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Sistema da Agricultura: subsistemas internos e externos, conforme a Comissão

Fonte: DINIZ (1984, p.58).

Entretanto, o método indutivo-descritivo-empírico sempre esteve presente no período supramencionado, mas a descrição e comparações entre regiões não davam sustentação aos fenômenos e explicações mais profundas. A tradição francesa na geografia agrária perdeu espaço para as inovações e quantificações anglo-saxônicas sob a defesa de Richard Chorley, William Bunge, Ian Burton entre outros teóricos pertencentes a uma geografia positivista-lógica, conforme aponta Bessa (2004, p.102) “o positivismo clássico orientou a construção de uma geografia das aparências, de uma geografia das superfícies; a abordagem do positivismo lógico determinou a constituição de uma geografia do padrão espacial”.

Dessa forma, a década de 1960 revela o período de transição de concepções filosóficas na geografia agrária, alterando não só as teorias e métodos, mas principalmente o arsenal técnico.

6.1. Da geografia regional francesa para a quantificação: A metodologia entre 1961 a 1970

O caráter eminentemente qualitativo e descritivo da geografia agrária veio perdendo fôlego com o passar das décadas, e a discussão para quais modelos teóricos e metodológicos serviriam no entendimento da realidade geográfica. A geografia clássica da análise da localização espacial passa a uma geografia que procura entender sua distribuição e padrões

espaciais, com a idéia de organização dos elementos que compõem o espaço, seja ele econômico, político, cultural entre outros.

Assim, a preocupação de classificar a geografia agrária como um ramo da geografia econômica foi posta por Orlando Valverde (1961b), pois considera o estudo da geografia agrária não apenas qualitativo, mas uma conexão entre uma geografia quantitativa e qualitativa. Nesse caso, a geografia econômica seria quantitativa e a geografia humana qualitativa, mas ele considera os aspectos qualitativos voltados para a geografia cultural:

Os fatos puramente culturais são, porém, de superestrutura e se revelam em pormenores da paisagem, não se podendo contrapor às leis econômicas. Aspectos como o habitat, os tipos de habitação, a alimentação e os gêneros de vida agrícola só foram estudados com a devida profundidade quando relacionados com a atividade econômica: a estrutura agrária e as relações de produção. (VALVERDE, 1961b, 431).

Esta discussão metodológica trazida por Valverde (1961b) já havia sido debatida em outros trabalhos, no qual consideravam a geografia agrária como o ramo da geografia econômica: “a geografia agrária deve ser considerada parte da geografia econômica, conforme advogam Hartshorne, Waibel, P. George e E. Otremba” (1961b, p.432). Ele ainda entende que o conceito estudado pelo agrogeógrafo deve ser o de ‘sistema agrícola’, pois engloba mais elementos, que interagem e interferem na organização agrária, diferente do estudo dos produtos agrícolas.

Dentro deste pensamento, Valverde (1961c) faz uma distinção das definições de sistema agrícola extensivo e intensivo, considerando que “todo o empreendimento agrícola envolve necessariamente três elementos: terra, trabalho e capital, tomando este termo em seu sentido mais amplo da economia política” (1961c, p.718).

O conceito de gênero de vida é aplicado nos trabalhos em geografia humana, como a descrição das condições e características de grupos humanos. Max Sorre (1963) lembrando Paul Vidal de La Blache entende que o gênero de vida evolui, nasce, transforma-se e expande-se, quando chega num grau de maturidade. Ainda sob influência francesa, Nilo Bernardes (1963b) faz um resgate teórico do conceito de habitat, termo muito utilizado nos trabalhos de geografia rural, que classifica como as formas de povoamento estão organizadas, ou seja, são classificadas como dispersas, intermediárias, concentração, espontâneas e planejadas. Entretanto, existem zonas de transição entre cada uma delas, pois a estrutura agrária brasileira é altamente concentrada, e às vezes a agricultura de cunho familiar esta aglomerada próxima as lavouras monocultoras, nas quais o habitat é extremamente disperso.

Ainda sobre o termo habitat rural Bernardes (1963b) lembra que este conceito é advindo da escola francesa, que representa a dinamicidade da paisagem, sua expansão. Todavia, o autor considera a terminologia mais adequada para descrever a questão do povoamento e sua dinâmica, a expressão da geografia portuguesa, denominada “Formas de Povoamento”, na qual concebe melhor a organização da paisagem agrária.

