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3. CONSTRUÇÃO METODOLÓGICA DA PESQUISA 1 O FIO CONDUTOR DA INVESTIGAÇÃO

3.5. A OBSERVAÇÃO EM SALA DE AULA

A observação tem um papel muito importante na melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem, sendo um motivador de mudança nas escolas. Até a última década do século XX, a observação acontecia somente na formação inicial dos professores, em seus estágios probatórios. A partir do ano de 2000 identifica-se uma tendência em realizar a observação de aulas como um processo de interação profissional de caráter formativo, centrado no desenvolvimento individual e coletivo dos professores e na qualidade do ensino e das aprendizagens.

Para Reis (2011) existem vários tipos de observação de aulas: observação com o objetivo de avaliar o desempenho dos professores e da escola; momento em que um professor observa outro professor mais qualificado - consequentemente apoiando o seu desenvolvimento profissional, ou a observação de práticas consideradas interessantes com o objetivo de promover o contato com diferentes abordagens,

metodologias e atividades. No caso desta tese, a observação utilizada teve com o intuito de observar uma prática pedagógica diferenciada, o PBL.

Reis (2011) relata que a observação de aulas pode ser utilizada em diversos cenários e com finalidades múltiplas: demonstrar uma competência, partilhar um sucesso, diagnosticar um problema, encontrar e testar possíveis soluções para um problema, explorar formas alternativas de alcançar os objetivos curriculares, aprender, apoiar um colega, avaliar o desempenho, estabelecer metas de desenvolvimento, avaliar o progresso, reforçar a confiança e estabelecer laços com os colegas. Segundo Estrela (1986, p. 135), ―só a observação permite caracterizar a situação educativa a qual o professor terá de fazer face em cada momento‖, o que significa que, por intermédio da percepção e da interpretação efetuadas pelo observador, podem ser identificadas as variáveis e interações presentes.

A observação, quanto à situação ou atitude do observador, pode ser classificada em participante ou naturalista. A observação participante é aquela em que, de alguma forma, o observador participa na vida do grupo por ele estudado. A observação naturalista é aquela que é realizada num meio natural por um observador, distanciado em relação à realidade observada (ESTRELA, 1986).

Quanto ao processo, a observação pode classificar-se em: ocasional, sistemática e naturalista. A observação ocasional é realizada por escolha do observador, tendo em vista um momento específico de interação dos indivíduos, ou um momento específico de um fenômeno, resultando no registro dos incidentes críticos ou ocasionais verificados por este observador. A observação é sistemática quando (ESTRELA, 1986, p.42) ―é posta em relevo a coerência dos processos e dos resultados obtidos, utilizando técnicas rigorosas em condições suficientemente bem definidas, com possibilidades de validação e repetição‖. A observação é naturalista quando a observação dos comportamentos dos indivíduos é realizada nas circunstâncias da vida cotidiana (ESTRELA, 1986).

A observação deve contemplar três componentes principais: a delimitação do campo de observação (estabelecer a escolha do observável, as situações e os comportamentos, as atividades, o tempo, o espaço, forma e conteúdo de comunicação, interações verbais e não verbais, etc.), a definição das unidades de observação (estabelecer a classe, a turma, os alunos, o professor e o tipo de fenômenos), estabelecimento das sequências comportamentais (DIAS; MORAES, 2004).

Neste estudo, o diário de campo foi utilizado para registrar os dados proveniente das observações (Anexo C). Os aspectos que incidiram sobre a observação em sala de aula estão no quadro abaixo: Quadro 6– Aspectos que incidiram sobre a observação em sala de aula. Organização da

sala de aula

Disposição de mesas e cadeiras, a distância em que um aluno senta do outro e do professor, de que forma os alunos estão agrupados, barulho na sala, interrupções causadas por fatores externos, cadeiras confortáveis, a luminosidade e espaço da sala de aula, os alunos escolhem o lugar para sentar.

Na interação na sala de aula

Quem fala, para quem fala e durante quanto tempo, qual o padrão de interação (todo mundo fala junto ou cada um fala de uma vez), como é que os alunos e professores falam uns com os outros- interrompendo ou partindo do que o outro disse, com que frequência existe silêncio e como é que os alunos e professores lidam com ele, como é que os professores e alunos lidam com opiniões diferentes. Discurso do

professor

Como é que o professor felicita os alunos, que tipo de pergunta faz o professor (de resposta sim/não ou de resposta aberta ou fechada), a quem o professor dirige a pergunta, que tipo de feedback dá o professor às perguntas dos alunos, se o professor encoraja ou desencoraja a formulação de perguntas, como o professor mostra que está a ouvir, como o professor estimula a discussão. Discurso dos

alunos

Que tipo de pergunta faz o aluno, com que frequência, que tipo de resposta dão os alunos, quem conversa e com que frequência, como é que os alunos reagem ao feedback do professor.

