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PARTE III AS EMPRESAS COM CAPITAL ESPANHOL EM PORTUGAL Capítulo 6 Estratégias empresariais espanholas de abordagem ao

6.3 Empresas com capital espanhol instaladas na Área Metropolitana de Lisboa

6.3.3 Estratégias de abordagem ao mercado nacional

Um primeiro dado sobre as estratégias de abordagem ao mercado nacional das empresas com capital espanhol instaladas na AML que se procura analisar é a composição das estruturas destas empresas, bem como a suas localizações. O conjunto de empresas inquiridas é constituído, na sua maioria, por dois tipos de estrutura na sua representação em Portugal – sede, escritórios e serviços centrais e centro logístico e armazéns. E, apenas 23% destas empresas apresenta outro tipo de estruturas, essencialmente lojas, delegações e estruturas de produção.

A AML Norte é, inequivocamente, a localização preferencial da sede, escritórios e serviços centrais destas empresas (82%), existindo também alguma concentração na AML Sul e a AMP, embora bastante inferior à registada na AML Norte (7%, em ambos os casos) (anexo 21).

Os centros logísticos e armazéns apresentam a mesma tendência de localização concentrada na AML Norte (28%), ainda que outras localizações como a AMP (10%), a região do Alentejo (6%), a região Centro (5%) e a AML Sul (5%) também sejam as localizações preferenciais de implantação deste tipo de estrutura, o que decorre do custo do solo mais baixo associado à necessidade de espaço destas estruturas e da proximidade das principais vias de acessibilidade que facilitem o acesso a todo o território nacional e espanhol. As lojas, as delegações e as estruturas de produção (outras estruturas), além de não serem muito representativos como estruturas das empresas inquiridas, também não apresentam nenhum padrão de localização significativo.

A escolha da localização das estruturas das empresas está associada a vantagens como estar junto da principal área de mercado, vantagem apontada para qualquer um dos três grupos de estruturas, mas também gozarem de

centralidade e de boas acessibilidades, aspectos mais relevantes para a localização da sede, escritórios e serviços centrais e centro logístico e armazéns (anexo 22).

Como desvantagens inerentes à localização das suas estruturas, estas empresas referem, no caso do local de implantação da sede, escritórios e serviços centrais, os custos associados à localização e as dificuldades de estacionamento, para o centro logístico e armazéns, a intensidade do tráfego e os custos de transporte, no que se refere à localização das outras estruturas (anexo 23).

O mercado de destino das empresas com capital espanhol da AML inquiridas é, essencialmente o mercado nacional, uma vez que em 40% das empresas este mercado absorve mais de ¾ da sua produção, e, das restantes, em 38% dos casos até 50% (anexo 24).

A produção de cerca de ¼ das empresas chega a todo o território nacional e 34% têm como mercados áreas mais específicas do território, como a AML Norte (8%), a AMP (13%), a região Centro (7%) e a região Norte (6%) (anexo 25).

O mercado de exportação assume até ¼ da produção de 35% das empresas inquiridas, sendo a Europa do Sul e África (essencialmente os PALOP) as principais áreas de mercado destas empresas (anexo 26).

O mercado regional inclui-se como mercado de destino em apenas 30% dos casos.

O conjunto de serviços de apoio a que as empresas inquiridas recorrem tem, em 53% das empresas, uma proveniência interna (anexo 27) e está associada, essencialmente, ao próprio estabelecimento, embora para alguns tipos de serviços, como a consultoria jurídica, a consultoria, negócios e gestão e a informática (equipamento e programação), as empresas inquiridas também recorram a outras empresas do grupo, sendo que a maioria destas se localizam em Espanha (88%) (anexo 28).

A proveniência externa é também uma componente de relevo para a obtenção dos serviços de apoio, já que 47% das empresas dão preferência à contratação de outras empresas. Esta tendência é mais notória nos serviços com um nível

estudos de mercado e publicidade, a formação profissional e os transportes de mercadorias (anexo 27).

