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A luta (in) visível dos agricultores familiares pela permanência do ofício de agricultor (a): um estudo no município de Pedro Velho, leste potiguar

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UNIVERSIDADEFEDERALDORIOGRANDEDONORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS URBANOS E REGIONAIS

A LUTA (IN) VISÍVEL DOS AGRICULTORES FAMILIARES PELA PERMANÊNCIA DO OFÍCIO DE AGRICULTOR (A):UM ESTUDO NO MUNICÍPIO

DE PEDRO VELHO, LESTE POTIGUAR.

ELAÍNE CRISTINA DOS SANTOS

NATAL/RN 2019

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CDU 631 RN/UF/BS-CCHLA

1. Agricultura familiar - Dissertação. 2. Atividade agropecuária - Dissertação. 3. Juventude rural - Dissertação. 4. Concentração fundiária - Dissertação. 5. Políticas públicas - Dissertação. I. Knox, Winifred. II. Título.

Santos, Elaíne Cristina dos.

A luta (in) visível dos agricultores familiares pela permanência do ofício de agricultor (a): um estudo no município de Pedro Velho, leste potiguar / Elaíne Cristina dos Santos. - 2019.

125f.: il.

Dissertação (mestrado) - Ciências Humanas, Letras e Artes, Programa de Pós-Graduação em Estudos Urbanos e Regionais, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2019.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Winifred Knox. Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Biblioteca- SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes - CCHLA

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Dedico...

...à luz que guia meus olhos

...ao brilho que conduz meus sonhos ...à força que acelera meus passos ...à alegria que arrebata minha vida ...à saudade que não traz seu abraço ...ao zelo e o carinho que tinhas e tens conosco onde estiver.

...a você, minha mãe, Eliete Maria Costa dos Santos, principal incentivadora dos meus sonhos, capaz de se resignar em prol da alegria dos seus.

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Agradeço a meus pais Luiz Gonzaga dos Santos e Eliete Maria Costa dos Santos, pelo esforço incessante e o incentivo constante em todos os meus projetos de vida. Ainda que limitados pelas dificuldades diárias imprimiram um esforço incondicional para que realizássemos nossos sonhos, e a conclusão desta etapa acadêmica consagra este esforço.

A meu filho Acácio Filho e minhas filhas Ana Clara e Ana Laura pela compreensão diante da ausência na presença, tendo que renunciar a momentos em família, para dedicar longas horas ao estudo. Mas a retribuição pela ausência se refaz no reconhecimento diante destes, considerados minha fonte de inspiração para continuar a jornada acadêmica e na vida.

A meu esposo Acácio Emanuel pelo apoio na construção dessa trajetória acadêmica compartilhada entre nós, de forma recíproca e constante. Ambos lutando por reforçar a vida conjugal, pessoal e profissional.

Aos meus irmãos Júnior, Luiz Carlos, Laelcio, Lenilson, Leonilson e irmãs Elizangela, Eliane, Edilaine e Eloise por dividir as alegrias e as tarefas impostas pela vida, o compartilhamento dos anseios e aspirações tornam os fardos do cotidiano mais leves, e de maneiras distintas cada um (a) deles (as) contribuiu para meu desenvolvimento pessoal.

Às minhas amigas Adriana Juvêncio e Kize Arachelli, pelo apoio incondicional nessa jornada acadêmica.

À minha orientadora Winifred Knox, sempre paciente e compreensiva foi primordial ao desenvolvimento deste trabalho, sua sensibilidade permitiu um direcionamento preciso e dinâmico do objeto de estudo e dos resultados alcançados. Ao Programa de Pós-Graduação em Estudos Urbanos e Regionais – PPUER, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, pela disponibilidade de infraestruturas de material e de recursos humanos.

À Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN.

A todos que fazem e fizeram parte dessa trajetória, o meu agradecimento pelas etapas vencidas e pela participação de todos.

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Às vezes o coração, rasgado pela dor, vira retalho. Recomenda-se, nestes casos, costurá-lo com uma linha chamada recomeço. É o suficiente. Cora Coralina

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RESUMO

A pesquisa foi desenvolvida com objetivo de analisar a problemática da permanência do homem no campo, considerando um estudo de caso realizado no município de Pedro Velho localizado numa região caracterizada pela concentração fundiária histórica movida pela exploração da monocultura da cana-de-açúcar que refletiu no processo de ocupação e formação deste território localizado na mesorregião Leste Potiguar, região Nordeste do Brasil, e teve como principal consequência, graves desigualdades sociais, a expropriação do homem. A problemática em tese expõe as limitações e anseios dos agricultores familiares que tentam permanecer na atividade agropecuária, exercendo o ofício de agricultor(a), neste contexto a amostra da pesquisa analisada corresponde a 11% dos estabelecimentos agropecuários do município, onde foram aplicados 28 questionários fechados para pais e filhos(as), totalizando 56 participantes. Foram estabelecidas categorias de análise, a partir da origem das receitas obtidas para avaliar as estratégias adotadas por estas famílias, para garantir a reprodução social. Nesse recorte foi examinado como as atividades agropecuárias alicerçam a construção e transmissão de saberes no processo sucessório da atividade e de todo patrimônio cultural, específico dos que vivem no campo. Assim as estratégias utilizadas pelas famílias rurais para promover a sucessão deste ofício e a permanência da família no campo apontam para combinação de diversas atividades capazes de promover também a sucessão do patrimônio imaterial. O ofício de agricultor(a) torna-se um canal neste processo, estruturando as aprendizagens do saber fazer agrícola, que se inicia ainda na infância e se consolida na fase adulta. A consolidação do ofício de agricultor(a) e consequentemente, a permanência dos jovens no campo depende de uma infraestrutura que possibilite a produção e geração de receita suficiente para manutenção da família, mas na atual conjuntura as famílias pesquisadas não são capazes por si só, de superar os condicionantes a permanência destes atores no espaço agrário. Há um conjunto de fatores que restringem e fragilizam o desenvolvimento das atividades agropecuárias na área pesquisada, o principal deles, é o acesso à terra. As Políticas Públicas denotam grande influência sobre o desenvolvimento de atividades agropecuárias para as famílias rurais, dada a pouca capacidade financeira dos agricultores familiares para realização de investimentos

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em suas atividades, por isso a intervenção do estado deve ser mais intensa e contínua no atendimento às demandas sociais da população do campo para garantir sua reprodução.

Palavras–chave: Ofício de agricultor (a). Agricultura familiar. Juventude rural. Concentração fundiária. Políticas públicas.

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ABSTRACT

The research was developed with the objective of analyzing the problem of the permanence of man in the field, considering a case study carried out in the municipality of Pedro Velho located in a region characterized by the historical land concentration concentrated by the exploitation of the sugarcane monoculture that reflected in the process of occupation and formation of this territory located in the East Potiguar mesoregion, Northeastern region of Brazil, and had as main consequence, serious social inequalities, the expropriation of man. The thesis presents the limitations and anxieties of family farmers who try to remain in the agricultural activity, exercising the office of farmer (a), in this context the sample of the research analyzed corresponds to 11% of the agricultural establishments of the municipality, where were applied 28 questionnaires closed for parents and children, totaling 56 participants. We establish categories of analysis from the source of the income obtained to evaluate the strategies adopted by these families to guarantee social reproduction. In this clipping, it was examined how agricultural and livestock activities support the construction and transmission of knowledge in the succession process of the activity and of all cultural patrimony, specific to those who live in the countryside. Thus the strategies used by the rural families to promote the succession of this office and the permanence of the family in the field point to a combination of several activities capable of promoting also the succession of intangible heritage. The role of farmer (a) becomes a channel in this process, structuring the learning of agricultural know-how, which begins in childhood and consolidates in adulthood. The consolidation of the farmer's office and, consequently, the permanence of the young people in the field depends on an infrastructure that allows the production and generation of sufficient income for the maintenance of the family, but in the current conjuncture the families researched are not able by themselves, of overcoming the constraints on the permanence of these actors in the agrarian space. There is a set of factors that restrict and weaken the development of agricultural activities in the researched area, the main one being access to land. The Public Policies have a great influence on the development of agricultural activities for rural families, given the small financial capacity of the family farmers to make investments in their activities, so the state intervention must be more intense and continues to meet the social demands of the field population to ensure its reproduction.

