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Os artigos analisados são referentes à geografia agrária ou rural, conforme Diniz (1984), estes estudos incluem aqueles ligados a geografia agrícola e da agricultura, além dos relacionados com a paisagem rural e seus elementos componentes. A seleção dos artigos não se limitou apenas aos trabalhos publicados por geógrafos brasileiros, mas sim a todos os autores de outras ciências e de outras nacionalidades. Tendo em vista, a grande importância de geógrafos estrangeiros (por exemplo: Pierre Monbeig e Leo Waibel) e de outros cientistas sociais e humanos.

Nos estudos lingüísticos, o método hermenêutico baseado em Gaddamer (2003) satisfez as necessidades propostas de compreensão dos textos escritos, analisando o contexto histórico-textual e as concepções do autor, precisamente aquilo que Reis Júnior (2008) chama de “espectro de concepções no tempo” e “consistência de juízos”.

As informações quantificáveis e discursivas no texto foram entendidas pelas técnicas de análise de conteúdo e discurso, formando a “representatividade argumentativa” e “frequência textual” exemplificada por Reis Júnior (2008). Uma das técnicas utilizadas foi à seleção e grupamento das palavras-chave nos resumos dos artigos que continham esses

elementos, que serviu para a caracterização e classificação das abordagens dos artigos analisados.

Além das referências técnicas e metodológicas de Reis Júnior (2008), o processo investigativo na história do pensamento na geografia agrária, principalmente a teórico-metodológica, já foi estudada em Alves e Ferreira (2007, 2008a, 2008b). Todo material utilizado nessa tese foi consultado na Biblioteca da Universidade Estadual Paulista, Campus Rio Claro e através de consultas no sítio da Biblioteca Digital do IBGE, a qual disponibiliza todas as edições da Revista Brasileira de Geografia e boa parte dos exemplares do Boletim Geográfico, além da consulta nos periódicos via internet e dos trabalhos realizados no Núcleo de Estudos Agrários (NEA) na UNESP Rio Claro.

A análise dos artigos publicados nos periódicos em geografia foi realizada em uma seqüência temporal por décadas, sendo citados e mencionados os trabalhos publicados em cada ano, a fim de organizar um quadro com as abordagens e métodos utilizados pelos autores. Indicando através disso, a predominância metodológica de abordagem em cada década elaborando a divisão em paradigmas e filosofias que sobrepujaram o período, este levantamento historiográfico servirá para as análises de temas estudados, métodos e técnicas aplicadas no estudo agrário.

Algo semelhante foi desenvolvido no trabalho de Ferreira (2002) ao se debruçar nas pesquisas em geografia agrária realizadas entre 1930 a 1990, com base nos anais dos eventos científicos em geografia, periódicos, dissertações e teses. Na França, Jacqueline Bonnamour (1997) averiguou os caminhos epistemológicos da geografia agrária naquele país, em especial nas décadas de 1970 a 1990. Dessa forma, estes estudos mostraram um caminho metodológico para seguir nessa perspectiva da evolução teórico-metodológica da geografia agrária brasileira.

Em cada década destacaremos um ou mais autores que deram uma contribuição valorosa para a geografia agrária, estes autores estarão em Box com informações referentes à sua biografia, produção intelectual, metodologia de pesquisa e destacando suas idéias de acordo com o Esquema 2, que trata dos elementos metodológicos.

2.5 - A utilização das abordagens metodológicas

A definição das abordagens metodológicas seguiu alguns pressupostos classificatórios, na tentativa de sistematização do material consultado. Tendo em vista os grandes métodos da ciência, indutivo, dedutivo, dialético e fenomenológico, nos esforçamos

para não agrupar os artigos pesquisados neste rol de métodos, mas sim em expandir o horizonte classificatório, pois muitos textos não deixavam claros as suas bases teórico-metodológicas, bem como uma junção de idéias desconexas com o método aparentemente pré-julgado.

Nesse sentido, criaram-se dezoito abordagens metodológicas após as análises realizadas, com intuito de percorrer o trajeto da geografia agrária contemplando o máximo de concepções. A classificação dos artigos primou para a sua inserção em uma abordagem, entretanto, muitos artigos apresentavam múltiplos aspectos quanto sua abordagem, assim não se deteve a apenas uma.

