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Métodos/técnicas de Hipnoterapia com Hipnose

No documento Torres-Hipnose Pratica Clinica (páginas 58-66)

Na literatura sobre hipnose, cujas publicações científicas são mais restritas, encontra-se na atualidade um referencial teórico elaborado por Ferreira (2006), cujos estudos recentes têm procurado não só revisitar o percurso da hipnose na história humana, mas também destacar seu relevante papel na cura de várias enfermidades de ordem psíquica e física. Por esse motivo, neste trabalho optou-se por fazer uma breve descrição das técnicas de Psicoterapia pela hipnose que o autor aborda, entremeando com algumas técnicas desenvolvidas por Milton Erickson, cujas publicações em extensos trabalhos também em muito contribuíram para elevar a hipnose ao patamar em que hoje se encontra.

Entretanto, cabe salientar que existem divergências quanto ao uso da palavra método e técnica, sendo às vezes utilizada como sinônimos. Outro ponto a destacar está em que, das técnicas/métodos aqui explanados, existem variações conforme seus autores, muitas vezes com uma nomenclatura diferente, porém bastante próximas quanto ao modo de condução dos trabalhos.

Nos estudos reportados por Erickson, Hershman e Secter (2003), encontram-se registrados entre os fenômenos hipnóticos alguns que também foram observados por Ferreira (2006) como técnicas de Hipnoterapia. Entretanto, apenas alguns dos fenômenos apontados pelos autores serão registrados no decorrer do trabalho com os indicativos da respectiva autoria.

Por último, entendeu-se relevante observar a existência de outras técnicas/métodos não mencionadas aqui e que podem variar conforme a formação daquele que a utiliza. Abaixo, são descritas as práticas técnicas de hipnoterapia elaboradas por Ferreira, interpondo-se a visão de outros autores ao tema tratado.

 Dissociação

Através desta técnica, o paciente é induzido à dissociação, que consiste em separar o funcionamento da mente consciente do funcionamento da mente inconsciente, podendo ser aplicada durante as técnicas de Psicoterapia. Normalmente, o primeiro passo está em

[...] dissociar o “Eu” observador, do “Eu” que está experienciando alguma coisa, (b) separar o “Eu”, das partes do corpo para expressar os conteúdos subconscientes, como ocorre na hipnografia, hipnoplastia e na escrita automática e (c) dissociar vários estados do “Eu”, processos e funções, para auxiliar o paciente e reintegrá-los de um modo mais saudável. (FERREIRA, 2006, p. 703)

 Hipnografia

Pela pintura, o individuo revela as dificuldades que possui, pois normalmente estas pessoas possuem limitações quanto ao uso da linguagem como forma de comunicação. O segundo passo nesta técnica é tornar mais fácil ao paciente a capacidade de expressar pela voz o que expressou primeiro pela pintura (FERREIRA, 2006).

Quando Meares (apud GONSALVES, 1989) desenvolveu esta técnica, percebeu que a atenção dos pacientes se obtinha com um simples lápis preto. No entanto, o avanço do trabalho permitiu ver que a pintura preta provou ser mais eficaz do que o lápis.

 Hipnoplastia

Técnica revelada por Raginsky em que o paciente usa a arte plástica para expressar suas dificuldades. Por este procedimento, em estado hipnótico, o paciente é levado a modelar aquilo que seja de sua preferência, usando massa, argila, plasticina ou material similar (FERREIRA, 2006). Watkhins e Barabasz (2007) relatam que Raginsky estimulava uma regressão circunscrita à área de conflito. Para isso, utilizava massas coloridas com a intenção de promover uma regressão específica à área do conflito ou ao nível de desenvolvimento.

 Indução de Sonhos

Através do sonho sugerido ao paciente após o conhecimento detalhado de seu histórico clínico. Uma possibilidade é a sugestão pós-hipnótica, em que o paciente é induzido indiretamente a sonhar na noite seguinte e depois relatar o sonho na sessão terapêutica. Por este método, Ferreira (2006) acredita que haja uma redução na possibilidade de ansiedade. Uma outra possibilidade é a utilização

de auto-hipnose, em que se induz o paciente a sonhar, lembrar os sonhos e compreendê-los, utilizando-se de uma fraseologia adequada. Também se pode optar por sugerir um assunto para o sonho no próprio processo hipnótico. O autor esclarece, entretanto, sobre a habilidade necessária ao hipnoterapeuta quanto à manipulação dos conteúdos dos sonhos, pois nestes existe a possibilidade de mecanismos diversos, como deslocamento (fatos que mudam de lugar), dramatização (encenação), condensação (mistura de fatos), simbolismo (simbolismo conforme o desejo do paciente).