Daniel Faucher (1963) ao tratar dos métodos em geografia agrária destacou o processo gerador da paisagem agrária e como se deve entender essa construção de pensamento:

Os sistemas agrícolas, ajustados aos modos de vida e às condições geográficas, são geradores da maioria dos fenômenos por onde se caracteriza, num dado lugar, a paisagem agrária. [...] A influência dos sistemas agrícolas sobre o habitat não é menos evidente. A dispersão ou a concentração da população podem ser criadas ou favorecidas por fatores físicos, às vezes por circunstâncias históricas. (FAUCHER, 1963, p.186-187).

A respeito da distinção dos métodos usados nos estudos rurais Faucher (1963) distingue os procedimentos e elementos a serem pesquisados nos diferentes ramos da geografia rural (econômica, agrária e da agricultura). Na geografia econômica, tem como objeto de análise “o estudo da repartição das culturas do mundo, o conhecimento de seu volume, de seu emprego, de sua circulação” (1963, p.185), e tem como fundamento básico a estatística, por este motivo é uma geografia quantitativa.

A geografia agrária “visa as formas de atividades que criam as culturas e todos trabalhos inscritos no meio geográfico em função desta atividade” (FAUCHER, 1963, p.185). O objetivo é analisar os elementos qualitativos, como gêneros de vida, modos de vida, habitat e os elementos que compõem a paisagem. A geografia da agricultura se atrela somente as questões da produção agrícola em questão, assim, seria um ramo da geografia econômica que trata da produção agrícola.

O trabalho de André Cholley (1964a) traz para o debate teórico o uso das combinações dos elementos que compõem a estrutura geográfica, estes elementos são entendidos com funções e que compreendem um complexo geográfico, assim, há uma mudança de concepção no fazer geográfico:

Quando procuramos reduzir a realidade geográfica e seus elementos mais simples, chegamos à noção de combinação de complexo, expresso, essencialmente, por fenômenos de convergência. [...] As combinações que são objeto da geografia oferecem uma localização especial, é a primeira diferença a assinalar. (CHOLLEY, 1964a, p.139-140).

A utilização dessa teoria das combinações não é uma questão abstrata para Cholley (1964a) ela conduz ao entendimento da realidade, para compreender a dinâmica da agricultura, meio físico, população, cidades entre outros assuntos que compõem a organização espacial:

As combinações exprimem, para nós, a realidade geográfica não correspondem a uma simples construção do espírito. Nós a percebemos em plena evolução, e podemos, mesmo, assistir a seu nascimento e seu desaparecimento, o que nos leva, evidentemente, a melhor conhecer sua estrutura e seu dinamismo. (CHOLLEY, 1964a, p.142).

Essa teoria elaborada por Andre Cholley contempla o espaço como um sistema organizado entre seus elementos, ou seja, a inter-relação entre meio físico e elementos humanos são constantes e interdependentes. Essas combinações são organizadas e classificadas em três categorias, “[...] as que resultam, unicamente, da convergência dos fatores físicos [...] complexas, de ordem física e biológica [...] as mais complicadas [...] de interferência conjunta dos elementos físicos, dos elementos biológicos e dos elementos humanos” (CHOLLEY, 1964a, p.140-141).

Assim, para o estudo da geografia agrária, a teoria das combinações pode ser usada de acordo com as necessidades exigidas:

[...] a complexidade das combinações de ordem humana se avoluma com um número de fatores, que para as mesmas convergem. A combinação da criação de gado, que chamamos nomadismo é, relativamente, simples. Que diferença do sistema de criação de nossos campos, que responde a uma forte densidade de população, a uma estrutura social mais estratificada, a uma técnica mais complexa e sem dúvida, também, a fatores de ordem política. (CHOLLEY, 1964b, p.268).

A teoria das combinações entra numa lógica sistêmica do espaço, centrada nas inter-relações com outros fenômenos e fatores elencados na organização espacial.

O trabalho de Luiz Carlos Costa (1966) introduz algo novo no estudo regional, ele entende que os planejamentos regionais devem ter enfoques territoriais por abranger características que o planejamento regional não consegue suprir:

Uma nova dimensão de planejamento territorial foi atingida quando se multiplicaram as experiências de planejamento mais completo sobre determinadas áreas – devastadas, economicamente atrasadas ou deprimidas – ou ainda a propósito de instalações de grandes conjuntos tecnológicos. (COSTA, 1966, p.356).

