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Torres-Hipnose Pratica Clinica

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Academic year: 2021

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CURSO DE PSICOLOGIA

HELENO FELIX TORRES

A HIPNOSE NA PRÁTICA CLÍNICA

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HELENO FELIX TORRES

A HIPNOSE NA PRÁTICA CLÍNICA

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado para obtenção do grau de bacharel no curso de Psicologia da Universidade do Extremo Sul Catarinense -UNESC.

Orientador: Prof. Jeverson Rogerio Costa

Reichow

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HELENO FELIX TORRES

A HIPNOSE NA PRÁTICA CLÍNICA

Trabalho de Conclusão de Curso aprovado pela Banca Examinadora para obtenção do Grau de Bacharel no Curso de Psicologia da Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC, com Linha de Pesquisa em Neuro Psicologia.

Criciúma, 22 de Junho de 2009. (data da defesa)

BANCA EXAMINADORA

Prof. Jeverson Rogerio Costa Reichow – Mestre - (UNESC) - Orientador

Dr. Antonio Carlos Althoff – Especialista em Reumatologia

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“Se você quiser comer hoje, cultive arroz.

Se você quiser comer amanhã, cultive árvores frutíferas.

Se você quiser que seus filhos e netos comam, cultive homens”.

Confúcio

Confúcio

Confúcio

Confúcio

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RESUMO

Rever conceitos tão antigos e tão atuais sobre a prática hipnótica implica

necessariamente em revisitar os nomes que figuram na sua história. Das antigas práticas ritualísticas pagãs, do culto aos deuses, passando por Mesmer, Freud e Erickson, apenas entre os mais expressivos, chega-se ao presente com os ultramodernos exames de tomografia por emissão de pósitrons e a ressonância magnética do fluxo sanguíneo e seus proeminentes executores. À luz de novos achados científicos, a hipnose se renova e reforça uma posição que já conquistou na comunidade médica, a saber o expressivo relato de casos que dão conta da sua eficácia na prática clínica, indo mais pontualmente esclarecer o funcionamento do cérebro humano quando ativado pelo estado hipnótico. Especificamente na clínica psicológica, a hipnose vem sendo utilizada com grande sucesso nos casos em que trata de ansiedade, fobias, traumas, drogadição, dependência em seus vários níveis, apenas para citar algumas desordens, razão pela qual o presente trabalho se

inscreve, num esforço de resgatar a história da hipnose no mundo desde a

Antigüidade até os dias atuais, os caminhos e descaminhos que percorreu para que hoje pudesse ocupar o lugar que ora ocupa: revestir-se da capa protetora da ciência e colocar-se a serviço do homem enquanto possibilidade de reduzir sofrimentos.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Divisão do Sistema Nervoso ... 36

Figura 2 – Subdivisão do córtex cerebral ... 39

Figura 3 – Áreas do cérebro e suas respectivas funções ... 40

Figura 4 – Modelo utilizado nos experimentos de Kosslyn & Col. ... 42

Figura 5 – Variação da atividade normal de um recém-nascido... 43

Figura 6 – Imagem de cérebro estimulado pela Serotonina ... 43

Figura 7 – Imagem do cérebro durante exame de IRMf ... 44

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LISTA DE TABELAS

Tabela 01 - Aspectos da sugestão ... 48

Tabela 02 - Fatores da relação especialista-paciente ... .... 49

Tabela 03 - Influência do meio ambiente e a relação especialista-paciente ... 50

Tabela 04 - Classificação das sugestões ... 51

Tabela 05 - Tipos de temperamento ... 53

Tabela 06 - Características do paciente hipnotizado ... 54

Tabela 07 - Alterações observáveis durante a hipnose ... 55

Tabela 08 - Características psicológicas do estado hipnótico ... 56

Tabela 09 - Alterações em pacientes com ou sem sugestão hipnótica ... 57

Tabela 10 - Escala De Torres Norry (mod. Por Moraes Passos) ... 78

Tabela 11 - Características a observar no estado hipnótico ... 79

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CFP – Conselho Federal de Psicologia...32

SNA – Sistema Nervoso Autônomo...35

SNC - Sistema Nervoso Central...36

SNP – Sistema Nervoso Periférico...36

SNPS – Sistema Nervoso Periférico Somático...36

SNPA – Sistema Nervoso Periférico Autônomo...36

SNAS – Sistema Nervoso Autônomo Simpático...37

SNAP – Sistema Nervoso Autônomo Parassimpático...37

PET – Tomografia por emissão de pósitrons ...37

MAT/URFGS – Matemática – Universidade Federal do Rio Grande do Su...42

FSCr – Fluxo sanguíneo cerebral regional ...44

IRMf – Ressonância Magnética Funcional...44

EEG – Eletroencefalograma...44

SHCL- Stanford Hypnotic Clinical Scale...79

SSTA - Sugestões para sintonização, treinamento e aproveitamento...79

AAC – Córtex anterior cingulado...82

CFO – Conselho Federal de Odontologia...83

CFM – ConselhoFederal de Medicina...97

AMB – Associação Médica Brasileira...100

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 10

2 HISTÓRIA DA HIPNOSE ... 12

2.1 As Origens ... .13

2.2 Hipnose na Era Moderna ... .23

2.3 Hipnose no Brasil ... .28

2.3.1 Cronologia do Hipnotismo no Brasil ... .30

3 HIPNOSE E CIÊNCIA ... .33

3.1 Neurofisiologia da Hipnose ... .35

3.2 Consciência, Transe e Hipnose ... .45

3.3 Sugestão ... .47

3.4 Métodos/técnicas de Hipnoterapia com Hipnose ... 58

3.5 Fenômenos Hipnóticos ... .66

3.6 Técnicas Hipnóticas ... .70

3.7 Estágios da Hipnose ... .77

4 O USO DA HIPNOSE NA PRÁTICA CLÍNICA ... .80

4.1 Hipnose na Clínica Médica ... .80

4.2 Hipnose na Clínica Odontológica ... .82

4.3 Hipnose na Clínica Psicológica ... .84

5 METODOLOGIA ... .87

6 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ... .88

7 CONCLUSÃO ... .90 REFERÊNCIAS ... .91 ANEXOS ... .97 ANEXO I ... .97 ANEXOII...107 ANEXO III... ... ..108

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1 INTRODUÇÃO

Ao longo dos séculos, a hipnose foi sendo revelada por diferentes lentes, de acordo com cada momento histórico, mas ainda hoje guarda ranços de antigas concepções acerca de sua significação e efetiva contribuição para a prática clínica, tanto médica quanto psicológica.

A associação com espetáculos de variedades, em que um convidado realizava ações incomuns e surreais induzido supostamente por hipnose, faz com que ainda nos tempos modernos ela sofra suas conseqüências.

Iniciada muito antes da existência de relatos escritos da história humana, a hipnose já podia ser encontrada nas cerimônias religiosas e de cura de muitos povos primitivos, os quais se utilizavam dela para induzir seus participantes ao transe hipnótico. Sua importância não está em chamar estas cerimônias de religiosas, curandeirismo, ou alguma outra combinação que seja, mas sim que o estado de transe com características hipnóticas já existia, muito embora o termo tenha sido cunhado apenas no século XIX, com James Braid.

Não é sem razão que o final do século passado e início deste também tenha sido muito fértil quanto à discussão da dimensão social da ciência, no sentido de que a compreensão da prática hipnótica não poderia passar distanciada dos processos comuns a uma comunidade científica que prima pelo conhecimento como forma de dar ao homem o melhor dos dois mundos, buscando a teoria para aplicar a prática.

A preocupação com o bem-estar do homem num mundo cada vez mais agitado, onde as pessoas se veem acossadas pela matéria, faz a Psicologia voltar os olhos à humanidade como forma de buscar outros recursos que a faça conseguir um equilíbrio entre as exigências da vida moderna e o equilíbrio emocional, consequentemente procurando reduzir sofrimento.

Nesse sentido, a hipnose tem se mostrado uma valiosa ferramenta, justificando o presente trabalho ao buscar responder por qual modo, como terapia complementar, atua na mente humana mudando comportamentos e favorecendo a remissão de patologias, físicas e ou emocionais, como insônia, enxaqueca, alcoolismo, no alívio da dor, para citar alguns, bem como sua importância.

