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Os estabelecimentos agropecuários de Pedro Velho tiveram considerável redução comparativamente nos últimos dois censos agropecuários de 2006 e 2017. Essa redução foi observada em número de estabelecimentos, em 2006 havia 906 estabelecimentos agropecuários e em 2017 foram contabilizados 258.

Essa redução pode ter relação direta à metodologia aplicada no último censo. Já em número de pessoas ocupadas nos estabelecimentos a redução foi ainda maior comparativamente.

Tabela 5 – Pessoas ocupadas em atividades agropecuárias em Pedro Velho no período - Censo agropecuário/2006.

Nº de pessoas ocupadas em atividades agropecuárias Censo 2006

Homens com mais de 14 de idade 3.233

Mulheres com mais de 14 de idade 1.092

Fonte: IBGE/censo agro (2006). Elaboração: E. C. dos Santos.

No censo agropecuário realizado em 2017, nos resultados preliminares divulgados observamos, apesar da metodologia diferenciada, uma brusca redução no número de pessoas ocupadas. A amostra estratificada do censo 2017 estabelece novos critérios, destacando os vínculos de parentesco com o produtor. No Censo Agropecuário 2006, identificada à existência de atividade de criação/ produção agropecuária de pessoal empregado no mesmo estabelecimento, em área sujeita à administração do produtor/proprietário, toda aquela produção foi considerada como parte do estabelecimento, e todos os dados colhidos integraram o único questionário aplicado ao estabelecimento.

Caso tenha sido informado que a administração da referida criação/produção não esteve sob-responsabilidade do produtor, um novo questionário foi aberto para o empregado, como se fosse um novo estabelecimento agropecuário, sendo nele registradas todas as características referentes e seus respectivos quantitativos, aplicando-se todos os parâmetros da pesquisa, e este produtor empregado foi considerado como um “produtor sem área”. Tal procedimento trouxe como consequência o incremento no número de estabelecimentos de produtores sem área em relação aos censos anteriores (IBGE, 2018).

Assim destacamos na tabela a seguir o número de pessoas ocupadas em atividades agropecuárias recenseados em 2017.

Tabela 6 – Pessoas ocupadas em atividades agropecuárias em Pedro Velho - Censo agropecuário/2017.

Nº de pessoas ocupadas em atividades agropecuárias Censo 2017

Homens com mais de 14 anos de idade 430

Homens com menos de 14 anos de idade 21

Mulheres com mais de 14 anos de idade 83

Mulheres com menos de 14 anos de idade 10

-Pessoas sem laços de parentesco com o produtor 598

Total de pessoas ocupadas em estabelecimentos 1.142

Fonte: IBGE (2017). Elaboração: E. C. dos Santos.

Houve uma redução significativa tanto em números de estabelecimentos quanto em número de pessoas ocupadas com as atividades agropecuárias. Esse cenário implica na redução da população que se dedica as atividades agropecuárias, desta forma estes indicadores podem nos direcionar a um entendimento, há fatores que implicam diretamente nesta redução das atividades deste setor. E para tanto, também é importante refletir as circunstancias que rodeiam a realidade dos agricultores familiares da área pesquisada.

Será que apenas a mudança da metodologia utilizada pelo IBGE incidiu nessa redução tão brusca de estabelecimentos agropecuários, ou podemos ampliar essa analise para dar conta de outras questões? Há de fato elementos que apontem para outros fatores que possam ter causado a drástica redução neste cenário?

Os estabelecimentos pesquisados têm área 0,5 a 50 hectares, todas as famílias da primeira geração, ou seja, os pais têm acesso a terra. O uso da terra se dá de várias formas, como, proprietário, posseiro e comodatário. Nesses casos específicos devemos esclarecer a condição de uso das terras exploradas pelos pesquisados, no caso dos que detêm a posse isso se dá em função da falta de registros documentais, as áreas estão sob o domínio da família a gerações, porém pela falta da regulamentação definitiva ainda permanecem como posseiros.

Já no caso dos comodatários está relacionado diretamente pelo consentimento do uso terra sem que haja cobrança por isso, nos casos analisados as áreas pertencem também à família, geralmente aos avôs ou pais, ainda ativos, assim compartilham as mesmas áreas na produção. Os proprietários são aqueles que adquiriram as terras com recursos próprios ou oriundos de programas de regularização fundiária e/ou por herança definitiva dos pais ou conjugues.