A questão teórico-metodológica sobre as categorias geográficas foram debatidas por Antônio Teixeira Guerra (1964a, p.175) acerca da paisagem, onde define dois tipos de paisagens “o conjunto das paisagens naturais e culturais forma o espaço geográfico”, no qual

o objeto de estudo da geografia pode ser definido como “a ciência que estuda a organização do espaço terrestre e as modificações nele implantadas pelo homem” (1964, p.176).

Dessa forma, a geografia rural como a geografia humana apresentam a paisagem como o estudo das habitações, que estão ligadas aos traços culturais e a geografia histórica, que determinam as formas de atividades econômicas. Especificamente na geografia rural, Guerra (1964a) enfatiza as paisagens agrícolas e paisagens rurais, a primeira ligada aos sistemas agrários e de produção, enquanto que a segunda está ligada aos aspectos culturais e a paisagem natural.

As questões conceituais na geografia, entre espaço, paisagem e região são fortemente marcadas pela influência francesa e alemã nestes debates, ainda na década de 1960. Juillard (1965) tenta definir o conceito de região, para um melhor entendimento do objeto de estudo do geógrafo e seu campo de atuação. Assim, ele afirma que “o geógrafo estuda a organização de um espaço diferenciado, individualizado” (p.225), neste caso, a região contemplaria essas funções e elementos, sendo algo ‘maior’ que a paisagem, ou seja, um conjunto de paisagens geográficas.

Já Orlando Valverde (1969) discute a cerca dos conceitos dos tipos de agricultura, o sistema de roças itinerante ou agricultura nômade e o Plantation, este último é conceituado de acordo com o referencial de Leo Waibel, ou seja, a formação teórica de Orlando Valverde baseada em Waibel segue nos trabalhos exercidos por Valverde.

A respeito do método utilizado pelos geógrafos, Afonso Freile (1965) discorre sobre qual ramo da ciência a geografia se classifica: como físico -matemática ou humanístico – social. Neste aspecto, discute a questão do método indutivo, até então utilizado na geografia:

A geografia, ao contrário das demais ciências, é uma disciplina que, forçosamente e devido ao fato de ser uma ciência antropocêntrica, dirigida a ver a importância do homem no meio, tem que generalizar. A geografia como outras Ciências Sociais, usa como método de investigação, o muestreo, que dizer, escolhe um “todo” social ou físico e analisa somente uma parte e, dessa parte estudada, deve ser capaz de

generalizar um princípio igual para toda essa grande massa da qual a geografia analisou só uma amostra. (FREILE, 1965, p.866).

Dessa forma, Freile (1965) crê que o método indutivo não seja o mais confiável para analisar e generalizar os fatos geográficos, e sim, numa perspectiva sistemática. Para o autor, a geografia se enquadra numa concepção social, no qual o meio físico deve ser estudado para entender a dinâmica da sociedade, estas relações são consideradas por Freile como sendo a Geografia Humana “é o estudo do homem organizado em sociedade como produtor, transformador e distribuidor de recursos naturais” (FREILE, 1965, p.870).

O trabalho de Pedro Geiger (1967) analisa as novas formas de planejamento e metodologia nos estudos geográficos, elencando três elementos, conforme Bernard Kayser, o meio, a localização e a situação:

Ao tratar do espaço regional, o geógrafo costuma estudar o “meio” no qual o grupo humano evolui, considerando-se como tal o exame das condições naturais e históricas. [...] o geógrafo localiza as diversas combinações geográficas, a sua extensão e distribuição, expressando a organização do espaço e chega mesmo a ser confundido com o cartógrafo. [...] O estudo da situação transcende o das combinações, pois pressupõe uma apreciação do balanço da ação das forças interdependentes e convergentes – sociais, econômicas, políticas, históricas, naturais, que irão influir nas formas do homem utilizar o espaço. (GEIGER, 1967, p.115).

A respeito sobre como localização e verificar a distribuição espacial Ceron e Diniz (1966) mostram a novas técnicas, através de fotografias aéreas para interpretar o espaço agrícola, por meio das análises das cores, texturas, dimensões e altura, é possível complementar os trabalhos de campo com esta técnica.

Ainda nesta perspectiva cartográfica, Elza Keller (1969) publica as normas estabelecidas pelo IBGE para analisar o uso da terra, conforme as recomendações da UGI:

O documento apresenta o projeto de mapeamento da utilização da terra a ser feito no Instituto Brasileiro de Geografia, o qual atenderá as recomendações da Comissão de Utilização da terra da União Geográfica Internacional. (KELLER, 1969, 151).