 Escrita automática

Usada em indivíduos com dificuldade para falar, esta técnica usa a escrita para ir à busca de “[...] conflitos ocultos, descobrir talentos latentes, evocar pensamentos primitivos formados na infância e auxiliar o indivíduo a organizar sua personalidade mais eficientemente” (MUHL, 1958, apud FERREIRA, 2006, p. 707). Ainda citando Muhl, Ferreira refere também a utilidade desta técnica para descobrir nomes de pessoas, endereços, acontecimentos, cidades, placas de carro.

Na visão de Pincherle & Colaboradores (1985, p.71-72) escrita automática se coloca como

[...] uma dissociação da personalidade que pode também ser observada em vigília, por exemplos nos rabiscos, desenhos e letras que muitas pessoas escrevem, de forma às vezes inconsciente, em papéis ao lado de um telefone, enquanto conversam e recebem recados.

Entre as características apontadas no estudo de Muhl (1958 apud PINCHERLE & Col, 1985) está a de que na regressão de idade se verificam mudanças também na caligrafia, onde esta apresenta traços conforme a idade do indivíduo no momento da regressão.

Já a visão de Erickson, Hershman & Secter (2003) sobre a escrita automática aponta para a facilitação de o paciente vir a externar conflitos, medos, ansiedades, que o ajudarão na terapia.

 Associação de Idéias

Inicia-se o processo hipnótico pedindo ao paciente que vá falando à medida que as palavras lhe venham, sem critério. O passo seguinte está em o hipnoterapeuta escolher uma série de palavras, cuidando quanto à velocidade, entonação, intensidade e altura da voz, palavras estas que devem ter significação para o paciente. À medida que vai falando cada palavra, dá um tempo para que ele diga logo a seguir o que lhe parece sobre a palavra. Outra variação desta técnica está em associar livremente as palavras-teste com o paciente em vigília e depois fazê-lo repetir sob o efeito da hipnose (FERREIRA, 2006).

 Hipnoterapia analítica

Na hipnoterapia analítica, também chamada de psicoanalítica ou dinâmica, o pensamento retorna à fase pré-verbal, caracterizado como aquele encontrado nas crianças pequenas, tais como pensamento não-lógico, não sequencial, uma volta ao faz-de-conta. Nash (1987 apud FERREIRA, 2006, p. 708) refere uma regressão que se caracteriza por:

a) aumento da disponibilidade de material do processo primitivo do pensamento; b) sensações não usuais do corpo; c) emoções mais espontâneas e intensas; d) tendência a deslocar atributos centrais importantes de outras pessoas para o hipnólogo; e) estar receptivo para as experiências internas e externas.

Segundo o autor, o que acontece então é a concentração num aspecto determinado, em que a consciência do se passa ao redor fica diminuída, considerando-se dois níveis de funcionamento do "Eu”: o participante, que deixa para o hipnoterapeuta as questões referentes à análise e crítica, ou ainda, sob efeito de auto-hipnose libera o controle para o “Eu”. O outro é o “Eu” observador, que apenas observa criticamente o envolvimento do “Eu” participante.

Ferreira (2006) reporta também neste caso a existência da transferência entre paciente e especialista. Esta se refere a um estado já vivido numa fase anterior pelo paciente. Presentemente, ele os revive na relação com o hipnoterapeuta.

Existem relatos de sentimentos como medo ou vergonha do paciente, relativos ao sentimento de querer ignorar impulsos inconscientes ou situações que se encontram reprimidas ou então resistências provocadas pela transferência, que tanto pode ser positiva quanto negativa no que concerne ao especialista.