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Key-words: Office of farmer(a). Family farming. Rural youth. Land concentration. Public policy.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Estabelecimentos agropecuários com acesso ao Pronaf. ... 28

Tabela 2 – Estabelecimentos agropecuários com acesso a assistência técnica. ... 29

Tabela 3 – Agricultores enquadrados no PRONAF em Pedro Velho. ... 31

Tabela 4 - Estágios cronológicos de aprendizagens agropecuárias... 51

Tabela 5 – Pessoas ocupadas em atividades agropecuárias em Pedro Velho no período - Censo agropecuário/2006. ... 62

Tabela 6 – Pessoas ocupadas em atividades agropecuárias em Pedro Velho - Censo agropecuário/2017. ... 63

Tabela 7 – Área dos estabelecimentos pesquisados. ... 64

Tabela 8 – Origem dos estabelecimentos agropecuários. ... 65

Tabela 9 – Escolaridade dos pais. ... 67

Tabela 10 – Atividades desenvolvidas pelos pais. ... 68

Tabela 11 – Conjuntura dos estabelecimentos agropecuários com origem da receita em atividades agropecuárias ... 70

Tabela 12 – Conjuntura dos estabelecimentos agropecuários com origem da receita em atividades agropecuárias e não agropecuárias. ... 71

Tabela 13 – Conjuntura dos estabelecimentos agropecuários com origem da receita em atividades agropecuárias e aposentadorias. ... 73

Tabela 14 – Conjuntura dos estabelecimentos agropecuários com origem da receita em atividades agropecuárias e Bolsa Família. ... 74

Tabela 15 – População residente urbana e rural entre homens e mulheres nas macrorregiões. ... 81

Tabela 16 – Fatores que limitam a sucessão do ofício de agricultor (a). ... 84

Tabela 17 – Filhos (as) que exercem atividades agropecuárias. ... 85

Tabela 18 – Remuneração dos filhos (as) pelos trabalhos desenvolvidos. ... 88

Tabela 19 – Fatores que influenciariam a sucessão do ofício de agricultor (a) na família. ... 92

Tabela 20 – Representatividade da agricultura para os filhos (as). ... 95

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FOTO 1. Oficina sobre Juventude Rural 55

FOTO 2. Oficina sobre Juventude Rural 55

FOTO 3. Matriarca da família Silva. C. Floresta. 56

FOTO 4. Jovem da família Silva. C. Floresta 56

FOTO 5. Família Fonseca. C. Porteiras 58

FOTO 6. Família Duarte. C. Floresta 58

GRÁFICO 1. – Estabelecimentos agropecuários cadastrados no SICAR 35 GRÁFICO 2 – Serie histórica de taxa de fecundidade no

Brasil,1991, 2000 e 2010. 40

GRÁFICO 3 – Distribuição percentual das famílias únicas e conviventes principais em domicílios particulares, por situação do domicílio, segundo o tipo de

compensação familiar- 2010. 42

GRÁFICO 4 – Séries históricas do nº de estabelecimentos agropecuários do Brasil,

dos censos agropecuários de 1975-2017. 43

GRÁFICO 5 - Serie histórica sobre pessoas ocupadas em estabelecimentos agropecuários ativos, censos agropecuários no período de 1975-2017. 45

GRÁFICO 6 – Escolaridade dos filhos e filhas 76

GRÁFICO 7 Função da agricultura para os (as) filhos (as) solteiros (as) 77 GRÁFICO 8- Função da agricultura para os (as) filhos (as) casados (as) 77 GRÁFICO 9 – Opinião dos (as) filhos solteiros (as) sobre a escolha de 79 GRÁFICO 10 – Opinião dos filhos (as) solteiros (as) sobre a escolha de trabalhar

como agricultor (a). 80

GRÁFICO 11 – Participação dos filhos (as) nas decisões e lucros da atividade 86

GRÁFICO 12 – Destino da produção agropecuária. 90

GRÁFICO 13 – Participação dos jovens nas atividades agropecuárias. 94 GRÁFICO 14 – Para os pais: Relação entre agricultura e as tradições. 99 GRÁFICO 15 – Na perspectiva dos pais: Tradições

que precisam ser preservadas. 100

(13)

GRÁFICO 17 – Na perspectiva dos (as) filhos (as): Tradições que precisam ser

preservadas. 102

GRÁFICO 18 – Programas e políticas públicas acessados nos últimos 106

MAPA 1- Localização de Pedro Velho/RN. 24

MAPA 2 – Localização das comunidades pesquisadas no município de 60

QUADRO 1 – Na perspectiva dos filhos (as):

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LISTA DE SÍMBOLOS E SIGLAS

ACAR – Associação de Crédito Rural

ABCAR – Associação Brasileira de Crédito e Assistência Rural APA – Área de preservação permanente

CAR – Cadastro Ambiental Rural

DAP – Declaração de Aptidão ao PRONAF

EMATER/RN – Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do rio Grande do Norte

EMBRATER – Empresa Brasileira de ATER HA – Hectare

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INSS – Instituto Nacional de Seguro Social

MDA – Ministério do Desenvolvimento Agrário ONU – Organização das Nações Unidas PAA – Programa de Aquisição de Alimentos PB – Paraíba

PE – Pernambuco

PIB – Produto Interno Bruto

PNAE – Programa Nacional de Alimentação Escolar PNCF – Programa Nacional de Crédito Fundiário PNRA – Programa Nacional de Reforma Agrária

PROCERA – Programa de Crédito Especial para a Reforma Agrária PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar RN – Rio Grande do Norte

SICAR – Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 13

2 O LESTE POTIGUAR: A FORMAÇÃO DO TERRITÓRIO E SUAS CONTRADIÇÕES NO ESPAÇO RURAL DE PEDRO VELHO ... 20

2.1 A agropecuária e os recursos hídricos ... 25

2.2 A agricultura familiar, a agroindústria canavieira e o agronegócio: relações antagônicas ... 26

2.2.1 A agricultura familiar ... 26

2.2.2 A agroindústria canavieira e o agronegócio ... 33

2.2.3 As relações antagônicas ... 34

3 A FAMÍLIA RURAL E O OFICIO DE AGRICULTOR (A)... 37

3.1 Famílias rurais ... 41

3.2 “Filho de peixe é peixinho. E filho de agricultor é agricultor?” ... 47

3.3 Um ofício em construção permanente ... 50

4 CAMINHOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS DA PESQUISA ... 53

4.1 Princípios da pesquisa ... 54

4.2 Procedimentos da pesquisa ... 56

4.3 Contexto e sujeitos da pesquisa ... 59

4.4 Os estabelecimentos agropecuários ... 61

4.5 Os pais ... 66

4.6 Os filhos (as) ... 75

4.7 O papel das jovens neste universo ... 81

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES ... 83

5.1 Os pais e as atividades agropecuárias ... 83

5.2 Os filhos (as) e seus projetos de vida ... 93

5.3 O patrimônio imaterial da agricultura: a herança cultural ... 97

5.4 O papel das políticas públicas no processo de permanência dos jovens no campo ...103

6 CONCLUSÕES ...112

(16)

1 INTRODUÇÃO

Vários estudos em Ciências Sociais têm tratado sobre o espaço agrário brasileiro e suas transformações e vêm evidenciando que a transição demográfica, o envelhecimento no campo, o intenso processo migratório, as possibilidades de escolarização no meio urbano, maior integração cidade-campo, a instabilidade econômica nas atividades agropecuárias, a falta de recursos para investimentos em tecnologias necessárias para aperfeiçoar a produção agrícola e a imagem negativa do trabalho no campo, têm gerado o esvaziamento do meio rural.