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Embora tenha sido apresentada sob diferentes conceitos ao longo de sua evolução, Barber a entende como um comportamento hipnótico sugerido a partir de atitudes positivas, motivações ou expectativas que predispõem o indivíduo a pensar e ou imaginar de boa vontade os temas sugeridos (FERREIRA, 2006).

Na visão do próprio Ferreira, hipnose médica é “[...] essencialmente um estado da mente no qual as sugestões são mais profundamente aceitas do que no estado de vigília, mas também agem mais poderosamente do que seria possível durante o estado de vigília” (2003, p. 155).

Para a Associação Americana de Psicologia, Divisão de Hipnose Psicológica, a hipnose consiste em

[...] um procedimento durante o qual um profissional de saúde ou pesquisador sugere que um cliente, paciente, ou um sujeito experimente mudanças de sensações, percepções, pensamentos e comportamentos. O contexto hipnótico é geralmente estabelecido por um procedimento de indução. Embora haja muitas induções hipnóticas diferentes, a maioria inclui sugestões de relaxamento, calma e bem-estar. Instruções para pensar sobre experiências agradáveis são também comumente incluídas em induções hipnóticas (TIBÉRIO; de MARCO & PETEAN, 2004).

Pela consciência dos inúmeros benefícios que a hipnose é capaz de apresentar, o objetivo geral deste trabalho está em destacar a importância da hipnose como terapia complementar em processos terapêuticos físicos e psicológicos. Começando por uma revisão bibliográfica sobre o assunto, passa a investigar e descrever a história da hipnose no Brasil e no mundo, além de esclarecer seu uso eficaz na prática clínica, bem como o estado legal em que se encontra atualmente junto aos profissionais na área das ciências da saúde e humanas.

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2 HISTÓRIA DA HIPNOSE

Etimologicamente, a palavra hipnose tem uma origem grega, cujo termo Hypnos significa sono, significado esse que provocou uma ligação com o ato de dormir e que perdura até os tempos atuais. Entretanto, é pertinente esclarecer que o estado hipnótico é muito mais do que isso, pois libera o paciente para a indução do transe, conduzindo-o a um estado de relaxamento semiconsciente, mas com manutenção do contato sensorial deste com o ambiente.

Pelos conceitos desenvolvidos por Milton Erickson, um dos maiores expoentes em hipnose no mundo, o ser humano tem como característica a habilidade de responder às sugestões e aceitá-las. Com a utilização de técnicas de hipnose, o terapeuta dá ao paciente a chance de escutar realmente os conceitos mentais, de modo que este se torna receptivo aos padrões, às associações e aos modelos de funcionamento que conduzem à solução de problemas (ERICKSON, HERSHMAN & SECTER, 2003; FERREIRA, 2006). Na visão dos autores, “[...] transe é um estado psicológico determinado da consciência [...] e que ele difere do estado comum da consciência” (p. 53).

No entanto, embora aponte para a inexistência de estudos que comprovem a existência do transe, Ferreira (2006) considera um desserviço à indução hipnótica não reconhecer tal estado. Segundo ele, “[...] não havendo um estado para o paciente entrar, por que fazer o processo de indução?” (p. 54).

Segundo Stark (apud FERREIRA, 2006), a influência da hipnose se liga à alteração do autocontrole na medida em que, ao prestar atenção a um determinado aspecto ou senti-lo, este se configura como “estado alterado”, e o fato de se esperar modificações a partir do que se pretenda que aconteça, produz alterações nos pensamentos, atos e sentimentos do indivíduo.

Para William Edmonston Jr, o termo para descrever hipnose seria anesis, uma vez que o autor considera que o relaxamento é condição essencial para que o indivíduo responda melhor às sugestões (apud FERREIRA, 2006).

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2.1 As Origens

Embora a palavra hipnose tenha sido revelada ao homem apenas no século XVI, desde a Antiguidade esta se achava representada através de desenhos em cavernas, nas cerâmicas, por assírios e egípcios. Pincherle & Colaboradores (1985 apud ANDRADE FARIA, 1961) referem que em Tebas foi encontrado um baixo-relevo num sarcófago, cujo desenho denota um sacerdote induzindo um paciente. Conforme sustenta Bauer (2002), os homens primitivos registravam situações de sua vida cotidiana através de desenhos e outras simbolizações que tinham por objetivo representar seu modo de comunicação. No Talmude se faz alusão ao encantamento de serpentes, enquanto que os gregos antigos usavam o sono hipnótico para a cura de diversos males nos chamados “templos do sono”.

O mais antigo relato de transmissão de fluidos através de passes foi registrado entre os sacerdotes caldeus há cerca de 2400 a.C. Entre os gregos e indianos, a hipnose apresentava-se sob a face de “milagres” operados por sacerdotes, bruxos ou feiticeiros, os quais se designavam mensageiros de Deus (AKSTEIN,1973, apud FERREIRA, 2006).

Entre os egípcios, há registros de curas através da hipnose nos Papiros de Ebers (datado aproximadamente entre 1536-1534 a.C., nono ano do reinado de Amenophis I na XVIII Dinastia e publicado em 1875, em Leipzig, pelo egiptólogo George Ebers, segundo BAPTISTA e colaboradores, 2003, os quais dão uma idéia a

respeito da teoria e prática da medicina egípcia antes de 1552 a.C., cujas culturas, regidas por um pensamento mágico-religioso, dão conta de que a atividade médica e seus médicos se encontravam sob a proteção divina (GARCIA-ALBEA, 1999).

Considerado um dos precursores da hipnose, Franz Anton Mesmer, discípulo do padre Maximiliano Hehl - professor de astronomia na Universidade de Viena, ajudava seu mestre a aplicar magnetos que tinham as formas de vários órgãos humanos, utilizando-os de acordo com o local onde se alojava a doença do paciente.

Sobre o assunto, Shrout (1985) comenta que padre Hehl sabia que suas curas tinham muito mais um cunho psicológico do que físico, pois se o poder de cura estivesse realmente nos magnetos, seriam indiferentes as formas, de onde se infere que a crença em talismãs ou amuletos sempre esteve presente entre os homens.

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Como Hehl, Padre Gassner (SHROUT, 1985) também usava os magnetos, cujo ritual começava por deixar seus pacientes no centro de uma sala a sua espera, momento em que Gassner chegava até eles portando nas mãos estendidas ao alto um crucifixo negro. Seus pacientes eram antecipadamente avisados que de quando fossem por ele tocados com o crucifixo, deveriam cair imediatamente ao chão, numa espécie de morte, enquanto o padre expulsaria os demônios para devolver-lhes a saúde (BRYAN, 2009). Shrout (1985) também comenta sobre a dramaticidade que envolvia as sessões de cura de Padre Gassner, a qual envolvia o uso de mantos esvoaçantes, expressando-se em latim e com um crucifixo enfeitado com pedrarias. Entretanto, isso não impediu que o padre obtivesse uma média de cura de cerca de setenta e cinco por cento dos casos que atendeu (idem).

Se Mesmer já se encontrava fascinado com os trabalhos de Hehl, depois de assistir várias performances do Padre Gassner, por volta de 1775, decidiu-se a estudar o assunto. Embora mais tarde se tenha comprovado a puerilidade de seu método, Mesmer conseguiu um sucesso considerável numa época em que sangrias e amputações eram as práticas médicas mais usadas, cujo caso de cura mais notável foi o de Maria Theresa Paradis, uma jovem pianista curada de cegueira em 1777(FERREIRA, 2006).

Aprimorando esta linha de trabalho, os apontamentos de Erickson, Hershman & Secter, (2003) referem os postulados de Mesmer, em que “[...] um certo fluido que circulava no corpo era influenciado por forças magnéticas originadas a partir dos corpos astrais” (p. 20). Os dados disponíveis na época davam credibilidade científica a sua teoria, coincidindo com o descobrimento da eletricidade e mais alguns avanços na astronomia.

Dado o sucesso do método por ele empregado, Mesmer passou a acreditar que o poder de cura estava antes na pessoa do “magnetizador” do que no próprio instrumento, passando então a aplicar seu tratamento a várias pessoas ao mesmo tempo. Para tanto, idealizou uma grande tina (baquet em francês), distribuindo dentro dela garrafas de vidro com as bocas voltadas para o centro, cobertas com limalha de ferro e vidro moído, completando o restante do espaço com água. A séance (reunião) tinha início então com as pessoas alinhadas ao redor desta tina (comportava 130 pessoas de cada vez) segurando as garrafas de vidro, onde deveriam tocar a pessoa mais próxima. Entrando de modo impactante no

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recinto, Mesmer ia de um em um aplicando passes até que eles caiam num transe cataléptico (SHROUT, 1985; FERREIRA, 2006).

