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Estado Providência

No documento Dissertação & Apendices (páginas 37-40)

Capítulo I – Qualidade e Sistema de Gestão da Qualidade a nível Global

2.3 Políticas Sociais

2.3.1 Estado Providência

Por efeitos do desenvolvimento industrial, aumenta o grau de incertezas quanto à situação de proteção social dos indivíduos.

No processo de estruturação do Estado Providência surge a legislação social com o objetivo de libertar as sociedades da necessidade e do risco. Um dos exemplos históricos é a tendência da sociedade em se tornar responsável pela segurança contra os riscos do seu próprio desenvolvimento, é o estabelecimento da legislação sobre os acidentes de trabalho. (Alemanha em 1881 e França em 1898).

O Estado Providência ou Welfare-State ou Estado de Bem Estar Social têm como base o contrato social. Segundo Rousseau, a sociedade deve acolher cada ser que surge na sociedade. O Contrato Social está implícito à pessoa, algo virtual, no sentido, em que ninguém o assina. Ele deu-se no momento em que os indivíduos se uniram, visando superar obstáculos que não conseguiam em seu estado natural. O ponto essencial para a existência

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De acordo com a Carta Social – Relatório 2014, contabilizaram-se cerca de 5500 entidades proprietárias de equipamentos sociais no Continente, das quais 70 % são entidades não lucrativas. E destas 62,41 % são IPSS. Fonte: GEP-MSESS, Carta Social.

deste contrato é o facto de o homem ter escolhido passar do estado natural para o estado social, a fim de preservar os direitos naturais da igualdade e liberdade.

Os esquemas Sociais vão sendo implementados no tempo, diferenciando-se segundo os contextos nacionais de cada país.

Em todos os países há quatro preocupações fundamentais: o Direito ao trabalho, que compreende o pleno emprego, vencimento justo e condições adequadas; a proteção de riscos individuais e sociais como a segurança social e outros seguros de proteção de doença, acidentes, desemprego, velhice, morte; a promoção da igualdade de oportunidades, como garantir a educação, formação profissional, e medidas de discriminação positiva; a luta contra a pobreza como garantia de um rendimento mínimo.

Capucha (2005), “estudos efetuados ao Estado-providência e às políticas em Portugal demonstram que desde 1976 se tem construído e desenvolvido o estado-providência em Portugal”.

Esta ideia tem como base políticas setoriais para o serviço nacional de saúde, educação, trabalho e habitação. Estes setores foram consolidados após a entrada de Portugal na CEE, hoje UE, em 1986 e reforçados entre 1996 e 2000 pelas medidas do governo socialista de António Guterres e depois pelo governo de 2005.

Estas “novas medidas”, denominadas “políticas ativas”, orientam-se para a promoção da coesão social, para o combate à pobreza e para a promoção da inclusão social de grupos vulneráveis.

Para a concretização destas medidas as responsabilidades de ação são partilhadas entre o setor público, o privado lucrativo, o não lucrativo e o familiar. Esta forma de organizar o bem- estar é o da subsidiariedade. Em termos políticos o Estado, só intervém na esfera privada quando o mercado, a família e a sociedade civil, não conseguem por si só satisfazer as necessidades dos indivíduos. Mas para que a sociedade permaneça unida (Bobbio, 1988;148-149) é “necessário introduzir um critério de justiça distributiva”. Entendendo-se por justiça distributiva a distribuição das honras, das riquezas e de todas as outras coisas divisíveis entre os cidadãos, corresponde à igualdade das relações, as honras devem ser dadas na razão do mérito. Igualdade proporcional. A pare desta, a justiça comutativa (corretiva) está na igualdade aritmética, as partes, tenham igual proveito ou dano.

Mozzicafreddo (1994) considera como fator estruturante do Estado Providente, a regulação económica, conhecida como a “equação Keynesiana” (Rosanvallon, 1984) e que teve a sua

origem na necessidade de dinamizar a criação de empregos na época de depressão dos anos 30.

Depois destes “Trinta Gloriosos” (Ferreira 2014) diz-nos que surge a crise económica em finais dos anos 60 e na década de 70. O Estado Providência foi e é alvo de fortes críticas e o seu desmantelamento parcial é um facto mesmo em países como a Alemanha, Holanda e países escandinavos, embora estes com mais cuidado. O desemprego é um fenómeno global, que após se esgotar os direitos sociais resultantes do trabalho resta a atribuição de mínimos sociais também com regras e tempos pré-definidos.

O conceito criado em torno de que “só não trabalha quem não quer”, antecede a implementação do Estado Providência, mas perde a razão face à análise real e consciente de que o desemprego não é problema pessoal mas sim social.

É por esta razão que muitos países criaram mínimos para determinados grupos, muito antes da crise acima referida. Dinamarca 1933, Reino Unido 1948, Alemanha Federal 1961, Países Baixos 1963, Bélgica 1974, Irlanda 1977, Luxemburgo 1988, Portugal 1996.

Segundo Ferreira (2014)13, hoje, corre-se o grande risco de haver cada vez mais indivíduos a viver de mínimos e da “sociedade providência”. Este conceito segundo Santos (1995) formulado em meados dos anos oitenta correspondia a um esquema de relações e de práticas sociais que proporcionavam algum bem-estar e proteção social através de trocas não mercantis. E define sociedade-providência14 como: “redes de relações de interconhecimento, de reconhecimento mútuo e de entreajuda baseadas em laços de parentesco e de vizinhança, através dos quais pequenos grupos sociais trocam bens e serviços numa base não mercantil e com uma lógica de reciprocidade semelhante à da relação estudada por Marcel Mauss”.

Neste sentido, a sociedade dual é um facto, os que estão fora do mundo do trabalho, e que são sobretudo os desempregados de longa duração e os jovens, são os excluídos permanentemente ou faseadamente mas que necessitam do direito social os mínimos, no nosso caso o Rendimento Social de Inserção.

A presente crise que se instalou na vida da sociedade portuguesa teve início, no final do ano de 2007 e, repercutiu-se mais em 2008, no setor financeiro e económico nos EUA, que por efeitos da globalização rapidamente se estendeu ao resto do mundo, afetando principalmente as economias mais frágeis dos países desenvolvidos. Em Portugal, as estratégias e políticas públicas anticrise adotadas no combate à crise, têm contribuído para

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Rodrigues, F., Stoer, F. (1993). Ação Local e Mudança Social em Portugal, Lisboa, Editora Fim de Século.

o agravamento da situação, os seus impactos são visíveis na perspetiva de vida dos jovens, no desemprego, no vínculo Laboral, na desvalorização do trabalho humano, no agravamento das desigualdades, na pobreza, bem como o aparecimento de novas modalidades de empobrecimento, que pode levar a tensões sociais. É neste quadro que o problema da pobreza existe e se alastra, também ao mundo desenvolvido e que deve ser equacionado.

No documento Dissertação & Apendices (páginas 37-40)