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A realização da coleta de dados foi constituída por observação participante com registro em diário de campo e entrevista semi-estruturada. A composição destes foi assim definida por se entender que há a necessidade de contextualizar e conhecer em profundidade o meio a ser pesquisado.

4.5.1 Técnica da observação participante

A observação participante de campo é uma técnica de coleta de dados que permite ao pesquisador apreender a realidade pesquisada através do contato direto com o fenômeno observado. Possibilita conhecer o contexto pesquisado, observando situações e eventos que dificilmente poderiam ser captados, senão através deste contato direto. Uma das principais características desta técnica é a posição que o observador assume diante da realidade observada, uma vez que este passa a ser parte do contexto em que se insere, podendo, de certo modo, modificar e, ao mesmo tempo, ser modificado pelo mesmo. Nesse sentido, o pesquisador participa do cotidiano e dos eventos do dia-a-dia através da observação, sendo esta, muitas vezes, uma estratégia complementar a outras técnicas (Minayo, 1994).

Ainda conforme Minayo (1994), a observação participante está entre um dos principais momentos de realização da pesquisa, pois é através dela que se dá a entrada no campo. O termo “campo de pesquisa” é compreendido como o recorte que o pesquisador faz em termos de espaço geográfico e institucional, o campo a ser pesquisado. Desse modo, a observação de campo possibilita um aproximar-se daquilo que se pretende estudar, sendo esta uma das fases iniciais da pesquisa, por permitir que o pesquisador se aproprie do contexto, que servirá posteriormente de “pano de fundo” para a análise e compreensão dos dados.

A importância da observação participante pode ser também ressaltada em Moré e Crepaldi (2004), quando elas referem que o conhecimento prévio com as pessoas do campo favorece uma aproximação, minimizando barreiras entre o profissional e o pesquisador, ao que denominaram de “aliança estratégica do pesquisador”. Além disso, conforme Laville e Dionne (1999) a mesma possibilita, que o pesquisador compartilhe hábitos e papéis do grupo pesquisado, permitindo integrar-se ao mesmo, participando do seu cotidiano, de modo a facilitar a compreensão das vivências deste.

A observação participante foi realizada durante todo o processo de coleta de dados, tendo sido focalizados como objetivo desta, os seguintes tópicos: a) descrever situações da dinâmica e contexto de trabalho; b) acompanhar atendimentos e situações profissionais, tais como atendimento de pacientes em ambulatório e enfermarias, discussão de casos; e, c) descrever aspectos do relacionamento interpessoal do profissional com pacientes e familiares, com a equipe de saúde e residentes.

Todos esses eventos observados foram registrados em diário de campo, pois, conforme Moré e Crepaldi (2004), o registro cursivo neste tipo de diário objetiva maior

detalhamento daquilo que foi observado, além do que possibilita apreender elementos implícitos no contexto da pesquisa.

O diário de campo foi composto de Registros de Campo e Registros do Pesquisador. O primeiro contempla descrições sobre as situações e os eventos observados, notando qual o contexto em que aconteceram, quem estava presente, como as pessoas envolvidas agiram, apontando os contextos físico e social, bem como aspectos emocionais. Estes foram registrados no momento seguinte das observações, procurando detalhar, o melhor possível, os diálogos ocorridos, as expressões utilizadas e outras formas de comunicação que se fizeram presentes, como expressões não-verbais, reações e atitudes comportamentais.

O segundo, Registros do Pesquisador, foi realizado em diferentes momentos, algumas vezes após a observação propriamente dita, mas, outras vezes, decorrido este tempo. Há que se destacar que a pesquisa gera ressonâncias que vão sendo pensadas e re-pensadas pelo pesquisador. Assim, este se caracteriza por reflexões, sensações e impressões sobre o contexto observado. “O pesquisador, como sujeito, produz idéias ao longo da pesquisa, em um processo permanente que conta com momentos de integração e continuidade de seu próprio pensamento, sem referências identificáveis no momento empírico” (González- Rey, 2002, p. 33).