O alcance de suas curas deu-lhe uma reputação memorável, espalhando o Mesmerismo rapidamente pela Europa, ao mesmo tempo em que fez provocar em seus colegas uma grande animosidade, fazendo com que a Academia Francesa designasse uma comissão especial para investigá-lo, a qual foi composta por Benjamin Franklin, Lavoisier e Dr. Guillotin (o inventor da guilhotina), entre outros (ERICKSON, HERSHAN & SECTER, 2003; FERREIRA, 2006; SAURET, 2008).

Una de las comisiones de investigación - la encabezada por Benjamin Franklin- estaba formada por miembros de la Facultad de Medicina -Borie, Sallin, DArcet y Guillotin -, y de la Academia de Ciencias - Le Roy, Bailly, Lavoisier-, mientras que la segunda estaba formada sólo por miembros notables de la Sociedad Real de Medicina - Possonier, Caille, Mauduyt, Audry y Laurent de Jussieu. Sus frutos fueron dos amplios informes (Commissaires de lAcadémiee de Sciences et la Faculté de Médecine, 1784; Commissaires de la Société Royale de Médecine, 1784), reproducidos en forma amplia en la documentada obra editada por Burdin y Dubois (1841) (TORTOSA, GONZÁLEZ-ORDI e MIGUEL-TOBAL, 1999, p.8)

As conclusões da comissão apontaram Mesmer como uma fraude, ao verificar que algumas pessoas eram sensíveis ao magnetismo animal e experimentavam uma reação convulsiva quando tocadas pelos objetos, porém sem conseguir identificar quais objetos tinham sido magnetizados, a menos que os vissem no momento do acontecido: “A imaginação sem magnetismo provoca convulsões, o magnetismo sem imaginação não provoca nada” (SAURET, 2008, p. 27).

Estas conclusões, seus acertos e desacertos foram brilhantemente tratados por Chertok & Stengers (1990), no livro O coração e a razão, a hipnose de Lavoisier à Lacan.

Pincherle & Colaboradores (1985) sustentam que desde a Antiguidade o fenômeno mesmérico já era utilizado por sacerdotes egípcios, nos templos hindus, por gregos, por Paracelso no século XV, Van Helmont e Valentin no século XVI, Greatrakes no século XVII, Cagliostro no século XVIII, porém circunscritos à religião. O que Mesmer postulava com seus achados era uma explicação científica para tais ocorrências.

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Entretanto, a originalidade do trabalho de Mesmer e que não teve o reconhecimento devido na época estava em que os pacientes eram capazes de alterar comportamentos mediante a sugestão dada por ele. É por esta razão que Erickson, Hershman & Secter (2003) apontam como base da psiquiatria dinâmica moderna o trabalho de Mesmer e sua teoria do magnetismo animal, além de que tais trabalhos permitiram que se aperfeiçoasse a percepção existente entre sugestão hipnótica e psicoterapia.

Neubern (2008) aponta duas grandes consequências históricas para que o Mesmerismo fosse desqualificado enquanto ciência como foi. Primeiramente, o esquecimento de grandes nomes do magnetismo, não obstante “[...] suas contribuições para a construção da psicologia (p. 444)”. Num segundo plano, embora a hipnose “[...] fosse herdeira histórica do mesmerismo, seus promotores buscaram concebê-la como um método legitimamente científico, desvencilhado de noções místicas, como fluidos e imaginação, para se fundamentar nas estruturas nervosas do cérebro” (CARROY, 1991; MÉHEUST, 1999 apud NEUBERN, 2008, p. 445).

Armand Marie Jacques Chastenet de Puységur, Marquês de Puységur, foi seu discípulo mais aplicado, descobrindo o sonambulismo artificial em 1784, segundo Ferreira (2006) e Sauret (2008), professor titular da Universidade de Tolouse, que esteve no Brasil a convite de Universidades do Rio de Janeiro em 2005.

Sobre o assunto, Woznyak (2009) comenta que Puységur tratou Victor Race, um trabalhador de sua fazenda. Abaixo a tradução em espanhol da versão original inglesa:

Cuando Victor, quien en condiciones normales nunca se habría atrevido a confiar sus problemas personales al señor de la casa, admitió en el transcurso del sueño magnético que estaba disgustado por una pelea que había tenido con su hermana, Puységur le sugirió que hiciera algo para resolver la querella y, después de despertar, sin recordar las palabras de Puységur, Victor obró de acuerdo con la sugestión del marqués (trad.

VIVES, 2009).

O sono lúcido apontado pelo Abade Faria, um sacerdote português, nada mais era do que “[...] a vontade do paciente”, afirmando que os determinantes de

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cura eram a perfeita sintonia entre paciente e hipnotizador e a vontade de curar-se (FERREIRA, 2006, p.11).

Em Londres, o Mesmerismo renovou-se com os estudos de um professor de Medicina da Universidade de Londres, o médico e professor Elliotson, o qual publicou suas descobertas no jornal intitulado Zoist (ERICSON, HERSHMAN & SECTER, 200; FERREIRA, 2006), com edição trimestral destinada a expor temas referentes ao Mesmerismo em1855.

Os fenômenos hipnóticos foram investigados pela Associação Médica Britânica em 1891, cujo relatório apresentado no ano seguinte pode ser assim resumido:

 Pleno convencimento quanto ao fenômeno;

 O termo “hipnose” não é representativo do que ela seja, uma vez que o sono fisiológico e a hipnose não são a mesma coisa;

 Eficaz no alívio das dores, embriaguez, na realização de atos cirúrgicos;  Deve ser usada exclusivamente por médicos para fins terapêuticos, apenas

em homens. Quando em mulheres, diante de familiares ou pessoas do mesmo sexo;

 Condenação para fins recreativos (FERREIRA, 2006).

Simultaneamente aos estudos de Elliotson, James Braid usou o termo “Hipnose” e mesmo depois de arrepender-se do nome, este já se encontrava de tal modo associado à prática que não foi mais possível mudá-lo (ERICSON, HERSHMAN & SECTER, 2003). Contudo, o prefixo hypn- já havia sido grafado 20 anos antes pelo francês Etienne Felix d’Henin de Cuvillers (FERREIRA, 2006).

A concepção de Braid acerca da hipnose e dos mitos que já naquela época a circundavam ficam bastante explícitas a partir da tradução de um excerto retirado do seu livro Neurypnology Or The rationale of nervous sleep considered in relation with animal magnetism (FERREIRA, 2006):

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Estou ciente do grande prejuízo que foi levantado contra o Mesmerismo a partir da idéia que poderia estar voltado para fins imorais. No que respeita ao estado Neuro-hipnótico, induzido pelo método explicado no presente tratado, estou certo de que tal não merece censura. Eu tenho provado por experiências, tanto em público como privado que, durante o estado de excitação, o julgamento é suficientemente ativo para os pacientes, se possível, ainda mais fastidioso no que diz respeito à sobriedade de conduta, do que na condição de vigília; [...] E, finalmente, o estado não pode ser induzido, em qualquer fase, a não ser com o conhecimento e consentimento do paciente. Isto é mais do que se pode dizer a respeito de uma grande parte dos nossos mais valiosos medicamentos, [...] Ela nunca deveria ser perdido de vista, pois que existe o uso e abuso de qualquer coisa na natureza. Trata-se do uso, e apenas da utilização judiciosa do Hypnotismo, que eu defendo. (BRAID, 1843,pp.10-11 )

Shrout (1985) sustenta que a descoberta de que algumas pessoas tinham a capacidade de entrar em transe hipnótico ao fixar o olhar em um ponto de luz fez Braid ir mais adiante, testando sugestões para apressar o processo. Em seus estudos, percebeu que a concentração do próprio paciente em um objetivo determinava o processo hipnótico, sendo que em 1847 relatou fenômenos de catalepsia, anestesia e amnésia, os quais eram possíveis mesmo sem o paciente dormir (FERREIRA, 2006).

Embora seus estudos pouco tenham influenciado os ingleses, estes foram retomados “[...] como técnica anestésica, pelos médicos franceses como Azam, Broca, Cloquet, Velpeau”, (SAURET, 2008, p. 28), cuja prática anestésica a partir da hipnose se mantém até o uso do clorofórmio.

