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ESTRATÉGIA DE TRATAMENTO DE DADOS: ANÁLISE DO CONTEÚDO

3. CONSTRUÇÃO METODOLÓGICA DA PESQUISA 1 O FIO CONDUTOR DA INVESTIGAÇÃO

3.9. ESTRATÉGIA DE TRATAMENTO DE DADOS: ANÁLISE DO CONTEÚDO

A partir do inicio do século XX, por uns 40 anos, a Análise de Conteúdo (AC) relacionou-se ao desenvolvimento da comunicação de massas nos EUA. Como primeiros exemplos temos os estudos quantitativos de Harold Lasswell (1927) ―Propaganda Technique in the World War” e de Berelson e Lazarsfeld (1952) ―The analysis of communications content” apud Minayo (1998). Os problemas acarretados pela Segunda Guerra Mundial aumentaram a demanda por métodos similares à AC, e a partir dos anos 60 este se expandiu para as áreas das Ciências Sociais e Humanas (nomeadamente Ciências da

Comunicação e Jornalismo). Inicialmente (início do século) foi considerada uma técnica de pesquisa capaz de proporcionar a descrição sistemática, objetiva e quantitativa de comunicações em jornais, revistas, filmes, emissoras de rádio e televisão. Nos anos 70 três fenômenos afetaram negativamente a investigação e a prática em análise do conteúdo: o recurso do computador; o interesse dos estudantes pela comunicação não verbal, e a inviabilidade de precisão de trabalhos linguísticos. Atualmente é cada vez mais usada para análise qualitativa de material obtido através de entrevistas de pesquisa (BARDIN, 2011).

A análise de conteúdo é um dispositivo apto para o tratamento da informação recolhida pela capacidade de promover a multidimensionalidade dos fenômenos, através das falas produzidas pelos atores, permitindo um desvendar crítico.

Vários autores definem a AC. Vala (1986, p. 104) relata que é um ―processo de localização-atribuição de traços de significação, resultado de uma relação dinâmica entre as condições de produção do discurso a analisar e as condições de produção da análise”.

L` Écuyer (1990, p.120) considera-a ―um método científico sistematizado e objectivado‖, cuja finalidade segundo Terrasêca (1996) é:

[...] desopacidar o material analisado, permitindo desvendar os sentidos escondidos ou presentes de modo subliminar. Este é um dos aspectos que confere à análise de conteúdo a capacidade para, no trabalho de desmontagem de um dado discurso, produzir um novo discurso que é a restituição do primeiro, mas resultando da sua desconstrução e reconstrução. Este processo de restituição resume todo o trabalho de análise, sem o qual o discurso não revelaria de si, nem significações diversas nem acrescidas, em relação aquilo que consistia a sua formalização inicial. (TERRASÊCA, 1996, p.116).

Neste sentido, considerando, tal como Terrasêca (1996), que os discursos contêm em si sentidos que, eventualmente, os emissores não tinham intenção consciente de produzir no ato da enunciação, mas que de fato estão lá e que por sua vez o utilizamos, a Análise de Conteúdo permite-nos desvendá-los, possibilitando a emergência de sentidos atribuídos e a produção de um novo discurso decorrente da análise.

É importante salientar que sempre será possível investigar os textos dentro de múltiplas perspectivas. Os valores e a linguagem natural do entrevistado e do pesquisador, bem como a linguagem cultural e os seus significados, exercem uma influência sobre os dados da qual o pesquisador não pode fugir. A análise do conteúdo não deixa de ser uma interpretação pessoal por parte do pesquisador com relação ao tema da pesquisa. Desta forma a leitura não é neutra, e toda leitura necessita de uma interpretação (MORAES, 1999).

Conforme Minayo (1998), as técnicas de análise de conteúdo compreendem a A. de expressão, A. das relações, A. de avaliação, A. da enunciação e A. temática. a Análise temática compreende três etapas assim descritas por Minayo (1998):

1ª) Pré-análise: consiste na escolha do material a ser analisado, retomando hipóteses e objetivos e reformulando-os frente ao material coletado, e pode ser decomposto em:

- Leitura flutuante: leitura exaustiva do material para melhor entendimento frente às teorias relacionadas ao tema;

- A escolha dos documentos: o universo de documentos de análise é determinado a priori ou escolher o universo de docuementos. Após a eleição dos documentos é necessário proceder a constituição de um corpus, o corpus é o conjunto dos documentos tidos em conta para serem submetidos à análise, a sua cosntituição implica em seguir algumas regras, tais como: exaustividade, representatividade, homogeneidade e pertinência.

- Formulação de hipóteses e objetivos: estabelecimento de hipóteses iniciais e flexíveis, que permitam inclusão de hipóteses emergentes a partir dos procedimentos exploratórios;

- A referência dos índices e a elaboração de indicadores: se considerarmos os textos como uma manifestação contendo índices que a análise vai falar, o trabalho preparatório será o de escolha destes. Uma vez escolhida os índices, procede-se à construção de indicadores precisos e seguros. Desde a pré-análise devem ser determinadas operações: de recorte do texto em unidades comparáveis de categorização para análise temática e de modalidade de codificação para o registro dos dados.

- A preparação do material: antes da análise propriamente dita, o material reunido deve ser preparado. Trata-se de uma preparação material.

