Os estudos feitos por Ferreira (2006) apontam para uma tendência a não se determinar o grau de profundidade do estágio hipnótico do paciente por escalas, tendo em vista a grande variedade de respostas postas em relação a um grande número de sujeitos. Para ele, tem mais valor chegar à anamnese do paciente e começar a indução hipnótica a partir disso, treinando-o desde a primeira sessão para as respostas desejadas no futuro. Ilustra esta questão com um paciente que queira, por exemplo, deixar de fumar: “[...] iremos sugerir que quando um cigarro tocar em seus dedos, seus dedos se abrem [sic] e se estendem [sic] e o cigarro cai [sic] no chão, então já iniciamos com sugestões de rigidez nos dedos de uma ou de ambas as mãos” (FERREIRA, 2006, p.164).
Como justificativas para este procedimento, o autor coloca, além das diferenças personalíssimas entre os pacientes, variações também conforme a natureza da consulta, o tipo de sugestões oferecidas e como estas são disponibilizadas ao paciente, o modo pelo qual este percebe as sugestões e as associações que faz a partir delas.
Precisamente por estas diferenças é que Ferreira (2006) prefere avaliar a profundidade hipnótica a partir da subjetividade do paciente. Assim, é possível acrescentar informações extras específicas e relacionadas com as experiências da
pessoa, bem como apresentar situações contrastantes, orientando o paciente a perceber que emoções ele associa a cada situação em especial.
Abaixo está representado o quadro de aprofundamento do transe hipnótico segundo a escala de Torres Norry, modificada por Moraes Passos e Pincherle & Colaboradores (PINCHERLE & COL., 1985, p. 44).
ESCALA DE TORRES NORRY (mod. Por Moraes Passos) Fase
Hipnoidal Manifestar fenômenos oculares e corporais Relativamente aos
fenômenos de catalepsia ocular e analgesia, podem ser propostos desafio e apagamento
Hipnose Leve
• Manifestar catalepsia palpebral
(os fenômenos catalepsia braquial, catalepsia geral e relaxamento geral estão presentes apenas na escala de Torres Norry (NATALY, 1999, p.90)
Hipnose
Média • • Analgesia Surdez eletiva • Signo-sinal
• Aceitar sugestão hipnótica simples
(Movimento automático, sono e amnésia superficial estão presentes apenas na escala de Torres Norry (NATALY, 1999, p.90)
1º sugestão pós- hipnótica
Hipnose
Profunda • • Manter uma conversação estando em estado hipnótico Abrir os olhos mantendo o estado hipnótico • Amnésia superficial
(Aceitar sugestões de representações alucinatórias está presente apenas na escala de Torres Norry (NATALY, 1999, p.90)
Fase
Sonambúlica • • Visualização cênica Alucinação • Anestesia profunda • Regressão de idade • Amnésia profunda • Sugestões pós-hipnóticas Natural ou induzida Tabela 10 –
Fonte: Pincherle & Col., 1985
Os autores atentam para a existência de diferentes escalas, não sendo condição essencial, portanto, a reprodução exata desta sequência, tendo em vista que as situações variam de acordo com o sujeito/paciente.
O fato de Ferreira (2006) preferir a não-utilização de escalas para medir a intensidade da indução hipnótica não invalida sua prática por outros profissionais.
É nesse sentido que comenta sobre as escalas desenvolvidas por Morgan e Hilgard em 1978 – 1979, uma para ser usada em adultos e outra em crianças. Pela
Stanford Hypnotic Clinical Scale (SHCL), é possível avaliar, segundo seus criadores, as habilidades do paciente em mover as mãos juntas, alucinações a partir de sugestão, regressão de idade, execução de atividades pós-hipnóticas simples e amnésia parcial ou completa (FERREIRA, 2006).
O autor comenta também sobre as SSTA (sugestões para sintonização, treinamento e aproveitamento), onde o aspecto subjetivo das experiências é realçado de modo a se atingir um resultado positivo (Idem).
Os estudos feitos por Erickson, Hershman e Secter (2003) apontam para as características a serem observadas durante o estado hipnótico, porém distribuindo-as por estágio de transe: leve, médio, profundo ou pleno (estupor), as quais se encontram relacionadas no quadro abaixo:
CARACTERÍSTICAS A OBSERVAR NO ESTADO HIPNÓTICO
Transe leve • Relaxamento
• Catalepsia das pálpebras • Fechamento dos olhos
• Início catalepsia em algum membro • Respiração lenta e profunda • Imobilização dos músculos faciais • Começando catalepsia dos membros
• Sensação de peso em várias partes do corpo • Hipnoanestesia glove anesthesia
• Aptidão ao desempenho de sugestões pós-hipnóticas simples
Transe médio • Amnésia parcial (alguns indivíduos) • Atividade muscular lenta definida
• Aptidão para ilusões e alucinações simples • Aumento da sensação de ‘desprendimento’ • Marcante catalepsia dos membros
• Aptidão ao desempenho de sugestões pós-hipnóticas simples
Transe profundo • Aptidão para manter o transe com olhos abertos • Amnésia total (maioria dos indivíduos)
• Aptidão no controle de algumas funções orgânicas (pulso, pressão) • Anestesia cirúrgica
• Regressão de idade e revivificação
• Alucinações auditivas e visuais positivas e negativas • Aptidão para ‘sonhar’ material significativo
• Aptidão para desempenhar tudo ou quase tudo do que está acima do estado pró-hipnótico
Transe pleno ou
estupor • Acentuada lentidão das respostas orgânicas e quase completa inibição de atividade espontânea (os autores colocam que diferenças podem ser apresentadas de indivíduo para indivíduo em quaisquer dos estágios de transe)
Tabela 11 –
4 O USO DA HIPNOSE NA PRÁTICA CLÍNICA
A hipnose ganhou respeito na medicina principalmente pelos efeitos na analgesia, cuja abordagem tem sido usada por milênios para tratar problemas médicos e dermatológicos. Desordens dermatológicas podem ser melhoradas ou curadas com o uso da hipnose como uma terapia complementar ou alternativa (SHENEFELT, 2003).
Além disso, recentemente muitos experimentos clínicos controlados usando a hipnose para regular a dor vêm sendo referidos por Stam (1984), assim como os de Beng-Yegong e Tih-Shih Lee (2008) sobre a enurese, como também estudos de Raz, Fan e Posner (2005) e a utilização de imagens para captar atividades cerebrais durante o processo hipnótico.