Na Índia, o Mesmerismo chegou através de James Esdaile, um cirurgião escocês que fez inúmeras cirurgias utilizando anestesia mesmérica, inclusive com a publicação em 1850 do livro Mesmerism in Indian and its Practical Aplication In Surgery and Medicine e em 1918 pela Harvard College Library. Abaixo, a tradução de um pequeno trecho prefaciado pelo autor e retirado do livro no original:

O que eu agora ofereço ao público é o resultado de apenas oito meses de prática do Mesmerismo em um hospital de caridade, mas foi suficiente para demonstrar a singular mais benéfica influência que o Mesmerismo exerce sobre a constituição do povo de Bengala, e que intervenção médico-cirúrgica indolor, entre outras vantagens, são um direito natural; [...]. Hooghly, Fevereiro, 1 º, 1846. (ESDAILE, 1847, p.7)

No entanto, mais detalhadamente pode se analisar sua prática pela descrição feita a partir de alguns atendimentos que realizou:

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13 de julho – 4 homens e 1 mulher deram entrada hoje: Nº 1 – lumbago

Nº 2 – ciático

Nº 3 – dor ao longo do nervo crural (parte da frente da coxa nos quadríceps, tendo por origem uma agressão do nervo entre a 3ª e a 4ª vértebra lombar) Nº 4 - reumatismo sifilítico

Nº 5 - ditto (sem tradução – grifo meu)

Todos foram usualmente manipulados, observando-se a respiração. Depois do primeiro dia, todos foram induzidos a beber água “mesmerizada” diariamente, até o 17º dia, [...] no caso do sifilítico, os benefícios não foram os esperados; aqueles que constituíam uma doença específica continuaram em tratamento; as dores locais foram atenuadas [...] (ESDAILE, 1847, p.7)

A valiosa contribuição de James Esdaile ao estudo da hipnose faz desse livro um importante documento científico, pois tal como os atuais pesquisadores, ele observou “[...] que havia uma sensível diminuição do trauma cirúrgico em seus pacientes hipnotizados. Ele ou seus auxiliares nativos mesmerizavam pacientes pela manhã e os deixavam em estado cataléptico” (ERICKSON, HERSHMAN & SECTER, 2003, p. 21). As cirurgias eram realizadas mais tarde, cujos casos eram documentados e observados por médicos e autoridades do local.

Em Nancy, na França, Ambroise-Auguste Liebeault foi quem levou a termo os estudos sobre o tema, afirmando que os fenômenos do hipnotismo eram subjetivos em sua origem, pois era a sugestão verbal que representava o fator hipnotizante (SAURET, 2008). Lendo sobre os trabalhos de Braid, foi aplicando a hipnose por mais de vinte anos de forma quase gratuita para evitar a pecha de charlatão; porém, seu trabalho só foi reconhecido quando tratou de um caso enviado por um colega neurologista e professor da faculdade de Medicina, Bernheim.

Em tratamento há seis anos sem lograr êxito, nas mãos de Liebeault o paciente curou-se após algumas sessões de hipnose. Daí em diante, os dois, Liébeault e Bernheim, trataram cerca de dez mil pacientes (ERICKSON, HERSHMAN & SECTER, 2003), o que permitiu à Bernheim elaborar o primeiro tratado sobre hipnose – Suggestive therapeutics em 1886, publicando também o livro De la suggestion et de sés applications a la therapeutique (FERREIRA, 2006). Seus trabalhos criaram um referencial em hipnose, ficando conhecido como Escola de Nancy e chamando a atenção de especialistas no mundo inteiro.

Sua obra, Confesiones de un medico hipnotizador, contém uma descrição de como sua técnica evoluiu:

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Hice uso del método mas empleado para producir el sueno artificial, el de Dupotet y La Fontaine [...] De este procedimiento clásico, al que encontré inconvenientes, pasé a ensayar el de Braid [...] al procedimiento es conocido por los magnetizadores durante largo tiempo, añadimos la sugestión del sueno, ya utilizada por el abate Faria [...] A partir de esta reforma capital em mi manera de hipnotizar mis enfermos si durmieron tranquilamente y con mucha más rapidez.(In Lièbeault 1891, 290-293 apud TORTOSA, MIGUEL-TOBAL & GONZÁLEZ-ORDI, 1999, p. 14)

Enquanto Liebeault só teve seu trabalho reconhecido após a associação com Bernheim, este publicou diversos trabalhos sobre hipnose. Em 1891 publicou Hipnose, sugestão e psicoterapia (SAURET, 2008). Bernheim (apud TRIPICHIO, 2009) afirmava que o sono hipnótico ou provocado era uma condição fisiológica possível de ser alcançada por qualquer pessoa, alguns mais facilmente que outros e que o estado hipnótico não era uma condição inerente à histeria.

Ferreira (2006, p. 13; TRIPICHIO, 2009) comenta que Bernhein acreditava que a capacidade “[...] do cérebro de receber ou evocar idéias e sua tendência a realizá-las ou transformá-las em atos” era dada pela sugestão.

A repercussão dos estudos realizados sobre hipnose estimulou outro francês, um fisiologista, a percorrer os caminhos do hipnotismo: Charles Richet, que por sua vez, levou Jean Martin Charcot, neurologista em Salpêtriêre, a focalizar a hipnose, afirmando que “[...] a hipnose era apenas uma outra forma de histeria” (ERICKSON, HERSHMAN & SECTER, 2003, p. 22; FERREIRA, 2006). Acreditava Charcot que somente as pessoas histéricas poderiam ser hipnotizadas (SHROUT, 1985).

Segundo ele, o entendimento clínico para ocorrências de traumas psíquicos, comportamentos hipnóides, sugestão e representação inconsciente divergia daquelas até então aceitas pelos estudiosos da época, os quais acreditavam que tais problemas localizavam-se no cérebro ou eram provocados por alterações em seu funcionamento (FULGÊNCIO, 2006).

Esta oposição de idéias entre as duas escolas deu início a uma longa luta (ANDERSSON, 2000 apud FULGÊNCIO, 2006), durando cerca de dez anos, mesmo após a morte de Charcot.

Jean Martin Charcot ficou muito bem conhecido pelos profissionais de medicina por tantas e variadas realizações, como o banho de Charcot, pela doença de Charcot, pela junta de Charcot, pela síndrome de Charcot, microaneurisma de

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Charcot-Bouchard, esclerose lateral, entre muitos outros, além de seu trabalho com a atrofia muscular neuropática progressiva, de conhecimento de todos os estudantes de medicina, conforme aponta Teixeira (2001). A neurologia se colocou como uma especialidade médica na segunda metade do século XIX em decorrência de seus estudos e de seus discípulos em Salpêtrière.

Em 1878, Charcot apresentou a teoria de três estágios hipnóticos: catalepsia – fixação do olhar do paciente num determinado objeto luminoso, produção de um som abruptamente; letargia - paciente de olhos fechados ou cessar o objeto luminoso; sonambulismo – pressão ou fricção no alto da cabeça (FERREIRA, 2006).

No entanto, mesmo sua fama não o poupou de ver enfraquecida sua reputação quando defendeu, contra as teorias da Escola de Nancy, que a hipnose seria um estado patológico capaz de enfraquecer a mente humana, situação que muito se agravou após sua morte quando um colaborador direto, Babinski, deu declarações sobre falsas curas sustentadas por Charcot. Além disso, Janet, seu aluno e Dubois, aluno de Bernheim, viriam mais tarde a concordar com os preceitos da Escola de Nancy (SAURET, 2008).

Um dos colaboradores de Charcot, Pierre Janet, publicou sua tese de doutorado sob o título “L'Automatisme psychologique” em 1889 na Sorbonne, a primeira de uma série de tratados sobre as manifestações do inconsciente, estudos que serviram de base para reputá-lo como o fundador da moderna psicologia dinâmica (THEÓPHILO ROQUE, 2009).

Neste tratado, Janet reorganizou a consciência sob três aspectos: catalepsia (consciência puramente afetiva, reduzida às sensações e às imagens), a sugestão (consciência desprovida de controle, orientação e percepção) e o sonambulismo, como um campo de consciência comparável ao estado vígil (CHERTOK & STENGERS, 1990).

