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No tocante a realidade das famílias pesquisadas examina-se a realidade destas a partir das atividades agropecuárias desenvolvidas em família considerando diversos aspectos que limitam ou influênciam positivamente o resultado obtido. Nessa perspectiva é importante destacar inicialmente o ponto de vista dos pais no tocante as limitações que podem vir a inviabilizar as atividades agropecuárias no município. Para constatar essa realidade questionamos os pais sobre os possíveis fatores que poderiam projetar essa inviabilidade econômica da atividade agropecuária de acordo com cada realidade específica.

A pergunta foi dirigida aos pais. Logo distribuímos o resultado na tabela nº 16, a seguir.

Tabela 16 – Fatores que limitam a sucessão do ofício de agricultor (a). Pergunta dirigida aos pais: Quais as principais dificuldades

que limitam a sucessão do ofício de agricultor em sua família?

Frequência %

O lote da terra ser pequeno 12 43

A renda da agricultura ser insuficiente para manter a família na terra

09 32

Falta de máquinas e implementos para facilitar o trabalho 06 21

Os conflitos familiares 01 04

Total 28 100

Fonte: Dados da pesquisa. Elaboração: E. C. dos Santos.

Na perspectiva dos pais o fator que mais impacta e limita a continuidade no desenvolvimento das atividades agropecuárias é o lote da terra ser pequeno, 43% dos pais indicam que é essa a dificuldade que tem maior peso e que pode inviabilizar as atividades. Considerando que na conjuntura da agricultura familiar essa área é compartilhada por todos os membros da família, e acaba por limitar o espaço produtivo sendo necessário arrendar outras áreas para cultivo da produção de alimentos e pasto para os animais, isso se faz rotineiramente. Isso é parte da estratégia adotada pelas famílias para compensar a limitação relacionada aos estabelecimentos agropecuários considerados pequenos para prover o sustento para todos os membros da família.

Alguns pais consideram a produção e os rendimentos insuficientes para gerar renda que permita que a família continue a produzir e permanecer na atividade, cerca de 32%, já 21% dos pais apontam a falta de máquinas e implementos que poderiam facilitar o trabalho como fator limitante, já que os filhos poderiam produzir utilizando tecnologias necessárias ao aumento da produção e menos pesarosas, modificando os modelos tradicionais utilizados regularmente pelos agricultores, como a capina manual com enxadas. Apenas 1 pesquisado (4% do universo pesquisado) revela que há conflitos familiares diversos que impedem a continuidade da atividade.

Levando em conta o cenário descrito que revela limitações à continuidade da atividade, questionamos os pais sobre a postura adotada por eles em relação a incentivar os filhos e filhas a dar continuidade nas atividades desenvolvidas pela família. A pergunta dirigida aos pais: Pretende incentivá- los a exercer o ofício de agricultor (a)? Em resposta 61% dos pais respondeu que sim, incentivam seus filhos e filhas a dar continuidade à atividade, 39% respondeu que não, gostariam que os filhos e filhas buscassem outra atividade profissional.

Buscou-se analisar na estrutura familiar, quem dos filhos exerce atividade na agropecuária em parceria com os pais. As respostas obtidas foram diversas, sendo necessário expor na tabela nº 17, descrita abaixo.

Tabela 17 – Filhos (as) que exercem atividades agropecuárias. Pergunta: Qual/quais dos seus filhos trabalham na

agricultura?

Frequência %

Todos 07 24

O filho mais novo 06 21

O filho mais velho 05 18

Nenhum 04 14

Os filhos homens 03 11

Os que permanecem no campo 01 04

Os filhos que mais gostam da agricultura 01 04

A filha 01 04

Total 28 100

Fonte: Dados da pesquisa. Elaboração: E. C. dos Santos.

