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Game of Thrones

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CAPÍTULO 3 IMPLICAÇÕES DA IMPRESSÃO 3D NA PROPRIEDADE

3.6 Análise dos principais casos envolvendo impressora 3D e propriedade

3.6.1 Game of Thrones

No início de 2013, o designer Fernando Sosa usou sua impressora 3D para elaborar o “Trono de Ferro”, um dos símbolos mais conhecidos do famoso seriado Game of Thrones. O

objeto consistia em um “dock” para celular, no qual o usuário poderia colocar o aparelho em cima enquanto este estivesse carregando.

Figura 35 - Dock de Iphone impresso na forma do “Trono de Ferro”

Tão logo iniciada a pré-venda do objeto no site de Sosa, este recebeu uma notificação (Cease and Desist Letter) do Canal Home Box Office (HBO) – titular da propriedade intelectual do seriado – solicitando que Sosa interrompesse imediatamente a pré-venda do produto e devolvesse todos os valores já recebidos para os compradores, uma vez que Sosa estava violando o direito de marca do seriado Game of Thrones, sobre a qual o designer não possuía direito de usufruir.

Devido a isto, o designer tentou por várias vezes licenciar a venda do produto, uma vez que este não está à venda no mercado e, logo, não estaria fazendo concorrência com nenhum outro produto do tipo que, porventura, a HBO optasse por vender. Porém, o Canal negou licenciar a venda, apesar da alta demanda por ele no site de Sosa. Ainda, a titular dos direitos autorais não optou por ela mesma produzir o objeto, apenas deixando uma brecha em um mercado em que possuía demanda.

O mesmo designer também iniciou a venda de personagens impressos em miniatura do seriado Breaking Bad. Este também é de propriedade intelectual da HBO e, da mesma forma, esta solicitou que Sosa interrompesse a venda. Novamente, este tentou licenciar a comercialização do produto. Abaixo está a resposta (disponibilizada por Sosa no site “3D Printing Industry”) emitida pela HBO negando o pedido de licenciamento (MOLITCH-HOU, 2015):

Your company is too small at this time to warrant a license with HBO. We are operating a multi-million dollar licensing program and we seek licensees who have established track records, sound financial footing, experience in licensing and the ability to mass produce product and deliver it to retailers reliably. Your company does not meet those criteria. The 3D printed products you have showed me lack the polish that we look for in licensed merchandise. We work with several licensees who use 3D printing to prototype products and we have seen the limits of the technology. It’s our opinion that at this time, most 3D printed items that we see don’t have the high quality we look for in our licensed merchandise. While injection molding is certainly far more expensive from a tooling and set-up perspective, the resulting product meets our production criteria and our partners can produce huge quantities at affordable prices with a good economy of scale. 3D printing is certainly growing in leaps and bounds, but right now the results just aren’t good enough for us.249

Basicamente, o Canal alega que, por a empresa de Sosa ainda não ser “significativa” e por o trabalho dele utilizando a impressora 3D não ser satisfatório (apesar da alta demanda por parte do público e do fato de Sosa ser especializado na tecnologia tridimensional), a HBO não iria licenciar a venda. Assim como aconteceu com o caso de Game of Thrones, aqui também a HBO apenas negou o pedido sem providenciar ela mesma a produção dos objetos com alta demanda, deixando mais uma vez uma brecha no mercado.

A titular da propriedade intelectual não tem a obrigação de suprir a brecha do mercado, mas se aponta uma repetitiva atitude do Canal em negar produções de objetos desejados por fãs de programas televisivos de sucesso, sem oferecer qualquer contrapartida para o público. Esta tática por parte da empresa pode não condizer com uma boa estratégia mercadológica da mesma.

Ainda sobe isso, existem aqueles que argumentam que as pessoas fazem usos ilegais de conteúdos simplesmente porque não estão satisfeitas com o que existe no mercado e sabem que podem obter o que desejam de outra forma.Também, pessoas de diferentes países vivem em diferentes contextos econômicos, partindo para a prática da “pirataria” simplesmente porque o preço para acesso pode ser proibitivo. Assim, os “piratas” nada mais seriam do que consumidores insatisfeitos.250

249 Tradução livre: A sua empresa é muito pequena atualmente para conseguir uma licença da HBO. Nós estamos

administrando um programa de licenciamento multimilionário e nós procuramos licenciar pessoas que possuem trajetórias estabelecidas, com cenário financeiro sólido, experiência em licenciamento e habilidade para produzir em massa produtos e entregá-los para varejistas confiáveis. Sua empresa não satisfaz esses requisitos. Os produtos tridimensionalmente impressos que você mostrou faltam a polidez que procuramos em nossas mercadorias licenciadas. Nós trabalhamos com vários licenciados que usam impressoras 3D para prototipar produtos e nós temos vistos os limites da tecnologia. É nossa opinião que, atualmente, a maioria dos produtos impressos que nós vimos não tem a alta qualidade que procuramos em nossas mercadorias licenciadas. Enquanto a moldagem por injeção é certamente muito mais cara segundo uma perspectiva de ferramentas e set-up, os produtos resultantes satisfazem nossos critérios de produção e nossos parceiros podem produzir enormes quantidades com preços acessíveis e com uma boa economia de escala. Impressoras 3D certamente estão crescendo a passos largos, mas por enquanto, os resultados simplesmente não são bons o suficiente para nós.

250 Para mais sobre os aspectos sociais daqueles que cometem “pirataria”, ver: KARAGANIS, Joe. Media Piracy

Interessante notar que Game of Thrones é o seriado mais baixado ilegalmente na história da Internet251. Porém, Jeff Bewkes – CEO da “Time Warner” (dona do Canal HBO) – declarou, ainda em 2013, estar feliz com o recorde batido. Para ele, ser o seriado mais pirateado de todos os tempos é melhor do que ganhar um “Emmy” (premiação norte-americana de programas televisivos)252, visto que a reprodução não autorizada do programa aumenta o número de espectadores do seriado. Ou seja, enquanto adota uma postura supressora quanto a produção impressa de um simples dock para celular e personagens do seriado Breaking Bad, sem permitir que estas atividades sejam licenciadas ou sequer substitua a produção do produto, a HBO – através de seus representantes da Time Warner – se mostra satisfeita com a pirataria do seriado em si.

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