Nessa mesma direção caminha Carneiro (1998, p.57) e afirma que:

É a partir do desenvolvimento do capitalismo na agricultura concomitante à interiorização das indústrias e à modernização da sociedade urbana e rural que a teoria da urbanização passa a ser formulada, colocando a ênfase na integração dos dois espaços através das trocas cada vez mais intensas entre a sociedade urbano-industrial e as pequenas aldeias rurais. Auxiliado pelo êxodo rural de grande parte da população jovem, atraída pela oferta de trabalho nos centros urbanos, na área dos serviços e nas indústrias em expansão e seduzidos pelos valores urbanos. Esse processo de urbanização do campo se realizaria através da difusão de técnicas e de hábitos de origem urbana que resultaria na perda de distinção entre a cidade e a aldeia.

Para Weisheimer (2005), vislumbra-se um processo de esvaziamento e de crise de reprodução da agricultura dado o número pequeno de jovens que optam por permanecer no campo. Assim a “invisibilidade e a migração, parecem fortalecer-se mutuamente, criando um círculo vicioso em que a falta de perspectivas tira dos jovens o direito de sonhar com um futuro promissor no meio rural” (WEISHEIMER, 2005, p. 8).

Essas mudanças movidas pelo processo de globalização têm intensificado o avanço da urbanização implicando diretamente nas relações sociais e produtivas. Nesse cenário, inúmeros fatores se somam aos processos de produção e vivências estabelecidas no campo. O espaço agrário está longe de ser apenas um lugar destinado à produção de alimentos e para a indústria, novas atividades como a prestação de serviços e outros tipos de atividades não agropecuárias reconfiguram este espaço. E mesmo sofrendo constante e

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intenso processo de transformação, o rural brasileiro ainda abriga demandas históricas, como é o caso da questão agrária no Brasil.

Essa questão ainda afeta drasticamente a vida de inúmeros agricultores familiares, e ao longo da história do Brasil tem sido alvo das demandas sociais, por ainda não ter alcançado o objetivo proposto pelos movimentos sociais, que mantêm em sua pauta reivindicatória a reforma agrária.

Neste sentido, a questão da estrutura agrária no Brasil rural capitalista se mantêm a secular estrutura de produção, extremamente desigual e injusta para com os trabalhadores da terra consolidando uma distância entre os interesses de ricos e pobres. Mattei (2013) nos inspira a examinar a lógica do pensamento de Caio Prado Júnior para compreender a questão agrária no Brasil. Nesse sentido o autor aponta para preservação da pobreza no campo, como forma de manutenção do latifúndio em defesa dos interesses do capitalismo brasileiro.

Trazendo a discussão para atualidade, a reforma agrária tem sido mantida apenas nas pautas reivindicatórias dos movimentos sociais. O agronegócio atualmente demanda grandes volumes de investimentos públicos justificado nos índices de desenvolvimento expostos pelos governos, e deste modo, a reforma agrária não se justificaria em função do incremento da produtividade da agricultura empresarial.

Busca-se ressignificar esses obstáculos ainda não superados da questão agrária e compreender os elementos imbricados nas demandas sociais do campo, marcadas pelas lutas de uma classe marginalizada, sem direitos, muitas vezes disfarçada pela “inércia intencional do estado”, ora movida pela repressão, ora pela legislação, com vistas a atender os interesses da classe dominante voltada à defesa do capital.

Nesse aspecto, opta-se por perpetuar a pobreza no campo contingenciando investimentos aos que produzem pouco se comparado à monocultura do agronegócio, e inversamente proporcional investir para incrementar a produtividade de commodities para exportação, seguindo a lógica do capital. É a justificativa para dar continuidade à desigualdade social entre ricos e pobres, preservando os laços históricos de super exploração entre classes sociais. Nesse sentido buscamos em âmbito local perceber os aspectos que se voltam para essa questão considerando como lócus da

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pesquisa um município localizado na região com forte concentração fundiária do estado do Rio Grande do Norte (RN), realidade descrita por Amon-Há (2012). Nesse sentido tratamos a questão agrária de modo geral e particularmente do Leste Potiguar como pano de fundo para evidenciar como essa problemática exerce influencia direta sob a atual conjuntura socioeconômica na área pesquisada.

A pesquisa foi desenvolvida na mesorregião do Leste Potiguar, especificamente no Município de Pedro Velho, estado do RN, região nordeste do Brasil. O objetivo dessa pesquisa é investigar as dinâmicas, desafios e perspectivas da sucessão do ofício de agricultor (a) para a juventude rural do município de Pedro Velho/RN. Como objetivos específicos, estabelecemos: a) Reconhecer se há fatores presentes no processo de ocupação e formação do território pesquisado que têm favorecido o abandono das atividades agrícolas; b) Identificar se a permanência do jovem no campo e o desenvolvimento das atividades agropecuárias estão alicerçadas na transmissão de saberes construídos intergeracionalmente; c) Investigar a importância dada à função social do ofício de agricultor pelas famílias, identificando se há valorização ou não do ofício de agricultor nessa relação intrafamiliar e como se dá essa projeção para os filhos; d) Analisar as estratégias adotadas pelas famílias pesquisadas para manutenção do ofício agrícola, e; e) Estabelecer relações entre os níveis de acesso à políticas públicas destinadas ao incentivo do desenvolvimento das atividades agropecuárias e a permanência da juventude no campo, identificar como estas impactam no processo de transmissão do ofício.

Com base nos fatores que limitam essa atividade, se pretendem conhecer a realidade e as dinâmicas que se constituem nesse universo tomando como objeto de estudo os agricultores familiares ativos em 11% dos estabelecimentos agropecuários recenseados no último censo agropecuário em 2017, para o município estudado.

Nossa trajetória de pesquisa foi construída a partir da constatação empírica da problemática em xeque a partir das atividades funcionais na área de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) como servidora de carreira do Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Norte (EMATER-RN).

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A ATER é desafiada frente ao desmonte do Estado, a partir da década de 1990. Mesmo com a retomada desse serviço público, vivenciada entre os anos de 2003 e 2015, a atual crise política e econômica vem demandando novas formas de reconfiguração do trabalho e da produção, na dinâmica do associativismo/cooperativismo rural e na inserção nos novos mercados. Aliadas a essa reconfiguração, ainda se impõem as questões sociais e culturais, tais como a dificuldade de acesso à educação básica e as desigualdades sociais inerentes a questões de gênero, geração e etnias, que implicam e são implicadas no processo de desenvolvimento das populações camponesas. Segundo Caporal e Costabeber (2007), o serviço de ATER se iniciou no Brasil nas décadas de 1950 e 1960 com a ABCAR (Associação Brasileira de Crédito e Assistência Rural).

No estado de Minas Gerais, no ano de 1948, foi criada a Associação de Crédito Rural (ACAR), com experiência exitosa que resultou na instituição da Empresa Brasileira de ATER (EMBRATER) como empresa pública. Embora consolidada constitucionalmente pela promulgação da Constituição Federal de 1988, no ano de 1990, durante o governo Collor, a EMBRATER é extinta, mediante a política neoliberal, transferindo, assim, a responsabilidade da prestação dos serviços de ATER para os estados e municípios e desarticulando o sistema nacional antes criado. É importante ressaltar que, nesse ínterim, o serviço de ATER privado cresce exponencialmente e, em 1996, é criado o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF).

