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Mapa 9: Localização do bairro Walfredo Gurgel (Distrito Industrial e bairro Lula

4 A LEI DE DELIMITAÇÃO OFICIAL DE BAIRROS E SUAS CONTRIBUIÇÕES

4.1 Estatuto das cidades e o Plano Diretor de Caicó

O Brasil passou por um processo de crescimento urbano que se deu de forma desordenada. O seu rápido processo de industrialização vai caracterizar como um fator importante para o aumento populacional das cidades, onde contribuiu para o êxodo rural no Brasil a partir da década de 1960, começa passar a ser mais urbano e menos rural.

Com advento da industrialização, as pessoas deslocaram-se em busca de melhorias na cidade, já que as industriais ali se instalavam e precisava de mão de obra na produção, sendo assim, as pessoas do campo buscavam na cidade as oportunidades de emprego não encontradas na zona rural.

As cidades não acompanharam este crescimento populacional, ocasionando num desordenamento urbano, formando muitas vezes bairros segregados e consequentemente casas com ocupações irregulares, muito devido à valorização das áreas centrais da cidade.

Assim, começa-se a pensar em uma reforma urbana em meados da década de 1960, devido à segregação urbana. Os bairros segregados em sua maioria formada por trabalhadores, geralmente se encontra longe do seu local de trabalho que se deslocar até outros lugares da cidade para trabalhar. Então, readequar os espaços da cidade para que as pessoas fiquem mais próximo do seu local de trabalho ou que melhore o serviço de transporte público de qualidade que garanta a chegada do trabalhador a tempo no seu ambiente de trabalho. Muitas vezes, estes bairros têm ausência de transporte público e quando possui é de baixa qualidade.

As estruturas e serviços destes bairros deixa a desejar, devido à existência de escolas inadequadas, violência devida ausência do Estado, degradação do meio ambiente, moradias ilegais devidas ao mercado capitalista excludente, advindo muito da falta do Estado em controlar o uso e ocupação do solo, deixando a população longe do que está estabelecido na Constituição Federal sobre a política urbana.

Assim, as análises feitas acerca da estrutura dos bairros permite-se vê um contraste de zonas com bairros valorizados com infraestrutura, e zonas com bairros

desvalorizados, devida ausência de infraestrutura, gerando uma desigualdade socioespacial urbana entre as populações com alta e baixa renda de ter acesso a serviços e infraestrutura de qualidade que reflete no bem-estar urbano e na qualidade de vida dos seus moradores.

Percebe-se que no início às buscas por melhorias na cidade pela população rural não ocorre, devido aos problemas acabarem sendo transferidos para própria cidade, devida aos serviços precários ofertados nos bairros que se formaram a partir do êxodo rural, já que as mesmas não acompanharam o crescimento demográfico, com planejamento urbano e ordenamento territorial.

Então, a reforma urbana vem para trazer para a população um direito à cidade, ou seja, uma democratização da cidade onde demanda melhoria na qualidade de vida e bem-estar urbano de sua população, como meio ambiente, transporte público, mobilidade urbana, saneamento básico e saúde.

Para atender a essas demandas a população buscou a criação de mecanismos que contribuísse e dessa garantia de seriam feitas políticas urbanas para melhorar a qualidade de vida da população, com um conjunto de leis e instituições no arcabouço legal da Constituição Federal de 1988, entre as leis que vão da estas garantias estão: Estatuto das cidades, Planos diretores participativos, Marco regulatório do saneamento, Lei Federal dos resíduos sólidos e a Lei Federal da mobilidade urbana; e entre os institucionais estão: Ministério das cidades, Conferência Nacional das cidades.

Apesar de existir política urbana, advinda da criação desse arcabouço legal e institucionais, há ainda um desconhecimento acerca da legislação de parcelamento do solo, ambiente, zoneamento, código de obras pela população mais carente.

Este desconhecimento acarreta obstáculos no meio urbano dificultando o pensa na cidade como um direito, como questões geográficas, como morros, afloramentos rochosos; arquitetônicas, como vielas; sócias ligadas a pobreza, saneamento básico; que dificultam o acesso da população a serviços essenciais.

Rolnik (2012) coloca que um dos pilares da reforma urbana esta regularização do uso do solo, numa democratização do acesso ao parcelamento urbano, que em base com estatuto das cidades vai fornecer os instrumentos para a sua aplicação. Mesmo antes de existir o estatuto das cidades já se buscava meios para a questão da justiça social dos espaços ociosos e de especulação imobiliária, tendo a

elaboração de plano diretor um dos meios necessários para se alcançar este objetivo, garantindo uma cidade que atenda os anseios da população.

Uma das leis mais importantes das reivindicações da reforma urbana está a lei N.º 10.257, de 10 de julho de 2001 conhecida como Estatuto da cidade, veio para regulamentar os artigos 182 e 183 da Constituição Federal que trata da política urbana. No artigo 3.º, versa sobre a competência legislativa do que está estipulado na Constituição Federal, como as normas de diretos urbanísticos, cooperações entre união, estados e municípios e o Distrito Federal no equilíbrio do desenvolvimento e bem-estar, promovendo programas e instituindo diretrizes para políticas urbanas e de desenvolvimento, como habitações, saneamento básico, transporte, mobilidade urbana entre outros, elaborando e executando planos nacionais e regionais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social. Estes dados podem ser analisados usando o IBEU para uma melhor elaboração dessas políticas urbanas e de desenvolvimento que venha realmente contribuir para um bem-estar urbano da população.

