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As pesquisas desenvolvidas sobre as estratégias de enfrentamento psicológico no contexto da medicina têm assumido significativa relevância, visto o grande impacto das demandas do trabalho médico no bem-estar e na saúde destes profissionais (Escribà- Agüir & Bernabé-Munôz, 2002). Outros autores (Bentata et al., 2007) também apontam a necessidade de programas de intervenção, para conhecer a realidade dos profissionais da saúde, e, assim, propor medidas que facilitem o enfrentamento das situações, como lidar com a dor e a morte.

Numa pesquisa realizada com residentes, em um hospital no Peru, que tinha como objetivo conhecer as estratégias psicológicas frente às demandas e aos fatores de estresse do exercício médico Congrains (1998) constatou que a atitude de aceitação e resignação frente à realidade foi uma das estratégias mais utilizadas, ao passo que a expressão dos sentimentos/emoções e a busca de apoio social por razões emocionais, foram as menos utilizadas. A pesquisa demonstra que as estratégias menos apontadas requerem relações interpessoais adequadas, mas que as mesmas estariam afetadas em função do estresse.

Outro estudo, com residentes, realizado na Venezuela, por Blandin e Araujo (2005) identificou que o apoio social e emocional está bastante presente, ao passo que, a

expressão de sentimentos e a busca de apoio na religiosidade, não. O estudo demonstra, ainda, que, entre as estratégias menos funcionais, encontra-se o uso daquelas voltadas ao apaziguamento das emoções.

Em estudo qualitativo, com estudantes de medicina, em uma universidade do Sul do Brasil, sobre a qualidade de vida destes, Zonta et al. (2006) evidenciaram algumas características entre os estudantes que desenvolveram alguma estratégia de enfrentamento psicológico, tais como: valorização dos relacionamentos interpessoais e de fatos do cotidiano; organização do tempo, procurando estabelecer maior equilíbrio entre o lazer e o estudo; cuidados pessoais, desde a saúde, a alimentação e o sono, a adesão a uma prática esportiva. A religiosidade foi apontada como um recurso pessoal, bem como, a procura por assistência psicológica, no intuito de trabalhar a própria personalidade.

Escribà-Agüir e Bernabé-Munôz (2002) realizaram um estudo qualitativo, com o uso de entrevistas semi-estruturadas, com 47 médicos especialistas, entre eles, oncologistas em um hospital de Valência, na Espanha. Os autores identificaram que entre as estratégias voltadas à emoção, os médicos apontam, em primeiro lugar, o uso de atividades distintas e desconexas do trabalho, como ócio e atividades esportivas. Na seqüência, aparecem a busca de apoio social, especialmente da família e amigos. Em terceiro lugar, está o consumo de fármacos e tabaco. No que se refere às estratégias centralizadas no problema, em primeiro lugar aparece a aceitação de que a ciência médica não é exata, e, em seguida, a busca por apoio instrumental, seja conversando com colegas ou consultando alguma bibliografia específica.

Ainda se tratando de pesquisa qualitativa, com o uso de entrevista, Jiménez (2005), identificou, em pesquisa realizada no Chile, que os médicos utilizam-se mais de condutas passivas, resignação e esquiva, ao passo que, os profissionais mais novos, parecem demonstrar estratégias mais ativas, como estudar e propor ações no meio de trabalho. Mas, de uma forma geral, todos os profissionais apontam a importância de refletir sobre a prática profissional, em grupos de troca e diálogos entre colegas médicos.

Glasberg et al. (2007), em pesquisa citada anteriormente, apontam que 92,15% dos oncologistas clínicos indicam o recebimento de suporte por parte da família, 70,58% referem ter uma filiação religiosa, 65,34% praticam alguma atividade física ou de lazer, 88,23% afirmam que tiram férias regularmente e 88,25% afirmam que escolheriam a especialidade novamente. Esses dados podem ser utilizados como

possíveis recursos para prevenir a Síndrome de Burnout. Entretanto, apesar de os médicos reportarem os fatores indicados, a presença da síndrome foi evidenciada.

Ainda no contexto da oncologia, Roger, Abalo, Guerra e Pérez (2006), em um estudo multicêntrico realizado em enfermarias oncológicas, em Cuba, identificaram que a prevalência de Burnout é maior na área da oncologia, se comparado com outras instituições de saúde. Entre as estratégias de enfrentamento as mais freqüentes foram: confrontação; planejamento das atividades; reavaliação positiva dos eventos; e, a busca de apoio social. O grupo com maior desgaste relacionado à síndrome apresentou maiores níveis de ansiedade e utilizou mais estratégias voltadas ao distanciamento e evitação. Não obstante, independente da evidência da síndrome (leve, moderada ou alta) a busca por apoio social fez-se presente em todos os grupos, configurando-se uma estratégia utilizada por todos os profissionais.