Essa metodologia tinha como objetivo padronizar as técnicas e procedimentos de uma pesquisa acerca da utilização da terra por imagens aéreas, para mapear os tipos de cultivos e culturas agropecuárias em todas as partes do mundo:

O primeiro objetivo do levantamento mundial é registrar o uso atual da terra, em todas as partes do mundo, em um sistema uniforme de classificação e notação, com as ampliações que forem necessárias localmente. O estudo deve ser realizado na escala mais apropriada para garantir a exatidão e deve ser baseado essencialmente no trabalho de campo, não se excluindo o uso de outros materiais básicos, como as fotografias aéreas e os mosaicos aerofotogramétricos. (KELLER, 1969, p.152).

Aliado a cartografia, essencial para a Comissão de Tipologia da Agricultura está o arsenal técnico proveniente das bases matemáticas e estatísticas. De acordo com o trabalho publicado no Boletim Geográfico pelo estadunidense Herry Emrick (1966), ressalta-se a importância da utilização de novos métodos de análises nos estudos geográficos, destacando a Análise Fatorial nas comparações entre regiões:

O fator de análise organiza os dados das pesquisas enquanto que o significado dos testes separa a fragilidade e a firmeza das variações correlatas. Não desejamos inferir que cada método quantitativo substitui cada processo lógico particular, mas que essas sofisticadas técnicas aumentam a investigação acadêmica. (EMRICK, 1966, p.450).

As técnicas de análise destes dados agrupados fogem do padrão até então vigente na geografia agrária, ou seja, da descrição através das observações “[...] torna-se necessário transformar-se os dados por meio de logaritmos ou por técnicas trigonométricas, de modo a obter uma ordem ao colocá-las na fila” (EMRICK, 1966, p.450). Dessa forma, o objetivo não é mais observar e descrever a paisagem, mas sim comparar os dados (geográficos, econômicos e agrícolas) com outras regiões, sobretudo com técnicas modernas de compreender a organização espacial.

Para dar ênfase a esse momento de renovação na geografia, Antônio Teixeira Guerra (1967) salienta a importância dos anuários estatísticos para a pesquisa geográfica, sendo fontes ricas de informações:

Podemos afirmar que o Anuário Estatístico constitui uma verdadeira radiografia do poder de um país. Ele contém friamente sem nenhum comentário interpretativo os elementos formadores da grandeza de um povo. (GUERRA, 1967, p.49).

Os dados estatísticos servem para o geógrafo fazer as interpretações necessárias para o entendimento da dinâmica espacial, conforme Guerra (1967, p.52) “Atualmente não se concebe um trabalho moderno no campo da geografia econômica, ou mesmo na geografia social sem que os levantamentos estatísticos específicos sejam realizados”. Dessa forma, a descrição não dá conta da multiplicidade dos elementos que o geógrafo estuda, até porque as fontes de dados estatísticos estão cada vez mais presentes no contexto das pesquisas da década de 1960.

Na geografia agrária, o uso de dados estatísticos para entender a organização espacial é primordial para Guerra (1967):

Que se pode dizer dos problemas da produção e consumo dos diversos produtos de um país sem se dispor de dados estatísticos? Na própria geografia agrária tem-se dois campos bem distintos: um referente à morfologia agrária, isto é, a descrição e explicação dos diferentes tipos de paisagens agrárias, e outro à estatística da

produção, isto é, a geografia da agricultura. (GUERRA, 1967, p.52).

A busca para a mudança de paradigma na geografia é destacado no trabalho de Annaert (1968), quando ressalta a necessidade de uma geografia aplicada e não apenas descritiva, levantando discussões sobre o papel do geógrafo em relação a paisagem e sociedade. Nesse sentido, utiliza o termo francês Aménagement, que significa Organização, ou seja, o geógrafo deve entender a organização do espaço e suas relações nele existentes, não apena observar e descrever.