No entanto, isso não quer dizer que a problemática do acesso à terra, não se configure, os estabelecimentos são compartilhados por vários membros da família principal e em inúmeros casos por famílias extensas, ou seja, a família principal formada por pais e filhos e agregados que é a extensão dessas a partir do casamento ou união dos filhos.

O que configura a inviabilidade ou exaustão das áreas exploradas sendo necessário arrendar outras áreas para fazer a compensação diante da impossibilidade de trabalhar numa área com espaço restrito. Podemos constatar na tabela abaixo o registro das áreas dos estabelecimentos pesquisados.

Tabela 7 – Área dos estabelecimentos pesquisados.

Tamanho em hectares Frequência %

Abaixo de 2 06 21 De 2 e 5 06 21 De 5 a 10 10 36 De 10 a 20 05 18 De 20 a 50 01 4 Total 28 100

Elaboração: E. C. dos Santos. Fonte: Dados da pesquisa.

Há uma porcentagem maior de pequenas propriedades que variam de menos de 02 a 10 hectares. Essa realidade entre os agricultores familiares é quase inânime em todo o Brasil. Dentre os estabelecimentos pesquisados foi investigada a condição de uso da terra entre os titulares dos estabelecimentos. E constatamos que a maior parte era proprietário, 68%; na condição de

posseiro havia 18% e como comodatários 14%. A origem dos estabelecimentos indica como essas áreas têm sido utilizadas pelas famílias ao longo das gerações. Para tanto buscamos identificar a origem desses estabelecimentos, conforme tabela nº 08, disposta a seguir.

Tabela 8 – Origem dos estabelecimentos agropecuários. Pergunta dirigida aos pais: qual a origem dessa

propriedade?

Frequência %

Adquiriu com recursos próprios 06 21

Herdada e compartilhada pelos herdeiros, pois nunca formalizaram a partilha.

06 21

Herança do conjugue 04 14

Cedida por um parente 04 14

Herdou dos pais 03 11

Herdou dos pais e adquiriu parte com recursos próprios

02 7

Adquiriu através do crédito fundiário 01 4

Adquiriu através da Reforma Agrária 01 4

Herdou dos pais e adquiriu parte através da reforma agrária

01 4

Total 28 100

Fonte: Dados da pesquisa. Elaboração: E. C. dos Santos.

Podemos analisar essa conjuntura por diversas perspectivas. Carneiro destaca que “a transmissão dos direitos sob a propriedade familiar de uma geração a outra é objeto de múltiplas estratégias, que variam de acordo com as condições de cada família” (2001, p. 23).

Assim podemos observar que 21% dos estabelecimentos pesquisados foram herdados e permanecem compartilhados entre os herdeiros, isso se configura como estratégia adotada pelas famílias por dois motivos: manutenção da terra, e a inviabilidade econômica para realizar partilha formal e assim promover a continuidade das atividades agropecuárias. Outro percentual relevante em evidência é os 21% dos estabelecimentos que foram adquiridos com recursos próprios.

A aquisição de terras é parte do projeto econômico familiar o qual concentra os excedentes para este objetivo. Grande parte dos agricultores nordestinos considera as criações de animais de médio e grande porte, ou seja, caprinos/ovinos e bovinos uma unidade de reserva financeira, que no futuro atenderá este fim. Os estabelecimentos com situação de herança definidas utilizada apenas pelo núcleo familiar, ou seja, não compartilhada representam 11% e 14% que têm origem da herança do conjugue. Uma parcela de 7% adquiriu os estabelecimentos através de programas governamentais (crédito fundiário e reforma agrária), e de 4% teve parte do estabelecimento herdado e outra parte adquirida através da reforma agrária.

Ao analisar a origem dos estabelecimentos foi possível perceber que 57% dos estabelecimentos provêm de herança e os mesmos têm sido preservados pela família. Esses dados reforçam a importância do patrimônio material, ou seja, a terra a manutenção das atividades agropecuárias e dos costumes atrelados ao modo de viver no campo.

Sem o acesso a terra, essas atividades tornam-se vulneráveis e a continuidade ameaçada. Porém outros fatores também podem ser determinantes para configurar esta vulnerabilidade, como por exemplo, a falta de água, a falta de assistência técnica e o acesso a mercados.

É oportuna uma análise aprofundada para confirmar essas indagações através dos sujeitos pesquisados que serão detalhados nos próximos tópicos.