 Conflito experimental

Utilizando frases adequadamente construídas com o propósito de induzir angústia no paciente, Ferreira (2006) alerta para a necessidade de o profissional usar de extrema habilidade, tanto com a hipnose quanto com a psicoterapia. Este alerta se impõe pelo fato de o hipnoterapeuta trabalhar com material reprimido, exigindo desse modo um perfeito conhecimento do problema relatado pelo paciente.

 Relembrança e Revivificação

Denominada também de terapia de vidas passadas ou vivências passadas, este recurso se origina a partir do desejo do paciente, tendo em vista a inexistência de provas científicas sobre este método (FERREIRA, 2003, 2006). Entretanto, o autor refere esta técnica como um dos modos de se acessar experiências, pensamentos ou sentimentos reprimidos inconscientemente.

Aqui, a regressão tem como objetivo liberar emoções (catarse), recuperar memórias, realçar lembranças conscientes, tornar conscientes outros eventos, agradáveis ou não.

Ferreira (2006) coloca dois modos pelos quais as lembranças podem ser acessadas: relembrança ou revivificação, pontuando que aquilo que se faz sob efeito hipnótico também é possível sem hipnose. Para o autor, estes acessos podem ocorrer naturalmente, como passar por algum lugar que já conhecia, por exemplo.

Assim, ele explica como relembrança quando os acontecimentos dão ao paciente a impressão de se passarem com outra pessoa, frisando que embora não se possa modificar o passado, pode-se, contudo modificar as recordações e as reações do paciente frente a estas lembranças. Morris (apud FERREIRA, 2006, p. 315) diz que “[...] a lembrança de um acontecimento passado é [sic] na verdade, um ato criativo”.

Nesse procedimento, Ferreira coloca que ao terminar lentamente o processo hipnótico, o especialista não dá ao paciente nenhum tipo de sugestão para que ele volte à idade atual.

A revivificação, por outro lado, consiste em o paciente experimentar e reviver outra vez acontecimentos em um tempo passado, observando inclusive o modo de falar, de escrever, característico da época revivida. É uma volta ao passado. Na condução deste processo, a sensibilidade do especialista está em usar habilmente as palavras.

O autor coloca que nesta forma de regressão pode haver uma volta às condutas anteriores, sem que o paciente consiga recordar os fatos acontecidos naquela idade. Outras situações relatadas dão conta de que o paciente: (a) deixa de considerar o hipnólogo na situação regredida; (b) manifesta revivescência de uma idade na qual não entende a linguagem falada; (c) manifesta revivescência de uma idade na qual ele só entendia uma língua estrangeira. Nesta situação, Ferreira (2006) aconselha o estabelecimento de um sinal para a volta do paciente.

Os estudos de Erickson, Hershman & Secter (2003) sobre revivificação indicam que por este caminho o paciente revive experiências do passado, em que ele se habilita ao processo de ver, entender e sentir estas emoções. Entretanto, passa a reconhecê-las enquanto acontecimentos do passado.

 Terapia Cognitivo-comportamental

A hipnose se apresenta como forma de reforço nesta modalidade terapêutica, cujos seguidores entendem que as desordens de origem psicológica são resultado “[...] de respostas aprendidas e mal adaptadas, sustentadas por cognições disfuncionais” (FERREIRA, 2006, p. 710), pois entendem que não existe comprovação a respeito do estado de transe hipnótico. Para eles, a capacidade de imaginação da mente dos pacientes pode ser alcançada sem hipnose. A teoria desenvolvida por Amigó (apud FERREIRA, 2006), a terapia de autorregulação, tem por objetivo expandir a responsividade do paciente ao tratamento. Na hipnoterapia cognitiva do desenvolvimento, estudiosos como Beck e Ellis (Idem) acreditam na alteração de pensamentos distorcidos, crenças desarrazoadas e negativas, partindo- se da busca dessa estrutura de pensamentos para substituí-las por sentimentos positivos durante a sessão hipnótica (FERREIRA, 2006).

A interpretação do autor neste tipo de terapia é que a intervenção do especialista deve buscar o problema que se encontra no inconsciente do paciente e assim utilizar a hipnose para dar solução ao caso. Sua indicação de uso está em casos como a vergonha de falar novas línguas, medo de chegar a uma nova escola, desempenho num novo trabalho, incapacidade de gestão empresarial, dificuldades de relacionamento, para tomada de decisões, descuido com aparência pessoal, vergonha de exigir direitos.

