• Nenhum resultado encontrado

Estabelecendo diálogos sobre o hip-hop em Ouro Preto

CAPÍTULO 2 Estabelecendo alguns diálogos sobre o movimento hip-hop

2.3 Estabelecendo diálogos sobre o hip-hop em Ouro Preto

Nossa proposta é a de tecer algumas considerações sobre a relação existente entre o grupo A Rede e o movimento hip-hop em Ouro Preto. Não localizamos nenhum estudo sistemático sobre a história do movimento cultural na cidade, apenas algumas reportagens sobre a realização de alguns eventos.

Portanto, não tivemos a intenção de elaborar um histórico sobre esse movimento em Ouro Preto, mas de apresentar as nossas interpretações sobre os diálogos que tecemos com alguns dos ativistas dessa cultura na cidade, na tentativa de compreender também a visão deles sobre esse universo e sobre o grupo A Rede.

Assim sendo, a subjetividade de ambos, pesquisadora e interlocutores, está presente nessa descrição, deixando para o leitor a possibilidade de realização de outras interpretações plausíveis. Sabemos que todo o processo de interpretação, narração e descrição de algo ou de uma história é apenas uma interpretação sobre fatos socialmente produzidos.

De acordo com os ativistas culturais do grupo A Rede, as primeiras manifestações da cultura hip-hop em Ouro Preto aconteceram nas periferias dessa cidade, alcançando maior destaque no bairro Nossa Senhora da Piedade, datando de meados do ano de 1999 e início do ano 2000. Paralelamente às manifestações culturais do hip-hop aconteciam nos clubes da cidade os chamados “bailes charmes”, também conhecidos em Ouro Preto por SOM 3001, onde os jovens se encontravam nos finais de semana e realizavam as rodas de break, nas quais se destacavam os primeiros b.boys dessa cidade, Fabinho, Edson (Mané) Rubinho, Clodoaldo, Kalunga, Denilson, Walison( Kapenga), mas antes disso, de forma bem tímida, nos bairros, alguns jovens já ensaiavam alguns passos, entre eles destacaram-se: Rubinho, Kalunga, Ácris, e Clodoaldo, servindo de exemplo para a inserção de novos b.boys nos bailes, a saber, Gabriel, Ramon, Mané, Fabinho e Denilson.

Assim como em São Paulo, as primeiras manifestações dos elementos dessa cultura em Ouro Preto aconteceram em torno da dança break. O cenário desse movimento cultural em Belo Horizonte também estabeleceu diálogos com o surgimento do break em Ouro Preto, conforme afirma o jovem Denilson, em diálogo estabelecido com a pesquisadora nesta pesquisa, sobre o surgimento dos primeiros b.boys nesta cidade:

Alguns tiveram contato com algumas expressões da cultura hip-hop em Belo horizonte e em outros lugares. Estes jovens iam a Belo Horizonte, conheciam

47

alguns movimentos na capital, em seguida retornavam à cidade, buscavam locais onde pudessem treinar e, como resultado final desse processo, reproduziam o que aprendiam nos bailes da cidade (Som 3001), assim como nós também fazíamos. (DENILSON, 2014)

Nesse período, surgiram também os primeiros MCs de Ouro Preto, os jovens Biuti, Claudionor e Alex, sendo que o último, assim como o b.boy Denilson, ainda é membro do grupo A Rede, embora não ocupem mais as posições de b.boy e de MC.

A escrita das primeiras letras de rap nas periferias de Ouro Preto estava relacionada ao cotidiano dos bairros e a temática centrava-se no combate ao uso das drogas. Naquela época os jovens se reuniam para “fazer rap”, conforme afirmações do DJ Teko em entrevista nesta pesquisa: “ [..] naquela época a gente fazia rap, a gente fazia porque a gente tinha aquela proposta de tirar o jovem da droga , mas a letra do rap antes, ela não tinha muita informação[...]” (TEKO,2014).

De acordo com o líder do grupo A Rede, inicialmente, no final do ano de 1999, alguns jovens da cidade de Ouro Preto se reuniam e escreviam as letras de rap, porém, as informações de que eles dispunham estavam ligadas à arte de escrever as letras de acordo com as músicas que eles ouviam; ainda não havia uma compreensão de que aquele discurso estava articulado a uma cultura formada por quatro elementos e o rap era um produto desse universo cultural.

Nessa época estavam em evidência os grupos de rap do Distrito Federal e o Evandro MC da cidade de Belo Horizonte e, segundo os jovens Teko e Denilson, foram os que mais se popularizaram em Ouro Preto, tornando referência para os jovens ouropretanos. Entre eles destacamos, “Guind’Art 121”, “Código Penal”, “Câmbio Negro” e o rapper “GOG”. A partir do ano de 2000, o grupo “Racionais MCs”, da cidade de São Paulo, também influenciou na formação cultural do cenário do rap em Ouro Preto, conforme podemos verificar no excerto extraído da fala de um dos precursores desse movimento nessa cidade:

nós começamos a história nossa do hip-hop em Ouro Preto em 99, sem conhecer muito dos ‘Racionais’. A gente já conhecia ‘Guind’Art 121’, a gente já conhecia ‘Código Penal’, né, o GOG, então, mas o Racionais mesmo foi aquele grupo que veio de São Paulo pra cá e tal, no ano 2000 (TEKO, 2014). Outras referências também foram ampliando o conhecimento dos jovens de Ouro Preto sobre os elementos do universo cultural hip-hop, a saber: filmes, revistas e vídeos, mas, de acordo com os jovens, estar longe dos grandes polos culturais tidos como referência dessa cultura dificultou a circulação das informações, porém muitos deles se dirigiam à capital para a compra de artefatos culturais do movimento hip-hop.

48

No ano de 2004 foi promovido em Ouro Preto o primeiro evento que evidenciou a cultura hip-hop nessa cidade: o “Festival RAP”, onde os artistas das periferias puderam cantar para um público maior e alcançar visibilidade nessa cidade; até então, os eventos eram pequenos e aconteciam nas comunidades. Este evento foi proposto pelos artistas dessa cultura nessa cidade e, contou com o patrocínio da prefeitura municipal. O movimento alcançou maior visibilidade nessa cidade, a partir do ano de 2006, com a fundação do grupo A Rede Cultura de Rua. Em setembro do ano de 2007, atendendo às demandas desse grupo, o dia 13 de maio foi nomeado o “Dia Municipal da Cultura hip-hop” em Ouro Preto, conforme pode ser verificado no primeiro anexo desta dissertação, pág. 138. No ano de 2014, atendendo às reivindicações do coletivo A Rede, foi instituída a lei 873/2013, que “define o hip-hop como movimento Cultural de Caráter Popular no Município de Ouro Preto, conforme pode ser verificado no segundo anexo desta dissertação, pág. 139. No capítulo 3 traremos maiores informações sobre o coletivo a Rede, onde apresentaremos o cenário investigativo desta pesquisa.

49

CAPÍTULO 3 – Procedimentos Metodológicos