Nilo Bernardes (1969) também salienta para a mudança de paradigma na ciência geográfica, sendo necessário abandonar “em certa medida, o sentido fundamentalmente ecológico da fase clássica” (p.108) por uma geografia aplicada e prática, servindo os interesses da sociedade e de sua organização e dinâmica:

A idéia fundamental da geografia moderna, repito, é a compreensão das formas de

organização do espaço pelos grupos humanos. É a definição do modo como se repartem as atividades de como se enfeixam, se adensam ou se rarefazem os fluxos da vida de relações. Na formulação dos objetivos da pesquisa assim orientada, variaram as tendências no modo de focalizar o homem geográfico. Estudo do homem, habitante para alguns, do homem produtor, do homem consumidor, para outros. De qualquer modo, trata-se da preocupação pela repartição das funções em um espaço (veja-se aqui o reforço dos velhos princípios de localização e extensão) e dos mecanismos eu elas criam segundo seu arranjo. (BERNARDES, 1969, p.109).

No trabalho de Maria Novais Pinto (1969) sobre a produção de sisal na Bahia, a autora faz descrições em seu trabalho de campo na região, mas acrescenta-se o uso de questionários no inquérito geográfico, algo novo nos estudos regionais:

As pesquisa foram realizadas durante 7 meses, sendo esse período dividido entre inquérito, os estudos estatísticos e a bibliografia, quatro meses foram dedicados ao trabalho de campo. [...] Utilizei o questionário em 40 estabelecimentos. (PINTO, 1969, p.6).

Mas, a grande mudança de paradigma na geografia ocorre com a chamada Renovação da Geografia, pela adoção de técnicas e teorias que pudessem diagnosticar e prever cenários futuros (modelos) das relações entre os elementos constituintes do espaço geográfico, por meio da linguagem matemática. O artigo de Pedro Geiger (1970) revela este momento de renovação da geografia brasileira, citando o trabalho de Ian Burton21 (1963) como referência:

A geografia quantitativa não consiste, no entanto, apenas no uso de computador para realizar mais rapidamente uma quantidade de operações. Ao descrever a superfície terrestre, a geografia apresenta um modelo do que seria a realidade; ao tomar atitudes prospectivas, ela sugere a possibilidade do desenvolvimento de outros modelos. A tendência quantitativa significa o emprego constante da linguagem matemática na definição destes modelos, isto é na caracterização de suas relações internas, seus movimentos e formas. (GEIGER, 1970, p.68-69).

No trabalho desenvolvido por Ceron e Diniz (1970) os autores explicam que no Brasil, foi aplicada uma metodologia para analisar e tipificar a agricultura com base na Comissão de Tipologia da Agricultura da UGI, e que neste pressuposto teórico-metodológico é possível entender o lastro sistêmico dessa abordagem e a mudança de paradigma:

21 Ian Burton. The Quantitative Revolution and Theoretical Geography. p. 151-162. In: The Canadian.

Esta praticamente estabelecido que a noção suprema deve ser chamada “Tipo de Agricultura”, sem nenhum adjetivo. Deve ser entendida de uma maneira ampla, incluindo todas as formas de culturas e criação de gado; deve ser entendida como uma noção hierárquica, compreendendo desde os tipos de baixa ordem onde os estabelecimentos ou propriedades seriam a unidade básica, até os tipos mais elevados, como os tipos mundiais de agricultura; deve ser entendida como uma noção complexa, que combina vários aspectos da agricultura, bem como uma noção

dinâmica, que sofre mudanças através das transformações de suas características

básicas. (grifo nosso) (CERON & DINIZ, 1970, p.42).

A mudança de paradigma da chamada geografia clássica / tradicional para a geografia teorética / quantitativa / nova geografia, deve-se pelas dúvidas e falta de precisão de alguns trabalhos descritivos, no qual se calcavam apenas no objeto observado. Nesse sentido, Ceron e Diniz (1970) afirmam a importância da quantificação para a geografia:

Sem dúvida nenhuma, métodos quantitativos devem ser empregados, tanto quanto possível, a fim de que os resultados possam ser medidos e comparados. Cada dia se tornam mais contestadas conclusões calcadas exclusivamente em observações de campo e análise de exemplos, em virtude do alto grau de subjetivismo, da impossibilidade de medir o grau de generalização dos exemplos tomados. Não é suficiente a descrição de um fato ou a comprovação de sua ocorrência em alguma área. Fundamental se torna que o mesmo seja quantificado, delimitado segundo critérios precisos e perfeitamente caracterizado. (CERON & DINIZ, 1970, p.44).

Dando ênfase a esta renovação, Galvão e Faissol (1970) afirmam que a geografia precisa de um aporte teórico-metodológico que a sustente como ciência. Neste caso, a