Apesar de identificarmos alguns fatores que caracterizam as dificuldades para as famílias pesquisadas se manterem exercendo as atividades agropecuárias, ao analisar a estrutura familiar se constatou que na pesquisa realizada com os pais, 24% disseram que todos os filhos e filhas ainda permanecem exercendo o ofício de agricultor (a), 21% apontaram que apenas

o filho mais novo permanece na atividade. Já 18% dos pesquisados indicam que é o filho mais velho a permanecer. Do total 14% revelam que nenhum dos filhos e filhas desenvolve atividades agropecuárias, isso reflete na impossibilidade de continuidade da atividade no futuro próximo. Já 11% dos pais apontam que dos filhos apenas os homens trabalham nas atividades agropecuárias. E apenas 4% destacam que trabalham como agricultor, os filhos que mais gostam da agricultura, que têm afinidade com a atividade e 4% revelam a filha que desenvolve atividade agropecuária, esse dado afirma a realidade sobre a questão de haver o maior numero de homens no campo e ocupado com as atividades agropecuárias.

Assim, a análise dos dados nos revela que não há um padrão definido que indique uma configuração na permanência dos filhos no estabelecimento e principalmente na atividade, pois o que define aparentemente a continuidade não seria um padrão predeterminado pelos pais e sim a infraestrutura necessária a manter-se na atividade. Nessa perspectiva investigamos dentro da estrutura produtiva das famílias pesquisadas a participação dos filhos (as) na tomada de decisão e na participação dos lucros, com objetivo de perceber se há autonomia dos filhos na estrutura produtiva e de que forma isso pode intervir na permanecia dos jovens, no estabelecimento, desenvolvendo o ofício de agricultor (a). A pergunta dirigida aos pais: Na tomada de decisões sobre as atividades agrícolas (investimentos ou divisão dos lucros), qual a participação dos seus filhos e filhas?

GRÁFICO 11 – Participação dos filhos (as) nas decisões e lucros da atividade agropecuária.

Uma das principais dificuldades para sucessão familiar rural de modo geral é a falta de autonomia dos jovens em relação à participação dos lucros e na tomada de decisão. Na pesquisa essa afirmação é reforçada pela resposta dos 57% dos pais que apontaram que os filhos não têm nenhuma participação, os pais decidem e os filhos acatam as decisões. Isso revela um ambiente de certo autoritarismo com espaço reduzido de dialogo, onde o poder paterno define a forma de condução das atividades. Desse conjunto 32% dos pais revelam outro olhar sobre a participação dos filhos (as), e indicam que as decisões são tomadas em conjunto entre pais e filhos. Já 11% dos pais revelam que às vezes os filhos e filhas são consultados.

Sabemos que o ofício de agricultor se constitui através de várias etapas descritas anteriormente, que denominamos por estágios cronológicos a partir da infância até o casamento dos jovens. E estes estágios se fundamentam nos saberes construídos no cotidiano que são transmitidos de pais para filhos (as), assim buscamos perceber entre os pesquisados como esse processo se constituiu. Perguntamos: Ensinou os filhos e filhas a trabalhar na agricultura, como? A resposta preponderante foi que 92% revelaram que sim, desde cedo fazendo tarefas mais leves, já 4% disseram que não, pois é um trabalho difícil. Outros 4% responderam que não, pois não quero influenciar em suas escolhas profissionais. As questões expostas indicam que de fato as relações profissionais dentro da conjuntura do ofício de agricultor se estruturam desde a infância nos afazeres no estabelecimento sob a supervisão dos pais até a consolidação profissional.

Nessa perspectiva de enxergar na estrutura familiar as potencialidades e limitações para continuidade dos filhos e filhas no ofício de agricultor (a), questionamos os pais sobre a forma como os filhos eram recompensados pelas atividades desenvolvidas no estabelecimento da família. Dispomos os dados na tabela nº 18, a seguir:

Tabela 18 – Remuneração dos filhos (as) pelos trabalhos desenvolvidos. Pergunta dirigida aos pais: Como os filhos (as) são

compensados pelo trabalho na agricultura?

