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Elaboração: Francisco Marciel, 2016

Os bairros da zona oeste como grande parte dos outros bairros da cidade, não foram planejados, sendo implantados de maneira aleatória, o que trouxe problemas para seus moradores. Assim, o desordenamento dos bairros pode ser

ocasionado a partir de questões econômicas e migratórias, onde, pessoas com menor poder aquisitivo ou que migram, passam a ocupar as áreas periféricas de forma irregular acarretando problemas urbanos, a exemplo, os surgimentos dos primeiros bairros da zona oeste já que suas formações se deram em terrenos de topografia acidentada (afloramentos rochosos), que foram negligenciados pelos governantes por se tratar de uma área periférica, o que dificulta a vida cotidiana dos seus moradores na questão de saneamento básico e meio de transportes (Morais, 1999). Os problemas advindos desta ocupação são: inundações de residências, ruas sem acessos, falta de saneamento básico, precariedade das moradias, dentre outros (Mosaico 1).

Mosaico 1: Problemas de infraestrutura e ocupação desordenada

Fonte: Arquivo do autor (2016).

A zona oeste começa a se formar partir do bairro João XXIII, na década de 1960, nas margens do rio Barra Nova no lado esquerdo a jusante. Morais (1999) coloca que este bairro nasce com status de favela, perpassando para os outros bairros mais distantes da área central da cidade que vieram depois, passando para o bairro Paulo VI e mais tarde para o bairro João Paulo II, ainda segundo a autora outro bairro que nasce com status de favela é o bairro Frei Damião.

A denominação de favela muitas vezes não é aceita por moradores de bairros que são caracterizados como favela, então em 2006, o IBGE faz uma avaliação sobre áreas conhecidas ao longo do país por diversos nomes, como favela, comunidade, grotão, vila, mocambo, entre outros, classificando como aglomerados subnormais. O conceito de aglomerados subnormais foi usado pela primeira vez em 1991, mas no censo de 2010 o IBGE, usou inovações metodológicas e operacionais com objetivo de atualizar e aprimorar a identificação dos aglomerados, sendo denominados de:

(...) conjunto constituído de, no mínimo, 51 (cinquenta e uma) unidades habitacionais (barracos, casas...) carentes, em sua maioria de serviços públicos essenciais, ocupando ou tendo ocupado, até período recente, terreno de propriedade alheia (pública ou particular) e estando dispostas, em geral, de forma desordenada e densa. A identificação dos aglomerados subnormais deve ser feita com base nos seguintes critérios:

a) Ocupação ilegal da terra, ou seja, construção em terrenos de propriedade alheia (pública ou particular) no momento atual ou em período recente (obtenção do título de propriedade do terreno há 10 anos ou menos); e b) Possuírem pelo menos uma das seguintes características:

•urbanização fora dos padrões vigentes - refletido por vias de circulação estreitas e de alinhamento irregular, lotes de tamanhos e formas desiguais e construções não regularizadas por órgãos públicos; ou

•precariedade de serviços públicos essenciais. (IBGE, 2010, s.n.)

Assim, com as observações em campo, estes bairros apesar de possuir problemas diversos, não são classificados como aglomerados urbanos. Os bairros desta zona possuem os serviços públicos essenciais (como coleta de lixo, rede de esgoto, rede de água, energia elétrica e iluminação pública) mesmo que precários. Os bairros foram formados por pessoas de baixa renda, mas alguns possuem um certo poder aquisitivo, uma vez que são proprietários de estabelecimentos comerciais.

Os serviços tidos como essências dos bairros, como a limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos são realizados pela prefeitura que coleta, transporta e dá destino final dos resíduos sólidos, que é depositado no lixão na zona rural do município. Esta coleta ocorre nos bairros da zona oeste durante um ou dois dias da semana1. A coleta seletiva de recicláveis ocorre em parceria da prefeitura com a

Associação de Catadores de Materiais Recicláveis de Caicó – ASCAMARCA. A iluminação pública é realizada pela prefeitura do município de Caicó-RN, onde, em

1 Dados sobre a coleta de lixo dos bairros de Caicó/RN obtidos do Relatório do Plano Municipal de Saneamento Básico, 2016 (PMSB).

grande parte, é feita por lâmpadas amarelas que iluminam menos, possuindo algumas com lâmpadas que iluminam melhor o que proporciona mais segurança para seus moradores.

Ainda, com relação a serviços essenciais os bairros desta zona sofrem com o pouco saneamento básico, cujo à Lei n.º 11.445, de 5 de janeiro de 2007 que estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico, que se considera como sendo o conjunto de serviços, infraestruturas e instalações operacionais de: abastecimento de água potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, drenagem e manejo das águas pluviais, limpeza e fiscalização preventiva das respectivas redes urbanas. Assim, ao defrontar com a realidade vista na zona oeste, percebemos a carência do saneamento básico, prejudicando a saúde e consequentemente seu bem-estar2 dos seus moradores.

Para atender esta lei o município é obrigado a possuir o Plano Municipal de Saneamento Básico (PMSB), que atualmente esta sendo revisado, tendo que ser aprovado em audiência pública, para só então ser colocado em prática com a finalidade de atender os serviços estabelecidos na lei de saneamento básico.

O abastecimento de água é de responsabilidade da estatal do governo do estado do Rio Grande do Norte, Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (CAERN) que abastece os bairros da zona oeste e cidade, onde o fornecimento d’água se dá pelo Açude Itans e Adutora Rio Piranhas-Açu. Em tempos de crise hídrica é abastecida somente pelo sistema piranhas-açu em forma de rodízio.