2.5.1 - Abordagem Descritiva

Abordagem descritiva está relacionada com o método indutivo e o empirismo, ou ainda, a junção destes elementos Indutivo-Empírico-Descritivo (IED), nos estudos agrários na geografia clássica, a base desta abordagem é a concepção lablachiana da geografia regional:

Uma monografia regional deveria, na perspectiva lablachiana, conter uma análise detalhada do meio físico, das formas de ocupação, das atividades humanas e de como o homem se ajusta a natureza. O olhar sobre a natureza deveria conter uma perspectiva histórica na análise da relação homem-meio. Fundamentalmente, a monografia regional deveria estabelecer a integração dos elementos físicos e sociais e acrescentar uma visão sintética da região. (LENCIONI, 2003, p.105).

A rotina do geógrafo em observar, localizar e descrever foi destacadamente importante para a fundação da geografia como ciência, a riqueza de detalhes nas inúmeras monografias regionais predominou nas décadas de 1940 e 1960, sendo referência e etapa primordial na metodologia geográfica.

Entretanto, pesquisas eminentemente descritivas são encontradas ao longo da trajetória cientifica da geografia agrária brasileira, fruto da herança francesa que deixou marcas na formação de boa parte dos geógrafos nacionais.

2.5.2 - Abordagem Histórica

Compreender a organização da paisagem nos remete entender sua evolução e construção, por isso, a abordagem histórica é para alguns geógrafos uma ferramenta importante na interpretação do espaço rural, pois elucida questões temporais, compreende o presente e propicia reflexões para o futuro.

Esta abordagem sempre existiu na geografia agrária, no entendimento do espaço e suas transformações, posteriormente, sua aliança com teorias marxistas e com o método dialético transformarão numa abordagem materialista histórica. O que deve ficar claro é o objetivo da abordagem histórica, referente ao entendimento dos processos formadores de uma determinada paisagem, região ou sociedade agrária, em especial, os estudos que analisam a evolução da estrutura fundiária e agrária.

2.5.3 - Abordagem Estatística

Com intuito de acrescentar informações nas interpretações da paisagem rural, a abordagem estatística favoreceu o desenvolvimento de outras análises sobre o rural, não se detendo apenas a observação direta e descrição das paisagens.

Um dos principais fatores para tal desenvolvimento da abordagem estatística, deve-se a implementação e divulgação dos Censos Agropecuários do IBGE4, que veio contribuir para os diagnósticos feitos em campo pelos geógrafos agrários. Os trabalhos nessa perspectiva são amplamente elaborados com tabelas e gráficos, que indicam múltiplas variáveis a respeito da produção agropecuária, ocupação e uso da terra, estrutura fundiária e indicadores socioeconômicos.

Sem dúvida, esta abordagem deu ênfase e embasamento para muitas análises regionais, haja vista que as descrições, não eram suficientes, para alguns, para determinar resultados satisfatórios e, por conseguinte, servir como técnica de análise geográfica.

2.5.4 - Abordagem Comparativa

A análise entre regiões e as analogias entre as paisagens remontam os pressupostos teóricos de Karl Ritter, a partir de sua obra Geografia Comparada (1807), no qual destacou a inter-relação do meio físico com o meio humano, a relação natureza-sociedade.

Na geografia clássica, a abordagem comparativa é tratada como um método auxiliar na descrição das paisagens, pois traz algumas interpretações e possíveis deduções quanto às analogias realizadas, principalmente no que diz respeito aos gêneros de vida e aos habitat rurais de distintas regiões.

2.5.5 - Abordagem Causa-Efeito / Causalidade

4 O primeiro Censo Agropecuário foi divulgado em 1920, depois em 1940, 1950, 1960, 1970, 1975, 1980, 1985, 1990, 1995-96 e 2006.

A relação entre causa e efeito aparece em alguns trabalhos na geografia agrária, sobretudo na perspectiva funcionalista do espaço rural. Os movimentos dos elementos físicos e humanos do espaço estão em constante interação causando trocas e efetuando mudanças na dinâmica das paisagens.

De certa forma, a abordagem de causa-efeito tem um viés sistêmico, pois todos os fatos estão interligados, entretanto, não há explicações profundas sobre tais conexões. Assim, as relações estão ligadas, sobretudo, aos elementos físicos atuando sobre os elementos humanos, não sendo determinante para a formação da paisagem, mas interferindo em alguns aspectos.