Muito natural então que a ampla divulgação na comunidade científica sobre a hipnose chamasse a atenção daquele que é considerado o fundador da psicanálise. Junto com Breuer, Freud havia usado a hipnose para ajudar pessoas com distúrbios emocionais (ERICKSON, HERSHAMN & SECTER, 2003). No entanto, como quisesse desenvolver técnicas próprias, em 1890 Freud foi para Nancy, através de uma bolsa de estudos do governo, passar algumas semanas na

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Salpêtrière, em Paris, estudar com Jean-Martin Charcot, o qual realizava experiências com doentes mentais, principalmente a histeria, utilizando a hipnose.

Para Breuer, as doenças mentais provinham de conflitos que estavam localizados na mente da pessoa, e não necessariamente biológicos. Breuer acreditava que através da hipnose a pessoa poderia driblar censuras que a impediriam de lembrar certos fatos (os traumas) e assim livrar-se dos males que as incomodavam. Freud depois descreveu esse estado como catarse.

Seu caso mais famoso e para o qual contou com a ajuda de Freud foi a paciente cujo pseudônimo era Anna O, uma moça de 21 anos, depressiva e hipocondríaca (quadro na época denominado "histeria"); ela se acreditava paralítica em algumas ocasiões, ou não conseguia beber água mesmo estando com sede, e se sentia incapaz de falar seu próprio idioma, o alemão, recorrendo ao francês ou inglês para se comunicar. Breuer submeteu-a à hipnose e ela relatou casos de sua infância, o que lhe causava enorme bem-estar após o transe hipnótico.

Freud (1888 apud GOMES, 2005, p. 149) refere, ao prefaciar a tradução do livro de Bernheim, De la suggestion, que a questão a colocar seria “[...] saber se todos fenômenos da hipnose devem passar em algum lugar através da esfera psíquica [...] se as mudanças de excitabilidade que ocorrem na hipnose afetam invariavelmente apenas a região do córtex cerebral”. Aqui se encontram as primeiras indicações de uma preocupação bastante atual, que é a de investigar as bases neurais da hipnose.

Embora a hipnose fosse o tema em voga no meio científico, Freud a descartou como técnica de cura, passando a usar a técnica desenvolvida por ele de “associação de idéias”, convencido que estava de que ao induzir o paciente a um estado de total relaxamento, este recordava emoções recalcadas e que eram a

causa de seus distúrbios. Esta convicção, conforme sustenta Cobra (2009) fez Freud

formular a teoria

[...] de que os sintomas histéricos teriam origem na energia dos processos mentais os quais, impedidos de influenciar a consciência, são desviadas [sic] para a inervação do corpo e convertidos nesses sintomas. Devido à natureza das experiências traumáticas recordadas pelos pacientes, ficou convencido de que o sexo tinha parte dominante na etiologia das neuroses. Logo passou a considerar o desejo sexual como motivação praticamente única do comportamento humano, quer direta, quer indiretamente. Essa ênfase foi a principal causa do afastamento de Breuer, e do rompimento que ocorreria no futuro com vários de seus colegas. (COBRA, 2009)

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Nos anos subsequentes, especialistas de várias partes do mundo, entre eles Bramwell e Moll da Grã-Bretanha (apud BRYAN, 2008), Morton Prince (apud PINCHERLE & COLABORADORES, 1985), McDougall (apud ERICKSON, HERSHMAN & SECTER, 2003) dos Estados Unidos e Pavlov na Rússia (FERREIRA, 2006), continuaram a fazer uso do hipnotismo, especialmente os neurologistas, uma vez que a maior parte das doenças mentais era estudada à luz da neurologia, os quais foram influenciados diretamente pelos trabalhos de Freud.

2.2 Hipnose na Era Moderna

Outro nome referenciado em hipnose, Pavlov (Escola de Reflexologia) teceu suas teorias sobre o tema quando começou a trabalhar com reflexo condicionado, as quais originaram Sobre a fisiologia no estado hipnótico do cão. Suas anotações o levaram a afirmar que os reflexos condicionados respondem pela adaptação do homem ao meio, cujos estímulos podem vir do ambiente ou do próprio organismo.

Ferreira (2006) considera que durante a ocorrência da hipnose, segundo a teoria de Pavlov, a partir de um estímulo inicial no córtex cerebral atuando repetidamente (que pode ser visual, tátil, auditivo, cinestésico), este provoca uma ação inibidora reflexa em todos os estímulos iniciais, embora o paciente continue em estado de vigília. A seguir, assertivas quanto ao cansaço das pálpebras produz o fechamento dos olhos. Neste exemplo, o estímulo é auditivo, uma vez que é pela fala que o hipnotizador mantém o hipnotizado em estado hipnótico.

Em estudos conduzidos por Fernandes-Guardiola (2005), os experimentos de Pavlov mostraram novos caminhos para tratar os fenômenos psíquicos ao considerar os reflexos do meio sobre o organismo humano:

? é características diferenciales hay entre estos nuevos fenômenos en comparación com l os fisiológicos? [...] la diferencia consiste em que, mientras em La forma fisiológica la sustância entra em contacto directo con el organismo, em la psíquica actúa a distancia [..]; cuantos reflejos fisiológicos desencadenan la nariz, los ojos y los oídos, reflejos que son, por consiguiente, reflejos a distancia! (PAVLOV 1903/1968 apud

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Com o advento da Primeira Guerra Mundial e o grande número de pessoas com traumatismos, tanto físicos quanto psicológicos, o assunto voltou à tona com o psicanalista alemão Ernst Simmel, que desenvolveu a técnica chamada hipnoanálise. Durante a Segunda Guerra, Grinker e Spiegel utilizaram barbitúricos para induzir a hipnose através de medicamentos (ERICKSON, HERSHMAN & SECTER, 2003).

O interesse dos americanos foi despertado por Clark L. Hull, com suas observações registradas no livro Hypnosis and suggestibility, em que o autor, em comentários de Horton & Crawford no Jornal Americano de Hipnose (2009) conclui que “[...] a única coisa que parece caracterizar a hipnose como tal e que dá qualquer justificativa para a prática de chamar-lhe um "estado" é a sua hipersugestionabilidade generalizada”.

A guerra da Coréia entre os anos de 1950 a 1953 foi mais um dos momentos em que se fez ressurgir a prática da hipnose nos Estados Unidos e na Inglaterra, o que fez a British Medical Association e a American Medical Association decidirem pela inclusão da hipnose nos currículos dos cursos de medicina (ERICKSON, HERSHMAN & SECTER, 2003), tendo em vista sua reconhecida eficácia no tratamento de várias patologias, tanto físicas quanto psicossomáticas. Estas aprovaram também oficialmente o uso do método hipnótico como tratamento auxiliar em 1955 e 1958, respectivamente, segundo os apontamentos de Horton & Crawford (2009).

Apontado como uma das maiores autoridades em hipnoterapia e psicoterapia breve, Milton Erickson é considerado dentro dos estudos em hipnose o que foi Freud para a psicanálise.

A hipnoterapia Ericksoniana, assim chamada em razão de ter sido elaborada por Milton Hyland Erickson (1901 - 1980), psiquiatra americano do início do século XX, passou a ser considerada uma divisora de águas entre a hipnoterapia clássica, estabelecida à época da experimentação científica, e o modelo vigente na atualidade. Coautor de cinco livros sobre o assunto, Erickson publicou mais 130 artigos, a maioria deles versando sobre as aplicações da hipnose, buscando expandir e reformular a forma pela qual se compreendia a hipnose e a forma de trabalhar os fenômenos a ela associados.

No prefácio de Hipnose Médica e Odontológica, Aplicações Práticas, Jeffrey Zeig afirma que Erickson criou um modelo de tratamento em que procurou

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utilizar recursos do próprio paciente, mudando com isso o curso da hipnose, pois até então esta era praticada a partir de sugestões dadas ao paciente pelo hipnotizador, mas sem considerar suas motivações intrínsecas. As anotações de Erickson, Hershman & Secter (2003, p. 9) dão conta de que “O trabalho de Erickson parte de dentro para fora (inside out) e métodos indiretos eram utilizados para despertar forças do paciente, ao invés da aplicação de sugestões poderosas dirigidas contra um paciente passivo”.

Pelas palavras de Zeig (ERICKSON, HERSHMAN & SECTER, 2003) se depreende o quanto o trabalho de Milton Erickson influenciou a comunidade científica, ao elaborar uma teoria que prometia desvelar os meandros da mente humana, ajudando o indivíduo a encontrar dentro de si mesmo a resposta para os seus males.

