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Estratégias de generalização

Capítulo 2 – Metodologia

2.7 A construção dos dados

2.7.1 Estratégias de generalização

As estratégias de generalização mostraram-se mais numerosas, de acordo com a análise feita sobre o corpus, no que se refere à relação entre particularização e generalização. Com relação às estratégias de generalização, foram verificadas ocorrências cujas classificações concentram-se em oito critérios, descritos a seguir:

I. Argumentação pela inclusão do destinatário, marcada pelo verbo na primeira pessoa do plural

Assumimos que, ao utilizar a primeira pessoa do plural desinencial ou marcada pelo pronome com sentido inclusivo, há um movimento do escrevente no sentido de levar o leitor a aderir ao argumento construído.

Excerto 04

Sabemos que desde tempos há muito passados, o riso tem sido ‘um santo remédio’. – DO_1 (§1, l.1).

II. Expressão temporal marcando duração indefinida

Certas expressões temporais constituem-se marcadores universalizantes e, ao indefini-las, o escrevente encontra uma forma de marcar uma temporalidade sem a necessidade de especificá-la ou comprometer seu argumento com essa temporalidade evocada.

Excerto 05

Na contemporaneidade, nota-se um aumento na quantidade de programas classificados como humorísticos (...). – DO_1 (§2, l.1).

Nesse tipo de estratégia, foram computadas também ocorrências em que o aspecto contribui para a indefinição temporal, como ilustra o exemplo abaixo, por meio do advérbio “hoje”, que, embora marcando sua significação temporal canônica usual, marca, preferencialmente, o tempo que transcorre (aspecto permansivo).

Excerto 06

Hoje existem até programas de humor para que as pessoas possam ter um momento contagiante (...). – DO_06 (§1, l.2)

III. Assunção de voz coletiva (marcada por expressões quase proverbiais e apelos ao senso comum)

Os escreventes, em seus textos, se valem de uma voz coletiva que pode ser marcada por diversas estratégias, tais como uso de marcas proverbiais29, apelos ao

senso comum, clichês e expressões de ampla utilização, regras morais de comportamento presumidas como gerais, ditados populares, expressões mencionadas entre aspas que nem sempre representam citações formalizadas e argumentos que acionam uma voz coletiva, ou ainda argumentos supostos como partilhados.

Excerto 07

(...) entender e respeitar esses limites torna o convívio em sociedade mais saudável e harmonioso.” – DO_1 (§6, l.2,3)

IV. Ausência de determinantes definidos em enumerações

29 Assumimos o termo “marcas proverbiais” no sentido cunhado por Alves (2013), que propõe denominar marcas proverbiais “tanto o próprio provérbio quanto suas variações” (p. 14). Isso que a autora denomina variações sobre o provérbio, engloba, além do próprio provérbio, estruturas proverbiais modificadas ou adaptadas, enunciados que, de alguma forma, remetem a provérbios, seja pelo sentido ou pela estrutura composicional, ou seja, toda expressão, cristalizada ou não, que remeta a algum tipo de provérbio, seja pela forma de estruturação, contendo expressões sintáticas, métrica ou rimas próprias de algum provérbio, seja pela relação de sentidos construída (paráfrase de provérbio, alusão ao efeito de sentido comumente provocado por algum provérbio).

Estabelecem-se a partir de enumerações, listas de itens, elementos de um determinado conjunto, que compõem as partes de um todo ou recortes feitos a partir de um tema, mencionados sem a imposição de determinante definido. O não uso de determinantes definidos é uma característica a ser destacada porque pode contribuir para marcar o procedimento de generalização.

Excerto 08

(...) explorados em teatros, filmes, novelas, canções e demais apresentações. – DO_1 (§1, l.2)

V. Ausência de determinantes definidos marcados por itens lexicais de cunho conceitual para a definição de temas

Estabelecem-se a partir de termos genéricos que são utilizados para marcar o tema ou resgatá-lo, produzindo o encadeamento temático na progressão do texto, sem a imposição de determinantes definidos, uma vez mais, marcando a característica de contribuir para o procedimento de generalização.

Excerto 09

Quando falamos em limites, logo pensamos em fronteiras (...) – DO_1 (§5, l.1)

VI. Determinante como quantificador universal ou expressão generalizante Marcado pelo uso de elementos dêiticos que impõem função universalizante para o termo sobre o qual tem escopo (em vez de especificar tal termo).

Excerto 10

(...) caso não saibamos distinguir os limites entre o riso do humor e o da grosseria. – DO_1 (§4, l.4,5)

VII. Falsas delimitações

Falsas delimitações são caracterizadas pela tentativa do escrevente de delimitar o tema ou aspectos relacionados a ele, por meio de expressões gerais e amplas que tornam a delimitação pouco precisa.

