• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 2. Enquadramento do Conceito de Integração Económica e do Processo de Integração Europeia

2.3 Processo de integração económica europeia

2.3.1 Grandes etapas do processo de integração europeia

O processo de integração europeia, com génese em meados do século XX, é caracterizado por um conjunto de factos históricos que dão consistência à explicação da evolução do processo por grandes fases ou etapas.

Desta forma, a integração europeia, atendendo ao seu processo evolutivo, vai ser explicada por seis grandes etapas.

Previamente, importa perceber o contexto que enquadra o início do processo de integração europeia e este remete para o fim da Segunda Guerra Mundial, que a par das consequências directas (destruição material e perda de vidas humanas), implicou a perda de hegemonia mundial das grandes potências europeias e dos seus impérios, ficando remetidas ao englobamento num dos

De acordo com Romão (2004) e outros autores, podem ser apontados como antecedentes à formalização de áreas de integração económica e da integração europeia, em particular: a assinatura do Acordo de Bretton-Wood entre ao EUA e a Grã-Bretanha, em 1947, que permitiu a definição de um Novo Sistema Monetário Internacional3; o estabelecimento do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT)4, em 1947; e a referência de Churchill, em 1946, aos “Estados Unidos” da Europa, defendendo a criação de um “Conselho da Europa”.

Assim, a primeira grande etapa do processo de integração europeia, designada de primeiro momento de integração económica, define-se com a Declaração Schuman5, em 1950, que propôs a criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA), ratificada por seis países europeus (França, República Federal Alemanha, Bélgica, Holanda, Itália e Luxemburgo) no Tratado de Paris, em 1951, e cujo objectivo era a regulação da produção e do comércio do carvão e do aço.

A segunda grande fase do processo de integração europeia, a constituição de uma integração económica europeia de âmbito global (conceito já desenvolvido no ponto 2.2.2.1), diz respeito à assinatura dos Tratados de Roma, em 1957, pelos seis membros fundadores da CECA, que instituíram, com entrada em vigor no ano seguinte, a Comunidade Económica Europeia (CEE) e a Comunidade Europeia de Energia Atómica (CEEA ou EURATOM). A fundação da CEE “viria a marcar toda a evolução posterior da Europa Ocidental” (Romão - 2004, p. 7).

Ainda neste contexto e como alternativa à criação de uma união aduaneira e mercado comum prevista com a CEE, por iniciativa do Reino Unido foi criada a Associação Europeia de Comércio Livre (EFTA)6, através da assinatura da

3 Através da criação do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) ou Banco Mundial, cujo objectivo subjacente foi a regulação das questões de foro financeiro e monetário relativas à balança de pagamentos e sistemas cambiais dos países participantes no comércio internacional, no caso do FMI, e à reconstrução dos países envolvidos na Segunda Guerra Mundial, no caso do BIRD.

4 Em inglês, General Agreement on Tariffs and Trade. Teve como premissa impulsionar a liberalização do comércio, mediante a harmonização das políticas aduaneiras dos países, e combater práticas proteccionistas. Fundado por 23 países de todo o mundo, foi reformulado pelo GATT94, resultante da Ronda do Uruguai, em 1995 deu origem à criação da Organização Mundial de Comércio (OMC), que se constitui como a instituição responsável pela sua administração, e em 2003 passa a ter capacidade de fiscalizar e punir os países infractores.

5 Proferida por Robert Schuman, ministro francês dos Negócios Estrangeiros.

6 Em inglês, European Free Trade Association. Fundada por sete países: Reino Unido, Portugal, Áustria, Dinamarca, Noruega, Suécia e Suíça. Com o posterior alargamento à Finlândia (1961), à Islândia (1970) e o Liechtenstein (1991). Actualmente, a EFTA é constituída apenas por: Islândia, Noruega, Liechtenstein e Suíça.

Convenção de Estocolmo em 1960, cujo objectivo se prendia com a instituição de uma área de comércio livre.

A terceira grande etapa na evolução da integração europeia, caracterizada pelo abrandamento no processo de integração europeia, está associada ao contexto, vivido na década de 70 do século XX, de crise internacional decorrente, segundo Romão (2004, p. 8), da instabilidade do Sistema Monetário Internacional provocada pela inconvertibilidade do dólar fixada pelos EUA, do agudizar da crise no Médio Oriente e da subida do preço do petróleo. Neste período, as evoluções verificadas no processo de integração europeia dizem respeito a dois factos: o primeiro alargamento da CEE, em 1973, ao Reino Unido, à Irlanda e à Dinamarca; e a assinatura, em 1975, da Convenção de Lomé7 entre a CEE e quarenta e seis estados de África, Caraíbas e Pacífico (ACP).

Ainda nos primeiros anos da referida década, são estabelecidos acordos comerciais entre a CEE e Portugal e entre a CEE e Espanha, que tiveram como repercussão o pedido de integração na CEE, por parte destes países, em 1977.

