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AS ESTATÍSTICAS SOBRE IMIGRANTES QUALIFICADOS EM PORTUGAL: FONTES DE INFORMAÇÃO E CARÊNCIAS OBJECTIVAS

No documento Imigrantes Qualificados em Portugal (páginas 64-67)

QUANTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO ESTRANGEIRA ALTAMENTE QUALIFICADA

1. AS ESTATÍSTICAS SOBRE IMIGRANTES QUALIFICADOS EM PORTUGAL: FONTES DE INFORMAÇÃO E CARÊNCIAS OBJECTIVAS

A caracterização dos perfis educativos dos imigrantes presentes em território nacional reveste-se de algumas dificuldades, que importa conhecer, antes de passar à apresen- tação dos, relativamente, escassos dados disponíveis sobre as habilitações escolares dos imigrantes. O principal obstáculo ao conhecimento das qualificações académicas dos imigrantes residentes em Portugal decorre do não tratamento deste tipo de informação pela principal fonte de dados estatísticos sobre a população imigrante legalmente pre- sente em território nacional (o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras). Com efeito, no con- junto dos dados tornados públicos pelo SEF, a informação relativa ao grau de instrução dos imigrantes encontra-se sistematicamente ausente dos quadros relativos ao stock de imigrantes, apesar da mesma ser solicitada ao imigrante no impresso referente ao pedido de autorização de residência (Quadro 1.8 do Impresso Mod. DR0001). A informa- ção apenas surge nos quadros relativos à população estrangeira que, em cada ano, soli- citou estatuto de residente, ou seja, nos quadros referentes ao fluxo legal de entradas. A resolução desta insuficiência, já equacionada no âmbito da adopção de um novo sis- tema informático por parte do SEF, permitirá fornecer aos investigadores, e aos deciso- res políticos, uma imagem mais rigorosa sobre o perfil escolar da população estrangeira em Portugal. Contudo, é importante tomar em consideração que a simples enumeração das habilitações escolares dos imigrantes deverá ser complementada com uma análise mais fina do tipo de habilitações detidas. Tal é particularmente importante no caso dos detentores de um nível de ensino superior, dado que interessará conhecer não só o total de detentores deste nível escolar, mas, também, a área científica (ou mais pormenori- zadamente, ainda, o ramo científico) em que obtiveram a sua formação superior. Não obstante as referidas insuficiências, e por óbvia dificuldade em aceder a dados alternati- vos, utilizar-se-ão os dados recolhidos pelo SEF, e publicados pelo Instituto Nacional de

Estatística (INE), para descrever o perfil escolar dos imigrantes que entram legalmente em Portugal, completando-os com um conjunto diversificado de dados estatísticos que foi possível obter junto de diferentes entidades, ou que resultaram de diversos projectos científicos em que os autores deste estudo tomaram parte.

O Recenseamento Geral da População, nas suas diferentes actualizações decenais, cons- titui uma outra fonte de informação estatística sobre o perfil qualificativo dos imigrantes. As principais dificuldades decorrentes da sua utilização advêm dos problemas relaciona- dos com a diminuta taxa de cobertura de determinadas populações minoritárias e, em especial, da população imigrante (Baganha et al., 2002a:-50), e, por outro lado, do des- fasamento temporal entre o momento censitário e o momento da disponibilização dos dados para a análise. Esta última questão é particularmente relevante, dado que entre a data do último Recenseamento Geral da População (Março de 2001) e o momento actual se alteraram substancialmente as origens nacionais e as características demográficas e socioprofissionais dos imigrantes presentes em território nacional. Mesmo reconhecendo a sua desactualização, os dados do Recenseamento de 2001 permitem uma análise mais pormenorizada do perfil escolar da população imigrante, assim como o relacionamento do perfil escolar com outras variáveis relevantes para o presente estudo, nomeadamente, a inserção profissional dos imigrantes. Por outro lado, permitem ainda uma comparação de médio/longo prazo (10 anos) permitindo retirar os fluxos migratórios conjunturais e sublinhar o que existe de estrutural. Por esta razão, analisar-se-ão, no ponto dois deste capítulo, os dados relativos à população de nacionalidade estrangeira recolhidos pelo recenseamento de 200133.

Uma terceira fonte de informação sobre os perfis educativos dos imigrantes é de natureza bastante heterogénea e resulta de estudos particulares, sobretudo de natureza académica, inci- dindo sobre o total da população imigrante, ou sobre grupos específicos de imigrantes presentes em território nacional. Trata-se de estudos que, em geral, não se debruçam explicita- mente sobre as competências escolares dos imigrantes inqui-

33 Os dados que servem de base

a esta análise foram obtidos ao abrigo do abrigo do Protocolo celebrado entre o Instituto Nacional de Estatística e o Ministério da Ciência e do Ensino Superior, em 18 de Outubro de 1999.

ridos, mas que incluem, nos instrumentos de recolha de dados utilizados, questões rela- tivas a esta variável que poderão ajudar a obter uma imagem mais completa sobre as habilitações escolares de diferentes grupos de imigrantes. Os dados apresentados por estes estudos carecem igualmente de uma análise mais detalhada do que aquela que aqui apresentaremos. A tradição portuguesa, de não disponibilizar à comunidade as bases de dados recolhidas no âmbito de estudos patrocinados, implica a impossibilidade de utilizar esses mesmos dados na presente investigação. Muitas vezes, os dados resul- tantes de alguns destes estudos não são explorados na sua totalidade, porque não é esse o objecto em estudo, porque não existe capacidade por parte dos investigadores, ou porque, no momento, essas variáveis não se apresentam como fundamentais. No entanto, alguns destes estudos apresentam uma riqueza analítica que poderia (e deveria) reverter para a comunidade científica ou para a comunidade em geral. Ainda assim, na concretização do presente trabalho alguns estudos foram analisados e os seus dados serão aqui apresentados. As informações relativas às habilitações escolares constantes desses estudos apresentar-se-ão no terceiro ponto deste capítulo34.

Para além da informação recolhida e tratada, quer pelo Serviço de Estrangeiros e Fron- teiras, quer pelo Instituto Nacional de Estatísticas e da que resulta dos diversos estudos realizados sobre a população estrangeira, são, ainda, de referir os dados estatísticos recolhidos e disponibilizados por entidades oficiais e pelas associações representativas das diversas profissões. Trata-se de um conjunto bastante heterogéneo de dados que, em geral, enfermam de uma reduzida variedade na informação produzida, praticamente limitada a questões que correspondem aos interesses burocráticos da entidade que os recolhe e, apenas marginalmente, aos interesses dos investigadores. Encontram-se neste conjunto, dados fornecidos pelos diferentes Ministérios (Ministério da Saúde, Minis- tério do Trabalho e Segurança Social e Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Supe- rior) e das associações representativas das profissões mais significativas em termos da presença de trabalhadores não nacionais qualificados (e.g.

Ordem dos Enfermeiros, Ordem dos Médicos e Ordem dos Médicos Dentistas). As informações relativas aos cidadãos estrangeiros, recolhidas por estas entidades, não ultrapassam,

34 Os dados analisados neste

ponto resultam de projectos de investigação em que participaram os autores do presente texto.

frequentemente, a mera enumeração dos activos estrangeiros e a sua distribuição por nacionalidade, razão pela qual a sua análise, efectuada no ponto quatro deste capítulo, se encontra condicionada às características da informação disponibilizadas pelas referi- das entidades.

2. CARACTERÍSTICAS SOCIODEMOGRÁFICAS DOS IMIGRANTES

No documento Imigrantes Qualificados em Portugal (páginas 64-67)