2ª) A exploração do material: transformação dos dados brutos visando alcançar o núcleo da compreensão do texto. Após a determinação da unidade de registro, faz-se a escolha das regras de contagem, através da construção de índices, permitindo alguma forma de quantificação. Nesta fase determinam-se, também, a unidade de registro (frase), a unidade de contexto (delimitação do contexto de compreensão da unidade de registro), os recortes, a categorização, a modalidade de codificação e os conceitos teóricos que irão orientar a análise. Realiza-se então a classificação e agregação dos dados, através das categorias teóricas ou empíricas.

A categorização é uma das etapas mais criativas da análise de conteúdo, e este processo de construção das categorias exige alguns critérios que devem ser minuciosamente considerados. As regras a serem seguidas na constituição de um corpus (MINAYO, 1992, p.209; BARDIN, 1979, p.96-98) são: exaustividade, pertinência, homogeneidade, exclusividade e objetividade.

Quanto à exaustividade, a categorização deve possibilitar que todo o conteúdo deve ser definido de acordo com os objetivos da análise, assim um conteúdo deve ser exaustivo no sentido de incluir todas as unidades de análise. A pertinência exige que todas as categorias criadas sejam significativas e úteis em termos do trabalho proposto, sua problemática, seus objetivos e sua fundamentação teórica. Além das categorias serem válidas e possibilitarem a inclusão de todos os dados significativos, as categorias também precisam ser homogêneas, isto é, devem ser fundamentadas em um único princípio ou critério de classificação, a fim de garantir que todo o conjunto esteja estruturado em uma única dimensão de análise. Garantida a exaustividade e a homogeneidade de suas categorias, o critério de exclusividade dever ser assegurado, em que cada elemento possa ser classificado em apenas uma categoria, o mesmo elemento não deve ser classificado aleatoriamente em duas categorias diferentes. Finalmente, as categorias devem atender aos critérios de objetividade, isto é, as regras de classificação são explicitadas com suficiente clareza de modo que possam ser aplicadas consistentemente ao longo de toda a análise. Isto significa que não deveria ficar nenhuma dúvida quanto às categorias em que cada unidade de conteúdo deveria ser integrada (BARDIN, 2011).

A categorização consiste no agrupamento de todas as informações semelhantes, no formato de categorias a priori ou constituídas a partir de um processo indutivo, o qual reconstrói as categorias usadas pelos sujeitos para expressarem suas próprias experiências e visão de mundo, a abordagem subjetiva. Se a escolha for

pela a priori, o pesquisador de antemão já possui categorias pré definidas, geralmente de larga abrangência e que poderiam comportar sub-categorias que emergissem do texto. No caso da escolha pela categorização a posteriori,essas emergem totalmente do contexto das respostas dos sujeitos da pesquisa, o que inicialmente exige do pesquisador um intenso ir e vir ao material analisado e às teorias embasadoras, além de não perder de vista o atendimento aos objetivos da pesquisa.

Nesta pesquisa optamos por blocos temáticos a priori e por categorias e subcategorias a posteriori. Visto que estas categorias e subcategorias foram definidas no processo com o objetivo de que não ocorra um engessamento e uma limitação das categorias temáticas.

3ª) Tratamento dos resultados obtidos e Interpretação: os resultados brutos são tratados de maneira a serem significativos. A partir do momento que foram estabelecidas as categorias e identificado o material constituinte de cada uma delas, é necessário comunicar o resultado deste trabalho. A comunicação é realizada a partir de um texto síntese em cada categoria, que expressa o conjunto de significados presentes nas diversas unidades de análise incluídas em cada uma delas.

No texto síntese, o analista realiza interpretações previstas no seu quadro teórico e abre outras pistas em torno de dimensões teóricas surgidas no material. É a busca dos significados manifestos e latentes do material coletado. A Análise de Conteúdo no nível manifesto restringe- se ao que é dito, e pode orientar conclusões apoiadas em dados quantitativos e numa visão estática da realidade. Já ao nível latente, o pesquisador procura captar sentidos implícitos, abre perspectivas para descobrir ideologias, tendências e características de um modelo social (TRIVINÕS, 1987). Neste estudo optamos por análise do conteúdo latente por ser dinâmica, social e histórica.

A inferência está relacionada à pesquisa quantitativa, a amostra e a generalização. Visto que a interpretação relaciona-se a análise qualitativa e procura a compreensão, quem a faz não só sobre conteúdos manifestos pelos autores, como também sobre os conteúdos latentes (MORAES, 1999). No nosso trabalho descrevemos cada uma das categorias a partir da produção de um texto síntese, o qual expressará o conjunto de significados presentes nas diversas unidades de análise.

A estratégia para o tratamento dos dados dos questionários e das entrevistas envolveu a redução de dados, a apresentação dos mesmos e as conclusões. Relativamente à redução dos dados, começamos por traduzir as entrevistas para a linguagem escrita, as transcrições. No

sentido de manter o anonimato das entrevistas, foi estabelecido um roteiro de codificação, associando os entrevistados a uma referência alfabética e numérica. O passo seguinte consistiu na codificação das várias seções do discurso nas categorias anteriormente definidas.

Os resultados serão apresentados num único bloco de categorias, sem separação entre uma técnica de coleta de dados de outra técnica, pois o objetivo do estudo foi de construir um panorama crítico sobre o PBL na formação do Fisioterapeuta, e não de confrontar falas dos participantes, além do que, as falas foram muito similares entre um grupo e outro e entre uma técnica e outra, isto é, entre as entrevistas e os questionários. Os resultados estão representados pela figura abaixo: Figura 11 - Triangulação dos dados.

No próximo capítulo serão apresentados os discursos dos atores envolvidos no PBL, os três grandes blocos temáticos com suas respectivas categorias, subcategorias, unidades de registro e as discussões.