A quarta grande fase do processo de integração europeia, designada de aprofundamento e alargamento do processo de integração europeia, caracteriza-se por uma retoma da intenção de concertação entre estados membros, no sentido de uma intensificação da integração económica, e pelos segundo e terceiro alargamentos da CEE.

Em 1983, os estados membros assinaram a Declaração de Estugarda, cujo objectivo consistia no reforço da cooperação, alicerce do projecto europeu. Já em 1984, foi aprovado, por maioria do Parlamento Europeu, o projecto de “Tratado da União Europeia”, apresentado por Spinelli, que previa a criação de uma União Económica e Monetária (UEM).

Decorrente destes factos, foi aprovado em 1985, ratificado em 1986 e entrou em vigor em 1987, o Acto Único Europeu, que, de acordo com Romão (2004), representa a primeira grande alteração ao Tratado de Roma, e cujos principais

7 Estabeleceu a implementação de instrumentos de cooperação entre os países ACP e os países membros das comunidades europeias, com o objectivo da “promoção do desenvolvimento económico, social e cultural dos Estados ACP e (“aprofundar e diversificar as suas relações [coma União Europeia e os seus estados membros] num espírito de

compromissos se centraram na realização do mercado comum até 1993 e na implementação de medidas no âmbito do reforço da coesão económica e social.

Os segundo e terceiro alargamentos da CEE ocorreram em 1981, com a adesão da Grécia, e em 1986, com a integração de Portugal e Espanha.

Os avanços no aprofundamento e alargamento do processo de integração europeia, que constituem a quinta grande etapa de integração europeia, ficaram marcados por alguma tensão latente na discussão em torno da implementação da UEM e das perspectivas de alargamento.

Em 1991, é aprovado, no Conselho Europeu de Maastrich, a segunda grande alteração ao Tratado de Roma – o Tratado da União Europeia.

Este tratado foi ratificado em 1992, em Maastrich, e entrou em vigor em 1993, tendo sido o marco para a instituição da UEM8. De fora da zona-euro ficaram o Reino Unido, por vontade própria, e a Grécia, por não ter cumprido os critérios de convergência (tendo entrado só em 2001).

O quarto alargamento da já União Europeia (UE) deu-se em 1995 e passou a incluir a Áustria, a Finlândia e a Suécia, tendo este último país optado pela não integração na UEM, à semelhança do Reino Unido.

A discussão em torno da implementação e aprofundamento da UEM e das perspectivas de alargamento, levaram à convocação de uma conferência intergovernamental (CIG), em 1996, que culminou no Conselho Europeu de Amesterdão de 1997. Como resultado do referido Conselho, foi aprovado o Tratado de Amesterdão – a terceira grande alteração ao Tratado de Roma –, que entrou em vigor em 1999.

A sexta e última grande etapa, caracteriza-se por avanços no aprofundamento e alargamento do processo de integração europeia, com a tónica nas reformas institucionais com vista ao equilíbrio de uma integração económica europeia cada vez mais heterogénea.

A consideração de novas fases de alargamento a países da Europa Central e Oriental (Bulgária, República Checa, Hungria, Polónia, Roménia, Eslováquia, Estónia, Letónia e Lituânia) e da Europa Mediterrânica (Chipre e Malta) foi o motor para a realização, em 2000, de uma nova CIG, que entre outros objectivos procurou equacionar as reformas necessárias à concretização do

maior e mais exigente (pela heterogeneidade de realidades que inclui) alargamento da UE.

Com base nos contributos da CIG 2000, foi aprovada, também em 2000, a quarta grande alteração ao Tratado de Roma – o Tratado de Nice, que entra em vigor em 2001. Este tratado ficou associado a grande polémica, uma vez que reforçou o poder dos grandes estados membros e acentuou as fragilidades dos restantes (Romão – 2004, p. 14).

O Conselho Europeu de Laeken, reunido em 2001, adopta uma declaração sobre o futuro da UE e convoca uma Convenção para preparar o projecto de revisão dos tratados, sob a forma de constituição europeia, para ser discutida numa próxima CIG.

O Tratado que estabelece a Constituição Europeia é assinado em Roma, em 2004, ano em que ocorre o alargamento da UE para 25 estados membros, passando a incluir o Chipre, a Eslováquia, a Eslovénia, a Estónia, a Hungria, a Letónia, a Lituânia, Malta, a Polónia e a República Checa.

O Tratado da Constituição Europeia é rejeitado, em referendo, pela França e pela Holanda, em 2005, ficando assim inviabilizada a sua entrada em vigor. O último alargamento da UE, até ao momento actual, aconteceu em 2007 com a adesão da Roménia e da Bulgária, passando desta forma a considerar-se uma UE a 27 estados membros.

O ano de 2007 ficou ainda marcado pela adopção do Tratado de Reforma ou também designado de Tratado de Lisboa, que pretende enquadrar as reformas institucionais a implementar na UE. Este tratado tem de ser ratificado por cada um dos 27 estados membros para que possa entrar em vigor e se inicie a reforma institucional da UE.