2.5.6 - Abordagem Determinista

Utilizada em poucos trabalhos geográficos no Brasil, a abordagem determinista está centrada nas imposições que o meio físico exerce na constituição das sociedades. Especialmente na fixação e organização dos habitat rurais, com relação às condições físicas (solo, clima, hidrologia, relevo etc) para a produção agrícola e criação da pecuária.

Para Leo Waibel (1961, p.613) a abordagem determinista é entendida como:

Entendemos por determinismo geográfico o conceito de que os elementos da geografia humana sejam determinados principalmente pelos fatores naturais, ou melhor, físicos. Este conceito foi introduzido na geografia por Frederich Ratzel. Em contraste com esta filosofia materialista, Vidal de la Blache na França e Alfred Hettner na Alemanha afirmaram que os fatores físicos não exercem influencia determinativa e que a consideração de tais fatores pode chegar somente a “possibilidade”. (WAIBEL, 1961, p.613).

Apesar dessa abordagem ser tão difundida nas classificações das escolas geográficas, sendo uma referência da geografia clássica, raros trabalhos na geografia agrária se desenvolveram sob esta base teórica.

2.5.7 - Abordagem Estatístico-fisionômico-ecológico

Esta abordagem se refere à metodologia criada e utilizada por Leo Waibel, e por seus discípulos, entre eles Orlando Valverde. A proposta metodológica consiste em analisar as paisagens naturais e paisagens culturais com base em três elementos (estatístico, fisionômico e ecológico).

2.5.8 - Abordagem Histórico-Dialética

A abordagem histórico-dialética representa uma nova visão de mundo e de ciência pelos geógrafos. O intuito de entender e desvendar a realidade social, esta abordagem permite

resgatar a história e fazer o movimento contraditório das idéias e dos atores e agentes envolvidos. Conforme Gomes (2005) sobre a estrutura do pensamento materialista histórico marxista:

A base do sistema materialista-histórico é dada pelas regras que determinam o tipo de relação de produção frente ao desenvolvimento das forças produtivas; estes dois elementos são os termos fundamentais que definem um modo de produção e, ao mesmo tempo, constituem a causa da transformação dialética. (GOMES, 2005, p.283).

O método dialético tem várias nuances e distinções, desde a dialética do idealismo de Hegel ao materialismo histórico-dialético de Marx e Engels. Entretanto, na geografia agrária brasileira a perspectiva marxista foi hegemônica nesse pensamento.

2.5.9 - Abordagem Neo-Positivista

A abordagem neo-positivista ou positivismo lógico deu os primeiros indícios no final da década de 1950, com novas ferramentas e técnicas de pesquisa na geografia agrária. A ideia básica desta abordagem é entender o mundo de forma racional e lógica através da linguagem matemática e estatística para verificar as hipóteses e examinar a falseabilidade das indagações existentes.

Foi desenvolvida em meados da década de 1920 pelos membros do Círculo de Viena, e logo se espalhou nos diversos centros universitários pelo mundo, como o método científico capaz de tornar uma pesquisa com “rigor” metodológico. Na geografia agrária brasileira, adotou-se com ênfase, tal enfoque metodológico, a partir da década de 1960. A utilização de modelos de distância e localização espacial insere numa nova perspectiva as análises da geografia agrícola, o positivismo clássico da simples observação e descrição não é mais significativo para alguns pesquisadores são necessárias outras ferramentas e teorias para explicar a paisagem.

2.5.10 - Abordagem Sociológica

Sob influência das ciências sociais, os geógrafos agrários desenvolveram alguns trabalhos com a perspectiva sociológica, sem os detalhamentos descritivos da paisagem natural. Nesta abordagem, o enfoque se volta para as análises da sociedade e das demandas da população, decorrente das influências das outras áreas do conhecimento, ou seja, a inserção de teorias de outras ciências na geografia, bem como o pluralismo metodológico adotado por alguns geógrafos.

2.5.11 - Abordagem Sistemática

A noção da abordagem sistemática é defendida por Edward Ackerman (1947), na qual se apóia em Richard Hartshorne, pois entende que os estudos regionais, carecem de uma discussão mais profunda e geral, sendo necessário adotar uma postura sistemática e ampla, a fim de compreender a complexidade nas relações geográfica.

2.5.12 - Abordagem Política

Neste tipo de abordagem os trabalhos desenvolvidos se preocupam com as questões relacionadas com o poder e influência dos diferentes níveis de governos (municipal, estadual ou nacional) nas questões territoriais do campo, sejam para as políticas de abastecimento, políticas fundiárias ou políticas de preservação ambiental.