Zeig (2003) considera que uma razão bastante plausível para o sucesso dos estudos de Erickson tenha sido o fato de ter usado em sua própria vida seus ensinamentos, uma vez que usava a hipnose para controlar a dor praticamente todos os dias. Pela citação abaixo, é possível entrever uma fração de sua técnica:

Quando Erickson realizava auto-hipnose [sic] para controlar o sofrimento, ele não se programava; ao invés disso, deixava seu inconsciente trabalhar a idéia de conforto e então seguia as sugestões que recebia. [...] prestava atenção na posição do polegar entre seus dedos, logo que levantava da cama. Se estivesse entre seus dedos mínimo e anular, isto significava que tinha controlado bastante a dor durante a noite. Caso estivesse entre o anular e o médio, tinha controlado menos dor; e se estivesse entre o médio e o indicador, ainda menos. Dessa forma, ele tinha uma idéia de quanta energia disponível teria para o trabalho daquele dia e então sabia que o inconsciente pode funcionar de forma autônoma e benigna (ZEIG, 2003, p. 52)

Um outro ponto que o autor considera essencial ao sucesso de Erickson era o seu lado humano, capaz de dedicar uma preocupação e uma generosidade genuína a quem viesse em busca de auxílio, sem poupar tempo ou esforço.

Embora não fosse um intelectual no sentido acadêmico, sua fala era extremamente clara e correta, com uma atenção especial à linguagem, preocupando-se em se fazer entender de forma cristalina a quem quer que o ouvisse (ZEIG, 2003). Não raro utilizava seus conhecimentos em literatura, agricultura e antropologia para lidar com os pacientes.

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A comunicação de múltiplos níveis idealizada por Erickson se estabelece a partir de conteúdos verbais e comportamentos não-verbais e as implicações decorrentes de ambos os processos (ZEIG, 2003).

Erickson estudou profundamente a hipnose e seus fenômenos durante toda sua vida, demonstrando-a como um fenômeno natural da mente humana, bem como sua existência e efeitos no cotidiano. Utilizou a hipnose em praticamente todos os problemas psicológicos, sendo autor de inúmeros artigos, livros e pesquisas científicas na área. Dentre as diversas contribuições de Erickson para o campo da Psicologia pode-se citar o conceito de utilização da realidade individual do paciente, a Terapia Naturalista, as diferentes formas de comunicação indireta, a técnica de confusão e de entremear. É considerado o maior hipnoterapeuta do século XX devido a sua abordagem breve, estratégica e voltada para a solução de problemas (ZEIG, 2003).

Em 1941, White expôs sua teoria do comportamento dirigido, onde o autor teorizou que o objetivo principal é conduzir a ação do paciente a um comportamento previamente determinado pelo hipnotizador, mas que também ele, paciente, entenda o objetivo do trabalho (FERREIRA, 2006).

A complexidade do transe hipnótico levou Wolberg a afirmar que o transe se refere tanto a elementos psicológicos quanto fisiológicos e por esse motivo não pode ser explicado de uma forma excludente (FERREIRA, 2006).

Australiano, mas que estabeleceu sua prática clínica na Inglaterra, Sydney J. Van Pelt foi outro médico a utilizar largamente a hipnose em seus pacientes, além de difundir o conhecimento científico adquirido por meio do seu trabalho. Sobre o assunto, Ferreira (2006, p.16-17) tem a comentar que Van Pelt considerava que hipnose seria uma “[...] ‘superconcentração da mente’ [...]”, uma vez que durante o processo hipnótico, “[...] ‘as unidades de poder mental’ [...]” convergem para um foco específico, quando então seriam afetadas pela sugestão.

A teoria da exclusão psíquica relativa da mente sustenta a premissa de que o indivíduo tem duas mentes: a mente objetiva, que age indutiva e dedutivamente e a subjetiva, que só raciocina dedutivamente. Quando a pessoa entra em estado hipnótico, dá lugar à mente subjetiva (FERREIRA, 2006).

A entrada definitiva da hipnose nos laboratórios experimentais inicia no período denominado Hipnose Científica, cujos fundamentos se assentam sobre os trabalhos de três grandes laboratórios, cada um com visões particulares. O de

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Hilgard, fundado em 1957, na Universidade de Stanford, estuda as relações da hipnose com variáveis como idade, sexo, características da personalidade, etc. (Idem, 2006).

Kihlstron (2004) aponta que Stanford Hipnótico Susceptibility Scales, o método de escala de suscetibilidade hipnótica, concebido por Hilgard e Weitzenhoffer no final dos anos 1950 e início dos anos 1960, começa com um procedimento padronizado de indução hipnótica seguido por uma série de sugestões para experiências imaginativas. O tema da resposta a cada uma dessas sugestões é classificada então de acordo com um critério objetivo-comportamental.

O referencial de Barber, na Fundação Medfiels do Hospital de Massachusets, tinha por objetivo estudar o papel e os efeitos da imaginação, expectativas, crenças, motivações e da emoção sobre a capacidade de hipnotização. Segundo Chaves (2006), nos últimos anos Barber teria se empenhado em encontrar um terreno comum entre as perspectivas teóricas da hipnose. Em seus estudos, aponta três tipos diferentes de classificação hipnótica: um tipo seria constituído por indivíduo com alta taxa de motivação, com atitude positiva em relação à hipnose. Outro tipo seria o indivíduo mais propenso à fantasia. O terceiro tipo incluiu o virtualmente propenso à sugestão hipnótica, o qual exibe várias formas de amnésia infantil.

Por último, fundado em 1960 na Universidade de Harvard, o laboratório de Orne, dedica-se a estudar os fatores motivacionais da hipnose e os diferentes fenômenos hipnóticos como regressão hipnótica, produção de amnésia e hipermnésia. De seus primeiros trabalhos sobre hipnose, a grande maioria versa sobre técnicas de autorregulação hipnótica, de modo a reduzir estresse e fadiga (KIHLSTRON & FRANKEL, 2000).

2.3 Hipnose no Brasil

Do mesmo modo que a hipnose foi introduzida nos círculos médicos mundiais, no Brasil não foi diferente. Na época em que Freud e a Escola de Nancy estudavam-na cientificamente, em solo brasileiro estes estudos receberam o nome de método hipnótico-sugestivo, tal como preconizado por Bernheim. Um dos

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primeiros a documentar e publicar um livro sobre o assunto em terras brasileiras foi Francisco Fajardo (CÂMARA, 2009), onde este afirma que quem trouxe a hipnose à corte brasileira foi o médico Érico Coelho, apresentando à Academia Imperial de Medicina em 1887 estudos sobre a cura do beribéri. Esta foi a primeira vez a se demonstrar o uso da hipnose como ato médico, obtendo aprovação da Academia.

A procura pelas publicações estrangeiras sobre hipnose e suas aplicações práticas despertou um crescente interesse não apenas na classe médica, mas também entre os intelectuais da época, além de provocar inúmeras polêmicas, inclusive com a igreja. O médico Érico Coelho foi injuriado pelo jornal católico “O Apóstolo”, que contestava a prática hipnótica. Em sua defesa saiu um artigo no jornal leigo da época, “O Paiz”, ao qual Érico Coelho dirigiu uma carta de agradecimento, citada abaixo por Câmara (2009):

Amigo Sr. Redator – Acabo de saber, lendo O Paiz, numero [sic] de hoje, que tomastes o trabalho de referir-vos aos impropérios que O Apostolo [sic] se dignou despejar ontem contra mim, a pretexto de vos contestar as virtudes da medicina sugestiva. Relevai, prezado Sr. redator, que eu vos não gabe o gosto e a paciência [...] Entretanto devo dizer que vos fico muito grato, e de mais a mais obrigado me fareis, se acaso conseguirdes indagar da Santa Madre Igreja por que regra a psicoterapia ofende a moral de O

Apostolo [sic], quando é certo que o próprio Padre Eterno (no tempo em que

foi moço) praticou o hipnotismo; haja exemplo a célebre ablação de costela que Adão sofreu durante o sono, tudo segundo reza o versículo, [...] que, apoiado em autor de tão boa nota, acalmeis as iracundas susceptibilidades de O Apostolo. [sic] Caso, porém, não possais ainda assim chama-lo [sic] à razão, o melhor será deixa-lo [sic] em liberdade. (CÂMARA, 2009)

Na atualidade, a produção científica elaborada por estudiosos do tema aqui no Brasil vem crescendo, os quais, embora amparados em estudos por especialistas do mundo inteiro, estão aplicando a hipnose em pacientes e criando um referencial teórico para servir de guia a quem deseja se aprofundar no tema e buscar subsídios para novos trabalhos. Nomes como Antonio Carlos de Moraes Passos, Marlus Vinicius Costa Ferreira, Maurício Neubern, Célia Martins Cortez, Carlos Roberto Oliveira são alguns dos pesquisadores sobre a hipnose em diversas áreas do conhecimento.