Os movimentos sociais e sindicais do campo acirram reivindicações pelo direito a ATER pública, gratuita e de qualidade, até que, fugindo da obsolescência, a partir de 2003, com a criação do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), o governo federal de viés popular incorpora a ATER como plano prioritário de ação, com regulação e fomento. Trazendo para

esse viés da discussão as questões sobre o papel

do extensionista, ressaltamos que, historicamente, ele desempenhou sua prática como mero executor de políticas governamentais, tecendo, dentro de sua ação, relações verticais para o repasse de conhecimento técnico, como mero reprodutor de conhecimento, o que, para alguns estudiosos, foi alvo de críticas.

(20)

Como Freire (1983) destaca, não é possível fazer capacitação técnica sem a troca dialógica com aquele que será capacitado, tampouco como um mero e exclusivo instrumento de aumento da produção, embora seja, sem sombra de dúvida, indispensável. Ele assevera que nesses tipos de relações estruturais, rígidas e verticais, não há lugar realmente para o diálogo. Com essas características, as relações de extensionismo construídas com os camponeses têm se constituído historicamente como uma relação de subordinação que ele denomina de consciência oprimida.

Em grande parte, esses sujeitos deixam os camponeses inseguros de si mesmos, ao não perceberem o direito de terem uma orientação técnica, muito menos de contradizerem o instrutor, imaginando que apenas possuem o dever de escutar e obedecer. “Em um extencionismo com características horizontais, espera-se, ao contrário da consciência oprimida, uma experiência dialógica e uma participação ativa e afirmativa que resulte em uma consciência de si libertadora” (FREIRE, 1983, p. 32).

Porém, em relação ao extencionista rural, como esse profissional da extensão rural pública, normalmente pago pelo Estado, pode transcender o caráter de mero executor de políticas governamentais e tecer sua própria prática buscando dinamizar as relações dentro de uma dialética, na construção de relações horizontais? Refletindo nesse sentido, constatamos que Caporal (1991) destaca que os extensionistas, ao assumirem a função de agentes do Estado, vivenciam uma pressão por produtividade segundo um modelo de políticas públicas no estilo top-down e, assim, são empurrados para uma posição de meros executores.

No entanto, em função do saber que carrega e pretende repassar, como mediador da atividade junto ao público, as contradições originadas desse modelo se evidenciam na prática, seja porque o modelo produtivista não consegue atingir plenamente os objetivos propostos, seja porque não consegue fazer o despertar da consciência participativa presente e atuante na construção da história dos sujeitos camponeses, que produzem e também são produzidos por essa mesma história.

Assim, diante de um cenário repleto de imposições econômicas e sociais ao desenvolvimento das atividades agropecuárias, desenvolvemos

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nossa problemática de pesquisa sobre a permanência ou saída dos jovens do campo e as dinâmicas presentes neste processo.

Quanto à metodologia, a pesquisa se configura como qualitativa e quantitativa, tendo como alicerce os fundamentos do estudo de caso. A investigação qualitativa, de origem fenomenológica, compreende valores, crenças, hábitos, atitudes, representações, conceitos e imprime o aprofundamento da complexidade nas relações humanas. Realizamos 03 momentos em comunidades rurais para aprofundarmos as questões relacionadas às vivências dos jovens no campo. Está etapa compreendeu a realização de entrevistas semi-estruturadas e oficinas temáticas com objetivo de conhecer o universo vivenciado pelas famílias pesquisadas, a partir da coleta de dados, reformulamos os questionários com questões especificas para atender as hipóteses levantadas. .

O percurso metodológico está circunscrito pelas etapas: 1) pesquisa bibliográfica e documental para composição do referencial teórico e legislacional alusivo à problemática; 2) pesquisa de campo, através da aplicação de questionário com perguntas fechadas pré-estabelecidas, na qual foi realizado o levantamento de perfil socioeconômico, perspectivas e desafios na visão dos jovens do município; 3) Análise dos dados produzidos durante a pesquisa de campo.

Buscou-se caracterizar as famílias rurais a partir da construção de um perfil referente às expectativas, gostos, saberes, práticas, capacidades, e o acesso a políticas públicas, elementos que foram coletados através da aplicação de questionários fechados com questões de múltiplas escolhas. Participaram da pesquisa 28 pais e ou, mães, e 28 filhos (as), totalizando 56 participantes. Deste modo, construímos o perfil socioeconômico, dimensionamos as perspectivas e desafios dessas famílias que desenvolvem as atividades agropecuárias e residem no município de Pedro Velho.

Este estudo está estruturado em quatro capítulos, além das notas introdutórias e as conclusivas que tratam especificamente sobre: i) O Leste Potiguar: a formação do território e suas contradições no espaço rural de Pedro Velho; ii) A família rural e o ofício de agricultor (a); iii) Caminhos teórico-metodológicos da pesquisa, e; iv) Resultados e discussões.

(22)

No primeiro capítulo trataremos sobre a formação e ocupação do município de Pedro Velho e as relações sociais desenvolvidas a partir do processo que gerou desigualdades sociais e que se refletem contemporaneamente nos fatores que tornam a agricultura uma atividade de continuidade comprometida.

No segundo capítulo ponderamos aspectos sobre as famílias rurais e a construção do ofício de agricultor ancorada no habitus, no desenvolvimento de atividades diárias constituídas no saber fazer agrícola que são construídos e transmitidos num processo de aprendizagem intrafamiliar e as discussões teóricas que fundamentam essa temática.

No terceiro capítulo examinam-se os caminhos metodológicos da pesquisa, os procedimentos adotados para alcançar os objetivos propostos, além de traçar o perfil e descrição do contexto da pesquisa.

No quarto capítulo analisam-se os resultados obtidos na coleta de dados confrontando as principais questões traçadas para compreender a problemática central da pesquisa e seus desdobramentos e finalizamos o estudo através das notas conclusivas e sugestivas para a realidade descrita na temática analisada.

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2 O LESTE POTIGUAR: A FORMAÇÃO DO TERRITÓRIO E SUAS CONTRADIÇÕES NO ESPAÇO RURAL DE PEDRO VELHO

O objetivo deste capítulo é analisar a ocupação e formação do território no espaço rural de Pedro Velho considerando as contradições presentes nas relações socioeconômicas desenvolvidas no lugar. Buscam-se elementos para compreender as relações sociais que se estabelecerão com a terra neste espaço e que se refletem na vida dos agricultores familiares, aqueles que têm na agricultura a base de sua manutenção. Certamente neste espaço a própria história explica as relações sociais que estão imbricadas no processo de formação do município, empreendido na região com intensa concentração fundiária do estado.

Como nosso objetivo central é investigar as dinâmicas e desafios presentes na transmissão do ofício de agricultor (a), é necessário elencar fatos históricos que possam nos dirigir ao entendimento dessas relações desenvolvidas do homem com a terra, e com o lugar. Como esse processo de ocupação e formação do território se projeta na edificação ou limitação deste ofício?

A ocupação do espaço geográfico do Rio Grande do Norte se deu por volta do século XVI iniciada no lugar onde hoje se localiza a capital Natal, e a população indígena (índios Potiguares) povoava o litoral, desenvolviam atividades extrativistas, caça, pesca e coleta, totalmente adaptados ao ambiente natural.

A ocupação do território foi empreendida através da doação de Sesmaria, lote de terra que os reis de Portugal cediam para o cultivo, após um longo período o sistema de Sesmaria deixou de prevalecer e foi modificado, após 1822, perdurou a posse (GALVÃO NETO, 2004). Ocorreram disputas e conflitos pelas áreas consideradas propícias ao desenvolvimento de culturas agrícolas. As condições edafoclimáticas favoráveis ao desenvolvimento de culturas como a cana-de-açúcar em expansão pelo Nordeste brasileiro, nos estados de Pernambuco e Paraíba, despertaram o interesse pela ocupação e exploração do lugar onde se estabeleceu o Engenho Cunhaú, comandado por um grupo familiar, a família Albuquerque Maranhão.