Frequência %

Respostas

Não recebem dinheiro regularmente, pois todas as suas despesas são custeadas, inclusive o lazer

11 39

Os (as) filhos (as) têm renda própria, a partir de atividades agrícolas realizadas individualmente

06 21

Não há como pagar, pois só produzimos para o consumo familiar

05 18

Os lucros são divididos igualmente Os filhos mais novos

05 18

Recebem de acordo com a necessidade uma mesada 01 04

Total 28 100

Fonte: Dados da pesquisa. Elaboração: E. C. dos Santos.

Os dados revelados nos apontam de modo geral para uma estrutura frágil que tem a mão de obra familiar como principal ferramenta de manutenção dessas famílias na atividade agropecuária e que poucas famílias de fato conseguem separar economicamente as atividades entre os membros da família. Essa separação permitiria aos filhos e filhas, autonomia para desenvolver suas próprias criações e cultivos, experimentar a introdução de novas variedades e até mesmo, novas atividades diferentes das desenvolvidas pelos pais. Porém essa divisão pode provocar o enfraquecimento da economia familiar, já que nem todos recebem valores fixos pelas tarefas realizadas, pois por muitos motivos não há como pagar.

Assim percebemos essas adequações considerando que 35% dos pais revelam que os filhos não recebem dinheiro regularmente, pois todas as suas despesas são custeadas, inclusive o lazer, boa parte desse grupo são jovens solteiros. Já 21% dos pais apontam que os filhos os (as) filhos (as) tem renda própria, a partir de atividades agrícolas realizadas individualmente, nesse caso a maior parte destes tem família própria e apesar de compartilhar o mesmo espaço de trabalho tem renda própria sendo considerados agricultores profissionais em fase de consolidação ou consolidados.

Logo 18% dos pais destacam que não há como pagar, pois só produzimos para o consumo familiar, nessa conjuntura estão várias famílias que combinam outras fontes de receita e produzem exclusivamente para o consumo. Já outros 18% dos pais revelam que os lucros são divididos igualmente, esse dado destaca as parcerias existentes entre pais e filhos que se fortalecem numa relação mais dialógica. E 04% revelam que os filhos recebem de acordo com a necessidade uma mesada.

As relações que se estabelecem no bojo familiar que integram as atividades econômicas e consequentemente a divisão do produto do trabalho revelam as múltiplas estratégias adotadas pelas famílias para garantir sua reprodução social. O fato de não recompensar os filhos pelo trabalho desenvolvido caracteriza a fragilidade econômica da unidade familiar que se articula para manter-se na atividade utilizando outras fontes de manutenção que não seja exclusivamente monetária, como por exemplo, a produção para o autoconsumo.

Dessa forma é importante sopesar o destino da produção dessas famílias, pois revelam essas estratégias e também os gargalos existentes no ciclo produtivo que podem interferir no sucesso da atividade de modo geral. Dispomos as informações no gráfico nº 12, descrita abaixo.

GRÁFICO 12 – Destino da produção agropecuária.

Fonte: Dados da pesquisa. Elaboração: E. C. dos Santos.

Percebeu-se que a grande parte dos pais, 38% destinam sua produção para o consumo e comercializam o excedente através de atravessadores. A produção exclusiva para o consumo destaca-se, 17% dos pais produzem para este fim. Uma fração menor dos pais combina alguns canais de escoamento da produção, 10% como feira livre, consumo familiar e atravessador. Já outros 10% dos pais, utilizam a feira livre e consumo familiar. Outros 4% apontaram que fazem combinações diversas na destinação da produção entre feira livre, consumo, atravessador, e programas de compras institucionais, como PAA e PNAE.

Esses programas de vendas institucionais rompem a barreira imposta por atravessadores que limitam os ganhos dos agricultores gerando gargalos no escoamento da produção muitas vezes inviabilizando completamente a atividade. Estas políticas públicas visam à ampliação de mercados favorecendo a inclusão produtiva dos agricultores familiares.