Ao elencar estas questões urbanas, o estatuto das cidades, no artigo 2, nos incisos I, II, III, IV, V e VI, nos esclarece que:

A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais:

I – garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações;

II – gestão democrática por meio da participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade na formulação, execução e acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano;

III – cooperação entre os governos, a iniciativa privada e os demais setores da sociedade no processo de urbanização, em atendimento ao interesse social;

IV – planejamento do desenvolvimento das cidades, da distribuição espacial da população e das atividades econômicas do Município e do território sob sua área de influência, de modo a evitar e corrigir as distorções do crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio ambiente;

V – oferta de equipamentos urbanos e comunitários, transporte e serviços públicos adequados aos interesses e necessidades da população e às características locais;

VI – ordenação e controle do uso do solo, de forma a evitar: a) a utilização inadequada dos imóveis urbanos;

b) a proximidade de usos incompatíveis ou inconvenientes;

c) o parcelamento do solo, a edificação ou o uso excessivos ou inadequados em relação à infraestrutura urbana;

d) a instalação de empreendimentos ou atividades que possam funcionar como pólos geradores de tráfego, sem a previsão da infraestrutura correspondente;

e) a retenção especulativa de imóvel urbano, que resulte na sua subutilização ou não utilização;

f) a deterioração das áreas urbanizadas; g) a poluição e a degradação ambiental;

h) a exposição da população a riscos de desastres. (Estatuto das cidades, 2001)

Ao se fazer análise dos bairros da zona oeste a partir desse artigo do estatuto das cidades, percebe-se em um primeiro momento que os mesmos, não atendem a estes requisitos, como infraestrutura, saneamento básico, lazer, segurança, questão da degradação ambiental, em outros fatores, e que não tiveram controles pela gestão pública, já que suas formações foram espontâneas e que atualmente ainda não estão presentes nos bairros da zona oeste para atender as melhorias na qualidade de vida dos moradores na questão sócio-econômico-ambiental.

No que se refere ao Plano Diretor, o estatuto da cidade estabelece no capítulo III artigo 41 a sua obrigatoriedade para cidades com mais de 20 000 habitantes, tendo que ser revisto a pelo menos a cada 10 anos. Aqui vale salientar que o mesmo se encontra desatualizado, uma vez que sua elaboração se deu em 2006, ou seja, há um descaso dos governantes com o ordenamento e planejamento da cidade. Este plano é uma política municipal voltada para o desenvolvimento e expansão urbana, tendo como função levar um crescimento e desenvolvimento urbano pautado na qualidade de vida e justiça social da cidade.

Para isso Moreira (2008, p. 8) coloca que

O Plano Diretor é um documento técnico, contudo, o seu conteúdo deve expressar o resultado de uma discussão política sobre a cidade. Para tanto, deve se constituir em um documento produzido por meio de um processo canalizador de propostas, que direcionem o desenvolvimento da cidade, incorporando suas dimensões políticas, social, econômica, cultural, físico- territorial e ambiental.

Percebemos que no próprio plano diretor no seu artigo 3 do Título I que trata da política urbana, dá a garantia de participação da sociedade para sua discussão, como toda política urbana, como é o caso do Plano Municipal de Saneamento Básico (PMSB), e todas as ferramentas usadas para alcançar o bem-estar urbano da população, sendo de suma importância apontar os problemas da cidade e de seu

bairro para que tenha políticas públicas voltadas atender os problemas urbanos, como saneamento básico, saúde, segurança entre outros.

No capítulo IV que trata das propostas para a proteção ambiental está na seção II, o saneamento básico para a implantação das ETEs – Estação de Tratamento de Esgoto em cada zona da cidade, para tratamento do esgoto doméstico antes de serem jogados sem nem um tratamento, fato este que não é a realidade atual da cidade, mesmo a cidade possuindo o Plano Municipal de Saneamento Básico, e como foi mostrado nos dados obtidos na prefeitura e CAERN e que foram comprovadas no campo feito nos bairros da zona oeste.

Ainda no mesmo capitulo, na seção III que trata das diretrizes da ocupação urbana e rural, as Zonas Especiais de Interesse Ambiental (ZEIAs) que considera os limites de corpos hídricos para serem criadas. Aqui salientamos a questão dos bairros João XXIII e Barra Nova, que tem ocupações de casas as margens do Rio Barra Nova.

No título V, que trata do trânsito urbano, o transporte público é abordado no capítulo 2, artigo 97 estabelece diretrizes para a garantia do conforto e bem-estar regulamentando horários e rotas. Assim, no tocante a zona oeste apenas há duas rotas realizadas uma que passa pelo bairro Paulo VI e outra bairro Barra Nova/Walfredo Gurgel, sendo realizado de segunda a domingo durante horários de manhã e tarde, com exceção do domingo e sábado que funciona com horário reduzido, não possuindo horário a noite, exceto nos períodos de festa de Sant’Ana e carnaval que é realizada em período integral.

Apesar dos objetivos propostos no plano diretor na busca de uma cidade ideal com qualidade de vida, de bem-estar urbano, uma cidade de direito com transporte público de qualidade, saneamento básico entre outros, não estão sendo alcançados, na prática, pois, são poucas as mudanças trazidas até agora para a população da cidade que ainda é carente de serviços e infraestrutura dos bairros em especial da zona oeste. Os mesmos eram para terem sido posto à prática dentro dos prazos estabelecidos pelo plano diretor para a suas efetivações.