A pesquisadora, professora, doutora e psicóloga Yedda Costa dos Reis lançou em 2008 o livro Construindo Caminhos com a Hipnose Terapêutica: Hipnobiodramaturgia. Segundo nota da autora no site da Universidade Federal do

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Rio de Janeiro, Hipnobiodramaturgia refere-se a uma nova abordagem psicoterápica, cujo campo de conhecimento foi aprovado e considerado um precursor, não apenas no Brasil como também no exterior:

A Hipnobiodramaturgia nasceu da integração ou fusão das técnicas de

psicodramaturgia, técnicas da hipnose e do programa Stressless. Os benefícios imediatos trazidos pela nova técnica são uma psicoterapia ao alcance de todos que necessitam de tratamento em curto prazo (REIS, 2009

apud NOGUCHI, 2009).

Em artigo publicado no site da Associação de Hipnose do Estado de São Paulo, o Dr. Joel Priori Maia (2009) considera como melhor denominação para a hipnose hoje praticada é a que chama de Hipnose Contemporânea. Segundo ele, a extensa variedade de teorias e procedimentos que tiveram como foco esclarecer mais pontualmente questões relativas à prática hipnótica fez com que a hipnose aplicada hoje ao campo da ciência apresentasse diferenças em relação ao que ele chama de Hipnose Clássica.

Apresentada no IV Seminário São Paulo - Rio de Janeiro de Hipnose e Medicina Psicossomática, que se realizou em novembro de 1990 na cidade de São Paulo, o tema Hipnose Contemporânea foi debatido em mesa redonda pelos Drs. Álvaro Badra, Antonio Rezende de Castro Monteiro, David Akstein, Joel Priori Maia e José Monteiro. A mesa foi coordenada pelo Prof. Dr. Antonio Carlos de Moraes Passos.

Uma outra abordagem em hipnose é praticada sob a denominação de Hipnose Condicionativa, cujo autor, Luiz Carlos Crozera, defende que esta não se trata de uma junção de outras técnicas, mas sim uma nova elaboração, em que o paciente é passivamente tratado através da hipnose clínica, para tanto se utilizando de um mecanismo de ordens e comandos diretos à mente humana. Nesta nova proposta, não existe a escuta terapêutica, mas apenas a voz do hipnólogo (CROZERA, 2009).

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2.3.1 Cronologia do Hipnotismo no Brasil

Conforme estudos apontados por Fernando Portela Câmara (2009), a hipnose encontrou em solo brasileiro um terreno fértil onde aplicar tais estudos. Abaixo, um resumo cronológico:

1823 – O médico pernambucano João Lopes Cardoso Machado publica Dicionário Médico-Prático – Para Uso dos que Tratam da Saúde pública, Onde Não Há Professores de Medicina.

1853 – Tradução portuguesa do livro de Du Potet, Prática Elementar do Magnetismo.

1857 – O Dr. José Maurício Nunes Garcia, professor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, edita Estudos Sobre a Fotografia Fisiológica.

1861 – Fundada a Sociedade Propaganda do Magnetismo e o Júri Magnético do Rio de Janeiro por D. Pedro II, com pesquisa e tratamento pelo magnetismo animal. 1876 – Publicação do trabalho "Memória Sobre o Fluido Universal ou Éter", onde, entre outras coisas, prefigura a idéia de bioeletrogênese, de autoria de Melo Moraes. Dias da Cruz. Ferreira de Abreu, Gama Lobo e Gonzaga Filho pesquisavam o magnetismo animal e o seu potencial terapêutico, ainda desconhecendo os trabalhos de Braid sobre hipnotismo.

1887 – O Dr. Érico Coelho apresenta um caso de cura de beribéri pela hipnoterapia sugestiva à Academia Imperial de Medicina. Ainda segundo o autor, é a primeira apresentação da psicoterapia à medicina brasileira.

1888 – Francisco de Paula Fajardo Júnior é doutorado em medicina com a dissertação "Hipnotismo" (Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro), Cunha Cruz com a tese "Hipnotismo e Sugestão – Sua Aplicação à Tocologia", e Peixoto de Moura, com a dissertação “Fisiologia Patológica dos Fenômenos Hipnóticos". Na Bahia, Affonso Alves é doutorado com a dissertação "Das Sugestões no Tratamento das Moléstias Psíquicas".

1889 – Publicação do livro de Fajardo baseado na sua tese de doutoramento. Neste mesmo ano é apresentado, juntamente com Alfredo Barcellos, Aureliano Portugal e Érico Coelho, trabalhos sobre hipnose psicoterápica no II Congresso Brasileiro de

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Medicina e Cirurgia, além de também representarem o Brasil os doutores Joaquim Correia de Figueiredo e Siqueira Ramos no I Congresso Internacional de Hipnose Clínica e Terapêutica (8-12 de outubro) em Paris, presidido por Charcot.

1891 – Doutorado Alfredo F. de Magalhães pela Faculdade de Medicina da Bahia com a dissertação "O Hipnotismo e a Sugestão – Aplicações Clínicas".

1892 – José Alves Pereira é doutorado em Medicina pela Faculdade de Medicina da Bahia com a dissertação "Das Sugestões no Tratamento das Moléstias Psíquicas". 1895 – Apresentação da dissertação do Dr. José Alcântara Machado sobre hipnotismo ("Ensino Médico-Legal") para a vaga de lente substituto na cadeira de Medicina Legal e Higiene Pública da Faculdade de Direito de São Paulo.

1896 – Publicação em segunda edição do livro de Fajardo, ampliado e atualizado com o título Tratado de Hipnotismo. A excelência da obra é digna de nota de especialistas na Europa como Charles Richet, Hack Tuke, Azam, Delbouef, Brouardel, Féré, Dujardin-Beaumetz, Babinski, entre outros.

1916 – A Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro premia Carlos de Negreiros Guimarães com a dissertação "Do Conceito Moderno do Hipnotismo em Medicina". 1919 – Medeiros e Albuquerque publica no Brasil o livro O Hipnotismo, prefaciado pelos eminentes médicos Miguel Couto e Juliano Moreira.

1957 - Fundada, no Rio de Janeiro, a Sociedade Brasileira de Hipnose Médica. Das informações relacionadas a seguir, algumas foram obtidas de artigos científicos e estão relacionadas nas referências. As demais foram obtidas a partir do site da Sociedade Brasileira de Hipnose e Hipniatria (2009), o qual também se encontra devidamente referenciado ao final deste trabalho.

1961 – I Congresso Brasileiro de Hipnologia, I Congresso PAN AMERICANO DE HIPNOLOGIA e a II Reunião da Sociedade Internacional de Hipnose Clínica Experimental, no Rio de Janeiro, na Faculdade Nacional de Medicina (ALAKIJA, 1992). Regulamentação da hipnose através do decreto presidencial nº 51.009 de 22/07/1961, proibindo seu uso em espetáculos, clubes, auditórios, palcos, ou estúdios de rádio ou tevê.

1964 – Regulamentação da profissão de Psicólogo e permissão para uso da hipnose através do decreto 53.464, de 21/10/1964.

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1966 – Regulamentação da hipnose em Odontologia pela lei nº 5.081 de 24/08/1966. Conselho Federal de Medicina inclui o emprego da Hipnose no "Código de Ética Médica" no capítulo VI, art. 62, 63 e 64.

1971 – II Congresso Brasileiro de Hipnologia em João Pessoa, PB.

1991 - Fernando Collor revoga o uso terapêutico da hipnose através do decreto º 11 de 19/01/1991.

1999 - Sociedade de Hipnose Médica de São Paulo obtém parecer de aprovação do Conselho Federal de Medicina quanto ao uso do termo Hipniatria.

2000 – CFP (Conselho Federal de Psicologia) aprova e regulamenta o uso da Hipnose como recurso auxiliar de trabalho do Psicólogo através da resolução nº 013/00 em 20 de dezembro.

2004 – 1º Congresso Brasileiro de Psicoterapia Breve e Hipnoterapia é realizado em São Paulo.