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Estes aspectos foram enfatizados por Galvão Neto (2004, 1999, p.41) que destacou o poder político e econômico dos Albuquerque Maranhão:

Essa família, aparentemente, monopolizou a distribuição de terras num vale muito importante da capitania. As sesmarias que não foram doadas por Jerônimo de Albuquerque correspondem a 8.440 hectares, dois terços da que deu a seus filhos. Entre 1600 e 1633, foram distribuídas nove sesmarias no vale do Cunhaú. Dessas, apenas duas não foram concedidas por Jerônimo de Albuquerque: a número 22 e a de número 1812. A primeira foi concedida por João Rodrigues Colaço, em abril de 1601, a um religioso, o padre Gaspar Gonçalves da Rocha, e ocupava 1200 braças a partir da foz do rio Curimataú (BARRETO, 1985, 33). Quando dessa doação observa-se a ausência de Jerônimo de Albuquerque na capitania. Estava ele fora da colônia, entre Lisboa e Madrid, desde 1599. Partiu logo após a conquista que ajudou a fazer e só voltou, em 1603, com a patente para governá-la

Essas foram às primeiras experiências de povoação da microrregião do Litoral Sul, mesorregião leste do estado, bem como de exploração agrícola da monocultura da cana-de-açúcar, e percebemos que as maiores e melhores terras ficaram de posse de uma única família. Perdurou a exploração da mão de obra escrava e mais tarde de posseiros e moradores dos engenhos.

Como descreve Verçoza (2018) no estudo desenvolvido sobre os trabalhadores dos canaviais alagoanos ao longo da história, retratando a realidade dos moradores dos engenhos no final do século XIX, as dificuldades a vida sofrida da exploração da mão de obra do camponês. Para isso o autor trabalha a reconstrução de memórias para mapear a rotina dos engenhos da época. Ainda conforme Garcia Jr.(1988, p. 10; apud VERÇOZA, 2018 p. 81):

[...] os moradores tinham obrigações de trabalhos precisas. Nos engenhos o mais comum era a obrigação de [sic] trabalhar ao proprietário cinco dias por semana durante a estação seca, quando a cana é cortada e se processa a moagem, e três dias durante a estação úmida, época que são plantados os cultivos de subsistência, mas, quando o canavial exige menos trabalho. Estes dias de trabalho ao patrão eram remunerados a dinheiro, a taxas inferiores pagas aos não moradores para tarefas idênticas.

Essa rotina que se estabelecia nos canaviais alagoanos certamente, se propagava em outras regiões como nos engenhos do Leste Potiguar. Os senhores de engenho detinham o poder econômico e eram conhecidos pelo emprego da força física nas relações de dominação.

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Desta forma a família Albuquerque Maranhão detentora de poder e privilégios políticos por certo também adotaram sistema similar ao descrito, num contexto que predominava a força e hegemonia dos mais abastados economicamente sobre os pobres.

A busca por relatos que nos conduza a esclarecer como se deu a ocupação da mesorregião Leste Potiguar e microrregião do Litoral Sul, nos leva a um ponto de origem que seria o vale do Cunhaú e a própria família Albuquerque Maranhão para alargamento das fronteiras deste lugar até o povoamento da Vila de Cuitezeiras, atualmente emancipada e denominada município de Pedro Velho, lócus da pesquisa. Em pesquisa desenvolvida por Fonseca (2006, p. 41) apoiado na reconstrução de memórias aponta para origem de Pedro Velho:

As evidências levam a crer que os habitantes de Pedro Velho partilham uma memória do lugar, que os liga à construção histórica do Engenho Cunhaú e à influência política, econômica e social dos Albuquerque Maranhão no Estado do Rio Grande do Norte. Cientes de tal fato chegam a afirmar que não existiria essa cidade se o Engenho Cunhaú ali não se encontrasse.

A Vila de Cuitezeiras fundada em 1861 e chefiada por Senhor José Paulo Tamatanduba (intendente) do Sítio Tamatanduba. Segundo Moreira (2002), nesta época o intendente era nomeado pelo governador da província. O povoado era parada obrigatória para comboios carregados de mercadorias como: açúcar, algodão e farinha. A agricultura torna-se o principal expoente econômico, no atual município. Como confirma Fonseca (2006, p.69):

Cuitezeiras foi fundada no ano de 1861, vinculada à cidade de Canguaretama como Carnaúba e Cuité pertencem a Pedro Velho hoje, seu primeiro chefe de intendência foi o senhor José Paulo Tamatanduba do sítio Tamatanduba. O povoado foi fundado por uma família, os Afonso que ergueram nesse lugar em 1862 a capela de Santa Rita que iniciou as práticas religiosas locais. Em 1890 Cuitezeiras se desmembrou de Canguaretama e após 11 anos o rio Curimataú, com suas cheias, invadiu a cidade levando a metade do lugarejo e seus moradores com medo de novas enchentes procuraram um lugar mais alto para construírem suas moradias. A palavra Cuitezeiras é porque tinha muitos pés de Cuité. Era um lugarejo que tinha dois descaroçadores de algodão, dois engenhos de açúcar, muitas lojas (vendas e mercearias) e muita gente, aqui onde era a cidade de Pedro Velho era mato, nada existia.

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O setor primário era o grande gerador de divisas na regional, Faustino (2013) alega que o setor secundário da economia, era menos expressivo do que o primário, mas, mesmo assim, esteve presente na economia do município de Pedro Velho. Visto que já no início do século XVII surgia uma descaroçadeira de algodão que pertencia primordialmente ao senhor Aristarco Galvão de Freitas, que era de pequeno porte, mas possuía uma infraestrutura que atendia os fins do beneficiamento do algodão.

A agricultura tinha na produção do algodão e da cana-de-açúcar, dois produtos que estimulavam a economia da época. Fonseca (2006) destaca que “a agricultura e a pecuária impulsionaram a economia da região e nessas atividades destacaram-se produtos como o algodão, no agreste, e a cana-de-açúcar, no litoral” (FONSECA, 2006, p.43). A produção de algodão entrou em colapso no município assim como em toda a região Nordeste. Já a cana-de-açúcar se consolidou no litoral brasileiro e se expandiu para outras regiões. Após 29 anos de sua fundação a Vila Cuitezeiras ganha status de município a partir de 1890 como destaca Fonseca (2006) “oficialmente no ano de 1890 pelo artigo 1º da Lei Orgânica de 03 de abril de 1890, que o estabeleceu como institucional independente e básica da Federação, com garantia de decência aos seus moradores”.

Após uma grande enchente no início do século XIX, os moradores foram obrigados a se deslocarem para as partes mais altas e seguras do município, constituindo uma nova sede, a partir destas modificações estruturais, o município passa a se chamar “Vila Nova”, e em 1908, o topônimo oficial muda e passa a se chamar Pedro Velho em homenagem a um descendente da família Albuquerque Maranhão. Ao longo dos anos o município sofreu muitas modificações em sua estrutura política, social e econômica. Assim como muitos municípios do interior do Brasil tem baixa dinâmica econômica, mesmo localizando-se próximo ao litoral, numa faixa próximo a duas capitais, Natal e João Pessoa/PB, o que poderia favorecer o escoamento da produção agrícola, dentre outras atividades. O município ainda preserva os aspectos do rural, mesmo na sede do município onde essas distinções entre rural e urbano se encontram e se conectam. A economia local é aquecida pelos recursos de transferências sociais, como aposentadorias, programas sociais de

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transferência de receita, proventos do funcionalismo público e pelas atividades do setor primário.

O mapa 1 destaca a localização do município englobado na mesorregião Leste Potiguar.

Mapa 1- Localização de Pedro Velho/RN.

Elaboração: Joselito da Silveira Junior. Fonte: IBGE.