Segundo Gazolla (2017, p. 182):

Os mercados institucionais deram um novo alento aos agricultores, os quais afirmam que antes do PAA e do PNAE “a dificuldade era vender os produtos” e que, atualmente, a “dificuldade é produzir para suprir estes mercados”. Em alguns casos investigados as entidades compradoras desses produtos chegam a ligar ou vir buscar os produtos na residência dos agricultores, em função da exigência de cumprimento dos 30% obrigatórios de compras da agricultura familiar estabelecidos pelo PNAE.

Segundo os dados levantados o percentual das famílias que tem acesso a esses mercados ainda é baixo, sendo necessário buscar ferramentas que viabilize o acesso de uma parcela maior deste público a estas políticas públicas. O que percebemos é que a grande parcela dessa população vende sua produção a atravessadores que compram sua produção no próprio estabelecimento agropecuário, o que indica a falta de infraestrutura de logística (transporte de carga) que viabilize a busca por novos mercados nas capitais e municípios da região com dinâmica comercial mais densa. Os desafios constituídos ao desenvolvimento das atividades agropecuárias na mesorregião leste de modo geral são inúmeros, mas, especificamente no município de Pedro Velho perpassa uma trajetória histórica de exploração e subordinação da mão de obra do homem do campo inserido neste contexto.

Assim dada à amplitude dessa problemática construída neste estudo buscamos analisar dentro da realidade das famílias pesquisadas quais fatores influenciariam a permanência de seus sucessores na atividade exercendo o ofício de agricultor (a). A tabela nº 19 dispõe sobre as informações prestadas sobre essa questão.

Tabela 19 – Fatores que influenciariam a sucessão do ofício de agricultor (a) na família.

Pergunta dirigida aos pais: O que influenciaria a sucessão do ofício de agricultor (a) na sua família?

Frequência %

Respostas

Acesso a terra 11 39

Acesso a máquinas e implementos 09 32

Nada influenciaria a mudança dessa realidade 04 14 Acesso a água, através de aquisição de sistema de

irrigação e/ou perfuração de poços

02 07

Acesso ao crédito rural 01 04

Insumos subsidiados pelo governo 01 04

Total 28 100

Fonte: Dados da pesquisa. Elaboração: E. C. dos Santos.

Diante dos dados apresentados podemos considerar que para as famílias o fator que influenciaria a permanência dos filhos (as) no ofício de agricultor (a) seria o acesso a terra, 39% dos pesquisados apontaram este fator como principal dentro de sua realidade. Uma parcela de 32% dos pais destacou que o acesso às máquinas e implementos seria o fator que viabilizaria a permanência dos seus sucessores (as) no ofício.

Nessa perspectiva observamos que para os agricultores que tem acesso à terra, o acesso às máquinas é imprescindível para melhorar as condições de trabalho com objetivo de aumentar a produtividade e diminuir o enfado das praticas agrícolas que para muitos ainda são rudimentares. Para 14% dos pais nada influenciaria a realidade, pois não haverá entre os filhos (as) sucessores (as) deste ofício. Já 4% dos pais afirmam que o acesso ao crédito poderia gerar novos investimentos e posterior melhoria da renda familiar. Outros 4% dos pais assinalam para oferta de insumos subsidiados pelo governo, pois neste caso específico a família trabalha com a criação de aves, e programas como a compra de milho subsidiado através da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) possibilita a redução dos custos nessa cadeia produtiva. O grande problema é não um fornecimento constante de insumo, e os preços do milho no mercado local têm custo elevado e reflete nos lucros da atividade.

Dentro da dinâmica agropecuária a comercialização se projeta como um dos obstáculos mais difícil de ser superado. No entanto, as ações governamentais que estimula a comercialização através das compras institucionais e programas que subsidiem preços de insumos para viabilizar a produção, principalmente para os agricultores familiares são imprescindíveis para promover a permanência do agricultor nesta atividade.

Assim, é pertinente também discutir os projetos de vida dos que poderão suceder está atividade econômica na conjuntura descrita por esta pesquisa, como será exposto no tópico a seguir.