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Capítulo 3. Balanço das Relações Ibéricas no âmbito da Integração Europeia

3.2 O relacionamento ibérico no período anterior à adesão à UE

Da retrospectiva histórica das relações entre Portugal e Espanha, pode salientar-se a década de 40 do século XX, como um primeiro momento, embora isolado temporalmente, em que estes dois países se aproximaram, no que respeita nomeadamente às relações económicas.

Espanha experienciou um período de carências significativas, associadas à Guerra Civil de 1936-39, e de isolamento internacional, decorrente da sua ligação aos países vencidos na Segunda Guerra Mundial, assumindo Portugal uma posição estratégica entre este país e os países ocidentais (Alves, 2000). Assim, em 1939 são assinados o Tratado de Amizade e Não Agressão e o Acordo Comercial: o primeiro, reforçado pelo Protocolo Adicional de 1940, teve como objectivo uma análise conjunta de acontecimentos relativos à segurança e independência dos dois países; e o segundo, pressupunha transparência nos pagamentos e instituía limites para o comércio de determinados produtos, reforçado com a assinatura de acordos similares, em 1941 e 1943.

Em 1940, é estabelecido um Acordo entre Portugal, Espanha e Reino Unido, em que este último concedeu a Espanha uma linha de crédito, por forma a que este país conseguisse fazer face às carências decorrentes da Guerra Civil, através da importação de produtos das colónias portuguesas, e tentando persuadi-lo a não participar na Segunda Guerra Mundial.

A partir de 1945, foi constituída a Comissão Mista Luso-Espanhola, que passou a reunir-se anualmente, com o objectivo de proceder ao acompanhamento dos acordos comerciais e de pagamentos estabelecidos anteriormente.

No ano de 1949 começou a desenhar-se uma nova fase no relacionamento de Espanha com os países ocidentais, com a assinatura de acordos com os Estados Unidos, que visavam a concessão de ajudas financeiras para a reconstrução do território espanhol. Estas ajudas não se enquadraram no âmbito do Plano Marshall devido à oposição da Grã-Bretanha.

Portugal, neste mesmo ano, integra, como membro fundador, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO)9, reforçando o seu posicionamento ao

nível internacional junto dos países ocidentais, enquanto Espanha viu o seu pedido de adesão recusado (vindo a integrar esta organização apenas em 1982). Este facto marca o início de um novo período de afastamento dos dois países ibéricos, pois Espanha considera que Portugal contraria o Tratado de Amizade e Não Agressão, com a sua adesão à NATO.

Ainda no ano de 1949, foi assinado, por Portugal e Espanha, o Acordo Preliminar de Cooperação Económica, que substituiu os acordos comerciais já celebrados. Contudo, este acordo acrescentou pouco aos anteriormente celebrados, uma vez que Portugal recusou o alargamento do âmbito daqueles acordos por receio do maior potencial da economia espanhola.

As duas décadas seguintes ficaram marcadas pelo “fim do isolamento internacional de Espanha e pela progressiva abertura económica e adesão a diversas organizações internacionais protagonizada, em simultâneo, pelos dois países ibéricos”, mas também “por um progressivo afastamento nas relações bilaterais” (Alves - 2000, p. 34).

No início da década de 50 do século XX, os dois países ibéricos reforçaram as suas posições no contexto internacional com a assinatura de acordos individuais com os Estados Unidos, como a renovação do acordo de defesa assinado por Portugal, em 1951, e os Convénios sobre Ajuda para Mútua Defesa e sobre Ajuda Económica assinados por Espanha, em 1953. Ainda neste período de afirmação no contexto internacional, em 1955, Portugal e Espanha aderiram à Organização das Nações Unidas (ONU)10.

Contudo, a progressiva abertura económica de Portugal e Espanha, preconizada nas décadas de 50 e 60 do século XX, fez-se através de percursos diferenciados.

De acordo com Alves (2000), a adesão de Portugal à EFTA conferiu-lhe a possibilidade de manutenção da sua política colonial, uma vez que esta organização favorece relações económicas entre os países europeus numa lógica apenas de cooperação, distinta da da então CEE, actual UE, que assenta na integração, evitando ainda a colocação em questão do seu regime

10 Em inglês, United Nations Organization. Fundada em 1945, após ratificação da Carta das Nações Unidas, por cinquenta e um países, tem como objectivos: manter a paz mundial, proteger os Direitos Humanos, promover o desenvolvimento económico e social das nações, estimular a autonomia dos povos dependentes e reforçar os laços entre todos os estados soberanos. Actualmente esta organização é constituída por 192 países de todo o mundo.

político, uma vez que aquele esquema de integração tem como requisito de integração países com um regime democrático.

A opção de integração na EFTA permitiu também uma autonomia económica de Portugal, já que a zona de comércio livre, instituída por esta organização, não contemplava uma pauta aduaneira comum. Portugal gozou ainda de benefícios económicos decorrentes do reconhecimento do menor grau de desenvolvimento da sua economia comparativamente aos restantes membros da EFTA.

Por seu lado, Espanha foi obrigada a seguir um caminho distinto, que não passou pela integração na EFTA, uma vez que este país mantinha um diferendo com o Reino Unido devido a Gibraltar.

O percurso encetado por Espanha, no sentido de abertura da sua economia, passou pela realização, em 1962, de contactos informais com a França e a Alemanha no sentido da integração na CEE. Estas negociações ficaram marcadas por entraves colocados por alguns países, em virtude de Espanha manter um regime não democrático, tendo sido apenas possível, neste período, realizar negociações no sentido de se estabelecer um acordo de comércio entre este país ibérico e a CEE.

No que respeita à política colonial, Espanha adoptou uma postura distinta da de Portugal, concedendo a independência a Marrocos espanhol e à Guiné espanhola, em 1956 e 1968 respectivamente, evitando assim entrar em colisão com as resoluções da ONU, uma vez que era no âmbito desta organização que Espanha tentava solucionar a contenda com o Reino Unido, relacionada com Gibraltar.

Assim, dos diferentes percursos seguidos por Portugal e Espanha, ainda que com o mesmo objectivo subjacente de abertura das suas economias, resultou uma fase de arrefecimento das relações económicas entre os dois países vizinhos.