Atualmente o referido município tem população estimada de 14.844 habitantes (IBGE, 2016), desse total, aproximadamente 7.248 residem na zona urbana e 6.866, na zona rural, com valores de rendimentos nominais médios mensais, em domicílios particulares permanentes, o rendimento domiciliar rural de R$ 770,07 (setecentos e setenta reais e sete centavos), bem como valores de rendimentos nominais médios mensais dos domicílios particulares permanentes com rendimentos domiciliares urbanos em R$ 1.233,38 (um mil duzentos e trinta e três e trinta e oito reais), o que significa dizer que aqueles ocupados em áreas consideradas do perímetro urbano de Pedro Velho, embora possam residir em área rural, apresentam rendimentos maiores (por volta de R$ 463 reais) do que os recebidos em trabalhos na área rural.

Pedro Velho ainda preserva características do rural precário, com graves problemas sociais que se agravam pela falta de investimentos públicos que poderiam possibilitar avanços na área de educação, saúde, transporte e na

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infraestrutura rural e urbana deste município. Entretanto, como o campo sempre foi um espaço relegado ao atraso certamente neste município essa realidade também se repete.

2.1 A agropecuária e os recursos hídricos

A produção agrícola do município é composta pelo cultivo de feijão, milho, castanha de caju, batata-doce, coco, fruticultura irrigada, macaxeira, jerimum e hortaliças em geral. A agricultura familiar explora intensamente o cultivo de feijão-verde (variedade macáçar). A agroindústria canavieira tem destaque desde a ocupação e formação do lugar como relatado anteriormente, historicamente tem sido cultivada a monocultura da cana-de-açúcar foi disseminada em todo litoral nordestino e em parte da região Sudeste. Exercendo forte influência econômica, social e ambiente no município.

Os recursos hídricos favorecem o desenvolvimento da agricultura irrigada através da exploração das bacias hidrográficas dos Rios Pirarí, Rio Curimataú, Rio Piquirí e diversos afluentes que cortam todo o município. Porém há necessidade de um melhor acompanhamento dessas atividades, para promover uma boa gestão dos recursos hídricos, pois há um avanço das áreas de exploração da carcinicultura (criação de camarão em água doce) no município, e essa atividade tem provocado impactos através da construção de tanques e desvios dos cursos naturais da água que poderá suscitar além de danos ambientais por falta de infraestrutura necessária ao tratamento dos efluentes gerados, o deficit hídrico. Esse contexto que poderá num futuro muito próximo impactar o setor primário e a economia local.

Os estabelecimentos agropecuários do município em sua maioria são áreas pequenas voltadas o trabalho familiar. Muitas dessas áreas pertencem às mesmas famílias há gerações. Para os que não possuem acesso à terra, o uso da terra se dá através de sistemas de arrendamentos, parcerias, meeiros, comodatos e etc. As maiores e melhores propriedades pertencem a produtores rurais da região e estabelecidos em outros estados como Pernambuco - PE, Paraíba – PB e às usinas canavieiras situadas em municípios vizinhos.

Além de outras atividades agropecuárias desenvolvidas pela agricultura familiar, a produção de cana-de-açúcar é uma das atividades amplamente

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difundidas em todo o território do município, e o agronegócio tem avançado na criação da bovinocultura de corte. Para melhor explorar as relações que se entrelaçam nesse universo que envolve a agricultura familiar, a agroindústria canavieira e o agronegócio, será abordada essa problemática no próximo tópico.

2.2 A agricultura familiar, a agroindústria canavieira e o agronegócio: relações antagônicas

Neste tópico objetiva-se confrontar abordagens teóricas sobre três categorias relevantes no espaço rural brasileiro: A agricultura família; a agroindústria canavieira e; o agronegócio. A soma dessas categorias na ocupação de um mesmo território é propício a convergência de relações antagônicas, considerando que ambas exercem forças diferentes sobre o espaço e na produção de relações sociais, econômicas e políticas.

2.2.1 A agricultura familiar

Nas últimas décadas, houve avanços significativos na chamada agricultura familiar. O principal deles diz respeito à importância da admirável variedade econômica e diversidade social dessa categoria, composta por indivíduos que utilizam a terra sob as condições mais diversas (proprietários, posseiros, meeiros, arrendatários etc.) e desempenham as atividades agropecuárias utilizando principalmente a mão de obra familiar, produzindo alimentos para o autoconsumo e para comercialização no mercado interno principalmente, ocupando o meio rural em comunidades, sítios, povoados e etc. A construção política e histórica do agricultor familiar se dá também no sentido deste ator social ter sido institucionalmente reconhecido e legalmente regulamentado. O debate sobre a definição da categoria agricultor familiar é notadamente recente, havendo um processo de reconhecimento que se deflagra na década de 1990, pós- redemocratização do país. Porém inúmeras batalhas foram travadas ao longo dessa trajetória, que fez da luta camponesa um divisor de águas para efetivação desse processo.

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Algumas políticas públicas tiveram participação efetiva para fortalecer esse processo, como afirma Grisa et al. (2014, p.323-346):

Criado em 1995, o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) marca o reconhecimento do Estado brasileiro à agricultura familiar. De programas regionais que pouco reconheciam a importância econômica da categoria social – tratados historicamente como produtores de subsistência, pequenos agricultores ou produtores de baixa receita –, os agricultores familiares passaram a dispor de uma política nacional destinada exclusivamente para eles. Como afirmaram Schneider, Gazella e Mattei (2004, p. 23), “o programa nasceu com a finalidade de prover crédito agrícola e apoio institucional aos pequenos produtores rurais que vinham sendo alijados das políticas públicas até então existentes e encontravam sérias dificuldades de se manter no campo”.

A agricultura familiar é atualmente o setor do segmento rural majoritário em quantidade de estabelecimentos rurais e que se caracteriza pelo predomínio da força de trabalho familiar, reforçando sua importância para a economia do país, de modo geral. Assim como advoga Abramovay (1992):

O peso da produção familiar na agricultura faz dela hoje um setor único no capitalismo contemporâneo: não há atividade econômica em que o trabalho e a gestão se estruturem-se tão fortemente em torno de vínculos de parentesco e onde a participação de mão-de-obra não contratada seja tão importante (ABRAMOVAY, 1992, apud OLIVEIRA, 2016, p.114).

A mão de obra família possibilita o fortalecimento das atividades produtivas para as famílias rurais. Estrategicamente evita dispêndio de recursos monetários, o que gera incremento na receita familiar e tem um maior controle na gestão das atividades. Nessa perspectiva a agricultura familiar é a categoria social do campo com maior uso de mão de obra com vínculos de parentesco e também em número de estabelecimentos agropecuários.

Como afirmam Schneider e Cassol (2014, p. 227-263, 2014):

Os dados do último Censo Agropecuário do IBGE (levantados em 2007, tendo o ano base 2006) mostraram que o Brasil possuía em 2006 um total de 5.175.489 estabelecimentos agropecuários, dos quais 4.367.902 poderiam ser classificados como de agricultores familiares. Isso significa que a agricultura familiar representava, em 2006, 84% do total dos estabelecimentos agropecuários brasileiros e ocupava uma área de pouco mais de 80,3 milhões de hectares, o que representava 24,3% da área total dos estabelecimentos rurais brasileiros. A contribuição da agricultura familiar para a produção agropecuária não era pequena, pois 38% do valor total da produção e

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34% do total das receitas do agro brasileiro advinham desse setor. Apesar de que os estabelecimentos não familiares representavam apenas 16% do total de unidades, ocupavam 76% da área de terra e geravam a maior parte do valor da produção (62%) e da receita (66%).

Nesse contexto o PRONAF tornou-se a política pública de maior envergadura em ações capilarizadas para os agricultores familiares, devido a sua magnitude em abrangência, acabou por incorporar inúmeros programas e projetos desenvolvidos em atenção à população do campo, além de promover o acesso a inúmeras políticas sociais, exemplificamos alguns em razão dos grandes impactos socioeconômicos gerados: Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), Garantia Safra, Programa Mais Alimentos, entre outros.