Retomando os clássicos da geografia, Frederic Ratzel introduziu a discussão do Estado na organização territorial e suas influências na dinâmica da população. Entretanto, na geografia agrária, esta abordagem se desenvolverá na década de 1980, com os trabalhos da corrente crítica, devido à conjugação de fatores que interferem nas relações sociais, entre esses fatores está à atuação do Estado e das políticas públicas.

A relação de poder é marcante nessas abordagens, e a categoria território ganha espaço nas bases conceituais das pesquisas agrárias, por se referir a um espaço intrínseco, delimitado por relações de poder ou identidade. Cita-se os referencias de Claude Raffestin5, Rogério Haesbaert6, Marcelo Souza7 entre outros geógrafos que analisam a questão territorial sobre a perspectiva do poder na abordagem política.

Convém destacar, os estudos sobre políticas públicas para os agricultores, crédito, políticas fundiárias, políticas ambientais, ou seja, os impactos de diferentes políticas para o desenvolvimento do espaço agrário.

2.5.13 - Abordagem Cultural

Orientada para pesquisar temas ligados a religião, etnia, gênero ou costumes, a abordagem cultural não é sinônimo de uma geografia da percepção ou fenomenológica. Estudos de geografia podem e são desenvolvidos sob diversos prismas teóricos, o que deve

5 RAFFESTIN, Claude. Por Uma Geografia do Poder. (Tradução Maria Cecília França) São Paulo: Editora Ática, 1993.

6 HAESBAERT, Rogério. O Mito da Desterritorialização: do “fim dos territórios” à multiterritorialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004.

7 SOUZA, Marcelo J. L.. O território: sobre espaço e poder, autonomia e desenvolvimento. p. 77-116. In: CASTRO, I. E.; GOMES, P. C. da C.; CORRÊA, R. L. (Orgs.) Geografia: conceitos e temas. 6.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.

ser ressaltado nessa abordagem é o enfoque dado a questões humanas que não são recolhidas em dados estatísticos ou levantamento gerais, ou seja, a pesquisa qualitativa é uma das formas de análise nessa abordagem.

Conforme Corrêa (1999), a geografia cultural pós 1970 aparece como uma nova forma de compreensão do mundo, sendo útil nos estudos de organização espacial:

O ressurgimento da geografia cultural se faz num contexto pós-positivista e vem da consciência de que a cultura reflete e condiciona a diversidade da organização espacial e sua dinâmica. A dimensão cultural torna-se necessária para a compreensão do mundo. (CORRÊA, 1999, p.51).

Dessa forma, a abordagem cultural serve para a interpretação de fenômenos humanos que muitas vezes são renegados pelos trabalhos com metodologias restritivas.

2.5.14 - Abordagem Teórico-Metodológica

Estudos sobre marcos conceituais, evolução do pensamento ou debates teóricos são de extrema relevância para o estudo da ciência, para a constatação de tendências ou rupturas, ou para a discussão de novas perspectivas. Na geografia agrária a publicação de artigos com a abordagem teórico-metodológica representa grande importância a partir da década de 1960, mantendo-se constante até este início de século XXI, pois elucida as questões que sublinham todas as outras abordagens, seja a questão de método, técnica, conceitos ou revisões de temas ou autores.

2.5.15 - Abordagem Agronômica / Agrícola

Estes estudos na geografia agrária remetem diretamente a questão da produção agrícola ou pecuária como centro da pesquisa, ou seja, as análises dos tipos de solos para a agricultura ou quais tipos de adubos e implementos devem ser usados no cultivo de determinada espécie vegetal, além da verificação espacial da produção agropecuária através de dados estatísticos e sua representação cartográfica.

2.5.16 - Abordagem Econômica

A preocupação com o desenvolvimento econômico de espaços rurais como tema central de pesquisas na geografia brasileira, remonta o final da década de 1960, quando as descrições de campo não davam suporte às questões primordiais na população rural, como a renda, produção e geração de emprego. Sobre este assunto, Orlando Valverde (1964b) diz que a geografia agrária pode ser classificada como um ramo da geografia econômica ou humana.

Assim, o foco direcionado a abordagem econômica dos espaços rurais aumenta a importância para o entendimento das relações capitalistas na agricultura, este cenário é palco de discussão para os geógrafos críticos que trataram das desigualdades socioeconômicas promovidas pela má distribuição de renda no campo.

