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2. ASPECTOS TÉCNICOS, JURÍDICOS E AMBIENTAIS PARA A GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA NO BRASIL

2.3. Estado da Arte

Os primeiros registros históricos para gerar eletricidade no Brasil datam dos últimos anos do Império, devido ao crescimento das exportações do país, notadamente café e borracha, daí todo arsenal jurídico, pouco a pouco se encaminhou na direção de priorizar o uso da água para o setor elétrico.36

Na área de energia elétrica, historicamente conta Murgel Branco (2000, p. 249), que:

As concessões de serviços públicos foram feitas, no Brasil, desde o tempo do Império. Mas, tratava-se de acordos pouco regulamentados por meio dos quais o Império autorizava esse ou aquele empreendedor a implantar um serviço de interesse público, por sua conta e risco, com tarifas que julgasse convenientes para o êxito de seu empreendimento. No início do século XX, a intensificação de alguns e o surgimento de outros serviços de interesse público, com a telefonia, a produção e distribuição de energia elétrica, a distribuição do gás canalizado, os transportes por bondes, deram origem a um esforço regulamentador, que certamente tem como marco inicial o trabalho do eminente jurista Alfredo Valladão, publicado em 1904 sob o título “dos rios públicos e particulares”. Embora voltado para regulamentação do aproveitamento das águas, o trabalho do Dr. Valladão se desenvolveu continuamente até a sua transformação no Código das Águas, que o presidente Getúlio Vargas decretou em 11 de julho de 1934, contemplando toda a regulamentação do uso das águas e da concessão da exploração da hidroeletricidade.

Branco (2002, p. 249) conta que a história das concessões brasileiras se divide em três períodos distintos: até a década de 1930, quando se traçou a doutrina consagrada no Código das Águas; da década de 1930 até a Constituição de 1988, mais precisamente, até o advento da Lei Federal, n 8.987, de 1995; até hoje.

Empreendimentos de geração hidrelétrica devem submeter-se a processos de licitação, é o que reza o art. 175 da Constituição Federal:

No caso de prestação de Serviços Públicos, incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob o regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos. (BRASIL, 1988, art. 175).

36 Em 7 de setembro de 1889, às vésperas da proclamação da República, foi inaugurada a primeira usina hidrelétrica de maior porte destinada ao serviço público. A usina de Marmelo, com uma potência instalada de 250 kW, foi construída no rio Paraibuna com o objetivo de fornecer eletricidade para iluminação pública da cidade de Juiz de Fora/MG. Até a virada do século predominou a geração de energia elétrica através de centrais termelétricas. Em 1901, com a entrada em operação da "Hidroelétrica de Parnahyba" (atual Edgar de Souza), primeira usina hidrelétrica da Companhia Light, este quadro mudou em favor da geração hidrelétrica. < www.agua.bio.br >.

A Lei n 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, dispõe sobre o regime de concessão e permissão da prestação de serviços públicos, em seu art. 29, X, determina a preservação do meio ambiente como incumbência do Poder concedente. Já a Lei n 9.074, de 7 de julho de 1995, estabelece normas para outorga e prorrogações das concessões e permissões de serviços públicos. A proteção ao meio ambiente, como se vê, no setor de energia é componente para a viabilidade de uma licitação

As regras para o setor elétrico implicam em uma intricada leitura de procedimentos e normas jurídicas. Procurando o aperfeiçoamento do sistema, diversas alterações legais vêm mudando, ao longo do tempo, os sistemas de comando e administração do setor elétrico e suas regras técnicas. Acrescenta-se todo o arsenal legal voltado para o uso da água para gerar eletricidade.

O recente modelo adotado para o setor elétrico criou, por meio da Lei n 10.847, de 15 de março de 2004, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), que tem como tarefa prestar serviços na área de estudos e pesquisas destinados a subsidiar o planejamento do setor energético, tais como energia elétrica, petróleo, gás natural e seus derivados, carvão mineral, fontes energéticas renováveis e eficiência energética, entre outras.

Está sob a incumbência desse órgão: (1) nos termos do art. 4 , inciso V, a realização de estudos para a determinação dos aproveitamentos ótimos dos potenciais hidráulicos; (2) conforme o inciso VI, obter a licença prévia ambiental e a declaração da disponibilidade hídrica necessárias às licitações envolvendo empreendimentos de geração hidrelétrica e de transmissão de energia elétrica, selecionados pela EPE; (3) como rege o inciso X, desenvolver estudos de impacto social, viabilidade técnico-econômica e socioambiental para os empreendimentos de energia elétrica e de fontes renováveis.

O fenômeno de geração de eletricidade, a partir do uso de um curso de água através da turbina colocada em seu caminho, tem causado muita polêmica, porém este uso proporciona uma série de confortos sociais que não podem ser desprezados.

A inserção monetária, própria do sistema capitalista, coloca preço no desenvolvimento de todo processo que envolve a geração de eletricidade. Há

custos do cimento, dos recursos humanos, de aparelhagens de altíssimo nível tecnológico, dentre outros, e os lucros; mais um indicador para que a viabilização de empreendimentos hidrelétricos se dê de forma tranqüila e segura.

Nas estratégias de um Estado, o governo eleito pelo povo seguirá o caminho traçado pela Constituição Federal sob pena de lesar o estado democrático de direito brasileiro.

Nas anotações técnicas há pouco grau de discricionariedade, pois as desconformidades científicas devem ser ressaltadas por imposição legal nos Estudos que avaliam previamente o impacto ambiental.

Paulo Afonso (2003, p. 74) alerta que três artigos da Carta Maior devem ser especificamente cumpridos:

(1) os espaços especialmente protegidos, como parques nacionais, estaduais e municipais, reservas ecológicas, área de proteção ambiental, estações ecológicas somente podem ser alterados ou suprimidos mediante lei (art. 225, § 1 , III); (2) o aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos em terras indígenas (....) só pode, ser efetivados com autorização do Congresso nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada a participação nos resultados; e (3) e sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos, tombados (art. 216, § 5 , da CF/88).