É primordial destacar a importância do PRONAF para o desenvolvimento das atividades dos agricultores familiares. No último censo agropecuário em 2017, contabilizaram-se, 5.072.152 estabelecimentos agropecuários no Brasil, no estado do Rio Grande do Norte, 63.411 estabelecimentos, no município de Pedro Velho 258 estabelecimentos, em nível de país. Registrou-se que 85% dos estabelecimentos não obtiveram financiamentos públicos para investimentos ou custeios de incentivo a produção e 15% dos estabelecimentos registraram acesso a financiamentos. Analisando a amostra dessa população que obteve financiamento do governo federal dispomos na tabela a seguir os percentuais de acesso ao Pronaf especificamente considerando país, unidade federativa e município.

Tabela 1 – Estabelecimentos agropecuários com acesso ao Pronaf. País, Unidade federativa e

município. Nº de Estabelecimento s Nº de Estabelecimentos com acesso ao PRONAF (%) Brasil 5.072,152 319.818 6,0

Rio Grande do Norte 63.411 4.446 7,0

Pedro Velho 258 17 7,0

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Os recursos destinados ao setor primário brasileiro, voltados à produção agrícola em termos de abrangência territorial foram baixos, considerando o quantitativo expressivo de estabelecimentos agropecuários principalmente os da agricultura familiar. O percentual analisado refere-se a 6% de acesso ao Pronaf, esse dado é referente ao número total de estabelecimentos agropecuários no Brasil que receberam financiamento público através do Pronaf. No estado do RN e no município de Pedro Velho, os percentuais são equivalentes, 7% do total de estabelecimentos.

Em linhas gerais os números apontam para um cenário frágil com baixo acesso dos agricultores familiares a essa política pública, e consequentemente se reveste em níveis técnicos e informacionais menos elevados. Esses dados podem caracterizar o baixo nível de assistência técnica aos agricultores familiares de modo geral.

Estes fatores apontam para a precariedade na maioria dos estabelecimentos agropecuários brasileiros em regiões com baixa dinâmica econômica, em casos localizados em algumas regiões do estado do RN e evidenciados na área analisada.

Esses dados são relevantes para descrever os níveis de acesso desse público a serviços de assistência técnica que podem viabilizar a melhoria nas condições de trabalho e na qualidade de vida dessa população. Assim podemos observar a seguir os dados referentes aos estabelecimentos e níveis de assistência técnica.

Tabela 2 – Estabelecimentos agropecuários com acesso a assistência técnica. País, Unidade federativa e Município. Nº de Estabelecimentos que receberam assistência técnica (%) Nº de Estabelecimentos que não receberam assistência técnica ( %)

Total ( %)

Brasil 20 80 100

Rio Grande do Norte 16 84 100

Pedro Velho 11 89 100

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Os dados representam os baixos níveis de acesso à assistência técnica, isso pode refletir na precariedade das pequenas propriedades que compõe a maioria dos estabelecimentos que engloba a agricultura familiar nos diferentes níveis de território. Esses resultados podem incidir na necessidade de maiores investimentos para este setor, tendo em vista que está categoria não dispõe de recursos para custear assistência técnica, necessitando de intervenção pública. Assim é importante descrever os principais aspectos que guiam a agricultura familiar de Pedro Velho. Com o surgimento do PRONAF, é possível mostrar através dos registros o número de agricultores cadastrados no PRONAF em nível de município desde maio de 2009 a fevereiro de 2019. Esses cadastros são referentes à Declaração de Aptidão ao PRONAF (DAP), que identifica e qualificam os grupos que atuam nas dinâmicas do campo, como, agricultores/as familiares, pescadores artesanais, aquicultores, maricultores, silvicultores, extrativistas, quilombolas, indígenas, assentados da reforma agrária e beneficiários do Programa Nacional de Crédito Fundiário que poderão ter acesso ao programa, através dos critérios estabelecidos pela Lei nº 11.326/2006. Há quatro grupos estabelecidos pela legislação vigente conforme Portaria nº 523, de 24 de agosto de 2018 que preconizam as seguintes características para enquadramento de pessoa física:

Grupo “A”: agricultores familiares assentados pelo Programa Nacional de Reforma Agrária (PNRA) ou beneficiários do Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF) que não contrataram operação de investimento do Programa de Crédito Especial para a Reforma Agrária (Procera) ou que ainda não contrataram o limite de operações ou de valor de crédito de investimento para estruturação no âmbito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf);

● - Grupo “B”: agricultores familiares com receita familiar anual de até R$ 23 mil;

● - Grupo “A/C”: agricultores familiares assentados pelo PNRA ou beneficiários do PNCF que (1) tenham contratado a primeira operação no Grupo “A” e (2) não tenham contratado financiamento de custeio, exceto no próprio Grupo “A/C”; e

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● - Grupo “V”: agricultores familiares com receita familiar anual de até R$ 450 mil.

As normas de acesso ao programa sofreram diversas alterações ao longo deste período, considerando que há diversos grupos com perfis distintos. O enquadramento no programa se dá em função da receita obtida com as atividades agropecuárias, área do estabelecimento e o emprego da mão de obra prioritariamente familiar, esses aspectos denotam o perfil para enquadramento no programa. Para tanto consideraremos dois principais grupos o “B” e o “V” que são os predominantes no município.

Tabela 3 – Agricultores enquadrados no PRONAF em Pedro Velho. Agricultores

cadastrados no

PRONAF/Grupo

Total do período DAP’s Inativas DAP’s Ativas

Grupo B 1.037 817 220

Grupo V 265 210 55

TOTAL 1.302 1.027 275

Elaboração: E. C. Santos. Fonte: MDA, 2019.

O resultado revela a conjuntura em que se insere a agricultura familiar no município, destacando que a maior parte dos agricultores familiares se enquadra no grupo “B” caracterizado pela baixa capacidade de investimentos em atividades agropecuárias e com predominância no sistema produtivo para o autoconsumo. Este público tem sido alvo de várias políticas públicas que objetivam a fixação do homem no campo através do acesso ao microcrédito, acesso aos mercados institucionais, entre outros.

Alguns estudos realizados sobre a ocupação e receita das famílias rurais no RN apontam para essa realidade no estado. Assim Aquino e Lacerda (2014) destacam que os agricultores familiares enquadráveis no Pronaf B eram representados por 42.234 estabelecimentos, que englobavam 51% do total das unidades de produção agropecuárias norte-rio-grandenses. No tocante a agricultura familiar há fatores que agravam as dificuldades como, por exemplo, pouca disponibilidade de terras para os agricultores familiares, as áreas médias

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exploradas por esta categoria giram em torno de 10,261 naqueles enquadrados no grupo “B”. Todavia, os agricultores familiares de Pedro Velho, enquadrados neste perfil têm área média ainda menor, em torno de 0,5 a 5 hectares, porém as condições climáticas e os recursos naturais necessários para produzir são mais favoráveis na faixa leste do litoral do estado do RN em virtude de maiores percentuais de precipitações pluviométricas no ano em comparação a outras regiões do estado. O acesso a terra se dá na condição de meeiros, arrendatários, comodatários, proprietários e parceiros.

A principal atividade desenvolvida é o cultivo de feijão-verde, por ser uma cultura temporária de ciclo curto se adéqua as condições de produção dos agricultores que a exploram na condição de arrendatários, em sua maioria. Esses agricultores utilizam de forma irregular agrotóxico para controle de pragas que afetam a cultura do feijão. E mesmo sem dados precisos sobre casos notificados de intoxicação por agroquímicos indica que 50% dos estabelecimentos (IBGE, 2018) do município utilizam esses produtos. Se por um lado o nível de assistência técnica é baixo, por outro o uso de agrotóxicos é alto, isso implica no uso indiscriminado destes produtos sem as devidas orientações necessárias a aplicação e destinação dos resíduos sólidos (descarte de vasilhames de agrotóxicos) que podem causar danos à saúde humana, assim como danos ambientais.

