca tridimensional: “O design se restringe à forma,

enquanto a marca ao conjunto composto pela forma, disposição, cores e distintividade. A grande diferença entre desenho e marca tridimensional fica por conta da proteção. O Desenho Industrial tem prazo proteção limitado, caindo após em domínio público, enquanto que a marca, cumprindo sempre os requisitos para prorrogação, tem sua proteção por tempo indeterminado. Outra diferença importante, principalmente para nós, operadores de direito, é que a proteção como Desenho Industrial é a proteção do objeto, enquanto que a da marca é a proteção da forma e da utilidade (sendo submetida ao princípio da especialidade) ” (ALMEIDA, 2002).

106 “Bit (simplificação para dígito binário, "Binary digit" em inglês) é a menor unidade de informação que pode

ser armazenada ou transmitida, usada na Computação e na Teoria da Informação” (WIKIPEDIA. Bit. Disponível em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Bit>. Acesso em 08.08.2015).

The digital revolution has been largely limited to screens. We love screens, of course, on our laptops, our TVs, our phones. But we live in homes, drive in cars, and work in offices. We are surrounded by physical goods, most of them products of a manufacturing economy that over the past century has been transformed in all ways but one: unlike the Web, it hasn’t been opened to all (ANDERSON, 2012, p. 28).107

Estas potencialidades ganham maior magnitude quando se considera que, apesar dos meios digitais serem atores importantes na vida das pessoas, em um contexto geral – tanto cotidianamente quanto economicamente – o mundo ainda é predominantemente físico. Atualmente, a economia digital representa apenas 14% da economia global.108

Portanto, tem-se que com tudo o que foi analisado no presente capítulo, bem como com as possibilidades que adiante serão melhor ilustradas (a respeito das potencialidades desta nova tecnologia), torna-se possível analisar (i) de que forma a impressora 3D afetará ramos da propriedade intelectual, (ii) o que se espera de reações das indústrias afetadas e (iii) de que forma a inovação e possibilidades informacionais estreadas por esta tecnologia podem se resguardar, em vista da expansão que a propriedade intelectual poderá sofrer para garantir a manutenção de modelos de negócios fundados em direitos intelectuais.

107 Tradução livre: A revolução digital tem sido largamente limitada por telas. Nós amamos telas, é claro, em

nossos laptops, TV, celulares. Mas nós vivemos em casas, dirigimos carros, e trabalhamos em escritórios. Nós estamos cercados por bens físicos, a maioria deles produtos de uma economia industrial que ao longo do século passado foi transformada em todos os sentidos com exceção de um: ao contrário da Web, não foi aberta a todos.

108 OXFORD ECONOMICS. The new digital economy. Disponível em <http://www.citibank.com/

CAPÍTULO 2

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