Excerto 11

Quando tocamos em assuntos que são importantes para um certo grupo de pessoas (...) – DO_2 (§2, l.3)

VIII. Modalização Deôntica

Geralmente a modalização deôntica é tratada a partir da noção de obrigatoriedade e de permissão. Adotaremos, nesse estudo, uma ampliação do escopo da modalidade deôntica, conforme revisão da classificação dos modalizadores deônticos proposto em Nascimento (2010)30 em quatro eixos, a saber: a) o obrigatório; b) o proibido; c) o permitido, e; c) o facultativo. Essa subcategorização coloca-se em uma perspectiva semântico-pragmática, permitindo analisar-se determinadas nuances da modalização deôntica que vão além da noção geral de obrigatoriedade e da negação ao capturar também a relação de possibilidade (desdobrada nas relações de permissão e facultatividade), de modo que seja possível observar melhor o efeito modalizador que recai sobre o dizer, o modo de apropriação da palavra alheia e o ajuste do dizer ao outro.

A relação de obrigação (conforme se verifica no excerto 13), aparece com bastante frequência marcada pelo verbo “dever”, em menor frequência, com o verbo ter ou outras formas que indiquem obrigação.

Excerto 12 – (obrigação)

Devemos usar muito mais nossa inteligência, amor próprio e caráter ao invés de se deixar levar (...) – OS_7 (§6, l.1,2)

A relação de proibição, nesse tipo de modalidade, muito comumente é marcada pelo uso de verbo “dever” associado a alguma partícula de negação (“não

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Essa perspectiva é especialmente importante para a presente pesquisa, pois Nascimento (2010) trata o fenômeno da modalização deôntica pela perspectiva semântico-pragmática, ampliando as possibilidades classificatórias e suprindo a necessidade de uma reflexão mais aprofundada sobre o tema em relação à perspectiva restrita à natureza retórica ou formalista, que tratam a modalização deôntica apenas como aquela marcada pelo sentido de obrigação (e, raras vezes, de possibilidade). Essa simplificação tende a não considerar outros aspectos relevantes no que se refere à construção dos sentidos. A classificação mais detalhada amplia o escopo desse tipo de modalidade, de forma a permitir a observação de aspectos importantes da produção escrita.

deve”, “nunca deve”, etc). Algumas vezes, aparecem ainda com o verbo “poder” associado à partícula de negação (“não pode”), conforme se verifica no excerto 14:

Excerto 13 – (proibição)

Sendo maneiras de prevenir o caos, ou impor limites, as fronteiras não devem ser descartadas de nosso cotidiano. – SP_4 (§4, l.1,2)

A relação de possibilidade, subcategorizada em permissão ou facultatividade, não é estabelecida apenas por uma palavra ou expressão, mas principalmente pelo efeito de sentido construído no enunciado, de modo que se colocam como modalizações por vezes mais sutis, por vezes mais complexas.

A relação de possibilidade, estabelecida pela permissão, se dá quando há, no enunciado, um efeito de permissão, autorização ou consentimento, em geral, de um sujeito em relação a outro, ou de um sujeito em relação a uma situação específica, conforme exemplifica o excerto 15 a seguir:

Excerto 14 – (permissão)

(...) devemos destruir essas fronteiras, não necessariamente geográficas, mas as da ambição, preconceito, vaidade, inveja (...) para que desse jeito possamos nos preocupar com problemas mais graves (...)– SP_1 (§4, l.5,6)

A possibilidade como facultatividade se dá quando há opcionalidade no fato modalizado, de modo que se evidencie que pode ocorrer ou não, independentemente de outros fatores que incidam sobre tal fato, sem que haja uma regra geral que estabeleça, por exemplo, uma permissão como uma forma de concessão. Assim, a facultatividade se coloca como uma forma mais simples de possibilidade31, em que algo simplesmente pode ou não ocorrer, conforme se observa no excerto 16, a seguir:

31 A distinção entre relações de permissão e facultatividade foram expostas por questão ilustrativa e explicativa. Generalizamos, para análise, ambas modalizações como pertencentes ao eixo da possibilidade, devido ao fato de que uma distinção pormenorizada não interfere na análise e nos resultados da pesquisa, tampouco afeta o modo de análise.

Excerto 15 – (facultatividade)

(...) levar a vida de maneira espontânea sabendo rir e usar o humor para distrair ou solucionar problemas, assim podemos evitar doenças ocasionado pelo estresse como a depressão (...)”– DO_6 (§5, l.2,3)