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IV A POLÍTICA PÚBLICA DE JUVENTUDE EM SERGIPE.

42.1 A explicitação das demandas das juventudes Brasileira na contemporaneidade.

4.2.1.2 O Estatuto da Juventude

O Projeto de Lei 4.529, referente ao Estatuto da Juventude, é o resultado do trabalho desenvolvido pela Frente Parlamentar em Defesa da Juventude, que criou a Comissão Especial Destinada a Acompanhar e Estudar Propostas de Políticas Públicas para a Juventude, em maio de 2003.

A Comissão desenvolveu várias atividades no sentido de identificar os problemas e os anseios dos jovens. Dentre as atividades realizadas a construção de audiências públicas temáticas; a elaboração de grupos de estudos sobre os temas: educação e cultura; trabalho; saúde e sexualidade; desporto e lazer; família, cidadania, consciência religiosa, exclusão social e violência; minorias: deficiente, afrodescendente, mulher, índio, homossexual, jovem do semi-árido e rural. Além disso, foram realizadas a Semana do Jovem e o Seminário Nacional de Juventude, em Brasília, que reuniu mais de 700

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jovens de todo o Brasil, contou também com a presença de especialistas na questão juvenil e gestores públicos.

A construção dessas atividades, que contou com a participação dos jovens, dos movimentos sociais e partidos políticos e das organizações sociais, teve como resultado a elaboração dos Projetos de Lei referente ao Estatuto da Juventude e o Plano Nacional de Juventude, além da sugestão de instalação da Secretaria, do Conselho e do Instituto Nacional de Juventude.

O Estatuto tem por objetivo legislar sobre as pessoas que têm entre 15 a 29 anos de idade. Na justificação do PL, aponta-se para dificuldade de conceituar o que é juventude, por se tratar de um termo não consensual nas ciências e na sociedade buscando, portanto, fundamentar a definição do que é juventude no aspecto cronológico.

Outra ressalva que a justificação do PL aponta é para a existência no país de uma legislação que dispõe sobre a vida das pessoas que têm de 15 a 18 anos de idade, a Lei 8.069 de 1990 o ECA, a qual garante a proteção às crianças e aos adolescentes. Neste sentido, o Estatuto da Juventude é uma lei complementar ao ECA; ou seja, o Estatuto da Juventude disporá sobre direitos suplementares ainda não assegurados aos jovens entre 15 e 18 anos.

Art. 1º Esta lei institui o Estatuto da Juventude destinado a regular os

direitos assegurados às pessoas com idade entre quinze e vinte e nove anos, sem prejuízo do disposto na Lei nº 8.069, de 12 de julho de 1990 e dos demais diplomas legais pertinentes.

Há uma preocupação para que o Estatuto da Juventude não se torne uma legislação sobreposta ao ECA, mas complementar que também trata de pessoas com 15 a 18 anos de idade. Evidencia essa preocupação já no seu primeiro artigo.

O Estatuto prevê

Art. 2º Os jovens gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à

pessoa humana, sem prejuízo dos relacionados nesta lei, assegurando-se-lhes, por lei ou outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para a preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social, em condições de liberdade e dignidade.

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Nesse sentido, os jovens são entendidos como pessoas que possuem direitos e, a preservação destes direitos visa garantir o desenvolvimento moral, intelectual e social, reforçando a tese de que a juventude é uma fase em que o indivíduo está em formação e, por isso é de responsabilidade da Sociedade e do Estado assegurar esses direitos.

Art. 3º A família, a comunidade, a sociedade e o Poder Público estão

obrigados a assegurar aos jovens a efetivação do direito: I – à vida;

II – à cidadania e à participação social e política; III – à liberdade, ao respeito e à dignidade; IV – à igualdade racial e de gênero;

V – à saúde e à sexualidade; VI – à educação;

VII – à representação juvenil; VIII – à cultura;

IX - ao desporto e ao lazer;

X – à profissionalização, ao trabalho e à renda; e XI – ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.

O Estatuto significa um avanço no debate de política de juventude no país, pois desconstrói a compreensão de juventude como futuro da nação, como setor estratégico de desenvolvimento econômico, a lógica dualista na construção de política de juventude. A política educacional para os jovens de classe média e alta; E a política assistencialista e repressiva para os jovens das classes trabalhadoras.

Além disso, inova ao tratar de temas como – cidadania e a participação social e política; a igualdade racial e de gênero, a saúde e a sexualidade; a representação juvenil; ao meio ambiente ecologicamente equilibrado como direitos fundamentais.

O direito à participação social e política, à representação juvenil reforçam a tese de compreender os jovens como cidadãos portadores de direitos e, portanto, de que estes têm o direito de se organizar e intervir nas decisões políticas, participando da elaboração das políticas públicas.

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O direito à igualdade racial e de gênero permite descortinar as relações sociais desiguais que foram edificadas no país, com base na classe social, no gênero e na etnia. Apontando a necessidade de construir política pública que considere essa desigualdade, partindo do princípio da equidade, para que as políticas possam corrigir essas desigualdades.

Concernente ao direito á saúde e sexualidade, percebe-se a necessidade de tratar de temas que ainda são considerados “tabus” na sociedade, posto que, questões relacionadas com a sexualidade, como gravidez na adolescência, doenças sexualmente transmissíveis fazem parte do cotidiano da juventude e precisam ser tratadas como assunto de intervenção do Poder Público.

Observa-se ainda, que em relação ao direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, permitem-se às novas gerações o direito de viver numa sociedade saudável, visto que, hoje estamos vivendo em uma era capitalista predatória do meio ambiente, comprometendo o acesso das novas gerações aos recursos naturais.

A aprovação do Estatuto da Juventude é uma das principais reivindicações dos movimentos juvenis, das organizações sociais, dos movimentos sociais, partidos políticos. Sua aprovação servirá para consolidar no país uma nova concepção do que é ser jovem e da necessidade de construir políticas públicas especificas para este segmento.

Outros segmentos já tiveram legislações específicas aprovadas, como Idoso, Negros e criança/adolescente, ambos visam como essas legislações o reconhecimento como sujeitos portadores de direito que necessitam de mais atenção das políticas públicas por sofrerem mais discriminação na sociedade por sua condição social, geracional e étnica.