Dentre os fatores presentes na atual conjuntura produtiva dos agricultores familiares do município que dificultam a permanência na atividade agropecuária, mas, a problemática da comercialização e o acesso a terra se destacam. A localização geográfica poderia favorecer o escoamento da produção, mas, por não haver por parte dos agricultores a infraestrutura de transporte adequada para viabilizar essa logística comercial, logo favorecem a ação de atravessadores conhecidos popularmente como “corretores” que compram a produção dos agricultores familiares e destinam as centrais de abastecimentos dos estados da PB e PE. Neste caso a organização social desta categoria poderia quebrar esse ciclo através da constituição de associações e cooperativas de agricultores familiares. Porém a baixa participação da população rural em espaços coletivos permite que essa

1Aquino e Lacerda (2014, p. 177-178).

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realidade se propague não só em Pedro Velho como na região de modo geral, sendo umas das características da dinâmica territorial, a baixa participação social. Ações em instituições coletivas poderiam dar acesso aos agricultores familiares a meios necessários a promover o acesso às unidades de processamento e transportes da produção agropecuária assim como o acesso a novos mercados. Está problemática interfere diretamente nas atividades agropecuárias do município, pois os preços dos produtos ficam condicionados a ação destes atores que interferem no processo de comercialização. Este fator tem influenciado vários agricultores a abonar as atividades agropecuárias no município.

Esse conjunto de elementos configura o contexto social e produtivo explorado pela agricultura familiar do município, carente de assistência básica e investimentos públicos para viabilizar melhorias para o setor.

2.2.2 A agroindústria canavieira e o agronegócio

No Brasil, a categoria definida como agronegócio atende prioritariamente as demandas do mercado internacional com a produção de commodities, ou seja, soja, milho, trigo, entre outros destinados ao processamento industrial. Esta categoria emprega altos níveis tecnológicos investidos em máquinas, implementos agrícolas, insumos, defensivos, fertilizantes e no beneficiamento da produção agropecuária, com uso intenso de mão de obra qualificada. Tem influenciado diretamente a área de pesquisa científica para desenvolvimento de variedades agrícolas geneticamente modificadas para atingir maiores índices de produtividade e resistência a pragas e doenças que afetam a produção.

No espaço agrário do estado do RN o agronegócio se destaca em razão da amplitude da atividade para a composição do PIB (Produto Interno Bruto) com ênfase para a produção de frutas no Vale do Açu e Mossoró, a cana-de-açúcar e a bovinocultura de corte na mesorregião Leste Potiguar, a carcinicultura em vários municípios concentrados em toda faixa litorânea do estado. Assim, na perspectiva de uma economia globalizada a produção agrícola no RN passa a assumir um papel importante a partir da intervenção de grandes empresas ligadas ao mercado internacional que impulsionaram a

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produção de frutas, sendo um dos maiores polos exportadores do país, principalmente de melão.

Porém busca-se enfatizar os processos produtivos desenvolvidos no espaço rural da área pesquisada que, além da produção de cana-de-açúcar e da bovinocultura de corte semi-intensiva, a expansão da carcinicultura principalmente no município de Canguaretama, Senador Georgino Avelino e Arez. No município de Pedro Velho as atividades agropecuárias desenvolvidas pelos grandes produtores, são a criação de bovinos de corte em menor proporção e o cultivo da monocultura da cana-de-açúcar se mantém como a mais expressiva em extensão de área cultivada, com uma produção de 45.410,300 mil toneladas/safra, cultivada em 604,425 hectares em 19 estabelecimentos agropecuários (IBGE, 2018).

O agronegócio é o segmento do setor primário que mais investe em tecnologia, na produção, beneficiamento e consequentemente em logística, na mesma proporção congrega forças para barganhar investimentos e incentivos públicos para realizar subvenções financeiras.

Estes fatores mencionados anteriormente por ventura produzem relações antagônicas no tocante à disputa de categorias distintas presentes nesse espaço produtivo e social como veremos no tópico a seguir.

2.2.3 As relações antagônicas

O modelo produtivo adotado pelo agronegócio brasileiro tem sido considerado como símbolo da modernidade medido pelos altos índices produtivos, porém causa a exclusão social e expropriação dos povos do campo decorrente da alta concentração de terra e de renda. Já a agricultura familiar produz uma ampla diversidade de alimentos que abastece o mercado interno e tem outra dinâmica com a terra e, por conseguinte outros elementos que compõe um processo de identificação social através da cultura local que são transmitidos de geração a geração.

Assim a demandas por terras têm gerado conflitos entre essas categorias sociais. No Brasil de modo geral o sistema adotado para distribuição de terras gerou intensas desigualdades sociais, principalmente no Nordeste. No município de Pedro Velho, os agricultores familiares são vítimas desse

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processo. As melhores e maiores áreas estão à disposição do agronegócio para a exploração da bovinocultura de corte e do cultivo da cana-de-açúcar. Podemos identificar essa constatação relacionada às áreas dos estabelecimentos nos registros do Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural – SICAR foram realizados 163 Cadastros Ambientais Rurais – CAR, em todo o município, isso nos possibilita conhecer as áreas dos estabelecimentos existentes.

Podemos observar que 89% das propriedades cadastradas até fevereiro de 2019, têm de 0 a 100 hectares, 10% tem de 100 a 500 hectares e 1% têm de 500 a 1000 hectares, ou seja, as áreas menores são quantitativamente superiores em número de estabelecimentos, porém em termos de extensão a porção menor de propriedades é inversamente maior. As propriedades maiores exploram o cultivo de cana-de-açúcar e a bovinocultura de corte. Atividades exploradas pela agroindústria canavieira e pelo agronegócio. Disposto no gráfico nº 01, a seguir.

GRÁFICO 1. – Estabelecimentos agropecuários cadastrados no SICAR

Elaboração: E. C. dos Santos. Fonte: SICAR, 2019.

A área representada por 1% desse total corresponde a um estabelecimento agropecuário com 974,071 hectares, comparativamente

89% 10%

1%

Área de estabelecimentos com CAR

0 a 100 hectares 100 a 500 hectares 500 a 1000 hectares

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podemos dizer que dentro desta área caberiam em torno de 94 estabelecimentos com perfil do grupo “B” dos agricultores pronafianos, que dispõe de área média de 10,26 hectares (AQUINO E LACERDA, 2014). Esta área explora a monocultura da cana-de-açúcar. Dentre os estabelecimentos cadastrados, até o momento este pode ser considerado o maior estabelecimento do município em extensão.

A concentração de terras em Pedro Velho reflete o que se configurou em todo o Nordeste brasileiro. Nesse aspecto refletimos que neste mesmo espaço é desenvolvida a produção das culturas de feijão e milho em áreas arrendadas pelos agricultores familiares. Essas culturas agrícolas são consideradas de baixo valor comercial e são destinadas ao abastecimento do mercado interno. Mas certamente, o valor social da agricultura familiar tem relevância para o abastecimento alimentar do país de modo geral, devendo haver maiores investimentos para desenvolvimento desta categoria, principalmente na região Nordeste, região mais afetada por intempéries climáticas e com maior número de vulneráveis do país.

Logo a problemática da concentração de terras que se afirma nestes dados que é fruto de um processo histórico estabelecido na formação deste território que contribuiu fortemente para o cenário atual. Podemos indicar um processo de invisibilidade social, explicado pelas marcas profundas devido à relação de subservidão secular desenvolvidas em toda história do lugar.

Porém, alguns dos aspectos destacados neste capítulo poderão nos guiar a uma análise mais aprofundada do contexto pesquisado que inseri diretamente as famílias rurais e o ofício de agricultor (a) na metodologia adotada, como veremos no capítulo a seguir.

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