Desse modo, esses registros servem de background15 para a posterior análise dos dados. Pois, conforme Moré e Crepaldi (2004), mesmo que os registros provenientes da observação de campo estejam assentados na subjetividade do pesquisador, porque fazem referência muitas vezes a personalizações deste, são instrumentos fundamentais na construção de sentidos dos dados, oferecendo maior sustento às análises posteriores.

4.5.2 Entrevista semi-estruturada

A entrevista pode ser considerada um dos instrumentos mais usuais em termos de apreensão do contexto a ser pesquisado, ou seja, daquilo que é percebido ou observado pelo respondente. Nesse sentido, conforme salienta Minayo (1994), esta pode ser compreendida como uma conversa a dois, com propósitos bem definidos, em que o pesquisador busca obter informações sobre a realidade dos atores sociais.

O tipo de entrevista utilizada nesta pesquisa foi a semi-estruturada, pois possibilita aprofundar determinado tema, de modo que as questões apesar de       

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apresentarem um modelo seqüencial, estruturado e que introduz o tema a ser desenvolvido, permitem ao entrevistado maior flexibilidade de respostas, podendo conduzir a respostas mais abertas (Ghiglione & Matalon, 1993, Minayo 1994).

Dessa maneira, a entrevista contemplou tópicos como: dados gerais, que investigavam idade, estado civil, tempo de profissão, áreas de atuação, período e locais de trabalho, além de descrição da rotina de trabalho dos médicos oncologistas. Ainda, foram abordados tópicos sobre as atividades consideradas mais desgastantes e emocionalmente mobilizadoras, sentimentos que são experienciados e as conseqüências destas atividades e destes sentimentos na rotina de suas vidas, tanto profissional como pessoal. Da mesma forma, foram investigados os recursos de enfrentamento psicológico, formação profissional e o que o profissional aponta como meios de cuidado pessoal e suas percepções sobre o oncologista clínico (Anexo 1).

Cabe ressaltar que as perguntas que envolviam as estratégias de enfrentamento psicológico eram precedidas por questões em que os profissionais tinham de descrever uma situação de difícil manejo na profissão, ou eram convidados a se reportarem às dificuldades por eles elencadas nas perguntas anteriores. Esse cuidado metodológico baseia-se nas proposições de Tamayo e Tróccoli (2002), que afirmam que instrumentos padronizados, muitas vezes não condizem com a realidade dos sujeitos. Assim, as questões sobre as estratégias de enfrentamento psicológico foram contextualizadas de acordo com a realidade dos participantes.

Ao compreender a complexidade e a relação que se estabelece entre pesquisador e pesquisado, as últimas questões investigaram sobre o período de observação de campo e a entrevista, propriamente dita. As mesmas objetivavam uma leitura mais complexa acerca do processo de pesquisa e desta relação.

Ao final da entrevista, foi incluída uma questão que solicitava ao entrevistado que o mesmo sugerisse uma metáfora sobre a oncologia e/ou a atuação do oncologista na atualidade. Esta foi pensada com base nas proposições de Canolla (2000), quando aponta que a metáfora pode ser utilizada para substituir uma expressão equivalente, ou ainda, fazer comparações, através de analogias. Entretanto, entende-se que a mesma não pode ser vista como uma simples comparação ou associação entre dois termos, porque estes entram em interação, e a substituição do termo explícito pelo implícito, não manteria a idéia enunciada.

Assim, as questões seguiram uma formulação flexível, buscando ‘evocar’ ou ‘suscitar’ a verbalização dos sujeitos, sendo que a seqüência e a minuciosidade

aconteceram naturalmente, ficando por conta do entrevistado. Conforme Biasoli-Alves (1998), isso possibilita desvelar o modo de pensar ou de agir das pessoas em face dos temas focalizados, o que permite obter dados sobre o passado e sobre como estes repercutem hoje na vida dos entrevistados, tendo em vista que freqüentemente, estes fazem uma avaliação de suas crenças, sentimentos, valores, atitudes, evocando razões e motivos acompanhados de fatos e comportamentos.