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Estratégias apontadas como facilitadoras de aprendizagem dos alunos surdos

3.1 Concepções sobre a inclusão escolar e possibilidade de aprendizagem de alunos

3.1.4 Estratégias apontadas como facilitadoras de aprendizagem dos alunos surdos

Ao indagarmos quais as alternativas pedagógicas que as professoras acreditavam contribuir para a aprendizagem dos alunos surdos, verificamos que indicaram diferentes possibilidades. É importante salientar, porém, que durante a fase de observação, não percebemos que todas as atividades e/ou recursos sugeridos estivessem por elas sendo utilizados em seu fazer pedagógico. Entretanto, acreditamos que a presença desses alunos tem levado as professoras a refletir sobre essa questão e que essa reflexão vai conduzindo, gradualmente, a uma nova postura pedagógica. Nesse sentido, elas expressam as seguintes opiniões:

Tinha que ser tudo pelo visual, porque é quase impossível eu ter uma comunicação que não seja pelo visual com ela. Então, para ela tem que ter cartazes... E eu ter que falar em libras para ela, porque do contrário não tem resultado (Solange).

O aluno surdo, já que a gente não tem intérprete, o professor não está, ainda, habilitado com a Libras, é... A gente... A melhor maneira que a gente está achando é usar material concreto para ensinar (Cristina).

Atividade diferenciada das que são usadas com crianças normais. Eu não posso usar... Porque a gente já percebeu... Eu não posso usar a mesma atividade para uma turma que tem alunos com deficiência auditiva, certo? (Jeane).

Eu acho que o que favoreceria era se ela soubesse Libras (Janaina).

Como vimos, as professoras enfocaram diferentes aspectos que, segundo o seu entendimento, poderiam contribuir para possibilitar a aprendizagem dos alunos surdos na classe comum. Um deles, bastante enfatizado, foi o uso de recursos visuais como gravuras, materiais concretos, figuras e nomes para que eles adquiram conhecimentos relativos à língua portuguesa e formem outros conceitos. O uso do recurso visual é extremamente importante para esses alunos porque, não tendo pleno acesso aos estímulos orais, precisam fazer uso dos diversos canais sensoriais (visão, tato, olfato, gustação), que se encontram íntegros, para receber e responder aos estímulos. Assim, o professor pode contribuir para que o educando

surdo desenvolva melhor a sua relação com o mundo e a comunicação com ele (BRASIL, 1997). E isso contribui, também, para a melhoria da aprendizagem dos demais alunos.

Porém, no que tange ao material visual, somente a sua apresentação torna-se insuficiente se não houver uma via de comunicação para explorá-lo. Como frisou a professora Solange, é preciso usar a língua de sinais para facilitar a aprendizagem, caso contrário não haverá resultado. Observamos que, na escola campo de pesquisa, apenas uma das professoras tem noção de Libras, as demais não têm esse conhecimento. Nesse caso, ao participarem de atividades com as professoras que não sabem Libras, as alunas surdas utilizam-se do seu grau de oralidade, por meio da leitura labial, para se apropriarem do que está sendo abordado, o que em geral não é suficiente para possibilitar uma comunicação efetiva.

Por não ter um conhecimento mínimo da Libras, a professora estimula apenas a oralidade e não faz uso da língua considerada natural para os surdos, que se distingue da língua oral por se utilizar “de um meio ou canal visual-espacial e não oral auditivo”, por usar “o espaço e as dimensões que ele oferece na constituição de seus mecanismos fonológicos, morfológicos, sintáticos e semânticos para veicular os seus significados” (BRITO, 1997, p. 19).

Nesse sentido, Lima (2006) adverte que, na atualidade, critica-se muito a ênfase dada ao desenvolvimento da linguagem oral desacompanhada da aprendizagem da língua de sinais, pois essa ênfase pode indicar, também, o ouvinte como modelo ideal a ser seguido pelo surdo. Para a superação dessa barreira, torna-se imprescindível a presença de um intérprete para auxiliar no processo de ensino, ou ainda, que o professor da sala comum adquira esse conhecimento.

Outro elemento evidenciado no discurso da professora Jeane se refere à necessidade de realizar atividades diferenciadas. Durante a fase de observação, em que nos inserimos no cotidiano da escola, especialmente nas classes em que estavam incluídas as alunas surdas, pudemos observar algumas dessas atividades. Na sala da professora Solange, observamos que Vitória, a aluna surda, estava sentada, separadamente, na mesa da professora, por ser mais espaçosa, montando um dominó, que continha gravuras e palavras.

O objetivo da atividade era a identificação do nome de cada objeto contido nas gravuras. O dominó havia sido confeccionado pela própria professora e, segundo ela, foi a estratégia que encontrou para que a equipe pedagógica constatasse que a aluna já sabia ler, pois na escola eram realizados testes de leitura com todos os alunos. A partir de então, a própria equipe pedagógica passou a confeccionar materiais semelhantes para que todos os

outros professores utilizassem esses recursos, inclusive em outros componentes curriculares, envolvendo os mais diversos temas.

A proposição da atividade, desencadeada pela presença de uma aluna surda na classe comum, indica a importância da inclusão para o redimensionamento da prática pedagógica, no sentido de atender à diversidade dos alunos. Consoante essa via de pensamento, Ainscow (1997, p. 16) assim se expressa:

É útil que os professores sejam estimulados a utilizar de forma mais eficiente os recursos naturais que podem apoiar a aprendizagem dos alunos. Refiro-me, de forma particular, a um conjunto de recursos que estão disponíveis em todas as salas de aula e que, no entanto, pouco têm sido utilizados: os próprios alunos.

A colaboração dos pares, tanto em sala de aula como em atividades extraclasse, é algo que merece ser cada vez mais incentivado, pois favorece que alunos com vários interesses e habilidades possam se ajudar mutuamente.

A partir das necessidades dos alunos, o professor poderá ir ajustando as melhores estratégias para atendê-las, podendo essa interação possibilitar a superação do medo e do sentimento de incapacidade que costumam sentir os professores diante da inclusão de alunos com quem não estão acostumados a trabalhar. Esse convívio também poderá contribuir para que a maior parte dos problemas apontados como características da pessoa surda passe a ser vista como decorrente de condições sociais.