2008 – XI Congresso Brasileiro de Hipnologia no Rio de Janeiro. 27º Congresso Internacional de Odontologia de São Paulo discute práticas complementares e integrativas; entre elas a hipnose.*

Através destes esclarecimentos, em que não se teve a pretensão de nomear todos os eventos relacionados à hipnose, buscou-se delinear como esta chegou até o Brasil e os caminhos que seguiu até a atualidade.

* Esta última informação retirada da página da internet do CIOSP – Congresso Internacional de Odontologia de São Paulo.

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3 HIPNOSE E CIÊNCIA

Muito embora o termo hipnose já venha sendo grandemente utilizado na época atual, ainda há quem não consiga traduzir em palavras o que ela realmente significa, seu significado variando conforme seus idealizadores.

Para Sofia Bauer (2002), a hipnose é um estado de consciência diferente do estado de vigília e pode ocorrer no dia-a-dia, quando se está acordado, diferindo, no entanto, de estar simplesmente em vigília, haja vista que nesse processo o foco de atenção se volta para a realidade interna criada pela pessoa.

Sydney J.Van Pelt (1949 apud FERREIRA, 2006) considera que a hipnose nada mais é do que uma superconcentração da mente.

Já para Sarbin (1950 apud PINCHERLE & COL., 1985), o hipnotizado representa um papel, em que este tão-somente obedece às ordens do hipnoterapeuta.

Embora se apresentem diferentes posições quanto à hipnose, Ferreira (2006) pontua que este estado que alguns autores reportam como alterado é de difícil precisão, uma vez que a percepção humana varia de pessoa para pessoa. Então, a definição preferida pelo autor para o que seja estado alterado de consciência é aquele onde há “[...] uma modificação temporária no padrão total da experiência subjetiva, tal que o indivíduo acredita que o seu funcionamento mental é distintamente diferente de certas normas gerais do seu normal estado de consciência de vigília” (TART, 1972; NEWMAN, 1997; LUDWIG, 1966 apud por FERREIRA, 2006, p.55).

Sobre este estado de atenção concentrada, Vale (2006) argumenta que é precisamente este fato que permite à pessoa a reação ao trabalho do hipnoterapeuta ou à auto-hipnose, defendendo, entretanto, a idéia de que

O desconhecimento pleno da mente humana dificulta a conceituação e explicação dos mecanismos através dos quais a hipnose produz seus efeitos. Ao contrário do que parece, durante a sessão hipnótica o encéfalo está em plena atividade. (VALE, 2006, p. 539)

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O estado de vigília, por sua vez, é o oposto do sono, em que a atividade de despertar corresponde à propagação cortical da excitação. Para Pavlov, é pela palavra que os estímulos dos reflexos condicionados são criados, sendo que estas apresentam dois conjuntos de estímulos diferentes: um sonoro, que é o primeiro sistema de sinalização, e um outro conjunto de idéias e imagens, que é o segundo sistema de sinalização, conforme refere Ferreira (2006).

Considerando a evolução da hipnose até os dias atuais, Tortosa, Miguel-Tobal & González-Ordi (1999) referem a existência de uma dicotomia entre os teóricos, embora apontem que os caminhos seguem em direção a um consenso. De um lado os teóricos del estado e os teóricos del no estado, e de outro, a hipnose clínica e a hipnose experimental. Na visão dos autores, a divergência entre as escolas provoca a incongruência e a não-uniformidade entre os dados apresentados pelos diferentes aportes, não obstante a produção científica recente venha aparando arestas rumo a uma convergência entre estas teorias, referindo que a sugestão direta ou indireta se encontra circunscrita aos fenômenos hipnóticos.

Parece existir una tendencia hacia la superación de la clásica controversia entre teóricos del estado y teóricos del no estado, aproximando estas posturas bajo la concepción de La hipnosis como un conjunto de procedimientos que potencian certas capacidades preexistentes em los indivíduos (TORTOSA, MIGUEL-TOBAL & GONZÁLEZ-ORDI,1999, p. 20).

De expressão pouco comum e bastante controversa, a hipnose forense tem sido utilizada para resgatar memórias adormecidas, de modo a intervir na solução de casos legais. Com esta prática, o hipnoterapeuta acessa a mente inconsciente do indivíduo com vistas a recuperar informações importantes acerca de crimes ou criminosos (TIBÉRIO, de MARCO & PETEAN, 2004).

Seguindo por esse viés, cumpre destacar o trabalho elaborado por Sousa (2000) em sua dissertação de mestrado sobre a persuasão, em que o autor não menciona a factibilidade do processo hipnótico. Nele, Sousa dispõe sobre os caminhos que a mente humana elabora para tomar decisões, a certo ponto relacionando a arte da persuasão com a hipnose. Toma ele por base a definição de hipnose aceita pela Comissão da British Medical Association, que em 1959 estabeleceu hipnose como sendo

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[...] um estado passageiro de atenção modificada no sujeito, estado que pode ser produzido por uma outra pessoa e no qual diversos fenômenos podem aparecer espontaneamente ou em resposta a estímulos verbais ou outros. Estes fenómenos [sic] compreendem uma modificação da consciência e da memória, uma susceptibilidade acrescida à sugestão e o aparecimento no sujeito de respostas e ideias que não lhe são familiares no seu estado de espírito habitual (CHERTOK, 1989, apud SOUSA, 2000, p. 140).

Partindo desta premissa, Sousa (2000) pontua a grande semelhança que existe entre os dois processos, pois à exemplo da hipnose, a persuasão também trata de modificar pensamentos e atitudes de outra pessoa a partir de um conteúdo verbalizado, variando em intensidade quanto aos contextos, tipos de relação estabelecida e os efeitos que se deseja produzir. Frisa o autor:

A relação orador/auditório não pode pois [sic] deixar de ser igualmente compreendida à luz da modificação do estado de consciência que nela e por ela se opera, ainda que sem a profundidade que caracteriza a relação hipnotizador/hipnotizado (SOUSA: 2000, p. 141).

No tópico que se segue, contudo, o que se pretende discutir é a hipnose sob o ponto de vista de seus mecanismos fisiológicos, cuja eficácia pode ser explicada a partir de algumas reações físicas observáveis no corpo, quando metabolismos complexos são ativados através do Sistema Nervoso Simpático e Parassimpático (FERREIRA, 2009).

3.1 Neurofisiologia da Hipnose

O corpo humano é um complexo sistema interligado que detém o perfeito controle de suas funções, mantendo o delicado equilíbrio entre todas as suas partes e o meio ambiente. A esse equilíbrio, denominado homeostasia, o fisiologista Walter Cannon chamou de a “sabedoria do corpo” (LENT, 2005), o qual assim permanece por meio do funcionamento do sistema nervoso autônomo (SNA), um conjunto de neurônios localizados na medula e no tronco encefálico, cuja comunicação com o restante dos órgãos e tecidos acontece por meio dos axônios. Segundo o autor, o

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SNA não é um órgão totalmente autônomo, pois suas ações são orientadas através de regiões superiores do SNC - Sistema Nervoso Central.

Ferreira (2006) sustenta que o SNA é o órgão responsável em regular o metabolismo, a temperatura do corpo, os sistemas circulatório, respiratório, endócrino, urinário, genital, cujas funções “[...] não são necessariamente conscientes” (p. 264).

Numa explicação mais resumida e simplificada, Esperidião-Antônio et al (2007) propõem:

Diferentes estímulos (aferências) – térmicos, táteis, visuais, auditivos, olfatórios e de natureza visceral (como alterações da pressão arterial) – chegam a diferentes partes do SNC por vias neuronais envolvendo receptores e nervos periféricos. Respostas (eferências) adequadas a esses mesmos estímulos são programadas em determinadas áreas corticais, as quais incluem desde circuitos simples – envolvendo poucos segmentos – até complexos, exigindo refinamento funcional por parte de cada uma. (ESPERIDIÃO-ANTÔNIO et al, 2007, p.64)

Bastante pertinente, portanto, a analogia de Lent (2006) ao comparar o SNA ao maestro dos órgãos, em que estes, embora saibam tocar sozinhos, precisam de um regente que lhes dêem “[...] o ritmo certo, a afinação adequada, a sincronia de pausas e entradas, a emoção” (p. 475).

Na figura abaixo está representado o modo pelo qual o sistema nervoso se divide:

Fig. 1

Referências

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