Clima em sala de aula

Se os alunos e professores estão interessados e entusiasmados, o professor conhece e utiliza os nomes dos alunos, o humor é usado de forma apropriada, o professor não inferioriza ou envergonha os alunos, o professor ouve atentamente os alunos, o professor estimula a participação e o pensamento de todos os alunos, existe clima de tranquilidade que favorece a aprendizagem, existe clima de colaboração e existe clima de respeito e de valorização de diferentes opiniões.

As atividades educativas

As atividades educativas adéquam-se aos objetivos propostos? As atividades educativas são complementares e estão bem articuladas? A duração das atividades é adequada ao tempo de concentração dos alunos? Existe diferenciação de atividades de acordo com as necessidades dos alunos? O professor apresenta aos alunos o tema e os

objetivos de cada atividade? O professor informa os alunos dos critérios de avaliação de cada atividade? As atividades estimulam a participação e o entusiasmo de todos os alunos? As explicações são claras para os alunos? O professor recorre a situações do dia-a-dia dos alunos para exemplificar os conceitos abordados na aula? O professor evidencia a relevância das aprendizagens ocorridas nessa aula para a vida quotidiana dos alunos?

Fonte: Reis (2011).

A preparação das observações envolveu várias reuniões com o coordenador do curso de Fisioterapia da ESTSP, o conhecimento das regras da escola, a frequência das sessões tutorias, a duração, a finalidade, as dimensões a observar e as formas de registro – manuscrito e gravador de voz. Após estas reuniões, as turmas do 1º ano e do 2º ano foram eleitas pela coordenação do Curso de Fisioterapia para participar da observação naturalista. A turma do 1º ano estava na Unidade Curricular sobre Fisioterapia em ―Condições Cárdio- Respiratórias 1‖ e a turma do 2º ano estava na Unidade Curricular sobre Fisioterapia em ―Condições Neurológicas‖.

Cada turma eram dividida em três grupos de uns 12 participantes, por exemplo, o 1º ano era dividido em três grupos de mais ou menos dez participantes. Em cada grupo havia um tutor responsável que não era especialista na área do problema. A turma do 1º ano recebeu um problema, e os alunos se direcionaram ao grupo que pertenciam e realizavam as discussões. A mesma logística aconteceu com o 2º ano.

A observação foi desenvolvida num grupo do 1º e em outro grupo do 2º ano ao longo de um problema, sendo quatro sessões tutoriais para cada turma (de duas horas cada), pois para cada problema elencado pelo professor tutor são necessárias quatro sessões tutoriais para alcançar o propósito da PBL. Os grupos são estruturados seguindo a metodologia dos sete passos da PBL.

Para Reis (2011) a duração de cada sessão de observação pode variar consideravelmente, de acordo com o seu caráter formal ou informal, e os seus objetivos. A duração das sessões informais costuma variar entre três e 15 minutos. As sessões formais, com um foco específico de observação bem definido, podem durar de dez minutos até uma aula inteira. Neste estudo foi observada uma sessão tutorial inteira. Cada sessão tutorial tinha uma duração de duas horas, portanto para cada problema foram gravadas 08 horas. Como foram observados dois

problemas, um do 1º ano e outro do 2º ano, totalizaram 16 horas de gravação.

Na Unidade Curricular sobre ―Condições Cardio-Respiratórias 1‖ a observação aconteceu durante o desenvolvimento do problema sobre ―Asma‖. O professor tutor seguiu o guia do tutor (Anexo D), sendo que o grupo que desenvolveu a atividade era formado por oito alunos.

Na Unidade Curricular sobre Fisioterapia em ―Condições Neurológicas 2‖ a observação aconteceu no decorrer de um problema sobre ―Distonia‖. O guia do tutor está no anexo E, e o grupo desta atividade era formado por dez alunos.

Observar significa aplicar atentamente os sentidos a um objeto para adquirir um conhecimento claro e preciso (FREITAS; QUEIROZ; SOUZA, 2007). Nesta perspectiva de adquirir um conhecimento claro e preciso, na observação foi utilizada a técnica de incidentes críticos (TIC), sobre a qual seguiremos com a explanação,