As empresas prestadoras dos serviços de apoio de proveniência externa estão localizadas, essencialmente, na AML Norte (82%), mas também em Espanha (12%) (anexo 29) e são de nacionalidade portuguesa (79%) e espanhola (15%) (anexo 30).

A entrada das empresas com capital espanhol em Portugal, mais concretamente na AML, como já foi referido no ponto anterior, intensificou-se particularmente deste a entrada dos dois países ibéricos no esquema de integração europeu, que permitiu, em paralelo, o desenvolvimento de uma crescente integração das economias de ambos os países.

O desfasamento temporal entre o início da actividade em Espanha e a abertura da filial em Portugal das empresas inquiridas evidencia mais um dado sobre as suas estratégias de abordagem ao mercado nacional.

Uma parte significativa destas empresas (40%) tomou a decisão de investimento em Portugal até 20 anos depois de ter iniciado actividade em Espanha e, mais concretamente, 21% das empresas inquiridas esperaram apenas entre 1 e 10 anos (anexo 31). O que permite constatar que o investimento em Portugal, por parte das empresas espanholas, parece ser um passo “natural” e de risco relativo em termos de alargamento de mercado e de estratégia de internacionalização, embora esta ideia careça de maior sustentação com base noutros dados, o que se procurará desenvolver daqui para a frente.

O modo como as empresas com capital espanhol entraram no mercado português foi, preferencialmente, através de investimento directo (70%), mas também mediante a aquisição de empresas já existentes (16%) e a participação no capital de empresas portuguesas (11%) (anexo 32).

As principais barreiras com que estas empresas se confrontaram aquando da entrada no mercado português dizem respeito ao excesso de burocracia e às diferenças da cultura empresarial portuguesa face à espanhola, barreiras apontadas por cerca de 63% das empresas, mas também às dificuldades de comunicação associadas ao idioma, à dificuldade em encontrar parceiros locais e ainda a distância física entre as estruturas espanhola e portuguesa (anexo 33).

Como resposta às dificuldades encontradas, a principal adaptação, que as empresas inquiridas levaram a cabo, foi a criação de uma estrutura própria de gestão/administração em Portugal (47%). Mas também foram desenvolvidos produtos/serviços específicos para o mercado português (21%) e serviços locais de apoio ao cliente (19%) e estabelecidos acordos com empresas portuguesas (11%) (anexo 34).

Para cerca de metade das empresas inquiridas, Portugal representa a primeira experiência de internacionalização (anexo 35) e as motivações do investimento são o alargamento do mercado, para cerca de ¾ das empresas, e a possibilidade de testar o processo de internacionalização da empresa, em 15% dos casos (anexo 36).

Para os 43% das empresas em que Portugal não foi o primeiro país na sua estratégia de internacionalização, o alargamento do mercado (77%) é a motivação mais frequentemente apontada para a aposta em Portugal. E, a replicação da estratégia de outra empresa bem sucedida no investimento em Portugal (5%) e a existência de mercado para a actividade da empresa (5%), estão entre os restantes principais motivos subjacentes ao investimento no mercado português.

A estratégia de internacionalização das empresas com capital espanhol inquiridas baseia-se, essencialmente, na extensão da empresa apenas até Portugal (33%), por um lado, e, por outro, na representação destas empresas em mais de 10 países, além de Portugal (29%) (anexo 37).

O que parece indiciar que as empresas ao ambicionarem operar a um nível internacional, adoptam uma de duas estratégias: alargam o seu mercado apenas numa lógica de mercado de proximidade (talvez até assumindo que Portugal se inclui no seu mercado doméstico) ou procedem ao alargamento da sua área de mercado em duas fases, a primeira, até aos mercados mais próximos, o que implica menores risco no investimento, e posteriormente, após testarem o seu processo de internacionalização apostam noutros mercados. A concorrência nos mercados português e espanhol que as empresas com capital espanhol presentes na AML enfrentam é, na perspectiva da maioria destas, forte em ambos os mercados (55% no português e 54% no espanhol),