2.5.17 - Abordagem Ambiental

Com a modernização da agricultura instaurada no Brasil entre as décadas de 1960 – 1970, o espaço rural se transformou num complexo dinâmico entre a indústria a agricultura, entre o tradicional e moderno. Nesse cenário, ganhou força o discurso da preservação ambiental, dos ecossistemas degradados e do desmatamento de florestas decorrentes da expansão da fronteira agrícola.

O termo “desenvolvimento sustentável” foi criado a partir da 1983 das reuniões da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente, que em 1987 através do Relatório de Brudtland que definiu a sustentabilidade “"suprir as necessidades da geração presente sem afetar a habilidade das gerações futuras de suprir as suas".

Sob este prisma, a geografia agrária denotou importantes trabalhos a partir da década de 1990, sendo uma linha de pesquisa crescente na geografia, conforme aponta Darlene Ferreira (2002):

A preocupação com o legado natural e cultural que será deixado às próximas gerações parece ser o rumo da Geografia Agrária para o futuro, interessada em questões relacionadas à percepção dos impactos ambientais da atividade agrícola e às alternativas ecologicamente sustentáveis. (FERREIRA, 2002, p.340).

2.5.18 - Abordagem Fenomenológica

Esta abordagem valoriza o desenvolvimento humano, o espaço vivido pelo homem, à construção do espaço através da percepção. Na geografia agrária, os estudos fenomenológicos atrelam-se as questões ambientais junto com os agricultores, neste caso, pesquisas deste cunho emergem na década de 1990, sendo um referencial teórico-metodológico alternativo para o entendimento da construção e organização espacial.

2.6 - Considerações do capítulo

Com as necessidades e desafios impostos para a Ciência, as pesquisas estão cada vez mais atentas às novas técnicas, teorias e métodos para abordar realidades dinâmicas e

complexas. Sugerimos uma diversidade de abordagens para as investigações, caso não consigam atingir os objetivos propostos com a adoção de um método de pesquisa.

Nesta tese, a utilização da hermenêutica contemplou a diversidade temas que a geografia agrária brasileira abarcou ao longo de sua história, dessa forma a criação de dezoito abordagens metodológicas servirá para dar subsídio a essa multiplicidade de concepções.

3. A METODOLOGIA NA GEOGRAFIA HUMANA E AGRÁRIA

ENTRE 1939 - 1960

A pesquisa científica é caracterizada pelo uso de uma metodologia, para que se cheguem aos resultados, conclusões ou reflexões, pautadas em um problema ou hipótese. Todavia, o emprego de um método é sempre questionado por correntes de pensamento opostas, que divergem da metodologia adotada, alegando a restrição do potencial da pesquisa, além de não contemplar uma variedade de elementos que nem sempre são verificados.

Sabe-se que o uso do método serve para balizar a investigação científica, ou seja, ter uma coerência teórica e prática, nivelando o conhecimento científico com o empírico. Entretanto, existem diversos tipos de pesquisas em geografia, e isso recorre em uma diversidade de métodos, nesse caso nos reportamos a George (1972, p.8) “a geografia tem que ser metodologicamente heterogênea [...] entre as ciências da terra ou da natureza [...] é esta a razão pela qual ela se encontra continuamente empenhada na busca de sua unidade”.

Sobre a diversidade metodológica nas pesquisas em geografia Pierre George afirma que a:

A pesquisa geográfica recorre sucessiva ou simultaneamente aos métodos de cada uma das ciências de que se vale para chegar ao conhecimento analítico dos dados incluídos nas combinações que constituem o objeto de seus estudos fragmentários ou globais. (GEORGE, 1972, p.8-9).

Entre esses métodos “não-geográficos” em sua origem, estão diversos métodos, como o histórico, positivista, estruturalista, hermenêutico, funcionalista, dialético entre outros:

[...] não existe nenhum método geográfico para a abordagem dos dados sociais, econômicos, demográficos e culturais [...] existe uma maneira geográfica de

confrontar os resultados [...] os métodos das diversas ciências humanas não conduzem a uma finalidade geográfica. (GEORGE, 1972, p. 35).

O que acontece em muitos trabalhos é uma pré-determinação de sua metodologia científica, antes mesmo de conhecer e explorar a realidade em sua essência. Nesse ponto,