O uso de estratégias de enfrentamento psicológico é apontado como uma das maneiras de prevenir e controlar o Burnout entre os médicos. Lozano (2007) ressalta a necessidade de apoio e suporte social, o uso de atividades de lazer, bem como, atividades de auto-reflexão e auto-conhecimento do profissional visando à melhor adaptação às exigências e demandas da prática médica.

Sobre o contexto da oncologia, V. Carvalho (2006) pondera que as diferenças pessoais vão determinar reações distintas. Ressalta, também, que uma das formas de defesa e reações diante do contexto da oncologia, pode ser o comportamento de “ir em frente”, ou seja, o profissional não se atém ao que está lhe passando. Isso antepara o desenvolvimento de sentimentos e emoções. O uso da despersonalização e o nivelamento dos pacientes, adotando-se a idéia de que são todos iguais, impede o estabelecimento de vínculos específicos. Evita-se, assim, o contato com aquilo de subjetivo que existe de característico, em cada paciente.

As decisões e comunicações que muitas vezes devem ser feitas, no contexto das instituições de saúde, são foco de angústias e tensões, para os profissionais. Pitta (2003) aponta que, muitas vezes, os membros das equipes adiam essas situações, através do que denominou de “ritual de desempenho de tarefas”. A busca pela padronização e a adesão a uma rotina nos serviços, funcionam, também, para postergar e controlar as decisões diante das demandas que cada paciente suscita.

Uma das questões que permeia o campo das estratégias de enfrentamento psicológico refere-se à discussão sobre a questão de gênero. Nesse sentido, White (2000) aponta que a hipótese de as mulheres apresentarem estratégias mais focalizadas

na emoção, enquanto o homem seria mais focado no problema, não se confirma. Os estudos evidenciam que quando homens e mulheres exercem os mesmo cargos, ou papel social, isto fica mais explícito: as estratégias utilizadas parecem ser as mesmas.

Tamayo e Tróccoli (2002), salientam que o uso de estratégias de coping focalizadas no problema, tendem a prevenir a Síndrome de Burnout. Já as estratégias centradas na emoção, de evitação ou escape facilitam a aparição da síndrome. Outro aspecto que ganha ênfase nas considerações dos autores, é que o baixo nível de Burnout, permite que o indivíduo enfrente as situações geradoras de estresse de modo mais ativo e direto; os indivíduos com alto nível de Burnout, por sua vez, podem ter energias mais reduzidas para enfrentar essas situações, assumindo, pois, uma postura mais passiva e indireta.

Conforme descrito anteriormente, a alta incidência e a presença significativa de Burnout em profissionais da oncologia demonstram a necessidade de proteção emocional de que esses profissionais necessitam, e também o uso de estratégias para lidar no seu cotidiano. Isso ganha respaldo na epígrafe deste item teórico (Paulo, 2004).

Nesse sentido, Tamayo e Tróccoli (2002) ressaltam a importância de pesquisas sobre o enfrentamento do estresse nas organizações de trabalho, pois essas reduziriam os custos da organização com os danos gerados à saúde do profissional - uma vez que a prevalência do estresse e síndromes relacionadas revela o crescimento do número de queixas ocupacionais, aumentando os gastos e gerando afastamentos. Sobre a necessidade do desenvolvimento de atividades e programas voltados ao cuidado do profissional, Arón e Llanos (2004), analogicamente, apontam que os operários usam material de proteção. Em contrapartida, questiona sobre a proteção dos profissionais que lidam com seres humanos.

O Ministério da Saúde (2001, 2004), ao apresentar as propostas de humanização da assistência, salienta a necessidade e a importância do cuidado com os profissionais da área. As propostas prevêem a identificação de necessidades e expectativas dos mesmos. Cursos de capacitação visando à humanização dos serviços, bem como a criação de meios de suporte ao profissional, seja por meio de grupos, apoio psicológico ou social, espaços de troca, discussão de casos e situações de conflito, são alternativas.

Desse modo, Peixoto (2004) aponta para a necessidade de pesquisas direcionadas a compreender as estratégias de enfretamento psicológico, considerando-se que estas assumem relevante papel na saúde dos profissionais e no seu trabalho. Afinal, conforme Graham (2000), é de necessidade vital, que se conheçam os fatores de

proteção e recursos utilizados pelos profissionais da oncologia. Até mesmo, para que estes possam continuar tolerando as demandas de seu trabalho e enfrentando os desafios deste campo, sem acarretar maiores danos à saúde mental.

4. MÉTODO