Atualmente, a cidade passar por uma crise hídrica e foi acionado o sistema de rodízio. Onde, a zona oeste é abastecida por 72 horas e desabastecida por mesmo período, nos bairros João XXIII, Walfredo Gurgel, Luiz Januário, Bairro Barra Nova, João Paulo II abastecidos durante o dia; o bairro Paulo VI, Adjunto Dias são abastecidos durante o dia e a noite. Os bairros Frei Damião e São José abastecidos por 6 horas dentro destes intervalos de abastecimento3.

O esgotamento sanitário da cidade é de responsabilidade da prefeitura e da CAERN, onde, maior parte foi implantada pela prefeitura correspondendo a 40% do

2 Segundo a Organização Mundial da Saúde, a cada dólar investido em água e saneamento, há um retorno de 4,3 dólares na forma de redução dos custos de saúde para indivíduos e sociedade. United Nations. Every dollar invested in water, sanitation brings four-fold return in costs – UN. Disponível em: <http://www.un.org/apps/news/story.asp?NewsId=49377#.WVw5zBXyvcf>. Acesso em: 28 de jun. 2017.

atendimento da coleta de esgoto na zona urbana dos bairros: Centro, Paraíba, Barra Nova, parte de Nova Descoberta, Penedo, Walfredo Gurgel, João XXIII e Alto da Boa Vista, sendo descartado nos cursos d’água sem nenhum tipo de tratamento. A outra parte é feita pela CAERN, corresponde a 7% de atendimento dos bairros: Vila do Príncipe, Castelo Branco, IPE e parte de Nova Descoberta, que é recebido e tratado.

A drenagem e manejo das águas pluviais, a micro drenagem nas vias pavimentadas do município e dos bairros da zona oeste são quase inexistentes nestes foram identificadas somente duas em toda zona oeste que foi um, no bairro Paulo VI e outra no bairro Barra Nova. Em relação à macrodrenagem, existe um conjunto de galerias que encaminham as águas coletadas em parte da área urbana para o Rio Barra Nova.

Ainda, na zona oeste, estão instalados o Hospital Regional do Seridó que traz benefícios para a população que precisa de atendimento médico quando não encontra nos postos de seus bairros, e o Departamento de Polícia Rodoviária Estadual.

O seu dinamismo econômico é variado, mas não ocorre de forma homogênea entre seus bairros, como, por exemplo, o bairro Barra Nova concentra uma rede de serviços, como: farmácia, supermercado, borracharias, escolas públicas e privadas, academia de musculação, postos de combustíveis, escritórios de advocacia, restaurantes e bares, lojas de construção, entre outros, quando comparada aos demais bairros, que possuem uma variedade menor ou até mesmo quase inexistente, como vamos observa nos dados obtidos em campo mais à frente.

Tudo isso, leva-se a pensar no bem-estar da população dos bairros da zona oeste, tendo em vista que a forma como se deu o processo de ocupação desordenado desses bairros associados à falta de políticas públicas que afetam a vida de seus moradores.

Neste pensamento, traz a contribuição de Ribeiro e Ribeiro (2013), com do Índice de Bem-Estar Urbano (IBEU), elaborado pelo INCT Observatório das Metrópoles da Universidade Federal do Rio de Janeiro, realizado com base nos dados do censo demográfico de 2010 do IBGE por áreas de ponderações, que está disponível para cidades com populações com mais de 190 mil habitantes, Caicó possui apenas 62 709 habitantes.

O IBEU considera 5 dimensões que são: mobilidade urbana (deslocamento casa-trabalho); condições ambientais urbanas (arborização, esgoto a céu aberto e lixo acumulado no entorno dos domicílios); condições habitacionais urbanas (aglomerado subnormal, densidade domiciliar, densidade de morador/banheiro e material das paredes dos domicílios); atendimento de serviços coletivos urbanos (atendimento adequado de água, esgoto, energia e coleta de lixo); infraestrutura urbana (Iluminação pública, pavimentação, calçada, meio-fio/guia, bueiro ou boca de lobo, rampa para cadeirantes e logradouros). Assim, um primeiro passo para analisar a cidade com base no IBEU seria uma delimitação oficial dos bairros, que acarretaria um planejamento urbano, associados às políticas públicas, já que o mesmo permitiria uma análise socioespacial e ambiental de cada bairro.

Neste contexto, a seguir uma caracterização e análise dos bairros que compõem a zona oeste da cidade para dar uma melhor visibilidade dos seus problemas e de como vivem os grupos sociais em estado de vulnerabilidade social4

presente nestes bairros da cidade.

3.1 Bairro Adjunto Dias

Sua formação se dá em uma área de um antigo açude, que foi aterrado e depois teve suas terras destinadas à comercialização para fins habitacionais. Antes de se chamar adjunto Dias, era denominado de “Barra Nova II”; sua denominação atual e seus limites foram estabelecidos pela lei n.º 3.946 de 10 de julho de 2002. Faz limites com os bairros ao leste com Paulo VI e João Paulo II, ao norte com Barra Nova e ao oeste com Walfredo Gurgel (Mapa 3). No quadro 1 a seguir, algumas informações obtidas em campo acerca da falta infraestrutura do bairro.

4 População que vivem à margem da sociedade devida ao seu contexto socioeconômico como aos fatores de escolaridade, renda, moradia, raça, saneamento entre outros, sendo dependente de políticas públicas voltadas para que esta população, onde possa usufruir seus direitos e cumprir seus deveres como cidadão.