 Técnica Fracionada, "Dentro e Fora” (“In and out”)

Esta técnica começa com a indução hipnótica, colocando-se duas sugestões pós-hipnóticas para acessar rapidamente o estado hipnótico nas consultas subsequentes: uma ao entrar e outra para sair. Isso acontece várias vezes ao longo da mesma consulta, cujo foco central está em avaliar as discussões no estado de vigília (Idem).

 Hipnossíntese

Técnica criada por Cohn (apud FERREIRA, 2006), em que o paciente deve crer na própria capacidade para resolver seus conflitos, mesmo sem orientação do especialista. O procedimento se faz induzindo hipnoticamente o paciente, dizendo que a ele é permitido desfrutar do processo como melhor lhe aprouver, em silêncio ou falando, momento em que o hipnoterapeuta fala ao indivíduo que este é capaz de encontrar em seu próprio inconsciente a solução para os seus problemas (Idem). Alakija (1992) também nomeia esta técnica como modalidade que faz uso da palavra.

 Hipnoterapias com outras designações

A hipnoterapia curativa desenvolvida por Cheek e Lecron (apud FERREIRA, 2006) consiste em usar a hipnose em diversas situações com o uso de metáforas, regressão parcial, sugestões diretas e indiretas, etc. Sua importância aponta para a necessidade de se localizar a fonte das desordens acumuladas no

inconsciente humano, uma vez que acreditam serem estas que criam os sintomas (FERREIRA, 2006).

Muito embora o autor mencione este tipo de prática hipnótica, afirma desconhecer estudos que confirmem sua eficácia, colocando ainda que a sistematização adotada neste processo é bastante semelhante à sequência utilizada nos processos hipnóticos.

A seguir, serão descritas algumas técnicas mencionadas por Erickson, Hershman e Secter (2003) nos trabalhos com hipnose, adaptadas a partir dos seminários ministrados por Milton Erickson nos Estados Unidos a médicos, odontólogos e psicólogos. No prefácio, Zeig menciona como uma das características principais da obra a eficiência da comunicação na prática hipnótica.

 Transe Hipnótico Profundo

Com esta técnica, mantém-se o paciente em transe profundo durante horas ou dias, sendo utilizada em alguns tipos de neurose, azias e gastrites de fundo nervoso, e em alguns casos de tiques de fundo emocional (ERICKSON, HERSHMAN & SECTER, 2003).

 Sugestão Indireta Permitida

Por este método, os autores consideram mais efetiva a prática de hipnose, uma vez que motivam o paciente a participar do processo, despertando uma condição interna no individuo, ao invés de dar ordens diretas. A sugestão indireta diminui a possibilidade de defesa do organismo, em que o hipnoterapeuta vai modulando a voz, operando sugestões de forma a “convidar” o paciente a participar do processo (Idem).

 Sugestão Hipnótica Direta

Também chamada de Hipnoterapia Diretiva por Kline, não é considerada tão eficaz na condução da melhora do paciente, além de provocar resistência principalmente em pacientes com problemas mais acentuados. Os estudos indicam que há a necessidade de se aprofundar o transe hipnótico nesse tipo de trabalho e

tornar claro ao paciente a relação existente entre a finalidade para a qual se está fazendo a hipnose e os seus problemas (Ibidem).

 Estado Hipnótico Catártico

Terapia com orientação psiquiátrica que consiste em diminuir as inibições e repressões do paciente de modo a desbloquear conteúdo emocional (Ibidem).  Hipnoanálise

Neste tipo de intervenção, juntamente com a hipnose são utilizadas técnicas analíticas e são geralmente empregadas em casos psiquiátricos (Ibidem). A contribuição da Psicanálise baseia-se na utilização dos fundamentos teóricos da terapia analítica, em que caberia à hipnose o alívio mais rápido da patologia apresentada (GONSALVES, 1989). Esta modalidade se encontra também referenciada em trabalhos de George Alakija (1992).

No documento Torres-Hipnose Pratica Clinica (páginas 58-66)

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