acordo com esta avaliação, as empresas com capital espanhol parecem enfrentar, em Portugal, uma maior pressão por parte da concorrência, no entanto, este facto pode estar a associado a uma implantação mais consolidada no mercado espanhol, que relativize a avaliação concorrencial. Ainda que enfrentando um nível de concorrência elevado no mercado nacional, a maioria das empresas inquiridas perspectiva, para o futuro da sua actividade, o reforço do investimento em Portugal, no mesmo ramo de negócio (anexo 39). Esta tendência de perspectiva é mais notória nas empresas de implantação mais recente em Portugal, assim como também o é a perspectiva de reforço do investimento em Portugal, mas com diversificação do ramo de negócio.

As empresas inquiridas, cujo período de implantação em Portugal é mais longo (início da actividade anterior a 1985), também consideram outras perspectivas, como a possibilidade de reforçar a presença no mercado português, mas operando a partir de Espanha.

Analisando as perspectivas que as empresas têm para o futuro da sua actividade, de acordo com as motivações que estiveram subjacentes ao investimento em Portugal, verifica-se que a significativa percentagem de empresas que aponta o alargamento do seu mercado de influência como motivo do investimento no mercado nacional (69%), perspectivam um reforço do investimento em Portugal, essencialmente no mesmo ramo de negócio (42%), mas também através da diversificação do ramo de negócio (15%) (anexo 40).

As perspectivas das empresas com capital espanhol inquiridas sobre vantagens e inconvenientes decorrentes do processo de integração dos mercados ibéricos são variadas (anexos 41 e 42).

Do conjunto de vantagens apontadas, as questões mais recorrentes prendem- se com noções como a dimensão, eficiência e proximidade geográfica.

Relacionadas com a noção de dimensão, as empresas referem a possibilidade de actuação num mercado mais vasto, como a vantagem mais significativa, seguida do aumento da capacidade financeira envolvida nas transacções, entre outras.

A noção de eficiência está implícita na enumeração de vantagens como o estabelecimento de sinergias entre as empresas do grupo, a aprendizagem com o know-how vizinho e o aumento da capacidade competitiva.

A anulação do efeito de fronteira combinada com a disponibilidade/facilidade de acessibilidades confere à noção de proximidade geográfica um peso significativo enquanto vantagem associada ao processo de integração dos mercados ibéricos.

Os inconvenientes/problemas que as empresas enfrentam, decorrentes do processo de integração ao nível ibérico, remetem para o aumento da concorrência, o diferencial da cultura empresarial dos dois países ibéricos, nomeadamente no que respeita à competitividade e às desconfianças associadas a questões históricas, e ainda a aspectos reguladores dos mercados, como as diferenças na legislação portuguesa e espanhola relativamente ao IVA.

Quando questionadas sobre como antecipavam o futuro relacionamento das economias ibéricas, as empresas com capital espanhol inquiridas expressam um vasto conjunto de ideias, que, segundo Pires (2008, p. 153), se podem dividir segundo dois grupos de perspectivas.

Por um lado, algumas destas empresas defendem uma perspectiva optimista em relação ao futuro relacionamento económico dos dois países ibéricos, sustentada em cenários assentes num contexto de maior competitividade das empresas decorrente do estabelecimento/reforço de mecanismos de cooperação empresarial. Cenários que conduzirão à afirmação de uma economia ibérica competitiva e reconhecida nos espaços económicos europeu e mundial.

Por outro, uma perspectiva pessimista é a ideia que resume os cenários de subjugação e dependência traçados por outras empresas inquiridas. Estes sustentam-se em características das duas economias e das suas realidade empresariais, nomeadamente a afirmação de uma economia ibérica fortemente baseada/influenciada na economia espanhola, por esta ser mais forte e a evolução do processo de integração ibérica liderado pelo mundo empresarial espanhol, uma vez que se trata de uma realidade mais pragmática, organizada e eficiente em termos estratégicos.

6.4 Empresas com capital espanhol do sector do comércio e reparações