• Nenhum resultado encontrado

2.4 A RECEPÇÃO DO LEITOR E A FORMAÇÃO PELO LETRAMENTO LITERÁRIO

2.4.1 A ESTÉTICA DA RECEPÇÃO

A Estética da Recepção é uma das vertentes que embasaram a elaboração do produto desta pesquisa, a sequência de leitura. Assim, para a sua aplicação, procuramos compreender os processos vivenciados para a formação do leitor literário e os modos de recepção do leitor em relação ao texto. Destacamos neste tópico a teoria da Estética da Recepção, elaborada por Jauss (1994), e o Método Recepcional, descrito por Bordini e Aguiar (1993).

Em seus escritos, Jauss compreende o leitor como o principal elo na experiência literária. O autor descreve sobre as funções da ação humana na atividade estética evidenciando que “a técnica transparece como Poesis, a comunicação como

Katharsis e a visão de mundo como Aisthesis, isto é, na experiência da arte, que afirma

a autonomia da ação humana, através da história das relações sucessivas de domínio.” (JAUSS, 2011, p. 75). Tais funções fazem parte do processo de recepção do texto e é a

experiência literária do leitor que irá torná-lo autônomo diante da técnica utilizada na criação, que o próprio leitor faz com o texto a partir da sua visão de mundo.

Diante disso, Jauss se aproxima da hermenêutica de um leitor independente, emancipado, pois, para ele, há a necessidade de se considerar a sua recepção original. Sobre esta teoria da recepção que considera o horizonte de expectativa, Compagnon (2010, p.154) apresenta que, para Jauss, se trata de “um conjunto de convenções que constituem a competência de um leitor (ou de uma classe de leitores) num dado momento”. Nesta perspectiva sobre recepção, é preciso preservar a experiência do teor estético para que possamos recuperar o prazer em ler textos literários. Tinoco (2010) afirma que

Para Jauss, o texto se compõe como sistema de combinações (linguísticas, literárias, etc.) e, nesse sistema – organizando-o e inferindo-o, deve haver também um lugar para o leitor-combinador. Esse lugar de combinação é oferecido pelos “vazios” no texto, que assim se apresentam para a devida ocupação de quem o está recebendo. (TINOCO, 2010, p. 25).

Desse modo, cabe ao leitor combinador preencher os espaços que o texto literário oferece no ato da recepção e, por isso, é importante para a experiência estética compreendê-la como processo que pode emancipar o leitor. Para que essa emancipação possa constituir leitores críticos, o Método Recepcional, descrito por Bordini e Aguiar (1993), sugere um caminho possível para que o professor medeie as leituras de seus alunos e eles se tornem leitores efetivamente críticos.

O Método Recepcional é apresentado em cinco passos: 1°- Determinação do

horizonte de expectativas (sondagem do conhecimento e do interesse dos alunos); 2° - Atendimento do horizonte de expectativas (o texto escolhido deve agradar ao gosto e

nível do entendimento dos alunos); 3° - Ruptura do horizonte de expectativas ( a diferença entre os recursos que constituem o texto e os já conhecidos pelos alunos, fazendo com que as certezas que eles possuem sejam estremecidas); 4° -

Questionamento do horizonte de expectativas (comparação das leituras que foram

realizadas anteriormente, fazendo com que o aluno observe quais etapas lhe exigiram mais atenção em sua reflexão); e o 5° - Ampliação do horizonte de expectativas (discussão de um novo texto junto à atividades que aprofundem os conhecimentos que os alunos já adquiriram com a leitura dos textos anteriores). Diante disso, compreendemos que o professor pode e deve encaminhar o aluno à sua formação como leitor literário crítico, não limitando suas capacidades interpretativas.

Em concomitância com o exposto, Bordini e Aguiar (1993, p. 26) afirmam que o contato com o conhecido faz com que o leitor se encontre no texto. No entanto, quando o leitor se depara com o desconhecido, ele conhece novas formas de ver e de se relacionar com o mundo. Assim, as autoras determinam dois princípios básicos que embasam o ensino de literatura: o atendimento aos interesses do leitor e a provocação de novos interesses que lhe agucem o senso crítico e a preservação do caráter lúdico da literatura. Para as autoras, o professor precisa conhecer a obra em sua amplitude para que não direcione a leitura literária apenas para conhecer a estrutura da obra e vida do autor. Sobre isto, Jauss indica que o ensino de literatura “segue a cronologia dos grandes autores e apreciando-os conforme o esquema de vida e obra” (JAUSS, 1994, p.6). Essa metodologia não cativa o leitor e nem o impulsiona a concretizar experiências.

Dessa forma, a experiência com textos literários pode ressignificar os horizontes de expectativa do leitor, pois em uma mesma obra pode haver dois ou mais modos de recepção por meio da releitura. Lima (2002, p. 878) diz que “a experiência da primeira leitura torna-se o horizonte da segunda leitura: aquilo que o leitor assimilou no horizonte progressivo da percepção estética torna-se tematizável no horizonte retrospectivo da interpretação.” Para o autor, a percepção estética está intrinsecamente ligada ao processo histórico, isto é, o horizonte necessita da hermenêutica literária para se constituir. Segundo Jauss, a interação leitor e texto, para a Estética da Recepção, tem como pré-condição observar que ambos estão em horizontes históricos que, muitas vezes, são diferentes e defasados, mas que precisam fundir-se para que ocorra a comunicação. O que Jauss chama de Horizonte de Expectativas incluem as convenções estético-ideológicas que possibilitam a produção/recepção do texto.

Dessa maneira, o Método Recepcional se fundamenta na atitude participativa do aluno com os diferentes textos. Nessa esteira, o professor deve provocar situações de questionamento e ampliação destes horizontes considerando o repertório sociocultural os horizontes dos alunos e a oferta de diferentes leituras que incitem estes estudantes a refletirem.

Conforme essa propositura, Bordini & Aguiar (1993) asseveram que a aplicação do Método Recepcional implica em: 1) Efetuar leituras compreensivas e críticas; 2) Ser receptivo a novos textos e leituras de outrem; 3) Questionar as leituras efetuadas em relação a seu próprio horizonte cultural; 4) Transformar os próprios horizontes de expectativas bem como os do professor, da escola, da comunidade

familiar e social. Assim, a estética da recepção na literatura enfatiza a comparação entre o familiar e o novo, o próximo e o distante, em que o leitor atua como sujeito da história. Zilberman (1989) afirma que

A estética da recepção apresenta-se como uma teoria em que a investigação muda de foco: do texto enquanto estrutura imutável, ele passa para o leitor, o “Terceiro Estado”, conforme Jauss designa, seguidamente marginalizado, porém não menos importante, já que é condição da vitalidade da literatura enquanto instituição social (ZILBERMAN, 1989, p. 10-11).

Portanto, o método recepcional pretende formar um leitor ativo, participativo, contribuindo para a formação de sentidos do texto por meio da oferta de momentos de debates sobre a obra lida, permitindo ao aluno a ampliação de seus horizontes de expectativas. Nessa perspectiva, Rildo Cosson aborda o Letramento Literário compreendendo o processo de apropriação da literatura enquanto construção de sentidos. Na prática pedagógica, este letramento pode ser efetivado em algumas formas distintas. O tópico seguinte aborda a teoria de Cosson (2014) sobre letramento literário e a formação do leitor literário do Ensino Fundamental II.

2.4.2- COMPASSO DO LETRAMENTO LITERÁRIO NO ENSINO